sábado, 29 de dezembro de 2007

Papai-Noel via web?

Os papais-noéis também usam a internet que às vezes demora um ou dois dias a mais que o trenó mágico. Mas chegam. Para o tio foi assim. Só que foi a companheira-noel. Um ser impagável, único e capaz de me alegrar mesmo quando tenho meus dias de cão sarnento. E capaz também de tirar leite de pedra. Como este blog não tem a função fofucha e cuti-cuti de tratar de coisas sentimentais, pois são de foro íntimo, a qualificação da pessoa fica por aqui. Seguem os fatos.

Ontem por volta das onze da manhã toca a campainha do tio, que desce para atender. Mal-humorado como é de meu costume. Odeio atender à campainha do nada. Sem avisar quem geralmente a toca são evangelistas, pedintes de toda espécie, vendedores de porcarias, oficiais de justiça e - sabe-se lá - algum gatuno a fim de assaltar. Meus amigos, familiares e todos os que me interessam jamais chegam sem avisar previamente. Então a regra é clara: tocou a campainha do nada é encheção de saco. Raramente eu atendo. Tá avisado.

Mas desta vez era um pequeno furgão vermelho, sem identificação. Dele descem um senhor e um rapazote, este com uma caixa na mão perguntando pelo meu nome. Como nenhum parecia-se com oficial de justiça, me identifiquei. Disseram que era uma encomenda. A nota fiscal que acompanhava era de simples remessa e estava com valor zerado, portanto assinei o protocolo. Pela etiqueta vi que era de um magazine virtual e estava no meu nome mesmo. Mas o melhor estava dentro da caixa. Acompanhado por um cartão com dizeres carinhosos, havia nada menos do que ISTO.

Durante os próximos dias estarei muito ocupado. O mimo tem tanto para ser explorado que é de ficar tonto. Até onde já testei, recomendo. O bichinho roda à base do Symbian, uma versão de Linux para a qual existe um caminhão de softwares gratuitos, dos mais úteis como o Skype do qual não abro mão, até joguinhos e tranqueiras digitais de todo tipo.

Você não imagina o que há nesse aparelho: um Office completo compatível com os formatos do Bill Gates, players de áudio e vídeo, gravador de som, leitor de PDF, e-mail, navegador web, agenda de compromissos, um CRM para contatos, SMS, compactador e descompactador de arquivos .ZIP, bloco de notas, calculadora, conversor de moedas e mais uma infinidade de coisas que ainda não descobri. Com tudo isso não precisava nem fazer e nem receber chamadas. Mas ele ainda o faz e bem pra chuchu.

Não é possível que haja vida inteligente na Terra sem essas maravilhas tecnológicas. Simplesmente não existe de fato.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Bye bye, old year

Eu detesto reprises e retrospectivas de qualquer tipo. A menos que sejam de "Terminator", "Total Recall" ou outro filme do Xuasnéguer, tirando Conan que foi re-dí-co-lo. Nem a Tina Turner cantando salvou aquilo.

No ano passado lancei a inédita Retrospectiva do Próximo Ano (RPA) que foi um sucesso, copiado à revelia por falsos gurus por aí. Os prognósticos para 2007 apresentados pelo tio Xavier foram todos cumpridos na íntegra, enterrando de vez a fama da Mãe Dinah, notória desmentidora de si mesma. Leia lá e confira que previsão é com o tio Xavier. E trago a pessoa amada em 7 dias, nem que seja seqüestrada.

Como a História é um mero ciclo repetitivo, considere para 2008 os mesmos acontecimentos. Não gastarei tempo fazendo CTRL+C / CTRL+V com isso. Na falta de assunto novo, não consegui resistir à tentação de comentar um pouco de 2007.


Especulação


Bolsas asiáticas recuam após assassinato de Benazir Bhutto. O petróleo teve alta. Pô gente os especuladores nem disfarçam. A muié lá foi assassinada. Mas quem não sabia que isso ia acontecer? Até ela sabia. E mais: qual é a grandiosa participação econômica do Paquistão, para que o mercado acionário trepide? E petróleo? Qual é o percentual de produção petrolífera dessa grande potência econômica que é o Paquistão?

Os cassinos bursáteis (ops!) bolsas de valores são mesmo repletos de macacos-velhos que vivem da especulação, boataria e rapinando dinheiro dos trouxas dos pequenos investidores que nada sabem sobre o sobe-e-desce e ficam à mercê dos fundos mútuos. Eu é que não boto grana na mão desses putos. Até porque não tenho mesmo.


TV

O fim-de-ano é um repeteco malhado e mofado na TV. Ao menos na TV aberta, a única ao alcance do tio. Hoje, após semanas de jejum de raios catódicos - sim, meu aparelho é CRT - resolvi tomar café assitindo aos "Bom Dias da Vida". Zapeando entre a Rede Glóbulo e a Record Universal. A bobageira era a mesma de sempre: "Atenção, zeeeenti que as estradas estão cheeeeeias"; "Os aeroportos têm filas, viu zeeeenti?"; "A venda de passagens recooooorde no terminal Tietê". Será que os pauteiros não têm um pingo de criatividade?

Isso pra não falar das enfadonhas retrospectivas. Como se algum grande fato, capaz de mudar os rumos da História, tivesse ocorrido neste ano. Acidentes aéreos, incêndios, terremotos, chuvas torrenciais aqui e acolá, seca em outros cantos, violência... Tirando os primeiros - já que o avião é algo relativamente recente - o resto sabemos que ocorre muito antes de descermos das árvores e andarmos eretos. Quer mais uma? Quanto quer apostar que nas primeiras do ano-novo vão aparecer repórteres em todas as maternidades para noticiar o grandioso fato da "primeira criança de 2008". Fato inédito e sen-sa-ci-o-nal! Como se os seres humanos não procriassem a cada vinte segundos. Aí vão dar o nome, sobrenome, comprimento, peso do rebento, cor do cabelinho... Não consigo imaginar coisa mais interessante e original.


