segunda-feira, 26 de junho de 2006

Singelo, como a vida tem que ser

A peça acima é de um calendário intitulado Happy Down. Me chegou
às mãos (meio atrasado) através de uma amiga muito querida,
cujo filho também possui síndrome de down.
Essas crianças fofas do mês de junho são Isabella e Caio.
Prometo colocar as imagens dos meses seguintes no ar, nos dias 1º.
Se eu esquecer, me lembre.

What´s your name?

Sempre me intrigo ao imaginar quais coisas passam nas cabeças de pais e mães, na hora de escolher nomes para os rebentos. Vejam abaixo:

- Jennifer Lopez*
- Steven Spielberg*
- Nicolas Cage*
- Kevin Costner*

Nada a se estranhar, a não ser que os quatro são irmãos, filhos do vigia noturno da minha rua. Não me perguntem nada, pois nada mais sei a respeito.

(*) Estou partindo do pressuposto de que a grafia seja exatamente a original, já que o progenitor faz bico em uma locadora de vídeo. Não me atreverei jamais a olhar a certidão de nascimento de nenhum deles. A quinta filha - Marjorie Princesa - não foi mencionada neste post, pois o nome carece de referências no showbiz.

sexta-feira, 23 de junho de 2006

Classisex

Estou a folhear um jornal fantástico como informativo de massas e formador de opinião: o Metrô News. Para quem não sabe, o MN é um tablóide distribuído nas estações de metrô de Sampa. A proporção de conteúdo me parece ser 85% de publicidade e o restante de matérias, boa parte extraída de outros veículos. Ironia à parte, ressalto que o dito tem tiragem de 120.000 exemplares, o que está longe de desprezível. Nos classificados há uma seção chamada "Relax" que na edição de ontem registrava cerca de 50 anúncios. É muito engraçado ler os apelos das profissionais e elucubrar um pouco. Senão, veja só esses extratos (reais):

"ACÁSSIA - Faço c/ você o q sua mulher ñ faz..."
(Como assim? A patroa contou algo pra ela?)

"AMANDA LOIRA compl. do começo ao fim, iniciante..."
(Essa tal, aparece há cinco anos com o mesmo nome e telefone. Deve iniciar todos os dias)

"ANA PAULA 18A gauchinha... tudo por $20 dou caixinha de brinde..."
(Juro que fiquei curioso. O que haverá na caixinha? Vou ligar pra perguntar)

"AS PRINCESAS - A partir de $10..."
(Princesas por "déirreal"? Devem estar em estado de rã ou são clones de ogra da Fiona)

"CAMILA GOSTOSA - Bjo na boca..."
(Nooossa! Tudo o que um cara sexualmente necessitado quer é isso)

"CARLA E CAROL $20 + 3 amigas..."
(Explique melhor: pelos $20, estão inclusas as cinco?)

"DEISE DOMINA adoro escravos..."
(Lamento Deise, a abolição foi escrita há mais de cem anos)

"KATARINA MULATA 1h/$20 ad.beijar louca p/sacanagem..."
(Ela deve ler revista de sacanagem enqüanto o cliente copula)

"MÃE E FILHA $20..."
(O mundo está definitivamente perdido ou sou eu um velho careta?)

"MEL + 5 amigas convidam! Queremos fazer tudinho com você..."
(Tudinho... Pela quantidade de amigas, querem rapar sua carteira)

"MESTIÇA LEGÍTIMA..."
(O que é mestiça legítima? E ilegítima? De qual etnia?)

"TRAVESTI SABRINA... 23X9"
(Hã? I don´t speak Portuguese, sorry)

"VIVI LOIRA... at. apto luxo, Anhangabaú..."
(Apto de luxo no Anhangabaú? Esse anúncio é de 1.940 né?)

quinta-feira, 22 de junho de 2006

O quarto anjo

Cavaleiros com cavalos de aço barulhentos, desfilavam arrogantemente com estandartes e bandeiras. Pais ignoravam filhos. Uma senhora idosa que aparentemente tinha escorregado era praticamente esfacelada, pisoteada pelas pessoas que corriam sem sequer olhar o chão. Uma criança chorava a perda da mãe; pobrezinha devia ter uns três anos. Uma chuva de metal colorido e brilhante caía sobre as pessoas. O som das trombetas era ensurdecedor e estrondosas explosões enchiam de fumaça o ar que as pessoas tentavam respirar. O barulho e o pânico estava estampado no rosto das pessoas.

