quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Espírito natalino, minha gente!

Uma cara amiga me telefonou ontem para dizer que tinha lido alguns posts daqui. Pelos meus cálculos agora devem ser cinco leitores. Mas a ligação não era só para ibope. A desaforada me disse que eu estou muito ranzinza. Como assim, minha cara? Eu só mostro as aberrações da humanidade e faço críticas fundamentadas, com critérios científicos e rigorosos. Só isso. O que é que eu vou fazer se essa espécie está perdida entre a falta de senso de ridículo e os maus costumes?

E para provar que não sou tão assim, nesta madrugada fui com a darling e a cria caçula ver pessoalmente a árvore de natal do Ibirapuera. Era uma hora e pouco. Estacionei, tiramos fotos e admiramos a beleza dos enfeites, etc.. Coisa linda. Estão vendo?

Fui só agora porque eu não teria saco pra enfrentar cinco quilômetros de congestionamento que era o que os babacas faziam antes do natal. Mas depois que vi qual banco patrocinava a obra fiquei puto. Entendi a razão de aqueles #@($%#* me cobrarem tarifas abusivas até pra eu pensar no banco. Desgraçados. Podiam usar a grana pra coisa melhor.

Ranzinza eu? Bah!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Morre Douglas Barcellos

Laudo diz que ator brasileiro morreu vítima de afogamento. Carioca Douglas Barcellos, 33 anos, foi achado morto em praia de Portugal. Ele morava nos EUA e teve pequenas participações em Hollywood.

Vejam que inculto sou: ignoro totalmente de quem se tratava. Assim sendo não me fará falta alguma. Que descanse em paz. Antes ele do que eu.


Segundo o jornal era esse aí com o molusco na cabeça. Ah tá...

sábado, 27 de dezembro de 2008

Vivendo sem Bill Gates - parte II

Sei que várias pessoas não entenderam o post sobre o Ubuntu, anterior a este. Vão devagar que vocês chegam lá. Mas não posso deixar de manifestar minha exaltação de felicidade hoje. Depois de assistir a "Chega de Saudade" no Totem fui dar mais uma fuçada, pra ver se eu resgatava das trevas do Ruindous meu tocador de músicas e vídeos preferido - o JetAudio. E finalmente consegui.

Através do emulador Wine que veio no CD do Ubuntu, tapeei o JetAudio. Vejam que linda imagem dele tocando um som do Yarbrough & Peoples com som excelente e performance idem. O meu bom e velho tocador pensa que está sendo carregado pelo sistema do Bill Gates e trabalha como um reloginho.

Muito bom mesmo! É pra aficcionado fechar o ano soltando rojão.

Moda fashion - III, a gaviona

Ao observar a singela touca gaviônica que adereçava a moça na fila do supermercado eu não resisti. Enviei um SMS para minha querida amiga do Mesa de Botequim, minha consultora de moda, perguntando o porquê daquilo. Ela me pediu encarecidamente que eu fotografasse e enviasse para análise.

Desta feita achei melhor publicar e submeter à avaliação de todos os três ou quatro leitores desta espelunca. Antes de mais nada eu revelo alguns detalhes, sendo que a mulata em questão:
  • Não é feia
  • Tem algo como 1,75m de altura
  • Tem um físico digno de uma segunda olhada masculina
A pergunta que não quer calar é: Por que alguém usa um troço desses na cabeça?


Comitiva what?

Comitivas. Para quem não é de Sampa ou nunca teve oportunidade de ver um bando de babacas usando roupas de texano, dançando passinhos ridículos e macaqueando os caipiras americanos, já tá explicado.

Para ir aos bailes de jacu pseudo-gringo eles, além de se emperequetarem com roupas bizarras, costumam decorar seus carros com centenas de adesivos para exaltar suas preferências culturais, incluindo os lugares que freqüentam. As comitivas se auto-batizam. E um dos adesivos que os integrantes das comitivas ostentam nos seus carros costuma ser o do nome da comitiva. Pode ser algo tonto como "Comitiva Nóis Bebe Até Caí", "Nóis Capota Mais Num Breca", "Comitiva Pé Na Jaca" e coisas assim.

Mas o ser proprietário dessa pick-up se superou no quesito mau gosto. Imagine que tipo de moçoila se digna a viajar nesse veículo ou então namorar com o sujeito caso ele tenha capacidade para atrair alguma.

É a humanidade provando que já excedeu o tempo de habitação deste planeta. Hora de dar tchau.

Se ele cruzar meu caminho de novo eu revelo a placa.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Pior a emenda que a zampogna

O natal em si já é um inferno. As pessoas ficam tresloucadas com a idiotice que inventaram de "correria de natal". Pra quê correr se o natal vai chegar de qualquer modo?

Andar pelas ruas era sinônimo de obrigar-se a ouvir aquelas canções natalinas ao som das harpinhas irritantes. Já era uma merda. Depois vieram as versões em ritmo de chorinho. Cazzos voadores. Aquilo já é deprimente por si, quanto mais em ritmo de chorinho. Adoniram dá cambalhotas no caixão.

Mas qualquer coisa horrível pode ficar péssima. Claro que pode. Passando pela Praça da República em Sampa hoje descobri que há coisa mais hedionda do que as próprias canções natalinas. São as canções natalinas em ritmo de música peruana, ou boliviana, ou andina... sei lá que merda é aquilo. Era um monte de clones do Evo Morales tocando Gingle-Bells com aquelas flautas de bambu, cavaco de casca de tatu, chocalhos de guizo de serpente chilena e bumbo de couro de lhama.

Não bastasse ainda estavam vendendo CD´s. Se eu tivesse grana eu comprava tudo, inclusive os instrumentos. Ateava fogo em tudo a começar pelos músicos. Coisa mais chata!

Pensando melhor a peruanazinha eu poupava (ops!) foi mal.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Nova escalação culinária

A já renomada e internacionalmente premiada culinária do Tio Xavier acaba de receber um reforço imbatível.