Política

A CPI do ano foi da do Renan. Nem vou continuar esse assunto. Como se CPI fosse a salvação do sistema parlamentar falido do país. O povão tonto fica grudado no panis-et-circenses da TV vibrando: "O Renan vai cair... o Renan vai renunciar... o Renan renunciou... Uhuuuu, caiu!" Agora pergunte pro trouxa quem é o vice do Renan que assumiu, qual é o histórico pregresso dele e mesmo quem assume a presidência do Senado. Aliás, pergunte para quê serve o Senado. Por que precisamos de duas casas parlamentares federais? Simplesmente não há resposta. Assim como não há para tantas outras. Melhor mesmo foram as fotos da amante do Renan. Uma quarentona bem da gostosa, se me perdoam pela linguagem de borracharia.

E o Clodovil, hein? Não acreditei que logo de início foi barrado por falta de uma bosta de uma gravata. "Será que precisamos de gravata ou de seriedade?"- disse o nobre parlamentar. Mais real nem mesmo o rei. Mas enfim, dos chiliques ao ostracismo o deputado-estilista, junto com deputados-tecladistas e outros parecem a prova de que título de eleitor não deveria ser item obrigatório à cidadania. Deveriam criar a C.H.E. - Carteira de Habilitação Eleitoral - com curso prévio e exame psicotécnico.


Futebol

Eu até ia comentar algo aqui. Mas uma tristeza profunda me impede.


Meio-Ambiente

Isto é sério. Para quem não sabe o governador-ídolo-das-telas, antigo exterminador do futuro, até que tava ajudando para que o futuro não fosse tão exterminado quanto nos filmes que protagonizou. Ele tinha criado uma legislação ferrenha no Estado da Califórnia que obrigava as indústrias - sobretudo a automobilística - a metas de redução de poluentes bem arrojadas. E para a felicidade de nosso pulmões já estava sendo imitado por uma dezena e meia de governadores ianques. Mas pelo jeito, deram com os burros n'água (ou na fumaça).
Acontece que o Governo Federal Estadunidense baixou o cetro democrático dos seus verdadeiros sustentadores. A indústria do petróleo e seus comparsas da indústria automobilística conseguiram que o Buxi fizesse valer um dispositivo federal que anula todas as decisões estaduais sobre poluição, liberando geral o fumacê. Como o próprio Buxi já tinha dito: "O mundo precisa respirar a fumaça norte-americana", segundo opinião dele mesmo. Já que o monóxido de Carbono é tão bom, tenho uma sugestão: podiam enfiar o Buxi e seus capangas em um furgão-baú disfarçado de Cruz Vermelha e conectar o escapamento ao interior do bólido. Os nazistas faziam isso na Segunda Guerra.

Onu prevê falta d'água para mais de um bilhão em "futuro próximo". Cacete, onde é que moram esses caras da ONU? O que será futuro próximo no jargão desses cientistas desocupados? Venham morar em bairros periféricos para saber que, a cada obra mínima do serviço de água, a pobraiada fica dias tomando banho de canequinha. Vão à África para saber que ralo, privada e esgoto são artigos de luxo. Enqüanto isso, saio às ruas e vejo um monte de FDP´s lavando calçada e carros com máquinas de pressão, amparando-se no velho discurso "tô pagando".


Ciência e tecnologia

Cientistas se gabam de ter achado lula gigante na Antártida. Cientistas são seres conhecidos por gabar-se de qualquer coisa que seja de autoria ou descoberta deles mesmos, como se eles fossem a última garrafa de água mineral do deserto. Grande merda esse achado. Aqui no país da piada pronta, nós temos uma Lula que - se não é tão grande - é muito mais inusitada. Fala (embora mal pacas), tem um tentáculo a menos e exerce o maior cargo público do país pela segunda vez. Dez a zero pra nossa lula.

IPhone: O grande lançamento do ano é de fato bacanérrimo. O tio manuseou um por alguns segundos, mostrado por um cliente abastado e exibicionista. Aí me veio a questão: de que me adiantaria um mimo tão legal, se dá medo de apertarmos a tecla send com as absurdas tarifas daqui? Preferia um IPod, porque ao menos baixar músicas e filmes na internet ainda dá pra fazer sem pagar.

Robôs com emoções: Na Zoropa, um projeto chamado Feelix Growing, envolve 25 profissionais, entre especialistas em robótica, psicólogos e neurocientistas, e prevê um investimento de 2,3 milhões de euros (cerca de R$ 6,3 milhões) em três anos. Tudo para criar autômatos capazes de reagir emotivamente. Acho uma baita gastança de grana besta. Mas talvez seja o último recurso, diante de uma Humanidade tão apática. Isaac Assimov estaria certo no seu "Eu, Robô"?

Esse foi 2007. Já tá indo tarde. Caraca, ainda faltam 3 dias? Quero hibernar. Se possível por 10 anos. Depois alguém me conta o que houve.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Saldo da presepada

Desta vez o têrmo presepada lembra de longe o evento simbolizado pelo presépio, mas com tão pouco a ver com ele, lembrando que o Noel acaba brilhando mais do que o profetinha da manjedoura. E com o Noel, toda sorte de apelos para a gastança.

