domingo, 31 de dezembro de 2006

Has gone

Essa bela imagem, embora desfocada e de iluminação ruim é supostamente do enforcamento do Saddam Hussein. Essa execução na verdade não acrescenta nada ao povo iraquiano. Seria diferente caso fosse oriunda de uma revolução popular do próprio povo iraquiano. O que ocorre é que o povo do Iraque está sendo subjugado à força por outro opressor. Diga-se de passagem que o atual trouxe consigo a anarquia, os estupros, a pilhagem dos lares, a derrocada econômica e as mortes gratuitas. Ao contrário do enforcado que ao menos mantinha o que eu chamo de "ordem de chicote" e "paz de cemitério".

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Under construction

O que pode ser mais frustrante para alguém sem programa noturno hoje?

Vem pra Caixa você também

Cena do cotidiano:

Um idiota vai à agência da CEF em Itaquera. Para quem não é de Sampa, Itaquera é um bairro longínquo, quase além da civilização. Lembra aqueles aqueles seriados americanos com fundamentalistas Quackers se organizando em fazendas e colônias. Isso é Itaquera. Já a CEF todos conhecem. Well, ao adentrar a agência o babaca aqui é quase impedido por uma estagiariazinha - bem graciosa, por sinal - mas com um velho roteiro para enganar os pobres analfabetos:

- Senhor, já fez o agendamento do serviço?
- Não queridinha, que agendamento?
- Para qualquer coisa que o senhor 'vá estar fazendo', precisa 'estar agendando' - aspas minhas para os insuportáveis gerúndios - para poderem 'estar chamando'. Só que para hoje não tem mais agenda.
- Sim, mas eu vou pagar a prestação da minha casa e o banco ainda está aberto. São quinze horas.
- Mas o senhor não pode 'estar entrando' porque não vai 'estar sendo atendido'.
- Olhe senhorita, me desculpe os têrmos, mas EU VOU 'ESTAR ENTRANDO' NESSA PORRA DE BANCO, PORQUE NÃO EXISTE CARALHO DE AGENDA NENHUMA. ISSO É PROIBIDO POR LEI. CASO TENTE 'ESTAR ME IMPEDINDO DE ESTAR ENTRANDO E ESTAR PAGANDO' MINHAS CONTAS, EU PODEREI 'ESTAR CHAMANDO' A POLÍCIA. Tudo bem? - arrematei com um sorriso cortês e cínico - .
- Bem, nesse caso o senhor pode entrar, mas não poderei 'estar agendando' aqui - persistiu a pobre criatura - .

Eu juro que pensei em 'estar mandando ela estar enfiando' a agenda em algum local discreto, mas a moça era tão bonitinha que me proibi de ser mal-educado com ela. Simplesmente entrei. Depois de checar o local, vi que a retaguarda da tal agenda era em uma mesinha ocupada por outro pobre estagiário.
- Por favor, coloque meu nome aí para me chamarem.
- Já está. O senhor não agendou lá na entrada?
- Não, a moça me disse que não tinha mais horário.
- Ah.. Sinto muito então porque...

Saí de perto do jovem para não ouvir o resto e liguei para o 190. Expliquei rapidamente e fui atendido pela policial do COPOM com mais espírito de serviço do que naquela bosta de banco. Ela ainda me perguntou se eu estava sendo coagido fisicamente ao que neguei. Então, a policial apenas me orientou a tentar resolver pacificamente. Mas me incentivou para que à menor tentativa de coação física ou moral, eu ligasse novamente, que eles enviariam soldados para garantir meus direitos.

Nesse momento senti-me como morador de um país onde as instituições funcionam. Eu sei que foi um lapso de pensamento. Mas as palavras da policial ao telefone me causaram vontade de cantar o Hino Nacional no meio da agência com a mão direita no peito. Passado o rápido devaneio, dirigi-me ao estagiário interno do departamento de agenda-pega-trouxa. Fiz uma cara de Jack Nicholson e falei pausadamente:
- O meu jovem querido, acabei de falar com o Comando da Polícia Militar. Me inclua nessa bosta de lista ou eles virão aqui. Será muito chato ver você sair algemado por causa de uma merda de banco, que nem lhe paga um salário decente. Sacou?

Fique surpreso com a prontidão do jovem. Essa juventude ainda vai fazer deste um grande país, sabe? Ele imediatamente incluiu meu nome, ainda que na 18474847ª posição da lista. Era a lanterna mesmo, mas que ao menos me garantiria o atendimento dentro da data corrente. Lá fiquei esperando quase feliz não fosse pela multidão à minha frente. Parecia que todos os figurantes de "Os Dez Mandamentos" tinham ido àquela agência receber o cachê.

Aí entre um devaneio e outro, resolvo sair de fino e subir umas escadas que davam em um mesanino. Lá parecia o atendimento vip da Tiffany´s. Internet, sofás, água gelada e o escambau. Em nada se parecia com aquele salão abarrotado proletários suados no andar de baixo. Não resisto e me dirijo a uma mesa onde duas jovens senhoras, portadoras de crachás de gerente, pareciam se afogar em meio aos papéis:
- Nossa, posso pôr fogo nessa papelada toda? Vocês parecem ter trabalho até 2.009 aqui.
- Você nos faria um imenso favor - respondeu uma delas rindo - mas não diga que eu autorizei.
- Pena que não posso ajudá-las, mas quem sabe vocês conseguem a mim, vejam só... blá blá blá blá blá... E eu ainda preciso chegar ao centro de S. Paulo antes das dezessete horas.
- Espera que vamos pedir para a menina lhe chamar - pega o interfone - alô, fulana? Estamos aqui com o tio Xavier, faz um favor pra gente? Põe o nome dele na frente da lista... é... ele vai fazer uns serviços no caixa... obrigada, viu fulana? Tio desça lá que já vão lhe chamar.
- Muito obrigado, viu? Vocês não sabem o quanto me ajudaram.
- Não tem de que, tio. Feliz Ano-Novo.
- Pra vocês um ótimo. Valeu hein? E vê se dão um fim nesses papéis.
- Bem que a gente queria.

Moral da história: Banco é uma merda.

domingo, 17 de dezembro de 2006

Retrospectiva 2007

Retrospectiva do ano que já passou é coisa de jacu. Todas as emissoras já fazem isso há décadas. É um saco e ninguém mais agüenta. Por isso, o tio Xavier, mestre em ciências ocultas e portador de dons sobrenaturais, lança um conceito totalmente novo: a Retrospectiva do Próximo Ano (RPA). Não se trata de previsão, que também é coisa batida e praticada por Mãe Dinah e outros picaretas que freqüentam o sofá da Luciana Gimenez. A RPA enquanto ciência consegue precisar nomes, datas e locais, de forma incrível. Chega de papo e vamos a ela:


JANEIRO/2007
A cerimônia de posse do presidente Lula teve menos pompa e circunstância do que a anterior. O cerimonial do Palácio do Planalto temeu que houvesse um esvaziamento de populares, o que não ocorreu, pois povinho bunda e baba-ovo é o que não falta neste país. O Rolls-Royce presidencial não falhou desta vez, pois o motorista foi advertido de que aquela gasosa da primeira posse, comprada a R$1,50 não devia ser muito boa. Neste ano o posto foi escolhido por técnicos bolivianos especializados.

FEVEREIRO/2007
Olha a Mangueira aí, geeeeente! O tumdumpararacundumdumdum é ensurdecedor. A LIES organizou magistralmente o carnaval carioca, provando que as únicas coisas organizadas neste país são o narcotráfico, o carnaval e a corrupção. Em São Paulo, a versão garoenta do carnaval nem foi tão pomposa. Dentinho, o presidente da Gaviões organizou um protesto do lado de fora do Sambódromo, conclamando os populares a não comprar ingressos, mas ninguém deu bola. Afinal quem vai dar bola pra um líder de torcida de um time que nem futebol tem mais?

MARÇO/2007
Depois de dois meses de vadiagem e com salário parlamentar dobrado, Brasília começa a funcionar. Ao invés de se alegrar, a população tem motivos para temer. É agora que a roubalheira pega embalo. Em Salvador, o Carnaval ainda está a todo vapor. Os trios elétricos ainda não conseguiram chegar na Castro Alves por causa dos milhões de foliões suados e bêbados, que não desocupam os arredores. Daniela Mercury, Ivete Sangalo e os insuportáveis do Chiclete com Banana estão há 30 dias sem banho. Uma equipe do Guiness Book foi destacada para garantir o recorde fedorento.

ABRIL/2007
O mês já começou com um feriadaço na Sexta-feira Santa. Melhor emendar mesmo. Em Brasília, Congresso e Senado vazios, pois com o ponto facultativo da quinta nenhum parlamentar saiu de sua cidade de origem pra roub... (ops!) trabalhar apenas um dia e meio. Foi melhor assim. Isso reduz a formação de quadrilhas. O deputado Clodovil em entrevista dada em sua casa, diz que isso é um absurdo.

MAIO/2007
O mês já começou com outro feriadaço do Dia do Trabalho. Melhor emendar mesmo. Em Brasília, Congresso e Senado vazios, pois com o ponto facultativo da segunda, nenhum parlamentar saiu de sua cidade de origem pra roub... (ops!) trabalhar apenas dois meios-dias. Foi melhor assim. Parlamentares são péssimos quando se juntam. O deputado Frank Aguiar aproveitou pra fazer um show patrocinado pela Petrobrás.

JUNHO/2007
O mês já começou com outro feriadaço do Corpus Christi. Melhor emendar mesmo. Em Brasília, Congresso e Senado vazios, pois às sextas-feiras nenhum parlamentar trabalha e nenhum saiu de sua cidade de origem pra roub... (ops!) trabalhar apenas um dia e meio. Foi melhor assim. Brasília fica bem sem os políticos. O deputado Enééééias defende o fim dos feriados religiosos e a produção da bomba-atômica brasileira.

JULHO/2007
Descoberto um esquema milionário de fraudes em Brasília, envolvendo deputados do PT, PMDB, PFL, PSDB, PPS, PTB, PCdoB, PRONA, PPS e outros dez partidos. O procurador-de-pêlo-em-ovo da
República, José Caxias Franco dos Santos, denunciou que os relatores de todas as CPI´s recebem propina para picaretar os relatórios e sumir com provas irrefutáveis. Instaura-se a CPI das CPI´s. Só que não conseguiram eleger o relator, porque o novo regimento exige que para isso o cara não pode ter sido ser citado como suspeito em outra CPI. Agora danou-se. A CPI das CPI´s não decola por falta de quórum.