Depois de visitar um bucólico e perdido lugar, escondido bem no meio da muvuca do bairro paulistano de Vila Maria, o tio aderiu aos temperos naturais e frescos para dar mais sabor aos seus refinados pratos. Abaixo a foto do time.


Da esquerda para a direita: Manjericão italiano, Manjericão verde, Manjerona, Alho nira, Salsa lisa, Sálvia e Tomilho-limão. Ao lado no vasinho preto, Hortelã (segundo o fornecedor, ele tem problemas de convivência com o restante).

Segura esse time nas mãos do tio. Hoje começarei com quibe de bandeja assado. Lá vai Hortelã pela direita, passando pela carne moída, bate no trigo hidratado...

Carta ao Papai-Noel 2008/01

Prezado Noel:

Neste ano fui um bom menino, melhor dizendo: tio bonzinho. Trabalhei bastante, não olhei para as bundas das colegas de trabalho, não chutei gatos, não xinguei nenhum palmeirense de porco filho da puta, alimentei os peixes todos os dias e algumas vezes até reguei meus bonsais. Aliás vou até replantá-los hoje com a caçula, usando a terra novinha que comprei ontem.

Além disso na faculdade eu estudei com esmero e dedicação com minhas colegas gost... (ops!) inteligentes e fizemos todos os trabalhos (juro que não olhei para as bundas delas também). Tudo bem que alguns trabalhos foram meio Ctrl+C / Ctrl+V mas eu substituí todas as palavras relevantes por sinônimos, ficando apresentáveis e insuspeitos. Teve também aquela entrevista que foi forjada, tipo psicografia, mas vamos combinar que ficou bacana. Vamos esquecer aquelas transcrições para Braille que fiz usando software. Afinal quem é que escreve à mão hoje em dia né? Tecnologia está aí pra ser usada. O importante foi que as apresentações foram brilhantes, encantaram os professores e recebi boas notas por elas. Exceto daquela professorinha meia-boca de jardim de infância, camuflada de professora universitária. Mas um ser inócuo daquele não faz a menor diferença.

Enfim, para o senhor não ter dúvida, quero que o senhor veja meu exemplar boletim.

Eu sei que tem um bocado de faltas, mas eu administrei dentro dos limites.

Não vou pedir nada em especial neste ano, Noel. Na verdade quase tudo o que preciso está ao meu redor. Peço no máximo que o Sr. traga um 2009 com replay dos feitos que consegui neste ano e já está de bom tamanho. Se quiser ampliar, estou à disposição. E das minhas contas bancárias o senhor sabe os números.

Um abração pro senhor e pra senhora Noel. E bota logo esses anões preguiçosos pra trabalhar porque com a prosperidade econômica deste ano, o que não deve faltar é entrega pra fazer. Nunca antes na história deste país...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Batom where?

Pois é meu caro leitor, minha cara leitora. Há gosto pra tudo. E atualmente impera o mau-gosto. O chulo, o vulgar e o xerxelento tomaram o lugar das coisas boas da vida e há gente que ainda paga por isso. Passando ontem às 16h tanto pelo início da Rodovia Ayrton Senna me deparei com esse belo ônibus de turnê:


Eu insisto: não é uma montagem. Isso existe mesmo. Comprovadamente há um grupo de pagode ou coisa de similar categoria que se chama "Batom na Cueca". Notem os semblantes sorridentes dos integrantes. Um deles deve ser o vocalista principal e sua alcunha artística há de terminar com "inho".

Pela catiguria dos nobres "músicos", a começar pela escolha do pomposo nome do grupo, podemos supor mais algumas coisas:
  • As fãs disso não sabem distingüir uma nota musical de um relincho.

  • O adjetivo VULGAR não quer dizer absolutamente nadas pra elas.

  • A formação cultural do fã-clube deve incluir programas de auditório como os de Gugu Liberato e do Faustão.

  • A formação escolar dos apreciadores disso situa-se no máximo em "lê e escreve".

  • O vocabulário dos que acompanham esse shows têm no máximo 150 verbetes, incluindo nomes próprios como Creudislene, Eudisvlaudo, Jocilenildo e Valdiscreiçu.

  • A seletividade sexual dessas pessoas, permite copular com qualquer espécie mesmo não catalogada pela Zoologia e sem culpa.

  • Essas pessoas compram telefones istériu com mp3 em 252 prestações e ouvem seus ídolos no trem, sem fone de ouvido.

  • O paladar dessas pessoas permite tomar a cerveja que patrocina o ônibus, mesmo sem gelo.

  • Depois da cerveja patrocinadora, esses seres apreciam caipirinha feita com Cavalinho e similares.

  • Portar CDs e DVDs desse tipo de "banda" enquadra-se no artigo 12 da lei 6368.
Fazer o quê né? Dizem que gosto não se discute. Ainda mais o mau.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uma perda irreparável

A programação televisiva da Band não será mais a mesma a partir de 2009. O fantástico apresentador Leão Lobo e sua fantástica partner Rosana Hermann não mais protagonizarão o também fantástico programa Atualíssima. Segundo o próprio Lobo em pele de viad... (ops) cordeiro: "É ruim para a Band, que joga fora um trabalho de anos". Opinião totalmente isenta, óbvio.

O que mais me entristeceu agora foi saber que nunca assisti ao Atualíssima. Se passa na TV em dias úteis à tarde, eu costumo estar trabalhando. Como eu jamais casaria com uma inútil, a darling também perdeu. Se Leão Lobo apresentou isso por dez anos, veja que desgraça: eu perdi quase dois mil e quinhentos programas. Desperdicei tudo.

Dez anos de informações importantes e diversificadas - imagino eu - e nunca mais tomarei conhecimento. A oportunidade passou e agora sabe-se lá se conseguirei ver algum dos restantes nos próximos dias. Tenho menos dez programas para ver, considerando o feriado.

Estou decepcionado comigo mesmo e com tendências depressivas. Vou ligar pra minha analista agora mesmo.