Esta não é nem uma passagem do Apocalipse de João, nem de Nostradamus. É o retrato do bairro onde trabalho, pouco mais de uma hora atrás. E eu, que me atrevi a dar uma voltinha pra fazer a digestão, mal pude acreditar no que via.

Não sei o que era pior de tudo o que vi: se o sujeito com a camiseta imitando a da seleção, mas escrito "MARCELO" no lugar do nome do jogador e "D-2" no lugar do número, se eram os caras de peruca verde e amarela tocando corneta na porta da casa de fogos ou se eram as criaturas femininas horrorosas, que se atreveram a usar camiseta amarela amarradinha na frente, exibindo suas generosas panças e os respectivos poços. Isso mesmo: poços! Porque umbigo para mim sempre foi outra coisa mais sutil. Nos enormes sulcos à mostra, por entre as estrias, daria pra esconder o mensalão todinho, daquele deputado da cueca. Ridículas!

No boteco a cinqüenta metros daqui um amigo meu já estava rodeado com setenta outros bêbados, se acotovelando nos 3,5m² de área do estabelecimento. Tudo para conseguir uma posição privilegiada na enorme TV de 21", estrategicamente equilibrada em cima de duas mesinhas de bar empilhadas. Obviamente ligada na Globo e com o volume estridente e som distorcido. Nesse exato local, qualquer criatura que aparentar - note que não é requisito sê-lo de fato - um ser do sexo feminino receberá rasgados e impublicáveis elogios. Inclusive o trio de domésticas exibicionistas de poços, que comentei acima. Se você é mulher ou travesti e estiver com problemas de auto-estima, é só passar por lá.

Penso que agora o melhor seja eu ir buscar minha filha na escola infantil. Isso porque o tom do bilhete que veio dentro da agenda escolar dela, deixa claro que a diretoria defenestrará impiedosamente as crianças não-resgatadas pelos familiares até as 15h.

Não tenho escolha. Fui.

terça-feira, 20 de junho de 2006

O "impreiteiro" (ou pare de reclamar)

Sabe aquele amigo seu que reclama do país e que as vendas vão mal? Aquele mesmo, que diz que não está vendendo porque o patrão dele não divulga o produto? Ou aquele outro, que diz que os clientes não telefonam, porque a empresa não faz um folheto promocional legal, não participa de feiras e não faz outdoors? Ou aquele outro, que está desempregado há dez anos a afirma que é porque o dólar agora está baixo demais (antes era porque estava alto), a taxa Selic continua alta e sempre os outros são culpados pela situação dele? Pois é. Indique este post a eles.

Tempos atrás achei essa singela peça de marketing direto dentro da caixa de correspondência, no portão de minha casa. O Sr. Pedro Santana provavelmente não se conformou com a situação e munido de poderosas ferramentas de divulgação - uma caneta esferográfica e um bloquinho espiralado de papel - pôs-se a escrever a mensagem acima e a colocar pessoalmente, em cada uma das caixas de correspondência do meu bairro.

Não sei o resultado, mas aos conhecidos que me pediam dica de um "impreiteiro" na época, eu mesmo cansei de indicar o fone º e o c lu do Sr. Santana, como ele mesmo escreveu, na simplicidade de quem mal fora alfabetizado. Prometo checar se os números de contato ainda lhe pertencem. E torço para que todos os brasileiros com boa vontade, como o Sr. Pedro Santana, continuem a conseguir honestamente o justo sustento para si e para as suas famílias.

Este país só não decolou ainda por falta de governo. Povo ele até tem.

* EM TEMPO: Testei os telefones e ambos não mais pertencem ao Sr. Santana. Uma pena! Senão eu o chamaria para pôr piso na minha garagem...

segunda-feira, 19 de junho de 2006

Falta de qualificação profissional assola também aos ladrões.