AGOSTO/2007
Com o PIB calculado pela equação -b*b²-4ac, o Presidente Lula anunciou pela 8.511.938ª vez que tem um novo plano do Cebolinha para derrotar a Môn... (digo) miséria. Todos acreditam nele de novo, por falta de opção e porque o Lula conseguiu de fato acabar com a miséria de toda a família dele. Então o cara é bom mesmo. O povo decide deixá-lo falando sozinho na Radiobrás lá e ir pro trabalho, senão o patrão desconta o dia e o domingo.

SETEMBRO/2007
O mês já começou com outro feriadaço... (o resto você já sabe). Um dia a menos, um roubo a menos. O deputado Paulo Maluf decide ficar em Brasília. Estranho hein? Melhor ficar de olho nele.

OUTUBRO/2007
O Governo faz previsões funestas quanto ao PIB. Ficaremos abaixo do projetado, por causa do aperto fiscal, do câmbio, da embreagem e do freio-de-mão puxado da Economia. Enfim, somos uns lixos mesmo. O pior PIB da América Latina. Mas nem temos tempo pra pensar nisso, pois o despertador toca às seis da matina, o batente nos espera e já estamos fazendo coleção de "Avisos Importantes" em nossa caixa de correspondência.

NOVEMBRO/2007

Já no primeiro dia os comerciantes anunciam as liquidações de Natal. Está duro fazer o caixa pra pagar o 13º. Nos calçadões, os camelôs se fartam de vender brinquedos defeituosos e idiotas, todos movidos à pilha. Pilhas ruins que eles mesmos vendem, com marcas como Panabronik, Somy e Durabell. O insuportável Márcio Canuto percorre a 25 de Março entrevistando donas-de-casa desocupadas, que vão lá encher a sacola de inutilidades, comer churrasco-grego e abacaxis de barraquinha, achando que fazem uma puta economia com isso. A PF promete uma nova operação, para desmantelar os mafiosos chineses da Galeria Pagé. Prende dois suspeitos, iniciando uma investigação sigilosa. Os contrabandistas estão morrendo de meda.

DEZEMBRO/2007

O presidente Lula anuncia em cadeia nacional que "nunca este país viu um programa social como o bolsa-bolsa". É que de tantos programas sociais como bolsa-família, bolsa-escola, bolsa-moradia, bolsa-gás e bolsa-cachaça, o governo percebeu que os assistidos não estavam tendo como transportar tanto dinheiro. Então o bolsa-bolsa foi um programa idealizado para que os pobres tivessem onde transportar e guardar seu dinheirinho. Decretado o estado de calamidade, o governo firmou um convênio sem licitação com a Daslu, para distribuição de bolsas. O convênio foi sugestão da Marta Suplicy. O deputado Celso Russomano promete investigar se houve dano ao consumidor.

sábado, 16 de dezembro de 2006

Vai que é sua, Nerivan!

Como já comentei algumas vezes o tio não se dá ace$$o à TV por assinatura. Dessa forma resigna-se a ter em casa somente os canais abertos da maravilhosa TV brasileira. Embora a recusa em pagar possa ser confundida com avareza, esclareço que não é bem assim. O tio se sacrifica e paga por aquilo que preza usar, o que exclui previamente a TV. Meus gastos mensais com banda larga, equipamentos de informática e mesmo as aquisições de aparelhos sonoros superam de longe qualquer importância que eu quiçá cogitasse pagar pelas diversões televisivas. Enfim, TV para mim é algo quase dispensável. Já o computador, um vício.

Neste momento estou com meu notebook na sala de minha casa. Entre uma navegada e outra na internet ouço minha coleção em mp3 do saudoso grupo americano Shalamar. A TV está ligada na Gazeta. Porém tirei o som. As imagens que estou presenciando são de um programa de décima categoria. Há um ilustre desconhecido apresentando atrações musicais cujo visual é bizarro: mulatas e caboclas de cabelo mal-pintado de loiro rebolando, baianinhos bombados vestindo camisas babylook, cantando e rebolando tanto quanto aquelas e pseudo-músicos encenando o instrumental. O apresentador traja uma camisa branca que seria bem básica - até aí melhor assim - se não ostentasse um imenso logotipo dourado, de cerca de 20cm de diâmetro do lado direito do peito. Mais cafona impossível.

Cafona aliás é apelido para os programas da TV aberta. Engraçado é como mesmo alguns que tentam se disfarçar de sérios alternam suas entrevistas, depoimentos e cenas dramáticas com breaks para merchandising de poções mágicas emagrecedoras, acessórios de ginástica milagrosos e quinquilharias de todo tipo. Um hit é a famosa câmera filmadora, com seus infinitos 40MB de armazenamento, suficiente para guardar no máximo 2 minutos de vídeo dos incautos compradores. Normalmente esses apresentadores "C" alugam os horários ou racham a verba de publicidade com a emissoras, em troca do pedacinho da grade. Ou seja, jamais se terá algo de qualidade com esse modelo de alocação sustentado por merchan indiscriminado e jabá.

Assim cria-se um mundo das celebridades de quinta categoria. Entre os conscritos vemos tipos tão extraterrestres que não dá para acreditar. As sainhas plissadas de 10cm de altura, com os infalíveis saltos altos e batons vermelhos das supostas dançarinas formam um sustentáculo de vulgaridade para as proto-bandas, tanto quanto os refrões grudentos sobre obscenidades gratuitas, triângulos amorosos e dores-de-corno. E olhe, que são apenas 4 da tarde.

Nerivan Silva. Agora apareceu no prompt o nome do apresentador, composto por letras dentro de estrelas douradas. Putz, melhor colocar no canal AV1 e rodar meu VCD pirata dos Simpsons. Fui.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Vai jogar flores na casa do cacete

Gente, essa bosta que toca 4.198.406.541.064 vezes diariamente nas rádios deve pagar um jabá milionário. Não é possível. Se é que não estou sendo muito exigente, tente achar um conjunto de frases que forme um pensamento conciso no "texto" abaixo:

"Eu sei, tudo pode acontecer
Eu sei, nosso amor não vai morrer
Vou pedir ao céu, você aqui comigo
Vou jogar no mar, flores pra te encontrar

Não sei porque você disse adeus
Guardei, o beijo que você me deu
Vou pedir aos céus, você aqui comigo
Vou jogar no mar, flores pra te encontrar

You say good bye, and I say hello
You say good bye and I say hello
Ohohoh
Yeah yeah..."

(ainda bem que Lennon foi cremado, assim ele não virará de bruços)

Democracia cultural é isso mesmo. Se o populacho exige merda, dê merda. Aliás, venda a merda porque haverá quem pague.

Eu acabo de escutar Bye Bye Brasil, com o Chico Buarque, e uma pergunta não quer calar: ainda há vida inteligente sobre a terra?

Ps.: Vai jogar flores na pqp antes que eu me esqueça.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Entre contas e diplomas

O Tribunal de Contas da União (TCU) mantém até este momento a reprovação à prestação de contas da campanha 2006 do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. O caso é um velho conhecido de todos os candidatos e partidos: operações com dinheiro de origem suspeita e coisinhas assim.

Com isso, a diplomação de Presidente da República marcada para o dia 14 próximo poderia até não rolar. Poderia, porque a própria assessoria de imprensa do Tribunal Superior Eleitoral já assegurou que a diplomação correrá de qualquer forma. Essas coisas de aprovação de contas de campanha, segundo os políticos apregoam, é mera tecnicalidade. Agora tente você, contribuinte do IR, dar um gato malfeito na sua declaração anual e verá que existem tecnicalidades e tecnicalidades.

Resumindo, Lula receberá o segundo diploma de sua vida de qualquer modo. Como todos podem ver, diploma neste país nunca foi um problema, quanto menos para ele. Aliás, para quê serve o diploma mesmo?

(Ps.: Dispenso respostas mal-educadas e gracinhas sobre o formato do canudo)

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Turistas: O filme

"Filme põe gringos em apuros no Brasil:

´Num país onde vale tudo, tudo pode acontecer´, diz o trailer de 'Turistas'.

SÃO PAULO - Seis jovens americanos bronzeados e malhados divertem-se numa praia brasileira paradisíaca. Bem à vontade, uma das meninas decide fazer topless. Os universitários bebem, jogam futebol e curtem amassos calorosos numa cachoeira. Assim começa o trailer do filme 'Turistas', o primeiro longa da Fox Atomic, divisão da Fox Films para o público de 17 a 24 anos, que será lançado nos Estados Unidos em 1º de dezembro.

Até aí, trata-se apenas de mais um ´filme americano cheio de estereótipos´, como admite a assistente de direção da película, a brasileira Dayse Amaral. Na continuação do trailer, no entanto, percebe-se que 'Turistas' vai um pouco além dos eternos lugares-comuns sobre o Brasil. ´Num país onde vale tudo, tudo pode acontecer´, diz o vídeo, enquanto imagens mostram os jovens sofrerem o golpe do ´Boa Noite Cinderela´ e serem feitos reféns numa casa na selva.

´É uma história de Terceiro Mundo´ , explica Dayse... " (a idiota prossegue mas truncarei a matéria por aqui)

FONTE: ESTADÃO, mas está cheio de links na internet.

***

Vamos à crítica cinematográfica do tio

As premissas: Fique claro como um dia de sol que o tio Xavier nasceu em Pindorama talvez por acaso, mas ama de paixão a terra onde cava seu sustento. O amor do tio nada tem a ver com os políticos que a governam ou com assistentes de direção de filmes trash, que fazem qualquer coisa por dinheiro. É apesar deles e é um amor irracional, como a maioria dos amores.

A quem acha que estou errado sugiro pegar as malas e sumir daqui, pois será um favor. Tente entrar clandestino em Portugal ou na Espanha e talvez se dê bem. Ainda mais, se achar que o tal filme está certo, sugiro ir para o México e tentar atravessar a muralha do Bush e dos fundamentalistas de merda que o apoiam. Vá com os mais sinceros desejos do tio de que seja mal-sucedido(a), morra de insolação ou desidratação, ou ainda quem sabe de um tiro de fuzil, ao tentar cruzar a fronteira. Os coiotes (os do reino animal) e abutres apreciarão deveras.

Sobre o filme: Na minha imodesta opinião, os americanos podem enfiar seus turistas e películas cinematográficas nos respectivos orifícios anais. Não me consta que o Brasil seja um país fértil em receita advinda do turismo, sobretudo porque explora-se muito mal os recursos naturais para isso e carece-se de mão-de-obra capacitada. Mas esse problema é do Sindicato dos Hotéis e da Embratur. Vão treinar seus funcionários.