Churrasco na casa da irmã. Churrasco na noite de Natal? O que houve com a ceia? À ingênua pergunta a cara consangüínea teria me respondido que queriam fazer algo diferente. E ao perguntar sobre qual seria a minha cota-parte recebi a encomenda de carnes e bebidas de acordo com o perfil de consumo do meu núcleo familiar. Comprei um cry-o-vac de pets de refrigerante preto. Mas a parte pior foi que a lista incluía duas picanhas e dois quilos de coração de frango. Pqp, o que eram esses preços do quilo da picanha, minha gente? Saquem só a tomada de preços da iguaria:

- Mercadinho-conveniência perto do tio: R$24,00

- Extra: R$39,00 (este foi o recordista)

- Makro: R$26,00

- Assai: R$22,00 (o melhor dentre os piores)

Como optei por uma caixa com 2Kg de espetos de coração prontinhos e temperados, somando-se às duas nobres partes do boi, o tio gastou R$80 só com três nacos de carne. Total do supermercado, juntando panetones e coisas que faltavam para a festa: R$230.

Aí veio a tia darling explicando que os Hudson* estariam presentes. E fez questão de me lembrar também que não havíamos comprado as lembrancinhas simplórias dos sobrinhos e afilhadas. Saldo das comprinhas de última hora:

- Casas Pernambucanas: R$180

- Renner: R$220

Veja bem: não demos nenhum computador nem brinquedo eletrônico para nenhum sobrinho. Foram todos simbólicos mesmo, resumindo-se a blusinhas, camisetas e bermudas. Tirando a bicicleta da cria, que não está na lista acima, tudo foi discreto sem grifes e nem pompa. Nem podia ser pela importância despendida. Mas cazzo, mais de R$800 por uma mísera e fugaz festinha natalina? Com essa importância e o baixo consumo de minha residência acho que conseguiríamos abastecer a casa de víveres por três ou quatro meses.

E tem gente que ainda tem a petulância de me criticar por eu achar esse troço de Natal um saco.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Natal do quê mesmo?

Já se deu conta do quão egoísta se tornou essa lenda do Papai-Noel, sobretudo depois de apropriada pelo comércio? Do tal santo - o Nicolau - que distribuía presentes para as crianças pobres, a coisa foi deteriorando até que virou o evento anual do Mercado. A salvação para o comércio que chega de trenó, puxado por renas. As empresas de cartão de crédito e de empréstimo sugerem a todos deixarem a fantasia fluir, para resolver os pagamentos somente em janeiro na fatura de cartão de crédito e nos cheques pré-datados.

O Papai-Noel do Mercado, nada tem a ver com o espírito solidário inspirado pelas tradições cristãs de dividir os víveres e agasalhos com os necessitados, durante o cruel inverno nórdico. Nada em a ver também com o suposto aniversariante, embora a maioria já saiba que a data escolhida foi uma mera convenção, sendo que o Natal é uma tradição muito anterior à chegada dos cristãos.

Mas ontem ao passar pela Avenida Jabaquara aqui em Sampa eu quase tive uma parada cardíaca. Uma igreja cristã tradicional, anexa a um colégio idem, ostentava na pequena cobertura de telhado da porta frontal um enorme Papai-Noel inflável segurando uma rena por uma cordinha. Será que o responsável de lá estudou Teologia e sabe algo de fato sobre tradições natalinas cristãs? Que diabos faz um Papai-Noel no telhado de uma igreja? Fiquei com medo de entrar lá me deparar com um gigantesco pinheiro decorado e a figura do velho de barba branca e roupa vermelha, no lugar do esperado presépio com manjedoura. E olha que nem cristão eu sou.

Por tudo isso, resolvi postar essa singela homenagem. Ligue o som e aperte a tecla PLAY abaixo para ouvir uma linda canção natalina da extinta banda Garotos Podres. Reúna toda a família durante a ceia e reflita um pouco sobre o espírito natalino.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Obrigado governador

Dia 21 de dezembro. Depois de um compromisso externo importante, que me ocupou o dia todo, chego à Maison Xavieur por volta das dezessete horas. Avisto um papel branco quase enrolado e encravado no vão do portão, pois estou sem caixa de correspondência. Pego o papel, nem bem abro e me deparo com brasão do Estado de São Paulo e um escrito em fontes bem grandes: IPVA 2008.

Santa senhora que o dera à luz, senhor governador! Custava esperar o reveillon para nos enviar esta merda? Tinha que tacar isso em nossa cara antes do Natal?

Cacete, viu? Obrigado pelo presente natalino, se essa foi sua intenção. Vai ser ruim de marketing assim lá na Prússia, meu filho.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O fim do provedor de acesso

Se você mora no estado de SP e usa banda larga, sabe aquele usuário e senha que você usa no seu programa de acesso Speedy? Alguns pagam essa mensalidade para UOL, outros para Terra, outros para Superig ou seja lá qual for o neguinho que lhes vende esse tal acesso. Os caras cobram de R$9,90 até R$30 ou mais para esse suposto acesso.

Só que esse acesso sempre foi uma balela. Seu sinal de banda larga jamais passou por esses provedores para entrar no Speedy. Tudo fazia parte de uma farsa conjunta entre o provedor de sinal de banda larga e os brokers de internet. A autenticação se dava mediante uma lista na própria empresa de telecomunicação, que era atualizada pelos provedores fictícios. A grana era rachada entre ambos.

A questão acima vale para todos os acessos via banda larga por linha telefônica, independente da localidade. Além do modem, que trata o sinal de banda larga e o converte para TCP/IP, nada mais é necessário nem nunca o foi. Esse acordo imperou por anos e encheu as burras do suposto provedor de acesso e da já milionária companhia de telefone. Até que recentemente a Justiça decidiu que a redundância de cobranças não procedia.