O carro acima foi parado por policiais rodoviários,
tendo sido roubado em S.Bernardo do Campo.
Os policiais perceberam graças ao singelo erro ortográfico
que constava, inclusive, nos documentos também falsificados.
O PCC precisa investir mais em ensino fundamental.

quinta-feira, 15 de junho de 2006

Super Nanny, por favor nos ajude!

O ingênuo e cômico apelo faz parte de uma recente atração do SBT, de formato comprado e licenciado de uma emissora estrangeira. Ingênuo porque é proferido por casais jovens, na maioria de idade inferior a quarenta anos. Cômico porque retrata uma situação cada vez mais comum entre famílias, sobre as quais seria razoável imaginar terem um mínimo de preparo para criar filhos. Mas eis que a cultura outsourcing, depois de minar o ambiente empresarial, já invade os lares na educação de adoráveis crias, transformadas em pequenos gremlins¹ pela incapacidade educacional dos pais e mães contemporâneos.

Para solicitar a participação no reality-show é simples: depois de jogar a toalha e assumir que estão reféns e dominados pelos pequenos, o casal se inscreve no programa, entregando os pormenores do difícil relacionamento com a prole e aguarda o seletivo contato da produção. Provavelmente por questões de marketing e público-alvo, as famílias eleitas até o momento são de classe média e possuem um nível de conforto razoável. Por trás disso podem estar alguns pensamentos como o de que "casa de pobre só atrai audiência em quadros vida-desgraçada no Gugú", ou mesmo de que "filho de pobre é largado e não merece psicóloga". No fundo é porque a classe média é potencial e voraz consumidora para os anunciantes durante o horário do programa, regra esta que rege quase todas as escolhas dos diretores de programação. Seja qual for a lógica, fato é que as casas apresentadas possuem ao menos dois quartos, DVD, TV de porte, automóvel recente na garagem, y otras cositas más, que possam propiciar à Super Nanny - encarnada pela educadora argentina Cris Poli - um ambiente com estrutura adequada à prática dos ensinamentos skinnerianos² da heroína.

A audiência do programa é inegável. Ao menos foi o que apurou o IXVA (Instituto Xavier de Verificação de Audiência), já que dez entre dez famílias de amigos que possuo já me comentaram ter assistido a alguns episódios da série. A pergunta que não quer calar é: que raios estará acontecendo nas famílias para que esse assunto interesse tanto? Minha humilde resposta é o apelo do próprio programa: os casais atuais são prisioneiros em suas próprias casas, tomadas de assalto pelos monstrinhos que eles próprios criam. Não me leve a mal pelo têrmo, você que não me conhece. O tio Xavier adora crianças a ponto de nunca ter deixado morrer aquela que vive em seu espírito. Crianças são os "bichinhos" mais adoráveis e abençoados que há sobre a terra e são a única esperança de que esta merda onde vivemos é capaz de virar algo habitável um dia. Mas há que se considerar algumas características de nossos tempos...

Uma que o contato do pai e da mãe com os filhos têm sido marcado pela superficialidade, escassez de tempo e - por conseqüência indevida - um sentimento de culpa por parte das mães. Daí é simples entender porque elas não conseguem impor o mesmo nível de respeito de há duas ou três década atrás, quando nossas mães passavam o dia todo conosco. Sim, porque os pais em geral são e sempre foram seres anos-luz distantes da rotina dos filhos. É comum serem alçados ao nível de STF³ quando a mãe já não consegue mais coordenar as rotinas profissional, doméstica e materna. Então o pai vira objeto da expressão: "... você vai se ver com seu pai!". Abaixo, esses pais se dividem em duas categorias: os laisse-fair (que mal-traduzo do francês como: "foda-se, não é comigo") e os executores penais. Os primeiros já estão explicados pela minha torpe tradução. A segunda classe compreende os aplicadores de cintos, chinelos e amplas mãos capazes de abranger com uma só palmada as pequenas nádegas, parte do dorso e a traseira das coxas dos pequenos. Não sou pedagogo - ainda -, nem psicólogo e nem santo para poder apontar o dedo no nariz de ninguém. Mas qualquer ser pensante em estado de tranqüilidade há de convir que o espancamento, antes de ser solução, é reflexo da perda de razão e das dimensões da real autoridade por parte dos pais e das mães.