Agora, relativamente aos turistas do tipo ilustrado no filme, não vi problema nenhum no enredo. A maioria desse tipo vem aqui par fazer turismo sexual e inclusive pedofilia. Que mal há em se foderem? Logo, o objetivo fora atingido.

E tenho dito.

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Ali has gone

Embora eu o tivesse conhecido há bem pouco tempo, Ali J. Mohamed se tornara um amigo desses impagáveis. Posso dizer que, de um ano para cá, onde eu estava Ali quase sempre estava. Sua espontaneidade e bom-humor contantes contrastavam com a imagem que até então eu tinha dos adeptos da religião dele. Temos por idéia padronizada que o Islã de Maomé e de Alah não combina com alegria, com festividade e com piadas politicamente incorretas. Entre outras coisas, Ali mostrou-me na prática que essa idéia é totalmente errada.

Curiosamente também Ali cultivava gostos bem exóticos para um afegão. Música negra e artistas norte-americanos da Motown não são lá uma coisas muito comum, para um povo que tem quase por norma repudiar a tudo o que vem dos EUA. Mas Ali não era um cara comum. Nunca fora. E a troca de músicas em .mp3 de artistas como Marvin Gaye, Earth Wind & Fire, Barry White e até mesmo do The Jacksons fez-nos amigos. Nunca imaginei que um simples software P2P de compartilhamento de arquivos fosse capaz de originar amizades verdadeiras. Do mundo virtual para o mundo real.

A única coisa que sempre me intrigou foi Ali evitar sempre comentar seu passado e coisas de família. Ele demonstrava ser o mais reservado de todos os seres que conheci, quando eu perguntava sobre seu casamento anterior, sobre a sua relação com os filhos e sobre a cidade onde morou no interior de São Paulo, logo que veio para o Brasil. Praticamente nunca falou nada. Pelo pouco que sei, ele fora casado e fruto dessa relação, pai de um casal de filhos. Era nítido que o assunto o incomodava e não seria eu a perturbá-lo com isso, se preferia nada falar.

No mais o amigo era bom trabalhador, honesto, habilidoso e magnético no trato com o semelhante. Era também muito inclinado às ciências. Estudara em uma Universidade Islâmica no Afeganistão no final da década de 80 mas não concluíra os estudos, posto que fora cuidar dos negócios de comércio da família.

Infelizmente, na noite passada Ali ao chegar em casa, abriu seu Orkut e viu algo pelo qual não esperava. Uma dezena de familiares de sua ex-mulher o localizara no site de relacionamentos, não se sabe como. Ao ver em seu mural a série de recados com gracejos e frases engraçadinhas como: "Aí hein Ali, nunca falou que tinha perfil no Orkut" e pedidos de "Me add, tio" vindo de ex-parentes, que ainda se consideram sobrinhos, Ali enlouqueceu. Correu em desabalada carreira até a avenida próxima de sua casa e atirou-se sob um ônibus que descia velozmente rumo à Cidade Tiradentes. Quase tão rápido quanto um clique do mouse, Ali simplesmente deixou de existir para tornar-se apenas uma lembrança para os que os conheceram.

E assim, Ali nunca mais postará suas frases ácidas, nem irônicas, nem entediadas nas comunidades do Orkut, nem no Msn no qual passava horas a fio se entretendo com suas amigas e amigos.

Que o Alah, que ele tanto mencionava, o receba no harém celestial e lhe entregue as cem odaliscas prometidas. Sua expressão de debochado e suas tiradas de sarro ligeiras sempre ficarão em minha mente.

Fique bem, amigo Ali.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Drops VHS

Com a licença profissional do meu amigo Ricardo Lunghin, diretor de artes e crítico que escreve uma coluna sobre cinema, tio Xavier o parafraseou no pior estilo de crítico de botequim.

Se você quiser assistir a um filme bonito, bem feito e baseado em uma história verídica, De porta em porta (Door to door) é uma grande pedida. Não sei de quando exatamente é o filme, mas a fita originalzinha e legendada que me chegou às mãos está datada de 2003 pela Warner™. Foi uma amiga muito gente boa quem me recomendou e emprestou. Gostei tanto que já estou levando para um sujeito no bairro que converte de VHS para DVD, pois não achei o título em nenhum catálogo. Doravante a cópia digitalizada fará parte do acervo pessoal do tio para merecidas reprises domésticas.

O filme conta a história de Bill Porter, um sujeito com deficiências motoras provocadas por paralisia cerebral, decorrente de um parto malsucedido. Imagine que por si só um sujeito desses já tenha dificuldades de todo tipo. Quanto mais para conquistar um emprego e garantir sua autonomia econômica. É final da década 60 e, no interior dos EUA, o jovem Bill Porter sai a campo para cavar um posto de trabalho. Consegue uma vaga de vendedor na Watkins Co., empresa que faz venda domiciliar de produtos de consumo. Não sem resistência do gerente local. O emprego só é concedido porque Bill se propõe o desafio de assumir a zona de venda mais difícil da empresa, justamente aquela que ninguém queria. E venceu com honra.

O drama - volto a lembrar que é real - atravessa as mazelas do preconceito na busca da dignidade pessoal, mas é sobretudo uma história sobre amizade e solidariedade. Bill Porter tornou-se referência profissional na Watkins pelos resultados espetaculares de suas vendas. Mas, acima do trabalho, ele venceu na vida porque soube perscrutar o âmago dos clientes a quem atendeu, convivendo com cada ser-humano, em seus anseios e angústias. Bill sempre levava seu infalível bom humor e seu otimismo constante, além dos catálogos e produtos da empresa para quem trabalhava.

Bill Porter nos ensina que o que falta à maioria dos seres humanos é colocar a alma, de forma aberta e positiva no seu cotidiano. Se lhe faltavam atributos físicos, sobravam-lhe dignidade, honestidade e transparência de espírito. Aprendamos com Bill Porter.

Vale à pena procurar pelo filme e assistí-lo. Saiba mais sobre Bill Porter no site da Watkins.

FICHA TÉCNICA:
Título: "De Porta em Porta" (Door to door)
Roteiro: Willian H. Macy e Steven Schachter
Atores principais: Kyra Sedgwick e Helen Mirren
Distribuidora: Warner™ Home Video

Fala guerreiro

Recentemente atentei para uma expressão muito comum que se ouve por aí: "Fulano é guerreiro". Não sei onde ou de quem a ouvi recentemente, mas lembro que é muito freqüente. E não é só isso. Vejo alguns arrogarem o título para si. Então dediquei algumas saudáveis horas de ócio refletindo sobre o significado dessa palavra. O que é um guerreiro e o que significa atribuir a alguém esse substantivo-adjetivo?

Rememorando as situações em que ouvi alguém dizer isso, cheguei a uma pretensa definição genérica. Guerreiro é uma pessoa que batalha, sua, luta e dá sangue pela sua causa. No caso do guerreiro de fato é o que atua em guerras por causa do ideal, do país ou seja lá do que for que defenda ou almeje conquistar. Trazido para o mundo das das pessoas comuns, o têrmo costuma ser atribuído a pessoas que batalham, suam, lutam e dão o sangue, só que sustentar-se, manter a vida ou conseguir conquistar um bem. Até aí entendi a atribuição do nome para determinadas pessoas.

O que me causa mais indignação é que é fato comum que a maioria das pessoas se orgulhe de ser mencionado como o tal guerreiro. Daí porque muitos se auto intitulem-no o próprio. E enchem o peito dizendo: "Eu sou guerreiro mesmo". Como sou inimigo voraz do senso-comum - que geralmente orbita a mediocridade - fiquei pensando no que haveria de errado nesse raciocínio. E chegue à seguinte reflexão:

Quer dizer que é bonito se ralar, se ferrar, sangrar, perder unhas e cabelos, suar e o escambau para conseguir algo? À pqp, que as pessoas achem bonito neguinho acordar de madrugada, trabalhar como um escravo egípcio e fazer um sacrifício lascado para comprar um mísero carro popular, uma casa na periferia ou pagar uma faculdade de terceira. Sem essa. É bonito isso? Vá pro inferno se achar que sim.

O que pode haver de glamoroso e belo em alguém dar o melhor de seus anos para o trabalho árduo e conseguir tudo com dificuldade? Onde fica o desfrute da vida, os momentos bons e a recompensa? No céu? Os tontos adeptos do senso-comum chegam à aberração de dizer coisas idiotas como "Quando vem fácil parece não tem valor", "Quando a gente consegue com dificuldade é mais gostoso". Que gostoso o cacete! É ruim pra caramba ter dificuldade para conseguir algo. Só consigo imaginar que essas filosofias baratas e idiotas sejam disseminadas a mando dos banqueiros, dos grandes empresários e dos governantes, para a finalidade óbvia de manter o povinho tonto trabalhando como camelos e ainda feliz por isso. Só pode, por que senão a quem interessa esse discurso babaca?

O tio Xavier é honesto e gosta das coisas fáceis, sobretudo quando se trata de grana. As melhores lembranças de ganhos que tive foram em operações mamão-com-açúcar, com uma vez há uns dois anos, quando embolsei quase quinze paus de comissão em um só cheque. Foi simplesmente por ter levado o cara certo no cliente certo e na hora certa. Não há grana mais gostosinha que essa. Tive depois ainda outra feliz ocasião com importância maior que não vem ao caso contar agora.

Atenção: Faço questão de ressaltar que esses lances foram dinheiro honesto, limpo e advindo de atividades legais. Mas facinho, facinho. É disso que eu gosto. Tio Xavier tem uma tremenda vocação para buon-vivant.

Ps.: Se um dia você conseguir algo fácil e achar que não foi bom porque foi fácil, doe para o Tio Xavier. Eu quero é moleza. Vá guerrear você.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Pedreiros

Os caras são na maioria seres bestiais, que insistem em circular nas comunidades humanas, beneficiados pela sua ilusória aparência de bípedes hominídeos. Isso nos induz ao erro de contratá-los.

Quem nunca passou agonias e tormentos com pedreiros - ou seus correlatos da obra civil - que atire o primeiro torrão de cimento. A não ser que resida em um trailler. Só pode. Porque o tio não conhece um só ser humano que não tenha uma boa e enervante ocorrência para contar a respeito deles. Tendo mudado de casa algumas centenas de vezes, tio Xavier coleciona motivos para sentir vocação para serial killer especializado em pedreiros. Quando estou diante de um pedreiro eu ouço vozes que ficam me repetindo "mate-o... ele é mau..."