Estamos livres dos tais provedores de acessos. E a Telefônica aqui em Sampa, se de um lado assumiu publicamente a decisão judicial conforme publicação no seu site, de outro já anuncia outra tungadinha, como você poderá ler no comunicado. Fora diversos provedorezinhos que ficam na moita e não comunicando seus usuários para cancelarem os tais "acessos". Eles já o sabem desde setembro deste ano e não contaram você por razões óbvias.

Enfim, se você é usuário Speedy da Telefônica acesse seu modem ou programinha de acesso e altere seu usuário para internet@speedy.com.br e a senha para internet. O mesmo vale para todos os estados, mas você que não é de Sampa terá que procurar a informação equivalente na sua operadora de telefonia.

Agora resta você entrar em contato com seu antigo provedor e cancelar o tal serviço de acesso e a respectiva mensalidade. Se na primeira ligação você notar que o cara manda esperar e começa a enrolar assim que você pronuncia a palavra "cancelar", não tenha dúvida: mande uma carta registrada para o remetente da fatura ou para o endereço que consta no site, ou ainda para o endereço físico do provedor, que você pode consultar no site REGISTRO.BR exigindo o cancelamento do serviço. O safardana já devia ter orientado aos seus clientes. Registro aqui com satisfação que a DUALTEC o fez no dia seguinte do comunicado.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

De ilusões também se vive (fucked love illusions)

Assim que abro o Msn ontem à noite:

Janaína* diz:
Tio?

Tio Xavier diz:
Oi Jana!

Janaína diz:
Preciso te contar uma novidade. Um lance.

Tio Xavier diz:
Xi. Lá vem bomba.

Janaína diz:
Não é não. É que tô namorando.

Tio Xavier diz:
Woho! Parabéns. Conte-me tudo.

Janaína diz:
Ah, tio... ele é um gato. Gostooooso.

Tio Xavier diz:
Poupe-me dos detalhes estéticos, anatômicos e sórdidos, por gentileza.

Janaína diz:
Então tio ele trabalha comigo lá no hospital onde estou agora.

Tio Xavier diz:
Que bom! Bons ventos.

Janaína diz:
Ah, tio mas ele tem um defeito.

Tio Xavier diz:
Ai... [medo] Ele usa drogas?

Janaína diz:
Não.

Tio Xavier diz:
Ele é envolvido com contravenção, crime?

Janaína diz:
Não tio. Ele é trabalhador.

Tio Xavier diz:
Well, o que ele tem de defeito?

Janaína diz:
Um defeito na mão esquerda.

Tio Xavier diz:
E que tipo de defeito?

Janaína diz:
No dedo.

Tio Xavier diz:
Ué, minha filha, o Lula tem um dedo a menos e é Presidente duas vezes. Qual é o problema?

Janaína diz:
Ai tio cê tá lerdão hoje, hein?

Tio Xavier diz:
Desculpa Jana, mas tive um dia desgastante. To meio devagar mesmo. Me explica melhor.

Janaína diz:
Um bambolê de otário.

Tio Xavier diz:
??? Olha Janaína, desisto. Desembucha logo aí qual é a parada.

Janaína diz:
Caraca hein, tio? Tá mal. O defeito do dedo dele é uma argola. O cara é casado. Entendeu?

Tio Xavier diz:
Casado?

Janaína diz:
É.

Tio Xavier diz:
Ahn... Bom... Nesse caso, além do óbvio, quê mais há?

Janaína diz:
Putz tio, tá começando a embaçar pro meu lado.

Tio Xavier diz:
Nada de se estranhar. Cara casado, na mesma empresa... Já imagino a treta.

Janaína diz:
Não tio, até aí beleza.

Tio Xavier diz:
Beleza? Mas então o que é?

Janaína diz:
Ele tá começando a se apegar demais e eu não queria isso.

Tio Xavier diz:
É mesmo?

Janaína diz:
É tio. Ele é complicado. Agora vive cheio de ciúmes de mim, não quer que eu faça isso ou aquilo, fica sapeando se me vê falando no celular. Sabe tio, acho que ele tá gostando demais de mim. E eu não queria me apegar, saca?

Tio Xavier diz:
Saco, claro.

Janaína diz:
Então tio, ele me falou que não está se dando bem com a mulher, que o casamento dele tá indo pra cucuia.

Tio Xavier diz:
Por que eu não estou surpreso?

Janaína diz:
Aí pô, ele acabou se apegando demais comigo e nosso relacionamento tá ficando sério. Não sei o que fazer.

Tio Xavier diz:
É complicado mesmo. O cara casado, o relacionamento de vocês ficando sério. O casamento dele está mal. Um problemão pra você administrar.

Janaína diz:
Ah é tio. Só falta daqui a pouco ele me aparecer querendo casar comigo. Aí ferrou, rs...

Tio Xavier diz:
Claro. Olha Jana, já tá tardão e o tio vai nanar. Podemos continuar o papo amanhã?

Janaína diz:
Podemos sim, tio. Boa-noite.

Tio Xavier diz:
Boa noite.

"Bambolê de otário". Essa é nova pra mim. Gozado que nessa história toda só consigo ver uma otária. Mas deixa pra lá.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Caixinha de Natal?