Mas a solução dada por Nanny é invariável. É o que chamo cientificamente de "paradoxo da obviedade do behaviourismo nannysta": LIMITES e ROTINA. Duas palavrinhas que bem praticadas com afeto e amor são capazes de formar seres sociáveis e responsáveis da melhor qualidade. O que seria de nós se nossos pais e a nossa escola de outrora não nos tivessem dado limites? O que é a vida em sociedade senão uma sucessão de rituais, rotinas e disciplinas, que nos propiciam um mínimo de conviviabilidade social? Desse modo em todos os episódios, a heroína tasca plaquinhas ilustradas, contendo regras de o que se deve e o que não se deve fazer, destinadas aos pequenos. Para os adultos, cartolinas com o óbvio ululante: cronogramas de condução da casa adaptados ao escasso tempo do casal, confimando o absurdo despreparo deste para a vida em família.

Parabéns para os idealizadores originais do programa e meu "sinto muito" para os casais tão despreparados. Sugiro às instituições religiosas e aos educadores de ensinos médio e superior que incluam em seus currículos o que deveria ser natural no aprendizado familiar: como conduzir serenamente uma casa e educar filhos. Garanto que a médio prazo a humanidade estará livre até mesmo de Christianes Richtoffens e as Secretarias de Segurança Pública diminuirão consideravelmente os seus gastos com carceragem.

¹ Se você também não assistiu, não gaste seu tempo com isso. Clique AQUI para saber o que é.
² Para mais detalhes e informações sobre Skinner há um bom trabalho AQUI.
³ Supremo Tribunal Federal. Mais informações em http://www.stf.gov.br.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Dispensa comentários

"Tudo que move é sagrado
e remove as montanhas
com todo o cuidado, meu amor.
Enquanto a chama arder
todo dia te ver passar
tudo viver a teu lado
com arco da promessa
do azul pintado, pra durar.
Abelha fazendo o mel
vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
de sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver
para ser o que for e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
e o fruto do trabalho
é mais que sagrado, meu amor.
A massa que faz o pão
vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
e alimenta de horizontes
o tempo acordado, de viver.
No inverno te proteger
no verão sair pra pescar

no outono te conhecer
primavera poder gostar

no estio me derreter
pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu..."

(Amor de índio, 1978 ©Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

sábado, 10 de junho de 2006

Rumo ao hexa, Brasil!

Da janela do meu quarto e estarrecido vejo hoje a invejável disposição do povo da minha rua. Meus vizinhos mergulharam de corpo e alma no clima festivo da tal da Copa do Mundo. Homens e mulheres de todas as idades, neste exato momento estão sendo auxiliados por crianças e aborrecentes, na tarefa de pintar a rua com os símbolos cabalísticos e esotéricos da Copa. Até o emblema da CBF entrou no esquema. Pelo que pude perceber será bem na porta da minha casa. Um dos sujeitos, claramente mais apto ao desenho, contorna com giz branco e precisão geométrica os detalhes do distintivo da tal confederação. No tempo comum, é provável que ele seja um dos tantos a praquejar contra os dirigentes da entidade. Mas agora lá estão, ele e a mulher com os moleques, a especificar detalhadamente a correspondência de partes e cores, para que a logomarca da CBF saia perfeita. Vai entender esse povo.

O meu espanto maior não é pelo empenho desportivo-vassalo do pessoal. É pelo absoluto contraste com a vida cotidiana. Os pais e mães conseguem contagiar suas crias a ponto de pô-los a trabalhar na tarefa da pintura, com sorrisos de orelha a orelha. Será que esses mesmos pirralhos recolhem seus brinquedos em casa ou ao menos colocam as próprias roupas sujas no cesto com o mesmo sorriso? Quanto aos pais e mães propriamente ditos, juro que gostaria de vê-los em multirão a pintar alguma das escolas públicas do nosso bairro que - diga-se de passagem - estão com aparência péssima. Mas no caso destas, obviamente alguns deles dirão que isso é obrigação do Governo. Sempre dele. Não digo o contrário, mas há situações em que a mobilização e cooperação é a única forma de melhorar algo. Por que será que não acham que decorar as ruas para a Copa seja uma obrigação da CBF então? O que vejo agora é um absurdo em incoerência e desperdício de energia.