Sessão corujismo parte XVII

Há alguns meses a cria mais nova chegou em casa dizendo que não queria mais participar do balé na escola. Como explicação, disse que achava chato e que desde o começo do ano "fazia o mesmo passo". Não duvido da competência da professora e vi nisso apenas uma justificativa meio esfarrapada, mas preferimos respeitar a vontade dela.

Só que então ela explicou que nós tínhamos que inscrevê-la na capoeira, porque ela já estava participando fazia tempo (?). E era verdade. A cara-de-pau se enfiou na turma de capoeira sem se matricular. Restava-nos regularizar a situação e trancar o tal balé. O resultado, agora no final do ano foi esse:


Eu francamente prefiro assim. Nunca fui muito com a cara de "O lago dos cisnes".

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Nada é tão ruim que não possa piorar

"O Corinthians está acreditando em mim e tem um projeto fantástico para 2009. Estou muito confiante."

Com essas palavras o sucatão-obeso-do-joelho-podre-caça-traveco acha que consola a torcida do timão, recém-chegada do estágio na segundona. Acho que o clube gostou tanto da segunda que agora está comprando jogador de segunda.

Lamentável.

Vivendo sem Bill Gates

O tio está comemorando uma semana sem Bill Gates. O micro de casa - por sinal este que estou usando agora - pegou um vírus cavalar. O danado - não obstante os trocentos cuidados que o tio toma mandando para o inferno e-mails com .PPT, correntes, jogando sem dó nem piedade e-mails no spam só porque contém palavras suspeitas e escaneando tudo o que passa a menos de um metro do PC - começou a ferrar com tudo. Nada foi suficiente para combatê-lo. Após anos sem saber o que era vírus, caí na desgraça e a solução era formatar.

A praga veio pelo pendrive, após o tio pegar um backup de um cliente e trazê-lo para analisar. O troço foi rápido, se instalou na surdina e ficou quietinho de tal forma que o antivírus e o antispyware só foram se tocar quando ele havia fincado bandeira na área de inicialização do HD principal e, provavelmente agora do HD secundário.

Depois de tentar todo tipo de remédio, despacho em encruzilhada, sessão de descarrego da IURD, promessa para santo e nada resolver, cheguei à conclusão de podia ser um aviso de Alá para eu me livrar da ferramenta de Satã e aderir ao mundo livre. E lá fui eu pela enésima vez, desde 1999 tentar uma versão de Linux. Desta vez o escolhido foi o Ubuntu, que o meu prezado enteado comprou - a preço de pastel de feira, claro - e possui instalado no notebook dele. No HP que ele comprou, o troço instalou-se por completo. Agora era minha vez.

Coloquei o disco na bandeja do DVDRom e dei start. Pasme! O sistema inicializado pelo disco subiu como um foguete sem me fazer uma pergunta. Logo que entrou no ar, vi um desktop bonito e limpo. Internet funcionando perfeitamente. Dispositivos de áudio, vídeo, tudo excelente. Nos aplicativos que vêm junto no CD, alguns velhos conhecidos com quem simpatizo deveras, entre eles o BROffice da Sun que me permitiu abandonar a suíte da Microsoft há uns quatro ou cinco anos. Tudo muito intuitivo, simples, gráfico e simpático.

Então vi um botão onde dizia "instalar o Ubuntu no HD" e cliquei sem dó. Acredite: a única coisa que tive que dizer pra ele era que podia usar e abusar do C: sem dó nem piedade, já que só tinha o Ruindols Chispê (infectado) e programas para os quais eu tinha substitutos. Dei OK e iniciei uma nova vida. Hoje sou um um novo homem, livre dos vícios, das drogas e da pirataria. Estou vivendo bem com meu Pentium-IV montado, com 1,7GHz de clock e 1GB de memória Ram.

Já instalei uma cacetada de programas úteis e até para o meu caro 7-Zip do qual eu não encontrei versão para Linux, tive uma saída chamada Wine. Este carinha lê arquivos padrão InstalShield e ao instalar um programa for Windows, cria um ambiente virtual onde boa parte dos programas preparados para a plataforma do Bill Gates consegue rodar. Tapeadinhos na buena.

Invente, tente, faça algo diferente. Você também pode.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Agradeço a Santo Expedito

Acabei de receber um indicador eletrônico e fui confirmar. Os três leitores do blog do tio conseguiram, faltando pouco para um ano da contagem, acessa-lo nada menos que 11.000 vezes. Isso mesmo. Claro que contando comigo, minha mãe que ficou apertando o F5 por dias seguidos a pedido meu e talvez algum desavisado leitor, foram quase trinta leituras diárias. Uma tiragem de fazer inveja pras famílias Frias e Mesquita.

Agora vou começar a vender espaço publicitário. Logo, logo, você que acessa esta página será bombardeado com ofertas tipo "enlarge your penis", C.i.A.l.i.S e coisas do tipo. Me aguarde. E com a grana da mídia vou comprar uma Mercedes. São os benefícios do sucesso.

domingo, 30 de novembro de 2008

Na reserva

Os camaradas mais próximos, que me conhecem pessoalmente saberão dizer que o tio é um cara enérgico. No sentido mais estrito da palavra, não sou muito afeito ao ócio. Geralmente realizo meia-dúzia de tarefas simultâneas, penso e lido com quatro ou cinco assuntos ao mesmo tempo no trabalho e não sou muito amigo do sono. Sempre achei, embora reconheça o poder revigorante deste, que dormir é uma perda de tempo que nos impede de realizar novas coisas. Na juventude fui dos que se contentavam com quatro ou cinco horas de sono por noite, quando não chegava de alguma farra, tomava um banho e ia direto para o trabalho.

Mas o tempo passa, a carcaça amassa e o espírito cansa. Lamento que minha vida atual não me propicie ao menos seis ou sete horas de bom sono. O meu trabalho agitado em todos os aspectos, emendado com minha vidinha de tio-universitário estão me consumindo aos poucos. Quando estico uma balada com a darling depois da aula na sexta-feira, acordo podre no sábado e passo o fim-de-semana com nhaca.