Fala sério. Existe coisa mais imbecil, pobre, medíocre e sem razão do que essa maldita mania de os serviçais pedirem caixinha de Natal? Analise: o manobrista do estacionamento recebe salário para manobrar os carros. O balconista da padaria recebe salário para atender ao balcão. O porteiro recebe salário para dorm... quero dizer, para... Aliás, para que serve um porteiro nos dias atuais? O mais engraçado ainda é que alguns deles falam - sempre pelo nariz - algo como: "Cuméquié? O sinhô rai falá cum quem?" e qualquer que seja a resposta liberam a passagem.

Pior ainda quando o cara pergunta o nome do visitante. Outro dia respondi "Abraham Lincoln" e o porteiro exclamou um "Ah", como se tivesse alguma idéia de quem se tratasse e mandou entrar. É por isso que entra tanto larápio e punguista em prédio. Mas no fim do ano, sobre a mesa da portaria está lá: a infalível caixa de sapatos embrulhada em papel de presente surrado, com um corte em cima para algum trouxa colocar dinheiro.

E o lixeiro? Você já se perguntou o que ele esperava do trabalho dele quando foi à porta da "Engenharia Ambiental"? Esse é o novo nome tucanês para a antiga "Firma do Lixo". Que me diz do carteiro? Dos entregadores das contas de luz e água? Todos não são registrados, assalariados e não têm 13º? Agora me explica por que essa trempa toda acha que os cidadãos, que pagam o estacionamento, o condomínio, o IPTU com taxa do lixo, a tarifa de Correio e as tarifas de consumo já sustentando inclusive o trabalho deles, ainda tem que dar caixinha no Natal? Por quê?

Se for assim, então o tio aqui que não tem salário fixo, não tem 13º, não tem nem férias, mereceria muito mais um agrado. Tive uma idéia: vou cobrar caixinhas desses pentelhos assalariados. Quando eu avistar a primeira caixa embrulhada vou meter a mão dentro, apanhar algumas moedas e agradecer ao idiota que a pôs no balcão. Direi "Você adivinhou que eu tava precisando". Deixa comigo.

Perguntas

Por esses dias, com o fim das aulas, estou tendo que me desdobrar entre trabalho e cuidar da cria mais nova de seis anos, sem utilizar favores de terceiros. Como sou o profissional liberal da casa, todos acham que posso - e devo - despender tempo para resolver coisas particulares durante o dia. Eu me viro como posso. Atualmente quando tenho que ir a clientes e parceiros, às vezes levo a cria junto, dependendo de onde é e com quem vou tratar. Até aí não há grandes problemas, pois a pequena se resigna disciplinadamente a ficar sentadinha nas recepções das empresas, pintando seus livrinhos e escrevendo, enquanto resolvo as coisas.

Dia desses fui a um cliente retirar um equipamento para consertar. A cria estava junto e a visita foi rápida. Acertei alguns detalhes com o contato e embarquei a máquina no carro. O que quase nenhum cliente sabe é que a grande maioria dos equipamentos que eu pego para consertar são encaminhadas para terceiros meus. Até aí é uma simples questão estratégica. Caso contrário eu teria que manter uma onerosa estrutura com trocentos especialistas, um para cada tipo de equipamento e marca. Para o cliente tudo ocorre de maneira transparente, que fica feliz com o serviço prestado enquanto faturo meus suados trocados.

Mas eis que nesse dia, durante o trajeto de volta:

- Pai, por que você pegou essa máquina no seu cliente?

- Pra consertar.

- Mas você não conserta essa máquina.

- Tá, mas eu levo pros Smiths* consertarem.

- Mas eu vi você falando pro cliente "até segunda feira eu conserto"

- Não tem problema. O Sr. Smith conserta.

- Então por que o seu cliente não leva direto no Sr. Smith?

- Ahn isso? É porque... porque... porque eu preciso ganhar dinheiro com isso, né filha?

- Mas você falou pro cliente que vai consertar e não vai. Tá levando pro Sr. Smith consertar.

- E daí?

- Você mentiu pro seu cliente, pai.

- Não filha. Não é uma mentira.

- Então o que é? Claro que é uma mentira. E você fala pra mim que não pode mentir.

- Er... hum... ahn... cof! cof! Veja bem... o cliente não sabe onde ficam os Smiths. É mais fácil assim.

- E por que não dá o endereço dos Smiths pro seu cliente?

- ... Filha olha lá na porta daquela loja! O Papai-Noel! Vamos lá falar com ele?

Acho que ela esqueceu o assunto. Ufa!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Balelas de amor (Shits of relationship)

Fernanda* é uma menina adorável. Sorridente, meiga e até bonitinha. Enfim, atributos de uma pessoa de quem é quase impossível não gostar. Dona Lola*, sua mãe, a trata com um misto de gata borralheira de dia mas princesa à noite. Conheço a Fernandinha desde os tenros seis anos. A criatura era daquele tipo de criança "vira-lata", no bom-sentido da expressão. Adorava dormir na casa dos outros e o fez por dezenas de vezes na casa do tio Xavier. Ela vinha toda manhosa durante as reuniões de famílias de amigos e me perguntava se podia ir dormir na nossa casa. Ao consentimento óbvio, ela corria vender outro peixe para os pais dizendo que nós a tínhamos convidado. Golpe tão manjado quanto aceito por todos. E lá ia a espevitada dormir e passar o dia seguinte na casa da gente.

Espevitada é um bom adjetivo para uma garota que já dava mostras de libido realçada, desde a mais tenra idade. Não é preciso ser psicólogo ou terapeuta para perceber certas coisas em uma criança. Mas isso é da natureza de cada um. Cabe aos pais e demais adultos do convívio saber lidar, para que isso não se sobreponha aos demais aspectos importantes da maturação.