Não sei em quais dias, mas sei que logo logo todos os empreiteiros decorativos da minha rua estarão reunidos em volta de aparelhos de TV gritando, aplaudindo, sofrendo e sorrindo por algo que jamais será capaz de melhorar um milímetro de nossas medíocres vidas. Nos dias de vitória do timeco amarelo rirão gratuitamente como hienas pelas ruas do bairro. E nos dias de derrota culparão o juiz, a FIFA, a CBF, o técnico (juro que sequer lembro quem é), um dos Ronaldinhos ou mesmo a pqp pela derrota. Chorarão lamentando a "irrecuperável perda" que suas vidas sofrerão pelo gol tomado ou perdido.

Mas todos, terminado o estado de dopagem, terão que voltar à realidade e trabalhar para o Leviatã do Capital para sustentar o sistema. E alimentarão a cada um seus componentes: as redes bancárias, a estrutura voraz do Estado, a Imprensa, as religiões e partidos. Só que neste momento eles sequer se dão conta disso, entorpecidos que estão pelo cheiro das tintas e pela propaganda ufanista. O que terão ganho com a dedicação deles? Responda você mesmo.

Ps.: Se você é meu vizinho e está lendo isto, peço a gentileza de fazer pouco barulho durante os tais jogos da selecinha. Provavelmente estarei dormindo, ok?

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Festa junina? Claro que sim!

Não sou um brasilianista militante nem um bastião da defesa das tradições brasileiras tão ardoroso. Mas, sobretudo, amo do país onde vivo e as tradições que fazem nossa identidade. Eis que estamos em tempos de festas juninas. Os festejos de Santo Antônio, São Pedro e São João são marcados por divertidas brincadeiras nos arraiais, com direito à fogueira, comidinhas bem típicas - muitas à base de milho - música sanfonada, dança de quadrilha, quentão, vinho quente e trajes típicos. Adoro festa junina.

Lamento muito a distorção que tem feito com que os personagens originais - o caipira, a caipirinha, o noivo, a noiva, o padre e a polícia - venham a dar lugar, para versões tupiniquins e macaqueadas dos farmers e cowboys americanos. É muito triste ver um povo perdendo a identidade e substituir a música de quadrilha por baladinhas country, o chapéu de palha por refinados chapéus de cowboy, a calça jeca e remendada por grifes sofisticadas de jeans, a gravata estampada e desmedida por ponteiras de colarinho brilhantes e a botina surrada por elegantes e lustrosas botinas com esporas cromadas. Não se parecem conosco. Antes sim, com uma fotografia tosca e invejosa de nossos irmãos ricos do continente norte. O brasileiro tem vergonha de ser brasileiro, a não ser no futebol.

No que depende de mim, nossa boa velha festa junina particular já está armada. É composta por famílias de amigos que, ano a ano, se empenham mais em trajar-se à carater, esmeram-se em dançar quadrilhas com seus pares - sem ensaio prévio - e em comparecer à festa trazendo solidariamente as bebidas e iguarias adequadas. Tudo bem que o som da quadrilha desta vez será executado em .mp3, já que não temos narrador nem sanfoneiro. Mas quem se importa, se a essência se mantém?

Me alegra manter minha filha mais nova freqüentando uma escola infantil que mantém o calendário das festas juninas. Porque, tempos atrás, um colega meu foi protagonista de uma briga homérica, em uma escola particular de São Caetano do Sul. No mês de junho de um determinado ano, a coordenação da escola avisou que não realizaria festa junina, porque avaliava que "a concorrência de eventos similares nas proximidades poderia esvaziar a festa". De fato eu não sabia que uma confraternização escolar junina tinha que estar conceitualmente tão inserida no mercado de consumo e da concorrência. Agora, veja o que se seguiu: segundo meu amigo, em outubro, a escola mandou para os pais uma cartinha para participarem de...? Não adivinhou ainda? Acertou quem disse haloween! Meu amigo - olha que viajado e que trabalhou até cansar na Europa - contou-me que rasgou o verbo. Lembrou do W.O. junino e esbravejou furioso com a direção sobre o tal haloween. Não sei no que deu a história, mas esse cara é dos meus!