Mas pretendo não discorrer sobre minha recente - e ainda corrente experiência - porque neste exato momento estou ouvindo as vozes. Nem sei se o dito tem algum nome, porque ele foi apresentado a mim como "Baxinho" (sem o i mesmo). Baxinho é um ser de estatura inferior à recomendada pela FAO/ONU, oriundo de algum país do nordeste brasileiro e é do tipo faz-tudo. Segundo seu auto-testemunho, que vale tanto quanto uma cédula de três reais, ele só não mexe com aletissidadi. Eu acho isso uma pena. Ao menos a eletricidade seria capaz de castigá-lo pela porquice do seu trabalho eletrocutando-o fatalmente e libertando a humanidade para sempre da existência dele. Como acabaram meus comprimidos de Magnésia Bisurada® falarei tão somente de aspectos gerais e universais desses bípedes.

O orçamento do serviço

Uma ocorrência comum a todos é na visita de orçamento. Todos eles, sem exceção, olham para o imóvel, fingem ouvir a descrição detalhada do objetivo do pobre contratante e chutam o preço. O preço não segue nenhuma lógica mensurável, como tempo de trabalho ou coisa assim. É que na verdade eles não olham para seu imóvel e sim para seus bens duráveis: carro, computador, dvd-player, microondas, secadora, aparelho de som, tudo para ter uma noção de quanto você é capaz de desembolsar. Não sem os habituais comentários de que os serviço é fácil, rápido, já fizeram mais de cem obras como a sua e não demorará mais do que X tempo. Muita atenção para esta variável (X). O que o pobre tomador de serviços não sabe nesse instante, é que a equação para cálculo do tempo real do célvisso pode ser representada matematicamente da seguinte forma:

TR = X³ x 10¹²
Onde:
TR = Tempo real; X é a variável de tempo prometida pelo desgraçado. E se chover no decorrer da obra, pode duplicar o expoente que dá certinho.

O material

Lembremos que a maioria esmagadora desses imbecis é composta de seres incapazes de ler ou escrever o próprio nome. Então lhe pergunto: como é que você confia nos números de necessidade de material proferidos por ele, se envolvem cálculos de metragens quadradas e cúbicas? Te peguei, né? É porque você é tão ou mais idiota do que ele. Então se resigna a aceitar os cálculos dos caras, precisos como um bombardeio da segunda guerra. Da lista de materiais fornecida pelo pedreiro, pode acreditar que:
1) Faltará piso ou azulejo. O montante recomendado não dará nem pro rodapé. E ao procurar comprar mais não achará do mesmo lote tendo que se contentar com tons diferentes.
2) Sobrará argamassa que dará para consertar Itaipú, se vier a rachar.
3) Os "recortezinhos" de piso inutilizarão 70% do material.
4) A pedra, o cimento e a areia excedentes entulharão sua garagem por décadas após a empreitada.
5) 90% das madeiras solicitadas para escoras, andaimes e enchimento de colunas não serão jamais utilizadas. Mas você nunca saberá, porque elas sempre estarão no chão e sujas.
6) O martelo que ele pediu também nunca será usado, porque ele baterá os pregos com seu melhor alicate.
7) As suas chaves de fenda, independente da marca, serão usadas como talhadeiras e ficarão irreconhecíveis.
8) Não acredite na bitola do conduíte que ele vai recomendar. Acredite no tio: em um conduíte de 1/2 polegada não é possível passar dezoito fios de 3mm de seção. Pense nisso.
9) Mesmo que ele alegue mexer com aletissidadi leia as embalagens dos fios e dos aparelhos elétricos que você pretende ligar. Você concluirá que ele entende de fios menos ainda do que de cálculo de piso. E no caso dos fios, o risco será o de incinerar toda a sua família.
10) Se você não tem capacidade para auditar essas merdas de chutes que ele dá no material solicitado, pague um engenheiro ou um arquiteto. Se não puder pagar, procure um amigo com formação técnica ou superior suficiente. Se não tiver nenhum é porque você está mal de amizades. Procure melhorar seu círculo social.

O decorrer da obra

Ele chegará no primeiro dia do trabalho com a cara vemelhona e um bafo de cachaça insuportável. Isto é, se ele comparecer. Imaginando que compareceu, ele lhe pedirá uma grana ao final do dia alegando que não tem para a condução. Procure não dar mais do que dez reais, porque ao menos ele beberá pouco. Quando der os dez reais, finja que não viu a cara feia do oportunista, que achava que ia receber metade do orçamento só pela avant-premiere dele na sua obra.

Se por ventura ele aparecer no segundo dia, não se engane. Ele zarpará, tão logo você saia pra trabalhar. E assim se sucederá por toda a eternidade a que ele condenará você e sua família, ao convívio com areia e cimento. Ao chegar à noite você terá sempre a impressão de que não houve progresso. Na dúvida fotografe logo cedo todos os dias, sempre do mesmo ângulo. Depois de 120 dias, tente fazer uma animação com a seqüência de fotos. O que você verá será uma desanimação. Nem o Macromedia® Flash será capaz de animar aquilo, já que avanços diários de 2cm de massa corrida não são nada comemoráveis. E no fim de cada dia vadiado, o merda sempre pedirá mais um adiantamentozinho. Uma razão muito comum para a ausência prolongada deles na sua obra é o alto índice de mortalidade nas famílias dos pedreiros. É quase certo que todos os dias morra um irmão, primo, pai ou mãe de pedreiro. Conheci um cuja mãe morreu mais de uma vez. Pelos meus cálculos e considerando os óbitos nas famílias dos pedreiros, já não era pra ter nenhum migrante em São Paulo. A não ser que eles estejam mentindo, hipótese que não considero.

Considerações finais

Minha última dica é comportamental. Procure praticar Yôga ou Meditação Zen. Todas as vezes em que chegar do trabalho faça o seguinte: fique ereto, baixe os olhos ao chão, respire fundo pelo nariz, solte o ar vagarosamente pela boca e ande pela casa olhando o infinito, sem firmar os olhos em nenhum ponto. Praticando esse tipo de desapego, você estará no caminho do Nirvana e evitará descarregar seu revólver na cara do filho da puta.

Quer um conselho sincero mesmo? Convença-se de que sua casa está ótima não faça nada nela. Pense assim e você amará mais sua casa, evitando dissabores oriundos das reformas.

Mas espero que o inferno seja bem grande e o Diabo seja bem acolhedor para com todos os pedreiros.

Profiles híbridos

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quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Parece mais uma do Joãozinho (mas não é)

Em exame oral do curso de Medicina, o professor pergunta:
- Quantos rins nós temos?
- Quatro - responde o aluno.
- Quatro? - replica o professor - . Este era daqueles tipos arrogantes, dos que se comprazem em tripudiar sobre o erro dos alunos.
- Traz um feixe de capim, pois temos um asno na sala de aula! - ordena o professor ao auxiliar.
- E para mim um cafezinho! - replicou o aluno.
Exasperou-se o professor, expulsando o aluno da sala.

O aluno era ninguém menos que o ainda jovem brasileiro Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971), posteriormente mais conhecido como Barão de Itararé, título que se auto-concedeu para debochar da famosa batalha que não houve na Revolução de 1930. Fundador do semanário A Manha cujo nome satirizava com seu antigo patrão, o jornal A Manhã. Ao sair da sala, explicou a resposta ao furioso mestre:

- O senhor me perguntou quantos rins nós temos. Nós temos quatro: dois meus e dois teus. Tenha o senhor um bom apetite e delicia-te com o teu capim. Dispensarei o café.

Essa é uma das tantas que se conta de Apparício. E é suficente para nos perguntarmos: quantos talentos podem ser tolhidos diariamente por mestres idiotas e modelos educacionais idem? E o pior: quantos asnos será que prosperam e viram formadores de opinião? É para se pensar. Dia 27 próximo fará 35 anos do falecimento do brilhante jornalista e um dos pioneiros do jornalismo político brasileiro. De onde ele estiver, espero que possa interceder por nós, para não afundarmos o pais na futilidade e na burrice.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Intolerância e macumba judaica

JERUSALÉM - Uma corte suprema rabínica de uma comunidade ultra-ortodoxa judaica pode lançar uma maldição cabalística contra as vidas dos organizadores da "Parada Mundial do Orgulho Gay", prevista para acontecer na próxima sexta-feira em Jerusalém.

A maldição também pode ser lançada contra "os policiais que baterem em judeus ultra-ortodoxos" que se manifestarem contra a marcha. A parada provoca mal-estar entre os praticantes mais radicais do judaísmo, assim como entre representantes do cristianismo e do islamismo na Terra Santa.

"A corte rabínica realizou uma sessão especial e analisou o lançamento de uma ´Pulsa Denura´ (maldição cabalística) contra aqueles que participarem da organização da parada", disse o rabino Shmuel Pappenheim, diretor do semanário Ha´eidah, da comunidade ortodoxa "Eida Haredit". (Fonte: Folha Online)

* * *

A estupidez da humanidade me comove. Das causas de males sociais, guerras e fome penso que ela talvez seja a pior delas. Veja a foto do judeu ortodoxo se manifestando no meio da rua. Ele e sua comunidade são contra a passeata gay que se realizaria nas ruas em Tel-Aviv. Realizaria. Porque até o momento em que estou arrematando este post já é notícia que os organizadores do evento recuaram e direcionaram a manifestação para um estádio fechado. Ainda assim o efetivo policial para proteger os arredores é significativo.

Intolerância. Curiosíssimo é de onde vem as manifestações de repúdio, preconceito e condenação. Há algumas décadas, os judeus caminhavam rumo às fornalhas de incineração dos nazistas, acompanhados de ciganos, comunistas e... GAYS! Agora esses mesmos, que tanto repudiam os crimes nazistas do holocausto e sempre que podem se reivindicam vítimas da injustiça internacional, assumem o mais grotesco papel de intolerantes . Sim, porque agora eles têm "seu Estado" decretado pela ONU em 1948 , fato que não levou em conta inclusive a pré-existência de povos não-judaicos nos locais onde fora implantado. Pasme que os líderes judeus religiosos mais extremados até ameaçam de "macumba-judaica" os participantes e apoiadores do movimento gay. E não parecem estar sós: de acordo com a reportagem, a repulsa perpassa também aos grupos fundamentalistas cristãos e islâmicos existentes no local.