Este ano em particular foi puxado deveras. O ano próspero no trabalho que tentei aproveitar ao máximo juntou-se com um ano letivo muito extenso e um pouco mais exigente. No fim deste a correria que está somando os trabalhos da facu com o esforço extra para arrematar bons contratos dentre os clientes está me levando à bancarrota de energia. Sinto cada vez mais vontade de ficar deitado no tapete assistindo desenhos na TV, quando não estou cochilando no sofá. Mal mesmo. Nada a ver com o Xavier. Outro dia, em plenas 17h em um dia de semana eu cochilei em um semáforo da Av. Sumaré. Acordei com as buzinas dos motoristas de trás e vi que o carro da frente já estava a quase cem metros.

Daqui a duas semanas pretendo dar um desligão geral no trabalho e na faculdade, até 2009. Preciso muito. Preciso ir ao clube pra ficar boiando na piscina feito um calango estirado na caatinga. Preciso bebericar em mesinhas com meus amigos e amigas emendando um assunto no outro, sem concluir nenhum. Preciso assistir meus DVDs velhos do Chaves, do Ultra-Seven, do Speedy Racer e do Picapau. Preciso caminhar em parques com os pés descalços sobre a grama e a terra úmida. Preciso de cama, mesa e banhos, não exatamente nessa ordem. E dependendo da companhia não necessariamente de todos os itens.

Preciso dormir um pouco. Boa noite. Boa semana a todos.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Que time é teu?

Metrô Barra Funda sentido Itaquera, 23 horas. Um indivíduo ao fundo do vagão começa a cantarolar em tom de bravata:

- Tricolooooooor. Tri-co-lor... é Tricolor minha gente! Chupa! Chupa porco! Chupa peixe podre! Do time da outra divisão nem vô falá. Nem existe.

Olho pra trás para ver quem seria tal criatura e vejo um carinha aparentando uns 25 anos. Vestia uma calça de agasalho e a camiseta de uma certa torcida chamada carinhosamente de bambis, aqui em Sampa. Qual não foi minha surpresa ao constatar que o cidadão estava se pendurando nos balaústres e dando cambalhotas, enquanto ria como uma hiena gritando os títulos do time dele:

- Tricampeão de num-sei-quê*. Pentacampeão de num-sei-quê-lá*... Campeão da Libertadores X* vezes! É tricoloooooooor.

E novamente se pendurava qual um primata. Dava gargalhadas em tom de provocação aos demais passageiros possuidores de faculdades intelectuais normais:

- Chupa peixe. Chupa porco. O da segundona, nem conheço.

Para alívio de todos os tímpanos - imagino que até de seus envergonhados correligionários - o distinto desceu na estação seguinte, Marechal Deodoro. E ainda lá da plataforma deu pulos semelhantes aos de algumas espécies de símios, fez gestos de banana com os braços e provocou pela última vez, chamando o metrô da Zona Leste de podre, gambá e etecéteras.

Era quase uma hiena, sem percepção da vidinha medíocre de todos nós mortais pobres. Fantasiava orgasmos mentais com a genitália de jogadores que nem sabem que ele existe. Vibrava por um esporte que rende vultuosas importâncias apenas para cartolas e intermediadores às custas do próprio tonto, que compra adereços futebolísticos e certamente deve gastar seu dinheiro com ingressos a estádios.

Agora me pergunto: como um ser tão desprovido de senso pode sair circulando pelas ruas sem coleira nem focinheira?

* O tio Xavier desconhece listas de competições desportivas. E não tem o menor interesse em letrar-se no assunto.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tentando ser justo

Depois daquele episódio com a OI no qual eu estava praticamente jogando o chipzinho no lixo, resolvi dar o telefonema de misericórdia. A telefonista - com um gostoso sotaque da Guanabara que só elas têm - pediu mil desculpas em nome da companhia. Me explicou que justo o prefixo 67xx do meu telefone fazia parte de uma recente conversão de números fixos da Telefônica de São Paulo e, por isso, ainda haviam problemas na comutação de linhas.

A moça me garantiu que durante aquela mesma tarde eu teria de volta a possibilidade de fazer ligações gratuitas, acrescentando que, devido ao desconforto provocado, eles estavam estendendo a promoção "ligue grátis" por mais um mês. Nada mal, considerando que nem cheguei a usar de fato e o atraso foi de dez dias.

Assim tio Xavier carregou a bateria de outro aparelho, reinstalou o chip e está fazendo ligações digrátis todos os dias, à cota de vinte reais. SMS então estou mandando de monte e ainda não descobri qual é o limite deles. Sem paixões e pragmático, economizo uns bons trocados do que eventualmente gastaria usando meu Claro. Tirando a chatiCe de andar com dois aparelhos, sem problemas.

A propósito, chegando o Natal acho que vou começar a prospectar um aparelho que suporte dois chips como é do da darling. Duro vai ser um que tenha todas as traquitanas que tem o meu Nokia, incluindo o precioso teclado QWERTY que me ajuda a economizar toneladas de papel, já que não uso mais caderno na faculdade nem bloco de notas nas reuniões com os clientes.

Alguma dica aí?

A sucursal do inferno

Estava começando a escrever esta coisa e acabei lembrando que minha cara amiga Red já tinha escrito sobre essa escrotidão a céu aberto que é o Largo 13 de Maio (está aqui). Pelo amor dos meus filhinhos, o que é aquilo? Deve ser o rascunho do mapa do inferno que foi jogado na privada.

Hoje tive que visitar um prospect na região. Até aí nada demais, só que eu apenas tinha passado vagamente pelo local durante um domingo qualquer, de carro. Estava tudo vazio. Quando comentei com um amigo que iria para a região ele logo foi me aconselhando a não ir de carro, porque estacionar na região era algo impossível e se movimentar com o veículo muito menos. Segui o conselho do camarada e fiz um desafio ferroviário urbano.