Ocorre que Fernanda - segundo contou ao tio - teria perdido a virgindade aos malfeitos quatorze anos. Nada para se espantar. De mim ela ouviu sempre os alertas para tomar cuidados com a saúde do corpo, com o coraçãozinho e, sobretudo, com a segurança pessoal. Aqui começa um capítulo à parte de Fernandinha. Fogosa como sempre demonstrou-se, a danada é daquelas que não perde por nada uma oportunidade sexual. Dentre as peripécias colecionadas, algumas são de fazer corar até ao adulto mais supostamente liberal. Assumo parte de minha caretice, pois ainda penso que transar em escadaria de emergência de shopping center não seja algo muito convencional. Ainda mais de caso pensado, quando se vai de mini-saia com planos e metas arquitetados. Algumas das broncas que Fernanda levou do tio dizem respeito a artes mais inseguras, como trepar em um parque verde em plenas duas e meia da madrugada. Cheguei a ser ríspido com ela, pois nesse caso falta-lhe a noção das infortúnias possibilidades que enredam uma situação dessas.

Fernandinha tem um currículo sexual invejável até para os mais letrados. Está bem, saudável e assegura ter curtido até agora cada um dos momentos de maluquice. Hoje com dezenove anos, Fê já é uma mulherzinha feita, trabalha, entrou na faculdade (agora então ninguém segura!) e já alça seu ingresso gradual no mundo adulto. Coleciona alguns relacionamentos de namoro mais estáveis. Traduza-se: com duração de meses e não-exclusivos. O mais recente resultou em um pretenso noivado. Não consigo entender rituais humanos como os noivados, dada a fugacidade dos relacionamentos. Estamos em tempo de "namoridos", "ficantes" e um leque de modelos afetivo-relacionais que os estudiosos jamais imaginaram. No meu ver, o evento nubente-circense só existiu por obra, pretensão e assanhamento da D. Lola, esta que mais parece realizar suas fantasias na filha do que qualquer outra coisa. Acredita o leitor que, logo depois do início desse namoro, a D. Lola esteve na casa da minha irmã e contou vertendo baldes de lágrimas que a casta cria tinha perdido a virgindade com o garoto em questão? Juro! O que não é possível é como a dita senhora pode lacrimejar por um hímen rompido há mais de quatro verões. Ou a mãe devia estar na fila do transplante de córnea ou é uma hipócrita assumida e pensa que os convivas são idiotas como ela.

Meio idiota, uma jovem de dezoito anos e um meninão de pouco mais, ambos sem nenhuma perspectiva profissional sólida, adotarem laços que insinuam falsamente um pré-matrimônio. Festa com dezenas de convidados, som, luzes, bolo com noivinhos e troca de alianças. Tirando a festa em si, até que bem servida de comes e bebes e tirando a boa discotecagem - esta a cargo do tio - o resto foi pastelão elevado à décima potência. Eu ri à beça com os arremedos de formalidade, discursos, dedicatórias, até com a inócua troca de alianças. A noivinha, danada que só, ria todo o tempo causando a impressão de que o fazia por causa da presepada em si. Qualquer dia desses perguntarei na lata.

O noivo, um meninão aparentemente bonzinho, estudioso e trabalhador, certamente não tinha a menor noção de com quem estava a namorar e então noivar, relativamente ao voluptoso - e ainda crescente - currículo sexual da nubente. Tadinho. Segundo a noivinha, o rapaz era "mó parado", têrmo depreciativo proferido a mim, o qual desconfio referir-se a coisas como sua inaptidão para peripécias sexuais e seu desprezo por baladas e noitadas dançantes. Curiosamente por tudo que ela mais preza. Já falei dezenas de vezes a ela para achar um par com o mesmo pique, caso queira um relacionamento mais duradouro.

Saldo do teatro: poucos meses depois, quem sabe alertado por alguém ou quiçá por sinapse, o noivinho deu linha na pipa. Primeiro pediu o tradicional tempo para, depois de poucos dias, dar um au revoir por telefone mesmo. Mas e a festa, alianças e presentes? Danem-se. Como reza o protocolo, os presentes enxovalescos do noivado são dote da noiva. Então, ela que não me venha com um repeteco teatral esperando recorrência de mimos. Se convidado, comparecerei à nova festa e até discotecarei de novo com prazer. Mas respaldado pelo jogo lençóis que eu e a tia já demos naquele primeiro de talvez tantos noivados, pouco importando com quem ela vá usá-lo.

Esses humanos são cômicos.

* * * Em tempo: Fernandinha me disse há cinco minutos pelo Msn que está de "ficante" novo. Mas que também anda saindo com um cara casado. E que ambos são bons de cama, rs... * * *

Só mais esse-II, o retorno

Eu prometi que era só mais aquele. Tudo bem. Não lido bem com promessas. Mas tudo o que lhe peço, Papai-Noel, é com o intuito de lhe dar o máximo de alternativas, para que não me venha depois com a desculpa de que não achou isto, não achou aquilo, a 25 de março tava lotada. Não me venha com milongas! A internet está aí para facilitar a vida.

E falando em facilitar a vida esse telefone da Nokia há de facilitar a vida do tio por demais. Além de meu celular (este pezinho de boi aqui) estar virando o Cabo da Boa Esperança, meu perfil de uso vem mudando com o passar do tempo. Aderi ao Skype e, inclusive, assinei um número SkypeIn que me permite receber chamadas com total mobilidade, bastando estar conectado à internet. Isso me permite virtualizar totalmente minha localização. Não sei se o senhor entende o que eu estou dizendo, mas não se fixe nisso.