Perguntar não ofende: mas será que dentre esses senhores religiosos ortodoxos tão puros não haverá alguns que apreciem queimar a rosca e apenas estão enrustidos? Não leve a mal. É só uma pergunta.

domingo, 5 de novembro de 2006

Wal-Mart: fale com o presidente

A atenção ao consumidor por parte das grandes empresas reserva surpresas. Além da involuntária rima, o fato que me ocorreu com uma mega-rede foi bastante interessante e frutífero.

Na tarde do dia 27/10 último, entregaram na porta do meu escritório um folheto promocional do Wal-Mart. Ao pegá-lo, folheei o dito com uma desinteressada rapidez pronto para jogá-lo fora. Ocorre que na última página havia uma oferta de um toca-cd portátil. Não me teria chamado a atenção pois a marca era desconhecida e tenho um semelhante há alguns anos. Mas dois detalhes me saltaram aos olhos: primeiramente o preço (R$98,00) e segundamente o destaque para MP3. Há um tempão que eu queria um treco desses portátil com MP3 e só os achava próximos dos trezentos reais. Como bom sovina eu jamais daria "trezentão" em um brinquedo desses. Mas esse era bem barato. Verifiquei a vigência da promoção e constatei que iniciava-se naquele dia e iria até 31/10. Faltando quatro dias para o meu aniversário, nada melhor do que um auto-presente daquele.

Ao final do expediente fui à loja. Qual não foi a minha decepção ao percorrer a seção dos eletroeletrônicos e constatar que não havia nem sinal do mimo. Procurei os vendedores - que felizmente lá existiam - e fui informado de que não havia mais. Imagine: o folheto mal sai do prelo, vou à loja duas horas depois de receber a oferta para ouvir essa estranha notícia. A vendedora ainda simulou alguma atenção anotando meu telefone em um pedaço de papel qualquer, o que não me serviu de consolo. Saí da loja puto e me sentindo o típico idiota. Não sou nenhum acéfalo. Era fato que os departamentos de Logística e de Marketing do Wal-Mart que estavam divorciados.

Na manhã seguinte fucei no site do Wal-Mart ainda na vã esperança de encontrar informações sobre outra loja, onde eu pudesse achar o meu brinquedo. Quem procurar informação no site do Wal-Mart há de achá-lo um lixo. Zero informação relevante. Apelei para o telefone 0800 deles e expliquei meu problema para a atendente gerundista. Ela explicou que não tinha como estar consultando o estoque das lojas para estar verificando onde poderia estar tendo para estar me passando". Dispensei a dita antes que eu pudesse estar mandando ela estar tomando em algum lugar escuso, sem que ela tivesse alguma culpa. Então vi um link no site chamado Fale com o Presidente. Cliquei e andei um e-mail curto e objetivo, narrando os ocorridos.

Para minha grata surpresa, dois dias depois eu recebi um e-mail de uma simpática senhorita. Entre um pedido de desculpas e outro ela informou que o gerente da loja visitada entraria em contato comigo e solucionaria o imbróglio (em conjulgação de futuro simples). No dia seguinte não é que o tal gerente me ligou mesmo? Todo desculposo, perguntou como os vendedores haviam me atendido e coisas assim. No final me disse o que eu precisava ouvir: que o aparelho solicitado estava reservado e eu poderia buscá-lo pelo exato preço da oferta de outrora.

Fui à loja no início da noite e tudo estava de fato como prometido. O aparelho (que nas prateleiras já estava a custar R$218) foi adquirido por este pobre tio por míseros R$98. Mas não é só isso: além de MP3 o dito ainda toca WMA, tem display digital que exibe os nomes das músicas, som com potência e qualidade respeitáveis para o tamanho e o design é bem bonito.


Moral da história:
reclame sempre que tiver razão. Alguém há de atendê-lo.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Zé Ruela

Depois de terem achado o verdadeiro Email, acharam agora este outro:

Não me perguntem de onde isto foi extraído porque não sei.

Vote no tio Xavier

Em um mero intervalo de seis horas e meia:

Da próxima vez que algum fdp candidato a governador
apresentar imagens das rodovias paulistas
como sendo um grande feito dele, não tenha dúvida:
Mande-o tomar naquele lugar!

Na verdade quem mantém aquelas rodovias,
lindas e maravilhosas é idiota do tio Xavier.

domingo, 29 de outubro de 2006

Não tem tu, vai tu mesmo

Um pouco de história de bastidores. Nem tanto bastidores. Parte do assunto é de conhecimento de milhares de militantes do então Partido dos Trabalhadores. Mas a coisa requer um bocado de compreensão sociológica, política e filosófica. Talvez por isso tenha passado debaixo do nariz desses milhares de militantes sem a devida percepção. Conhecimento histórico e teoria política ainda são artigos de luxo em um país que transitou aos trancos de uma recente ditadura militar para o barranco de uma democracia esteticamente confusa e politicamente questionável. É o que chama-se classicamente de democracia burguesa, já que ainda é feita nos moldes da revolução francesa promovida pela burguesia. Por favor, se tiver alguma dúvida sobre esta premissa, vá estudar um pouco ou simplesmente não leia este post.

Desde a época da abertura política, com a extinção do AI5, a posterior liberação dos partidos políticos e eleição - ainda indireta - do primeiro governo não-militar após o malôgro de 64, a grande estrela que começou a diferenciar-se no cenário político foi então o PT. Surgido a partir de estruturas de militância social com o pé no chão e sonhos nas nuvens como os sindicatos, movimentos populares urbanos e movimentos pró-reforma agrária, o PT trazia no seu núcleo um ideário político que tinha bem menos a ver com calendário eleitoral do que com as preocupações cotidianas dos trabalhadores e suas famílias. Era fortemente centrado em bandeiras como o questionamento da dívida externa, a luta pela reforma agrária, as batalhas salariais contra a inflação e orbitava uma idéia de greve geral por tempo indeterminado, ainda que os objetivos desta fossem deveras confusos e distintos entre as correntes internas do PT. No campo internacional a militância discutia e a interferência política dos países ricos sobre a América Latina, a solidariedade internacional pela causa palestina, o apoio ao sindicato Solidariedade na Polônia contra a burocracia soviética, as campanhas de apoio aos estudantes chineses contra a burocracia chinesa, enfim tudo o que se identificava com as mais legítimas aspirações populares. O calendário eleitoral vinha à reboque de tudo isso. Não que eleger parlamentares e concorrer a cargos majoritários não tivesse importância. Mas o condutor era a conscientização política.

Todavia, quando as tendências majoritárias, compostas por dirigentes de índole duvidosa e de perfis divididos entre stalinistas e democratas-burgueses, foram tomando mais e mais força dentro do PT, uma nova faceta foi sendo consolidada. Um forte vetor dessa mudança ocorreu pela participação crescente de contribuições financeiras nas finanças partidárias que se originavam do salário dos parlamentares eleitos. Pela regra universal do Capitalismo, manda mais quem põe mais grana. Logo os parlamentares e majoritários eleitos foram progressivamente dando o tom das discussões e impondo suas pautas políticas. O que a militância não questionou em tempo hábil foi a absorção dos políticos eleitos pelo PT pela estrutura dos aparelhos políticos do Estado Burguês. As prioridades, regras, limitações, leis e mesmo conceitos da democracia burguesa foram tomando o lugar das aspirações populares que tinham originado o PT. Nesse ponto está a confusa linha divisória que desviou o foco do partido das reivindicações e aspirações populares para uma versão praticamente acomodada à democracia eleitoral.

O PT que está aí e o governo constituído são resultados dessa descaracterização. As regras dos parlamentos da democracia burguesa são alicerçadas pelos conchavos, pelas negociatas, pelos mensalões, pelas liberações orçamentárias para emendas parlamentares, pelos favorecimentos às empresas e trustes de investidores. Menos pelos anseios e necessidades das famílias de trabalhadores. Em termos de pragmática não tem muito pra onde correr. Ética e decência em ambientes como esse tendem à morte ou pelo menos ao ostracismo. O que esperar de um governo como esse? Nada, do ponto de vista das origens do partido que ele representava. Absolutamente nada. As regras e o tom da orquestra já são mais que dadas pela Contituição e pela estrutura de poder - poder de fato - representadas na sociedade. No máximo um programinha assistencialista ali, outro acolá, uma campanhazinha contra a fome em alguma região, algum projeto de otimização de empregos. Mas nenhuma mudança estrutural como tal. Tudo mais ou menos como antes, talvez com um pouco de retardo na putrefação social e econômica do Capitalismo. Menos ruim que os outros apenas. Mas ruim e perfurado pelas brocas da corrupção e do fisiologismo que caracterizam a forma de representação política do Congresso, do Senado e dos Executivos nas três esferas. Como os outros.

Hoje será o dia mais duro de apertar o 13 em toda a minha vida. Quem me viu e quem me vê. Quem os viu e quem os vê...

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Pelo interfone again

O comitê eleitoreiro do andar embaixo do escritório do tio se foi. Com o fim das eleições e a perspectiva nula de a legendinha de aluguel em questão eleger sequer um síndico de prédio, a operação política se desmantelou logo na segunda-feira bem cedo após as eleições, para alívio do tio. A jovem sumidade intelectual que estava empregada no local estava com os olhos vermelhos indicando chôro. Pobrezinha, acho que acreditava em eleger um deputado estadual distribuindo santinhos em clubinhos de futsal e portas de colégio de um único bairro de Sampa. Eu já não agüentava mais gente bizarra tocando o meu interfone, achando que a diretoria do comitê ficasse no andar de cima. E toda essa encheção de saco foi para o tal candidato obter 1.906 votos.

Apesar de ninguém mais tocar meu interfone perguntando se o prefeito está comigo, as bizarrices estão longe de terminar. É que sala vizinha à minha é ocupada por um advogado trabalhista. Você não têm a menor idéia de o que é ser vizinho de um. À cada dezoito minutos aparece um exemplar da craçe trabaiadora para "pô nu pau" o ex-patrão. O interfone fica no hall comum às duas salas e o tal profissional do Direito não é alguém que permaneça muito no escritório. Quando não está em audiência está torrando os honorários em cachaça ou cartelas de bingo. E nessas horas sobra o interfone pro tio dispensar as figuras que lá aparecem. Como essa de ontem:


- Pois não?
- Jozivaldu - pronúncia literal.
- Quer falar com quem?
- Jozivaldu.
- Desculpe não tem ninguém com esse nome aqui.
- Eeeeeu sou o Jozivaldu.
- Tá bom. E daí?
- O dotô.
- Você quer falar com O advogado?
- É. O dévogadu.
- Acho que ele não está. A sala dele está fechada.
- E como eu faço?
- Como você faz o que?
- Pra falar com o dotô dévogadu.
- Eu não faço idéia.
- Ah, tá bão - pelo silêncio imagino que ele já se foi.