Saí da Zona Leste de Sampa pela manhã e fui até a Barra Funda, onde embarquei num trem caindo aos pedaços que vai para Itapevi. Desci na estação Presidente Altino, que fica no município de Osasco, após um rápido percurso de uns quinze minutos no máximo. Aí fiz a baldeação para pegar o outro trem que segue para a Zona Sul, cujo final é longe pra cacete. Opa... este trem sim. Pensei que estava em outro país. Após descer da sucata móvel mal acreditei quando subi no trem novinho em folha, com vidros fumê, ar condicionado geladinho, TV Trem no display LCD e por aí vai. Até as pessoas que nele viajavam eram diferentes, predominando gravatas nos machos e saias e salto nas mocinhas bem arrumadas.

Só seria melhor mesmo se ele não andasse a 25Km por ora, coisa que não entendi. Imaginei que trens mais novos andassem mais rápido. Vai ver ele não corre muito pra não gastar e ficar velho como o sucatão. Desci na estação Santo Amaro e peguei o metrô que vem do Grajaú, pra andar apenas uma estação, até a famigerada Largo 13. Este último metrô também é muito bacaninha, moderno e confortável. E corre. Mas ao sair do buraco do metrô e me deparar na superfície com isso... Putz, sem comentários. Depois de andar nos arredores desse lugar horrendo, você vai achar que a Praça da Sé é uma verdadeira Champs Elysées. Juro.

Só Osama conseguirá dar um jeito nisso.

sábado, 15 de novembro de 2008

Sacrilégio

Início da noite de sábado. O tio Xavier estava com a cria mais nova e a darling a beber um delicioso açaí geladaço batido com banana, granola e outras coisinhas nutritivas. A Frutaria Santo Eduardo, situada no bairro de Vila Maria é destaque pela iguaria que sai às toneladas todos os dias nas mesas lotadas. Mas é característica também pelos funcionários péssimos e um bizarro cachorro SRD (eufemismo da Cinofilia para vira-latas), o qual entra e sai da cozinha na hora em que quer.

Como nem tudo é saborear açaí gelado, tem o brinde da casa: ter que ouvir as sensacionais atrações musicais que passam no telão de plasma com som no talo. Já tive que tomar meu açaí ouvindo a Banda Calcinha Preta (sim, existe isso), pagodeiros de Os Travessos, Jeito Muleke e tantas outras merdas, que só não me regurgitam o açaí porque tenho bom estômago. Já cheguei a reclamar com o dono para abaixarem o volume pois o som torna impossível conversar ali.

Ontem o DVD era de um show do Alexandre Pires. Nada contra ele desde que ele não alcance meus tímpanos. Pelo pouco que olhei para o telão às minhas costas ele recebeu duzentos convidados no palco para duetar. Entre eles a Ivete Poeira Sangalo, para uma versão demolidora de Hunting High and Low. Pois é. Alguém teve a manha, a petulância, a audácia de fazer esse sacrilégio musical pra cantarem batendo em couro de gato. A versão livre não passa de um apanhado de versos desconexos, bregas e com vocabulário limitado. E antes que você diga que a letra do A-Ha não vai muito além disso, vamos combinar que o ex-SPC que geme ao microfone não dá nem pra comparar com a voz do Morten Harket, ainda que na época ele fosse um moleque.

Pagode-rebolador, forró falsificado e sertanejo-corno disputam entre si o Nobel da Química, transformando excelentes canções em lixo. O sucesso do A-Ha também não foi poupado e a versão podre chama-se Estrela Cadente. Ainda bem que eu já tinha terminado meu açaí e minha coxinha. Devia haver uma lei que proibisse esses breguetes de fazer bizarrices com músicas boas. Você ainda está duvidando do que eu disse, não é? Então comprove você mesmo(a), clicando AQUI.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Botorixta abigo

Estudo mostra que 80% dos estudantes pegam carona com quem bebeu. "Apesar do número de estudantes que admitem misturar álcool e volante freqüentemente ter caído... 80% deles confessam que ainda pegam carona com motoristas embriagados depois da balada" (Fonte: Uol Notícias).

As estatísticas falam mais pelo que ocultam. O que não foi divulgado é que 20% dos entrevistados restantes eram os próprios motoristas, assim divididos:

- Metade confirmou que dirigiram bêbados;

- Outra metade não conseguiu responder e abraçavam o entrevistador falando "fozêêêêê é beeeeu abiiiigu".

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Oi... e tchau

Há alguns dias desembarcou na Paulicéia a operadora OI. Gastou alguns milhões com mídia e, se não me engano, até promoveu uns shows digrátis em Sampa. A ruidosa chegada incluiu moças bonitas e gostosinhas na porta da faculdade, todas com roupas alaranjadas gritando "olha o chip OI, só vinte reais". Na propaganda da TV veicularam a promessa de que, comprando o chip, poderia-se fazer ligações de Oi para Oi e para fixos, à cota de vinte reais por dia durante três meses. Bastava comprar o chip, instalá-lo em um telefone desbloqueado e a farra estava inaugurada.

Descrente que sou acerca de soluções mágicas e de operadoras de telefonia boazinhas, dei os vintinhos na mão de uma das gostosas, mais com o intuito de usufruir da franquia promocional dos três meses, como telefone auxiliar. Me recuso a abrir mão do meu número da Claro, pois o utilizo comercialmente há dez anos. Aguardo ansioso pela prometida portabilidade para ao menos se eu mantiver a operadora atual, que ela me dê algo melhor em retribuição, de preferência redução de tarifas. Mas cá estava eu com dois celulares, o que acho um absurdo, mas animado para fazer as chamadas gratuitas ofertadas pela novata.

Ao usar por uns três ou quatro dias, notei o que já presumia: os vinte reais depositados graciosamente no meu chip mal davam para falar "alô" para um telefone local. Segundo meus cálculos, o minuto girava em torno de R$1,20. Até aí tudo bem. Em cavalo "dado" não se olham os dentes. Nem tão dado, mas pelo valor pago o retorno ainda seria satisfatório.