Abaixo "a galera de cowboy" e o haloween!

Viva a festa junina!

Simbora cumpadi!

Óia o túnio aí genti...

terça-feira, 6 de junho de 2006

Trajetos. Evitem pintar ruas nas seguintes regiões.

Terça-feira (06/06): Osasco, nas proximidades da Rod.Anhangüera (à tarde).

Quarta-feira (07/06): Centro de S.Paulo, proximidades da Sé (de manhã) e Guarulhos, região de Cumbica (à tarde).

MENSAGEM DO ESPÍRITO DE Carlos Ray Norris Jr. PSICOGRAFADA PELO MÉDIUM TIO XAVIER®

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Um dia de fúria

Era 1998, ano de Copa do mundo. Eu trabalhava na Av. Paulista e morava no alto da zona norte. E tinha um Gol com pneus 195 sem direção hidráulica. O trajeto da Paulista até minha casa demorava até uma hora ou mais no horário de pico. Mas naquela noite estava mais horrível ainda, pois demorei duas horas até chegar em meu bairro. Imagine os pneus 195, a direção mecânica, o trânsito e a fadiga para você entender este post.

Minha casa ficava em uma pequena rua, em formato de "U", que começava e terminava na mesma secundária. Naquela noite saí da avenida principal, entrei nessa secundária e, mal trafeguei dez metros, dei de cara com cavaletes ripas improvisando uma barricada. Um moleque vem à minha janela:

- Tio, não dá pra entrá aqui não. A gente tamo pintano a rua.
- Ah é? E não podia ser durante o dia, já que vocês não trabalham?
- Não dá tio. O cara que traz as tinta chegô tarde.
- Hum...

Minha darling, contemporizadora que é, me sugeriu contornar pelo outro lado. Dei meia-volta, antes que meu saco já na lua me fizesse xingar o pobre garoto. Afinal estava só se divertindo, embalado pelo ufanismo babaca da Copa. Para quem não conhece, os quarteirões no bairro do Mandaqui são disformes, colossais e a região é quase toda morro. Uma voltinha no quarteirão pode demorar cinco minutos de carro. Mas fui. Eis que chego à outra extremidade da tal secundária e me deparo com o quê? Tente adivinhar. Acertou, se pensou em outra barricada! Lá se ia a última possibilidade de um pobre, pacato e cansado trabalhador chegar em sua casa. Dois outros moleques vieram falar com o tio e começaram a explicar tecnicamente questões sobre tinta fresca e tempo de secagem. Foi quando minha involuntária mediunidade - que me isenta de responsabilidade pelo que seguiu - me fez incorporar o "caboclo Carlos Ray Norris Jr.", também conhecido como Chuck Norris.

Norris desceu do carro e com a inconfundível botinada norriana colocou um dos cavaletes em órbita. Começaram os protestos. Os moleques da outra barricada bem que tentaram correr para conter o ímpeto destrutivo mas já era tarde. Com faróis altos, buzinando intermitente e com minha darling apavorada ao lado dele, Chuck Norris já tinha avançado com o meu carro sobre o que sobrou do bloqueio e deixado as trilhas dos Firestone 195 sobre as pinturas da bandeira brasileira, da bola, da taça, do Ronaldinho fenômeno e das putas-que-pariram aqueles moleques de merda. Imagino que a turba juvenil tenha proferido alguns adjetivos indecorosos, mas isso não vem ao caso. Em estado mediúnico, eu não ouvi nada mesmo. Foi Chuck quem ouviu e obviamente estava de bom humor. Caso contrário ele teria engrenado a marcha à ré e grudado a todos no asfalto formando uma bela decoração de torcida em alto relevo.

Por favor, evitem bloquear ruas nos meus trajetos durante a Copa. Tentarei colaborar publicando os trajetos neste blog com a antecedência que for possível. Não me levem a mal. Eu sou uma boa pessoa, mas sou médium. E Chuck Norris é muito bravo.