Meia-hora depois ouço a porta do advogado abrir. Da minha mesa me estico para ver se ele tinha chegado. Mas espere: Eu não ouvi a porta de baixo abrir. Para minha surpresa, de dentro da sala sai o portador de OAB. A cara amassada e inchada, com clara aparência de quem tinha tomado uns aguardentes de cana e se trancara para uma soneca básica, em plena tarde de terça-feira. Ele vai até a porta do tio e pergunta, na maior cara-de-pau:
- Eu ouvi o interfone, tio. Era pra mim?
- Sim.
- Era o Josevaldo?
- Josevaldo, Jozivaldo, José Valdo, sei lá... acho que era esse nome sim.
- Ótimo. Acho que eu vou lá na casa dele. Temos uns assuntos a resolver.
- ...

Nesse momento eu só me pergunto: Que merda eu tenho a ver com isso? Eu mereço? É um carma?

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Santa ignorância

Ligue as caixas de som e ouça isso:

Momentos juntos

O momento em que estamos juntos parece interminável.
De tão unidos nossos corpos, sinto as batidas do seu coração.
Nosso ar se confunde como uma só respiração: o ar que respiro vem de você.
Nossas mãos se trombam procurando sôfregas por algo que nos sustente.
Nossos movimentos em ritmo embalam nossos corpos como um só.
Paramos por alguns segundos e tentamos em vão nos separar.
E à cada pausa, uma força ainda maior nos une.
Nossos suores fluem a se misturar.
Um enorme calor sobe por nossas faces.
Nos perguntamos: por que estamos ali tão juntos?
E, quando parece que vamos desmaiar, ouvimos uma voz que nos alivia:

- Estação Sé, desembarque pelo lado esquerdo do trem.

Ufa!

sábado, 21 de outubro de 2006

Felicidade... ou irrealidade?

- Alô, tio?
Reconheci imediatamente a voz de uma conhecida e respondi surpreso:
- Oi menina! Que bons ventos a fazem ligar pro tio?
- Ah tio! Eu tenho uma novidade. Você é o primeiro para quem eu to ligando. To tããããão feliz! Adivinha vai.
- Que bom! Deixe-me ver... Passou na enfermagem da USP?
- Não.
- Então foi promovida no hospital?
- Nããão.
- Hum... o inventariante do seu pai achou uma fazenda dele no Mato Grosso?
- Ah, vai tio! É sério!
- Desisto.
- Vou ser mamãe de novo!
- Ahn... - tomo fôlego - jura?
- Sério, to tããããão feliz - repete a interlocutora.
- Puxa, que legal! - meu tom de voz certamente denunciou meu desconcerto - Então mas... quem... você sabe... quem?
- É do Josivaldo*.
- O segurança?
- Sim.

Não consigo esconder a minha ausência de palavras e paro de escrever alguns minutos.

Janaína*, é uma conhecida da natação. Conheci-a há um ano no clube. A moça tem vinte e cinco anos e é mãe solteira de uma pequena de cinco. Mora com a mãe e parece que se relaciona às turras com o pai da filha, por questões previsíveis. Nunca cohabitara com ele, nem com outro. Ou seja: é mais uma mãe que não tem a menor noção do que é constituir uma família ou administrar um lar. Até da própria maternidade ela não pode se dizer uma militante efetiva. Trabalha fora e sua cria é revezada entre escola infantil e cuidados da avó.

Josivaldo é ex-guarda municipal e estava trabalhando em uma empresa de segurança, alocado no clube. Pai solteiro de outra menina, tem vinte e três anos e já havia morado com a mãe dela, mas "não deu certo" segundo me contou. Não faço a menor idéia de com quem more. Simpático e assediado pela mulherada no clube parece já ter saído com umas duas dúzias e meia das sócias, entre dezoito e cinqüenta anos e que oscilam entre quarenta e cem quilos, sem muito critério seletivo. É de se esperar que Janaína seja apenas mais uma delas. E até onde sei, é.

Dias depois estava eu no msn teclando com a saltitante-futura-mãe-solteira-repetente, quando notei o Josivaldo online. Puxei um papo à toa com ele e fiquei me alternando entre as telas, com a devida discrição. Eu não sabia se naquele instante ele e a Janaína também teclavam entre si. Perguntei à jovem como o futuro-papai-solteiro-fresco-repetente havia recebido a notícia.
J> Ele ficou superfeliz tio, acredita?
T> Acredito. Você contou a ele quando?
J> Semana retrasada, quando eu te liguei eu já tinha falado com ele.
T> Que bom!
J> Pois é, tio. Ele falou que vai dar a maior força.
T> Mesmo? Ainda bem né? Tem falado com ele esses dias?
J> Então, nessa semana ainda não. Ele não tá podendo atender celular no trabalho e não tem conseguido entrar no msn. É que ele foi transferido para outra unidade, tadinho.
T> Que pena! - deduzi o fato óbvio de que o cidadão tinha bloqueado ela.

Resolvo ir à outra tela continuar o papo com o Josivaldo:
T> Mas e aí mano? Alguma novidade?
J> Putz, nem te conto. Cê não tá sabendo?
T> Eu nunca sei de nada. Conte-me tudo. Não esconda nada do titio.
J> Cara, cê não vai acreditar. Sabe aquela magricela alta lá do clube, a 'girafona'?
T> Você quer dizer a Janaína?
J> Pode crer, tio. Cara, ce não sabe a merda. Acredita que ela tá grávida?
T> Sério? Outra vez? Ela já tem uma filha né?
J> Pois é, véio! Agora adivinha o papo que ela veio pra mim?
T> Minha bola de cristal está na assistência técnica.
J> Cara, ela veio me falar que o filho é meu.
T> Bem, até onde eu sabia as chances de sê-lo são reais né? O senhorito era um comparecedor assíduo com ela.
J> Meu, se liga na furada!
T> Furada né? Pois é, você estava 'furando' faz tempo, até onde sei. E agora doutor, o que você vai fazer?
J> Já fiz, chegado. Já fiz. Pedi transferência e tô dando um perdidaço nela. Tô fora! Puta mina louca.
T> Ah, você foi transferido?
J> Só. Tô no Jabaquara. A mina tá louca que eu vou ficar posando de maridinho com dela e com filho no colo. Na hora que ela me contou eu dei uma assim tipo: pô, legal... Mas foi só prá ela baixar a guarda e não colar na minha. Se ela acha que eu vou atrás, tá enganada. Ela que vá na Justiça. Nem me viu.
T> Entendi. Essas coisas são complicadas.
J> Tio, vou sair fora agora porque tá acabando meu horário de almoço, beleza?
T> Na boa.
J> E ó, tio: se você encontrar com aquela louca, não comenta nada que falou comigo não, tá?
T> Eu falei com você? Quem é você? Porque estamos teclando? Te conheço? - ironizei.
J> Firmeza. Fui - e nesse momento ficou offline - .

Voltei para a tela da Janaína:
T> Alô? Tá aí ainda?
J> O tio, tô sim. Cê tinha saído?
T> Fui ao banheiro rapidinho. Mas então, que coisa!
J> Pois é tio. Não vejo a hora de fazer o ultrassom e ver o coraçãozinho do bebê. Que delícia, né? Quando eu agendar vou chamar o Josivaldo. Ele vai adorar ir comigo.
T> Com certeza. Chama sim. (...) Olha, o tio tá indo nessa, que têm umas coisas pra eu fazer.
J> Tchau tio. Um beijo.
T> Tchau. Fui.

Não sei o que comentar. Comente você.

V de vingança

Tempos atrás, estava eu no meu escritório, quando lembrei de uma chamada telefônica que tinha que fazer. Lembrando o número anotei em um post-it, colei no monitor e disquei. Atendeu-me um cara mal humorado como nunca vi:
- Que é? - estranhei porque ela morava sozinha.
- Bom dia! Poderia falar com a fulana?
O cara bufou e desligou. Como pode haver alguém tão grosso? Então procurei na minha agenda o número correto da amiga e liguei. Eu tinha invertido os dois últimos algarismos. Depois de falar com minha amiga, vi o número errado. Decidi ligar de novo. Quando a mesma pessoa atendeu eu falei:
- Você é um filho da puta, viu?
Desliguei imediatamente, destaquei o post-it e anotei ao lado do número as iniciais: FDP. Colei de novo no monitor e o elegi meu desafogo de raiva. Toda vez que eu estava estressado, ligava pra ele e xingava. Isso me fazia sentir realmente muito melhor. Ocorre que na época a Telefônica estava lançando o serviço "Detecta" de identificação de chamadas. Achei que teria mesmo que parar de ligar para o filho da puta. Então, tive uma idéia. Liguei para ele, mudei o tom de voz e disse:
- Boa tarde, aqui é da Telefônica. Estou ligando para saber se o senhor conhece o nosso serviço "Detecta".
- Não interessa! - disse o grosso, desligando na minha cara. O cara era mesmo mal-educado. Rapidamente, disquei novamente:
- Alô!
- É por isso que você é um filho da puta! - e desliguei rapidinho rindo que só eu.
Aqui vale até uma sugestão: se existe algo que realmente está lhe incomodando, você sempre pode fazer alguma coisa para se sentir melhor: eleja uma vítima e diga para ele o que ele realmente é. E pronucie filho da puta com a boca bem cheia. Faz um bem danado.

Dias depois fui ao shopping. Estacionamento lotado como sempre. Vi um carro com a luz de ré acesa e parei para ocupar a vaga. Era uma tiazinha de uns 128 anos e fez quatrocentas manobras para tirar o carro da vaga. Depois das intermináveis balizas ela saiu e engrenei para manobrar meu carro. Do nada, apareceu um Vectra preto vindo na mão oposta e entrou com tudo na vaga que eu estava esperando. Comecei a tocar a buzina e a gritei:
- Ô meu chapa! Eu estava aqui primeiro!
Em vão. O fulano do Vectra simplesmente desceu do carro, fechou a porta, ativou o alarme e caminhou no sentido do shopping, se fazendo de surdo. Comecei a olhar se haviam câmeras de vigilância, planejando a depredação do carro dele. Foi aí que percebi que o carro tinha um aviso de vende-se no vidro, com um número de telefone fixo. Então, respirei fundo, anotei o número e fui embora do shopping.