Só que terça-feira passada eu tentei fazer umas chamadas locais e os números TODOS davam em uma mensagem "o número discado no momento não está recebendo ligações". Acreditei ingenuamente até que resolvi ligar para minha própria casa. Adivinha? Também estava programado para não receber ligações. E o da empresa também. Assim como o da casa da minha mãe, o da minha irmã, o do bispo local e até o do Hospital das Clínicas. Todos programados para não receber ligações, ao menos as ligações OI que não completam, pois de outro telefone o sucesso era garantido.

Liguei calmamente para a operadora. Depois do habitual labirinto de menus numéricos durante quinze consegui falar com uma humana. Ela conferiu detalhadamente o que eu falava e encerrou com o tradicional gerundês. Iria "estar encaminhando para o departamento técnico estar verificando pra poderem estar me retornando" (sic). Ao fim dos quase trinta minutos de atendimento, agradeci e pedi que me comunicassem logo o resultado para decidir se eu jogava já o chip no lixo ou se aguardava mais um tempo. Ainda aguardo o contato da operadora em cinco dias com uma solução, embora já tenham se passado sete.

Pedi à darling há cinco minutos que me ligasse no meu número OI e ela disse que estava "ocupado". Ocupado estou eu para gastar tempo com isso. Agora mesmo acessei o site da operadora à procura de algo como atendimento online ou um fale conosco. Veja que coisa fofa eu encontrei. Para uma empresa de tecnologia ter como atendimento mais palpável a carta, não me pareceu assim muuuuuito legal.

Oumaigódi. Acho que vai pro lixo já.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Independência ou...?

Uma porção de subdistritos, ao menos por estes lados estão reinvindicando sua emancipação para transformarem-se em novos municípios. Aliás, ser morador de um subdistrito já é por si uma cruz. O próprio nome denuncia que você é da oitava divisão do campeonato social. É como torcer para o Aliados de Pindamonhangaba ou o Colorado de Santo Antônio do Catigiró. Parelheiros é um desses pontos de Sampa onde os bandeirantes sequer se atreveram a chegar. Para quem não é daqui ou sendo nem sabia que havia um local chamado Parelheiros, o tio explica.

Trata-se de uma localidade um bocado distante em relação à Praça da Sé, marco zero da cidade. Coisa de cinqüenta e tantos, quase sessenta quilômetros, se fosse em linha reta. Mas um ônibus do centrão da cidade até lá roda cerca de oitocentos quilômetros para chegar ao destino. É a beiradinha do final do extremo sul da cidade, sendo que da rebarba dela dá pra ver... O MAR. É verdade. Existe um subdistrito do subdistrito, que é uma subdivisão de Parelheiros, pois desgraça pouca é bobagem. Chama-se Engenheiro Marsilac e do alto de uma colina desta dá prá ver o Atlântico, já que de Marsilac é mais perto ir para Mongaguá pela mata do que ir para o centro de Sampa de busão. É provável que alguns moradores de lá trabalhem no litoral, indo à pé todos os dias.

Como se não bastasse morar em um lugar desses, a região de Parelheiros obviamente coleciona os piores índices sociais. A pesquisa do IDH da ONU nem chega lá. Escolaridade? Vamos mudar de assunto. Saúde esse povo deve ter de sobra, porque conseguem sobreviver sem uma mísera instalação hospitalar. Violência nem tanto. Basta não olhar torto pra ninguém, pois não há xerife local. Saneamento, nem o básico e fossa lá já é um item de luxo nos casebres. A economia deve basear-se em agricultura de subsistência, considerando que o capitalismo ainda não chegou. Nem deve ser por maldade dos governantes, pois creio que a maioria sequer soube que essa beirada cartográfica existia.

Enfim, Parelheiros e sua sub-sub-divisão Marsilac (vide o A assinalado no mapa), estão aí querendo ser municípios pois, segundo a população de lá, a autonomia é o caminho para a melhoria. Se eu fosse prefeito Kassab aproveitaria agora e assinava embaixo, enviando o projeto para a Câmara Federal. Uma tremenda oportunidade de livrar-se desse bico do mapa e melhorar diretamente as estatísticas sociais de Sampa. E mais: eu ainda faria um programa de incentivo à colonização de Parelheiros-Marsilac, financiando a mudança de mala e cuia de todos os que se dispusessem enfrentar cobras, jaguatiricas e tribos antropófagas em busca de uma nova Eldorado. Aliás se eu fosse o Lula, venderia Parelheiros e Marsilac pro Evo Morales.

Tá de bobeira, Kassab! A hora é agora.

domingo, 2 de novembro de 2008

Cuidado com onde senta

Não, meu três caros leitores. Isto não é um post sobre sacanagem. Eu até escrevo algumas, mas sob pseudônimo e em um site apropriado para tal.

Há dias que fico um bocado irritado com uma certa faxineira que trabalha (ou melhor, finge) na praça de alimentação da faculdade. O tio chega um pouco mais cedo e antes de subir costuma tomar um açaí batido ou comer algo que preencha o estômago e permita agüentar vivo até as onze e meia da noite que é quando chego no barraco.

Acontece que quando vou jogar o lixo, a dita faxineira em cem por cento das vezes está escorada na lixeira. Algumas vezes já tive que pedir um polido "com licença" para jogar o meu lixo. Em outras ocasiões ela desencosta o traseiro do utensílio com um esforço de Hércules e cara de orifício anal. Por essas tantas eu decidi colaborar com a manutenção do emprego dela de outra maneira, que é deixando todo o lixo e a bandeja sobre a mesa para que ela tenha que recolher. Sei que é injusto com os demais colegas que chegam afoitos por um escasso lugar pra lanchar, mas achei ser a única maneira de eu não me arriscar a dar uma cabeçada nela na próxima vez que ela bufasse diante da minha reivindicação pelo direito de uso da lixeira.