O E-61 da Nokia, além de ser um Nokia tem Wi-Fi, tem GSM e me dará condições para acessar o EDGE da Claro para eu ficar conectado à internet em tempo integral e então atender minhas chamadas de clientes pelo SkypeIn, entendeu? Putz, é duro tentar explicar para um ser centenário como o senhor essas coisas da modernidade que se tornam essenciais à nossa vida. Fico pensando como deve ser no Pólo Norte.

Resumo da ópera: me dê esse telefone aí, que custa cerca de R$600 e pouco. Barato demais pelo que faz. Obrigado Papai-Noel.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Só mais esse

Olha só, Papai-Noel, que coisinha incrível! Esse aparelho chama-se ELP e é fabricado por um tio japa da hora. O que ele faz de tão incrível? Ele reproduz os antigos elepês de vinil mediante leitura laser. Nada de agulha, nada de atrito. Como se fosse mágica, ele reproduz o som do disco com qualidade analógica. Nada daquelas emulações de som digital que subtraem as freqüências nas extremidades ditas "não-audíveis", nada de driblar as verdadeiras curvas das senóides sonoras com degrauzinhos microscópicos e os silêncios como silêncios mesmo e não um espaço em branco. Som analógico de verdade, como nos velhos tempos.

Papai Noel eu preciso muito desse aparelho, sabe? Acontece que meu último toca-discos Philips está sem agulha e já revirei os palheiros até da Santa Ifigênia em vão. O Dimas, meu amigo-técnico também. Noelzão eu estou sem ouvir algumas pérolas que tenho na coleção que as gravadoras nem sonham em lançar em CD. E a agulha anterior se foi antes que eu pudesse digitalizar todas as gravações importantes, veja que tristeza estou passando.

Bom seo Noel, vamos aos finalmentes: esse brinquedo aí é um pouquinho mais caro do que aquele do post anterior, entende? O que eu quero é o modelo mais simplezinho mesmo, que custa dez mil dólares lá no Japão. Mas imagina o quanto fica depois que os cráp... (ops!) os senhores da Receita Federal adicionarem os quase 80% de impostos de importação. Não dá pro tio aqui comprar mesmo com o dólar baixo. Mas olha Nonô: se o senhor também estiver com pouca grana, me dá aquele outro mesmo, ok? Depois, no ano que vem, quem sabe se o senhor estiver melhor de grana... sacou né?

Por um, pelo outro ou pelos dois muito obrigado desde já. Te amo, viu Papai Noel?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Querido Papai-Noel

O senhor sabe que eu fui um tio bonzinho o ano todo. Tudo bem, teve aquele episódio do gato. Mas foi sem querer. Eu sei que chamar as moçoilas da minha turma de faculdade de jumentildas pode não parecer certo, mas só estudando lá pra saber. É fogo, viu? E também aquelas contas de telefone atrasadas não foram porque eu quis, mas porque o semestre foi uma merda. O mesmo ocorre com as prestações do barraco na CEF. Mas eu vou pagar tudo sim, pode ficar tranqüilo. No começo do ano as coisas hão de melhorar.

Well, ante o exposto acima, nada mais justo do que um cara como eu ganhar isto:

Como imagino que no Pólo-Norte, Normandia - sei lá o nome desse lugar gélido onde o senhor vive - não deve ter muitas coisas como essa eu explico. Trata-se do B-CONTROL DEEJAY BCD-2000 da Behringer. Ele serve para mixar, aplicar efeitos e fazer scratches com arquivos de áudio (wav, wma, mp3, etc.) a partir de uma conexão USB com o PC. Posso ligá-lo no meu notebook e ele emula os CDJ´s através de um software. Como ele é também um mixer de áudio via entrada RCA, pode ser conectado a fontes analógicas, como os antigos pickups. Imagine, Papai Noel, o tio Xavier fazendo malabarismos nos Jog Wheels - essas rodelas que têm na superfície do aparelho - imitando os efeitos que o saudoso Malcolm McLaren fazia com vinil em Buffalo Gals. É muito mais fácil agora, seu Noel! Se o senhor não entendeu nada, não tem problema. É só me trazer que depois de ganhar eu lhe faço uma demonstração.

O melhor de tudo, Noelzão, é que o brinquedo que eu estou lhe pedindo nem é caro: R$560,00 no Mercado Livre. Vamos lá Santa Clauss, o senhor não vai me deixar triste né? Tô esperando. Dia 24 à noite passa em casa e deixa a caixa debaixo da minha árvore. Por favor.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O Grupo Escolar

Estávamos na segunda metade da década de 70. O tio, na época um garotinho, estudava em uma honrosa escola pública. Honrosa sim. Naqueles tempos era vergonhoso estudar em escolas particulares, apelidadas de PPP - Papai Pagou, Passou - . No Grupo Escolar Thomaz Galhardo, sito no bairro de Vila Romana em Sampa, bem como em toda a rede pública, prezava-se que professores ensinassem e alunos aprendessem. Os primeiros eram respeitados e às vezes temidos por estes últimos. Havia a diretora, estado-maior do estabelecimento, os serventes e, quase sempre, algum policial que fazia a ronda.

Qualquer servente da merenda podia levar queixa de um aluno à diretoria. Em 100% das vezes, resultava em pito no aluno, anotação na caderneta escolar e, nos casos mais graves, assinatura em um livro de ocorrências conhecido como "livro preto", nome que aludia tanto à cor da capa quanto à mancha no currículo escolar do infrator. Fora o medo de os pais serem chamados à diretoria da escola. Coisa quase certa se houvesse uma ocorrência. Por essas e outras, a esmagadora maioria respeitava desde o faxineiro até a diretora da escola. Na verdade nem era tanto por medo. Era admiração de verdade, de quem até sonhava em trabalhar em uma escola. Professor era um ídolo.