Dias depois o tio estava sentado no escritório. Acabava de desligar o telefone, após ligar para meu amigo filho da puta, como fazia todos os dias. Eis que lembrei do telefone do Vectra. Adivinhe o que fiz?
- Alô?
- Por favor, é daí que estão vendendo um Vectra preto?
- Sim.
- Eu anotei o telefone no trânsito e gostaria de marcar para ver de perto.
O desavisado devia estar desesperado pra vender e lascou o endereço da casa:
- Sim amigo, eu moro na Rua Bzvitchz 527, na Lapa. É uma casa amarela.
- Legal! Qual é o seu nome amigão?
- Meu nome é Rzvotznicks Schwartz*.
- Em que hora é melhor eu marcar contigo?
- Dia de semana à noite. Nos finais de semana eu quase não saio. Quer vir amanhã?
- É o seguinte Rzvotznicks, posso te dizer uma coisa?
- Claro, amigo.
- Rzvotznicks, você é um grande filho da puta. Filho da puta mesmo! Viado! Corno! - e bati o telefone às gargalhadas, quase vingado.
Anotei cuidadosamente o telefone de minha nova vítima. Agora eu tinha dois filhos da puta para ligar. Só que após mais algumas ligações alternadas aos dois filhos da puta, a coisa foi perdendo a graça. Fiquei pensando em como incrementar a sacanagem e tive uma idéia. Liguei para o filho da puta 1. O cara, mal-educado como sempre, atendeu:
- Alô!
- Você é um Filho da puta - mas desta vez não desliguei.
- Ainda está aí, desgraçado? Não vai desligar seu cuzão?
- Siiimmmmmmmm, amorrrrrr!!! - respondi rindo.
- Liga pra puta da sua mãe - disse ele, irritadíssimo.
- Nããããão filho-da-putinha queridoooooo.
- Fala teu nome, lazarento! - berrou ele, descontrolado!
Eu, com voz séria de quem também está bravo, respondi:
- É o seguinte xará: meu nome é Rzvotznicks Schwartz*, seu filho da puta. Por que? Vai me pegar?
- Fala onde você mora se for homem, que eu vou aí te pegar, desgraçado! - esbravejou.
- Você acha que eu tenho medo de um filho da puta? Anota aí viado: Rua Bzvitchz 527, na Lapa quer que eu repita? Rua Bzvitchz 527, na Lapa. Uma casa amarela. Tem um Vectra preto na garagem, seu palhaço filho da puta. E agora, vai fazer o quê seu trouxa?
- Eu vou até aí agora mesmo, cara. Começa a rezar, porque você tá morto seu puto!
- Uuiii! É mesmo? Ai que meda! Seu bosta! Vou te esperar na porta - e desliguei o telefone na cara dele.
Aí liguei para o filho da puta 2. Ele mesmo atendeu:
- Alô?
- Olá, grande filho da puta - sou eu de novo, lembra?
- Cara, se eu te encontrar vou...
- Vai o quê? O que você vai fazer, sua bicha arrombada?
- Vou chutar a sua boca até estourar todos os seus dentes!
- Acha que eu tenho medo de você, filho da puta? Vou te dar uma grande oportunidade de tentar chutar minha boca, pois estou indo para tua casa agora! Vou arrebentar sua cara e pôr fogo nessa merda de Vectra. E depois vou pôr fogo nessa casa amarelinha de bicha. Me espera na porta, seu trouxa.
Aí eu saí rapidinho e fui até um orelhão. Liguei pro 190. Falei com uma voz afetada e chorosa, que estava indo pra casa do meu namorado Rua Bzvitchz 527, na Lapa e ia matar ele porque me traiu, que eu odiava ele e mais duas ou três bobagens. Desliguei rapidinho antes que me localizassem. Liguei em seguida pro jornal Notícias Populares - que já não existe mais - e fiz um drama, avisando que tinha um babadaço de duas bichas se matando na minha vizinhança, na Rua Bzvitchz 527, na Lapa. Peguei meu carro e zarpei pra lá também.

Foi a coisa mais divertida que já fiz em toda minha vida. Ver dois marmanjos se esmurrando e indo presos enquanto o fotógrafo do Notícias Populares se esbaldava com a cena. Melhor ainda foi abrir o jornaleco no dia seguinte e ver a notícia no alto da página com uma chamada enorme: "Bichas ciumentas quase se matam na Lapa" e as fotos dos dois trouxas algemados com as caras estouradas.

Moral da história: Sei lá... Não sacaneie com o tio Xavier.

* Essa história e todos os demais dados citados são fictícios e adaptados de outras que já recebi algumas vezes. O tio Xavier não tem um pingo de tempo pra ficar azarando no telefone com quem quer que seja. Mas que seria divertido, seria. Aliás... eu tenho o telefone de um filho da puta que bem que merece. Boa idéia.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Menção honrosa

Meu amigo havia passado um certo desaforo tempos atrás, por conta do alarme do carro dele, conforme eu narrei neste post. E como sabem os que leram este outro post, fazia um bocado de tempo que o tio Xavier estava sem musiquinha no carro. Então um dia desses o tio resolveu comprar um rádio toca-fitas usado no bom e velho Mercado Livre. Foi isso que você leu: toca-fitas. A esperança que nunca morre do tio é que desistam de me roubar o som do carro, ao menos pela obsolescência do artefato. Custou-me meros oitenta reais. Doravante esse belo exemplar da Sony® fará parte do meu acervo sonoro.

Por sugestão minha eu e meu amigo fomos em uma oficina especializada em som e acessórios. É dessas instaladoras de quinquilharias bombadas, que os amantes de tunning adoram. O tio já havia instalado som e também filme nos vidros por mais de uma vez no estabelecimento e sempre gostou da qualidade do serviço.

Chegando ao local, encostamos os dois carros e procuramos o gerente. Cortês como sempre, este nos atendeu e explicamos as necessidades. A minha de instalar a maravilha tecnológica e o do meu amigo dar o tal reset no alarme para reativá-lo.

O serviço todo foi executado em cerca de quarenta e cinco minutos. Eles não pediram manual, nem esquema de ligação e muito menos que lhe indicássemos onde estava um micro-switch ou coisa parecida. E atenção para o total da fatura: R$20,00. Foi que você leu: vinte reais. A instalação do som ficou ótima e o alarme do amigo está funcionando perfeitamente, como era para ser.

Aqui vai a menção honrosa: SUNNY SOUND: Som, acessórios e filme para os vidros. Loja espaçosa, com sala de tv para o cliente, tudo limpo, técnicos rápidos e competentes. Precisando e sendo-lhe possível ir à Z. Leste de Sampa, não hesite. Vale à pena.

domingo, 15 de outubro de 2006

Um weekend com você

Um conhecido meu apaixonado por veleiros uma vez me disse algo que me marcou bastante. Que passar algumas semanas em um barco, juntando duas famílias era um teste de amizade bastante severo para qualquer um. Amante da privacidade familiar que sou, entendi perfeitamente o que ele quis dizer. Como eu jamais seria capaz de passar semanas em um barco, sozinho ou acompanhado de quem quer que fosse, comparo a uma hipotética estadia em um imóvel litorâneo em um feriadão.

Sabe quando aquele amigo ou parente arranja um super fim-de-semana na praia e gentilmente convida a sua família? Então você topa e com mapa na mão, porta-malas cheio de pertences, criança(s) no banco de trás, lá vai ao encontro do endereço passado pelo e-mail. Arrisco-me na previsão de alguns episódios memoráveis e prováveis, dessa longa odisséia que poderá durar três ou quatro dias.

A chegada: o clima invariavelmente será de excitação. A família anfitriã mostrará a casa, pedirá desculpas por algum detalhe imaginavelmente desconfortável. Tomara que se trate de gente a quem você conheça razoavelmente bem, até mesmo para equilibrar as expectativas. Nesse instante, as crianças de ambas as famílias estarão a suar adrenalina pelos poros. Começará a correria e gritaria infantil, já que para criança tudo é festa. Vocês ajeitarão as bagagens, acomodar-se-ão no recinto apropriado e tentarão encaixar-se na nova e temporária rotina em comum. As mulheres providenciarão o preparo da alimentação e os homens abrirão sucessivas latas de cerveja, enquanto se amontoarão em frente ao aparelho de tv à caça de futebol. Tomara que você seja adepto de algum desses afazeres, pois o pior estará por vir.

A primeira refeição: será quando você sentirá que todo o esforço pela educação do(s) seu(s) filho(s) poderá ir pelo ralo em segundos. Você, que tanto prima pelo mínimo de qualidade na alimentação, verá os filhos dos outros acessando livremente todo tipo de bugigangas, tomando refrigerante no lugar de água, desprezando impunes as refeições regulares e sequer sentando-se à mesa. E seu filho sentir-se-á atraído pela anarquia alimentícia. Começará a hora do pânico.

O prédio: você terá se hospedado em um apartamento. Por alguma razão desconhecida, os pais das outras crianças não se importarão em ver seus pequenos de sete anos e sem nenhum discernimento subirem e descerem de elevador sozinhos. Será a hora do pânico II: o resgate.

A praia: impressionante como pais maiores de trinta anos e com formação universitária, podem se mostrar relapsos no zêlo com os pequerruchos. Continuo não conseguindo conceber o que pode haver de normal em crianças pequenas ficarem brincando sozinhas no mar, sem nenhuma supervisão adulta. Estou sendo terrorista em supor que os pequenos não têm nenhuma noção dos perigos que o oceano oferece? Só pode ser, porque prevejo que os tais pais e mães permanecerão com cara de alheios, sem nenhum interesse pela profundidade, nem local onde os pequenos estarão. Será a hora do pânico III: o naufrágio.

A hora de dormir: Entende que, para o bem da saúde infantil, les petits devem dormir em um horário razoável. Digamos que conciliando o horário de silêncio do condomínio com um mínimo de flexibilidade, por ser fim-de-semana, 23h poderá ser uma boa sugestão. Mas nada que se pareça com algazarras, gritarias e correrias próximas da meia-noite será compreensível, ok? Estou delirando novamente? Mas a postura de estátua dos outros pais indicará que sim. Será a hora do pânico IV: o desespero.

O churrasco: Se escolherem fazê-lo em algum almoço, procure não ficar na praia enchendo a cara até as 17h. Caso contrário todos voltarão falando dialetos estranhos e só então começarão a acender o carvão. Almoços por volta das 14 horas seriam razoáveis. Caso desconheça o local e equipamentos disponíveis o melhor é checar antes para garantir os apetrechos mínimos e sua limpeza. Principalmente uma boa faca de corte. O risco será perceber tardiamente que a única faca disponível é uma de serra e de eficiência criminosa e, quando você tentar cortar a picanha, produzirá fatias esfoladas e hemorrágicas. O resultado será um pseudo-churrasco, tardio, mal-feito, assado em grelha suja, desidratado e duro. Será a hora do pânico V: a fuga.