Só que na quinta-feira eu recebi três ou quatro folhetos panfletados na porta do estabelecimento e como sou um ser asseado esperei chegar na lixeira para descartá-los ao invés de jogá-los no chão como faz a população porca que estuda lá. Quando chego na lixeira, quem eu encontro? Vamos, tente adivinhar! A ditinha, que tem menos de um metro e meio de altura dando um pulinho pra encaixar a buzanfa raquítica na boca da basculante da lixeira. Sim meu amigo, minha amiga: ela passou a sentar naquele artefato que ela teria que permanecer enchendo e esvaziando. Com minha indisfarçável cara de "tô com o saco cheio de você" eu pedi espaço para jogar a bola de papel e a sujeita saiu fazendo corpo mole, tal era a acomodação e conforto da poltrona eleita por ela. E dessa vez havia uma segunda funcionária do mesmo nível hierárquico, escorada na lateral a tramar como seria o próximo churrasco de acém na laje ao som do novo CD do Belo.

Mal enfiei meu lixo pela basculante e a mocinha uniformizada já saltou para encaixar seus gluteozinhos no buraco novamente e por pouco não prendia minha mão junto. Aí eu olhei pra cara da beneditinha e disse: "Cuidado hein, criatura! Qualquer hora te levam junto na hora da coleta".

Para minha surpresa, quando virei de costas ainda pude ouvi-la perguntar para a segunda inútil:

- Ele tá querendo dizer que vão me confundir com lixo?

Não sei se isso foi despeito ou uma simples indagação. Mas espero que ela filosofe bastante sobre essa dúvida. Quem sabe ela se toque e descubra que nossas escolhas determinam nossos lugares no mundo.

Enquanto isso as mesas continuam sujas.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Happy birthday to me

Oficialmente é HOJE que o tio Xavier completa quarenta e duas primaveras. Literalmente. Foi na estação das flores que a avó Xavier deu-me à luz. Vou explicar cientificamente: na véspera do dia em que se comemora meu nascimento eu COMPLETO o ano. Amanhã será o primeiro dia do meu quadragésimo-terceiro ano. Se não entendeu, problema seu. Páro por aqui.

Segundo algumas correntes de pensamento que misturam Biologia com esoterismo, no caso presente estou encerrando o meu sexto ciclo de vidas. Acontece que uma célula vive no máximo sete anos. Sendo assim, amanhã iniciarei meu sétimo ciclo celular que se encerrará ao têrmo do meu quadragésimo-nono ano.

Esse tempo significa muita coisa. Significa que hoje sou muito mais. Mais impaciente, mais intolerante, mais desbocado, mais saco cheio, mais fadigado, enfim mais chato do que vocês já conheceram. Chega desse papo babaca estilo: "eu não me troco por esses carinhas de vinte e cinco anos". Claro que se houvesse a possibilidade de eu esvaziar a alma de algum jovem e me apossar da carcaça dele eu o faria sem pestanejar. Aliás se alguma feiticeira de plantão souber a receita, pago bem pelo serviço executado.

Neste sábado receberei um seleto grupo de seletos amigos mais próximos. Algo modesto, caseiro e destinado apenas àqueles que de fato estão "sempre aí" quando o tio precisa e chamam-me quando estão no apuros. Os demais são colegas, parentes e grupos circunstancializados. Têm algum lugar na estima do tio, mas para os momentos como esse eu costumo mesmo restringir.

Inspirado por uma crônica que li dia desses não haverá apagamento velas. Nada de apagar. Se for para ter fogo, será para acender e mantê-lo como espero manter minha chama vital por mais algumas décadas, enquanto eu tiver qualidade de vida. À certa altura dos comes chamarei as pessoas para o bolo de sobremesa. Por favor sem cantoria nenhuma, tampouco "o tio faz anos, o azar é só dele". Azar para PQTP porque vencer quatro décadas e tanto de luta não foi fácil. Não é, aliás.

Se você que lê esta espelunca tiver alguma relação comercial com o tio, seja fornecedor, representado, cliente, credor ou do governo, por favor não me ligue amanhã para pedir isto ou aquilo. Amanhã tirarei o dia para mim. O máximo de esforço que me permitirei será ir até a padaria comprar um pãozinho quente e uma mortadela defumada. Talvez ir à pedicure tirar os lençóis de calosiodade sob a unha do dedão. Talvez eu pare no caminho pra tomar um açaí gelado e ficar olhando as moçoilas a passar pela calçada, com suas saias curtas e coxas grossas. Talvez eu pare em alguma loja e compre um mimo pra mim, porque trabalhar como camelo e não tirar uma lasquinha ninguém merece.

Parabéns pra mim. Meeeeeeesmo.

domingo, 26 de outubro de 2008

Justificativa

Prezado Senhor Presidente do Tribunal Regional Eleitoral:

Tio Xavier, brasileiro, trabalhador, divorciado e reajuntado, corinthiano, meio-budista, filósofo e descrente da falsa democracia, vem por meio desta apresentar o formulário abaixo de justificativa para o não comparecimento ao segundo turno do pleito realizado neste ano. Segue após o formulário a argumentação, embora possa ser desnecessária.

Ocorre que nenhum dos candidatos apresenta qualquer medida que possa conduzir nossa imatura democracia para além dos tapetões eleitorais, onde ganha quem tem a melhor máquina eleitoreira. Neste turno particularmente os dois remanescentes passaram o tempo todo, além de trocando acusações fúteis, tentando empinar o peito (ela) e a barriga (ele) para posar de "o melhor the best of city administration" quando o que a população precisa é de educação para participar de verdade - com consciência e co-responsabilidade - dos destinos da polis.

Nenhum dos dois fez qualquer menção em instituir conselhos consultivos e deliberativos nas subprefeituras para discutir o que de fato seria prioridade em cada região. Ambos têm históricos pregressos péssimos a respeito de não receber a população organizada quando grupos desta resolveram finalmente tirar as bundas dos sofás, desligaram as TVs e foram ao gabinete do alcaide. Ao contrário, consta que costumam não recebê-los mantendo as portas trancadas ou mandando seus cães-de-guarda espantar a gentalha, pois assim eles nos vêem depois de eleitos.