Eu sei que alguns vão dizer "Porra, mas eram anos de chumbo, tinha a ditadura" e coisas assim. Mas a verdade é que os tristes anos de perseguição não mexiam muito com o cotidiano das pessoas mais simples. Chegamos a ouvir falar de um professor, que teria sido preso e proibido de lecionar por alguma razão. Mas pensávamos que ele tinha roubado algo ou então mexesse com a temível maconha. Sim, a hedionda canabis sativa era a droga mais popular e repudiada da época. "Maconheiro" era adjetivo atribuído à escória dos piores. Mas a grande maioria das pessoas comuns sequer sabia de que cor era ou que cheiro tinha a ervinha do barato. Já os LSD da vida eram "privilégio" de quem queria se matar, mas tinha muita grana pra bancar.

Voltando à questão da escola pública, havia também o lance da expulsão. Três advertências "leves" por si já justificavam expulsão e anotações devidas no prontuário do aprendiz de meliante. Mas também havia a expulsão sumária, que podia se dar mediante o delito grave, embora não se soubesse bem se um morteiro estourado no banheiro ou um palavrão escrito na lousa fossem catalogados como delitos graves. Acredito que esse arbítrio coubesse à diretora e ao conselho de professores. Mas ao expulso, pobre deste, restava a sarjeta. Por regra, nenhum outro diretor de escola pública era obrigado a matricular um expulso. Este se tornava quase um banido do sistema. Restava aos pais de posses, matricular o proto-delinqüentinho em uma PPP. E no bairro da Lapa havia uma. Se não me engano chamava-se Colégio Lapa, Anglo-Lapa ou algo assim. Me lembro que era embaraçoso aos pais confessar que o filho estudava em um PPP durante uma conversa. Pior ainda era para os pais de banidos que não tinham grana. Restava-lhes procurar outro colégio estadual, cujo diretor tivesse no currículo a admissão de um semelhante e então implorar até as lágrimas. E não raro tratava-se daqueles colégios sobre os quais circulavam lendas de que "se não der jeito lá, só em reformatório". Ou seja, o agraciado com uma segunda chance na rede pública ou se emendava ou se emendava.

Que triste é ver a escola pública de hoje. Mas sei lá porque lembrei e tudo isso agora. Acho que eu ia escrever outra coisa e desandei por essa saudosa lembrança. Tempos em que eu era feliz e não sabia. Na verdade a maioria era e não sabia.

Não tem nota onze?

O boletim exemplar do Tio Xavier fala por si só.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Tio, o homicida

Sexta passada, onze da manhã. Depois de visitar um cliente na ZeLê, vou buscar a cria na casa da avó dela para levá-la à escola. Já próximo da casa da Vovó Xavier percebo que tem um carro estacionado bem na frente da garagem. Bufo, passo bem devagar ao lado do bólido concorrente e paro emparelhado. Ninguém dentro e portanto nada a fazer por ora. Desço mais um metro e estaciono na frente dele. Olho pelo retrovisor, para ver se o carro está alinhado, e vejo um gato morto do lado do carro invasor. "Estranho não ter visto antes" - pensei - . Desço do carro, me aproximo do bichano e vejo um pouco de sangue próximo da cabeça. Provavelmente teria sido vítima de um cão ou acidentou-se. Ou foi envenenado, sei lá.

Recolhi minhas coisas e fechei a porta. Dei a derradeira espiada no infeliz e percebi que no lugar do pouco de sangue já havia um rio de sangue. Analisei a posição da vítima, a manobra que fiz e caiu-me a ficha: fui em quem passou com a roda de trás em cima da cabeça do infeliz. Olhei em volta com cara de Rowan Aktinson e saí de fininho do local do crime para só revelá-lo depois, às escondidas, para a minha mãe. Liguei para o Centro de Zoonoses pedindo para recolherem o cadáver. Que lamentável. Provavelmente a última das sete vidas dele se acabou debaixo do meu pneu. Amarelado e branco, o bichano devia ter uns 8 meses no máximo. Um adolescentinho, na contagem etária dos felinos. Has gone. Homicídio culposo.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Dicionário do fúnebre

Há um lapso facto-temporal que separa mau pressentimento de mal-estar. O primeiro é quando você acha que o Inter vai perder para o Goiás ou - o que é pior - que o seu time não vai ganhar do Grêmio. Isso é mau pressentimento. O segundo momento é... bem, o resto você já deve estar sabendo.

Corinthians campeão paulista em 1977.

Entre outras coisas havia um presidente corinthiano roxo.

Segunda divisão: o último dos frutos podres da dobradinha Dualib-Máfia Russa.

Mau pressentimento

Agora há pouco fui ao supermercado comprar uns víveres com a tia darling. Lembrando que o tio mora da ZeLê de Sampa, tradicional reduto alvi-negro e, ainda mais, o local exato do novo supermercado do Abílio Diniz onde fomos é no metrô Corinthians-Itaquera. Por isso havia vários cumpanhêro da fiéu com camisetas do time.

Por alguma razão, que não vem ao caso comentar, eu senti muita tristeza ao vê-los. Fiquei com vontade de chegar em casa e afanar uma das camisetas correlatas do meu caro enteado e passar o dia com ela rezando para S. Jorge. Algo me diz que no final desta tarde estarei triste, muito triste, embora no fundo do coração eu deseje que não precise estar.

Nunca contei aqui como foi que me converti a essa religião desportiva que é o "Corinthianismo de S. Jorge". Prometo contar qualquer dia desses.