Nesse momento todo o cenário indicará que:
1) A bebedeira não terá fim.
2) Os arremedos de refeição doravante terão sua qualidade e paz comprometidos.
3) O jogo de dominó irá até a 798ª eliminatória e será tão ruidoso quanto truco, independente do horário.
4) Que o zêlo pela ordem infantil cairá a índices bem abaixo dos recomendados pelo Unicef.
5) Que o seu esforço educativo pelas suas crias levará semanas para ser restaurado.
6) Que será hora de lembrar ao seu cônjuge de que há inúmeros afazeres em casa e vocês têm que subir mais cedo. E você deverá fazê-lo com urgência.

Mas tudo isso são situações absolutamente hipotéticas e fictícias. Claro que jamais acontecerão.

Sem medo de ser (in)feliz.

Sinceramente não agüento a pobreza espiritual de nossa classe média decadente e endividada que insiste em posar de elite. Eles argumentam com os mesmos malhados e repetitivos (pré)conceitos com que tratam o pintor, o pedreiro e a diarista de suas casas. Encarnam um nazi-facismo na sua pior versão tupiniquim. Gente que compra home teather e tv de plasma em cem prestações e os usa para assistir Faustão e Gugu. Gente que aluga buffets caros para fazer suas festas e as pagam com o limite do cheque especial. Gente que se pinta de culta e, sem o menor critério, toca e dança "Atoladinha" e podridões similares em suas festas. Gente que não perde o Jornal Nacional, assina a Veja ou a Istoé em doze prestações e acha serem o supra-sumo da informação. Gente que compra Johnny Walker Black Lable no cartão de crédito rolado e, uma vez embriagada é capaz de tantas baixarias quanto qualquer serviçal, cachaçado com 51. A pobreza espiritual universaliza e homogeniza as pessoas pela pior faceta do ser humano. Independente de possuir um cartão de crédito ou cheque especial e, vale dizer, cujas faturas destes somam meses de rolagem de dívida com pagamento mínimo. Um mundo de cascas sem conteúdo intelectual, nem sustentação material. Essa desesperada gente me causa medo.

Seguindo a mesma linha, vemos os milhares de filhos dessa classe média assustada. São matriculados em instituições de ensino superior que variam, conforme a possibilidade de financiamento de seus pais. Só que a esmagadora maioria desses filhos, uma vez longe dos olhos dos pais, passa a maior parte do tempo não nas carteiras nem nas bibliotecas das universidades, mas bebendo e fumando nos botequins nos arredores, onde planejam meticulosamente onde será a próxima balada e farreando com os sonoros porta-malas com três mil watts, de seus carros comprados em sessenta prestações. Pena que fiquem a ouvir as mesmas coisas de gosto duvidoso que tocam em suas festas nos buffets. E basta dar uma volta nos arredores de qualquer instituição mesmo em pleno horário de aula para vê-los: corados, bombados, sorridentes, embriagados e alienados. Contudo, após três, quatro ou cinco anos de suposta freqüência, eles conseguem - sabe lá Deus como - concluir a pontuação e créditos necessários. Passam a ser corados, sorridentes, embriagados e alienados portadores de diplomas. E, doravante, passam a se enxergar como seres superiores, no pedestal de seu confuso limiar entre a autocrítica ariana, a incapacidade de realizações e falta de direcionamento social. Tão somente e repetitivamente engrossam o côro dos que acham que um não-portador de diploma jamais deve alçar qualquer posição de liderança. Quanto menos - e ponha menos nisso - ser o representante-mór de uma nação.

Aí aparece um ex-operário e, do alto do seu "self made" - têrmo que os norte-americanos adoram - e após quase trinta anos de ininterrupta e turbulenta atividade política, torna-se presidente da República, veja que absurdo. Lamentavelmente ele sequer cursou ensino superior, fala errado, coça o saco, bebe cachaça, palita os dentes, descompõe celebridades e diplomatas e às vezes embriagado esquece o que era pra ser dito, repondo com alguma asneira ou impropério gramatical. Nisso parece-se com um elemento inusitado, quase folclórico. Sobretudo inesperado pelas famílias endividadas de classe média e por seus filhos, descritos acima.

O tal presidente ex-operário, no campo da política, faz tantas ou mais merdas quanto qualquer outro. Ancora-se em tantos ou mais assessores de índole duvidosa como qualquer outro. Para quem não sabe todos os presidentes eleitos são obrigados a assinar a contratação direta de cerca de cinco mil cargos de confiança. Eu juro que gostaria de ter cinco pessoas de minha absoluta confiança. Ele viaja tanto quanto qualquer outro, se é que um presidente tenha que ficar olhando o próprio umbigo do país. E mais uma vez, como qualquer outro, faz opções e elege prioridades. O mapa de votação deixa claro que ele não priorizou os já corados e sorridentes citados acima. Nem os portadores de cartão de crédito que rolam dívidas ou teria baixado estes juros. Nem os bolsões pseudo-emergentes dentro das grandes capitais, talvez porque estes tenham suficientes meios para dar seus pulos. O mapa eleitoral dá conta sim de que ele deve ter feito algo, seja o que for, em prol de famílias sem estudo, com filhos raquíticos e amarelados, que andam quilômetros à pé para buscar um balde de água quase potável e que não têm a menor noção do que é uma academia de ginástica, nem um boteco próximo de uma universidade, muito menos o que é esta última. Apesar de socialmente não-escolhidos, eles também fazem suas escolhas. Às vezes movidos por um par de botas, às vezes pela admiração de seu dominante, às vezes em retribuição de um simples programa social.

De fato, se o sujeito está, como denotam as urnas e pesquisas da eleição, usando a nossa pesada carga de impostos para reduzir o custo do cimento, insumo básico da moradia, distribuir de forma certa ou errada a renda auferida desses impostos, viabilizando condições mínimas de vidas nos bolsões mais pobres de Pindorama, eu fico com a reeleição dele. Até porque é o único com credibilidade e base política. Traduzo BASE como: assento e referência no meio operário e popular não-alienado. O sapo barbudo é o único que faz parte de um partido que AINDA tem participação popular e militância de base engajada. Estes que podem mudar a sociedade. Os corados dos botecos jamais o farão, primeiro por incompetência. No máximo, quando a água bater-lhe nos traseiros, tentarão perpetuar a divisão que os permite freqüentar a faculdade, andar de carro e beber álcool.

Com o tal ex-operário - e pelo cardápio eleitoral somente com ele - ainda será possível inverter a pirâmide de prioridades de uma sociedade baseada em não-valores, em não-cultura, em não-divisão de renda e em não-promoção social. Mudar arraigados conceitos de perpetuação de estruturas de propriedade, de posse, de sobrenomes e heranças. Senão, que ao menos a pitoresca presença dele na cadeira do planalto continue servindo de tapa na cara dos nossos nazi-facistas tupiniquins de almanaque.

Tomara o tapa cause dor no rosto de nossas classes dominantes e nos de suas caricaturas pobres, compostas pela classe média endividada e alienada. O "espelho espelho meu" acusa que vosso trono de beleza está por um fio.

sábado, 7 de outubro de 2006

A importância do limbo para a humanidade

Apesar de não poder mais ser considerado um ser humano religioso, o tio Xavier teve uma consistente e profunda formação filosófica e teológica, durante sua juventude até o início da idade adulta. Foi um período rico em experiências de reflexão sobre o Universo, a existência humana, o divino, a mística e sobre a espiritualidade no sentido mais amplo da palavra, de ação concreta e participação social. O grande diferencial da escola teológica que então eu abraçara era justamente a prática da fé. Não estou falando de nada ritualístico tampouco litúrgico embora esses aspectos façam parte. Mas sim de como a fé nos impulsiona no ambiente social.

“Que proveito há, meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma.” (Tiago 2:14-17)


[modo pregação on] O alcance social da verdadeira "obra da fé" é extenso. De nada adianta a piedade espiritual, se não materializar-se socialmente no maior âmbito possível. Se diante da injustiça social, da corrupção, do lôgro, da exploração e da enganação a fé não se manifestar no ambiente social, ela será tão ou mais ineficaz quanto a moeda que se dá no semáforo, para o pedinte. Perceba que a esmola, por si só, também não se enquadra bem no conceito de obra da fé, embora não haja mal absoluto nela. Só que ela não provoca alteração do cenário. Possivelmente e até mesmo por causa da moeda, amanhã o pedinte novamente estará lá.

Pense nisso com profundidade e perceba que também a SUA participação política, a SUA relação com a categoria profissional, a SUA relação com grupos por melhoria dos serviços públicos e coisas assim são ambientes que propiciam manifestações concretas de fé. Exigem ações, no sentido mais religioso da palavra, de reintegração do indivíduo de fé com o mundo à sua volta. Uma espiritualidade piedosa e ritualística divorciada de ações sociais concretas é tão inócua, superficial e falsa quanto egoísta. A fé pode alimentar-se das práticas ritualísticas, mas se manifestará de fato na relação com o outro. O lado endógeno da fé só tem sentido enquanto sustenta e impulsiona as ações do bem social. Fora disso é um grande sino barulhento, vistoso... e oco. Agora, de posse desta reflexão, releia a citação bíblica acima e perceba a implicação social dela. [/modo pregação off]

Entrementes o senhor Joseph Ratzinger, do alto da pompa e circunstância de seu trono - que dizem herdado de Pedro - preocupa-se com a volatilidade da alma e como e onde ela flutuará, caso não tenha cumprindo rituais religiosos prescritos. Estão discutindo ISTO, enquanto uma nova tensão bélica nuclear se aproxima com ações invasivas de potências econômico-militares e de países discordantes da hegemonia. Os cardeais articulam uma preocupação com o destino das almas dos não-batizados, ao mesmo tempo em que centenas de seres inocentes são massacrados no Iraque invadido. Concentram-se em definir se o limbo é um lugar ou não, enquanto a maior parte da África torna-se cada vez mais um não-lugar, sem sua fatia de participação e dividendo na nova economia mundial. Eu diria que isto é semelhante a passarmos pela rua, vermos alguém espancando uma vovozinha de oitenta anos e darmos de ombro, dizendo o conhecido "não é comigo". Imparcialidade não existe.

Tire suas próprias conclusões.