Nenhum dos dois levanta junto aos parlamentares municipais a lebre de que falta transparência, quando não honestidade, no que se faz com o dinheiro público, prestando contas de verdade do que fazem com os centavos. Ao contrário, se locupletam com os nobres vereadores para poderem fazer passar projetos que nem sempre são de importância coletiva. Também ninguém faz menção de abrir canais diretos para que pobres populares, como este tonto que aqui posta, possam emitir sua opinião no Diário Oficial do Município ou em algum fórum eletrônico aberto, já que temos que correr atrás do pão de cada dia e não podemos nem pensar em ir à Câmara, se é que seríamos recebidos como comentei acima.

Enfim, ambos receberam polpudas doações de empreiteiras, bancos e fornecedores de produtos e serviços ao serviço público permitindo que possamos levantar ao menos uma distante suspeita de que estes seriam bondosamente favorecidos nas aquisições da municipalidade. Então já sabemos de antemão que independente do contemplado pelas urnas, os governantes de fato serão aqueles acima.

Por esses argumentos que julgo suficientes, peço carimbar o protocolo acima. Os R$3,50, recolherei ao cofre público oportunamente. Será apenas mais um pagamento ao Estado, dentre os tantos que fazemos em cada grão de arroz que comemos. Considerando a gasolina que eu gastaria, o calor que está lá fora e o tempo que eu perderia, prefiro brincar com minha cria, dedicar-me aos estudos tardios e aos afazeres domésticos. Afinal a multinha sairá bem mais barato do que a ida à seção.

Nestes termos,

Pede deferimento,

Tio Xavier
Título eleitoral 0000000, zero à esquerda.
Zona? (não sou em quem a promove).

domingo, 12 de outubro de 2008

Nota de falecimento, parte XVI

Faleceu nesta madrugada uma das pessoas mais importantes que passou na vida do tio. Ele soube ser amigo, camarada e até pai nos momentos mais difíceis da minha juventude. Presente igualmente em ocasiões divertidas em volta da churrasqueira (com caipirinha e cerveja também), o padre Pedro Paloschi, natural de Botuverá-SC, foi uma das pessoas mais coerentes e responsáveis que conheci.

Os amigos do tio mais próximos dessa época, hão de saber a diferença que o padre Pedro fez na vida de tantas pessoas nas comunidades por onde passou. Estudioso, sensato, equilibrado e sobretudo responsivo, Pedro nunca se calou diante de uma situação injusta e é claro que em alguns momentos isso lhe custou os pouquíssimos desafetos que ele teve.

Por uns bons anos participei da paróquia católica que ele coordenou na Vila Maria. Devo dizer que muito da minha formação e caráter tem base na passagem do Pedro. Embora hoje eu já não professe o mesmo credo religioso dele, respeito muito a este, sobretudo pelo testemunho vivo do Pedro. Ainda no início deste ano tive oportunidade de almoçar com ele e apresentar-lhe a darling e a cria mais nova. Pude ver nos seus olhos e sorriso a sincera satisfação de ver uma velha ovelha desgarrada vivendo feliz.

Só que hoje pela manhã recebi um telefonema de um amigo comum, me dando conta da triste notícia de sua partida. Para onde? Não sei. Mas se o deus em que ele acredita existir mesmo é certo que há de ter um lugar reservado para esse meu amigo. Com muito churrasco e cantoria de modinhas. Ah, e umas cervejas na geladeira.

Vai lá com ele, Pedrão. Se for verdade mesmo, talvez um dia a gente se veja de novo. Desculpe pelas tantas lágrimas de hoje, que não combinam com as lembranças das nossas festas. Mas é também pelas lembranças felizes delas.

Leva saudades deste seu amigo e admirador.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

To chegando na Cohab

Ao ler a lista dos vereadores eleitos de Sampa e constatar que o pagodeiro escroto Netinho de Paula está no top ranking, eu reflito e concluo: ESSE POVINHO DE BOSTA MERECE!

sábado, 4 de outubro de 2008

Estado de quem, cara-pálida?

"Toda eleição é fraudulenta". Demorei um bocado de tempo para compreender esse postulado simples e direto de Wladimir Ilich Ulianov, esse cara aí ao lado, mais conhecido com Lênin. Certamente ele já falava dos rumos da democracia pós-revolução bolchevique que assinalava os contornos do fiasco totalitário em que iria se tornar a experiência russa nas mãos dos burocratas do PC soviético. Lá se enterrariam os sonhos da democracia proletária e da própria futura extinção das classes sociais. Nas terras bushianas, quiçá em breve barackianas, o Estado Burguês faz uma gigantesca operação financeira para "salvar a economia". Cá amanhã teremos eleições municipais que renovarão cem por cento das câmaras legislativas municipais e seus executivos alcaides. O que há de ligação em tudo isso?

Aqui entra um pouco de análise política. Quando falamos de Estado (com maiúscula), referimo-nos a organização política maior de uma nação. O Estado representa a classe que o constituiu ou que o tomou de assalto. Por isso um Estado é sempre classista. Desde os movimentos iluministas e as revoluções que puseram abaixo os regimes feudais e monarquias, a classe revolucionária que tomou o poder foi a burguesia economicamente ascendente. E que logo tomaram para si a política. Assim podemos entender que a política é o reflexo organizacional e normativo daqueles que detém o poder econômico, ao cabo, o poder de controlar quem mora, quem se alimenta, quem se veste e como o fazem.

O regime econômico que domina o mundo hoje, o Capitalismo, é fruto da ascenção burguesa a todas as esferas de poder político em nível mundial. E a faceta "globalista" do Capitalismo é exatamente a hegemonia dos extratos burgueses dos países mais ricos sobre os extratos burgueses dos países menos ricos e destes sobre as classes não possuidoras dos meios de produção. Nós que não possuímos riqueza e dependemos tão somente da nossa força de trabalho e inteligência para o sustento. Essa força de trabalho precisa geralmente ser exercida para os possuidores ou para o Estado, expressão maior das classes dominantes.

Curiosamente a burguesia é disseminadora do discurso mais falacioso e inconsistente do capital, desde os postulados de Adam Smith: o de que a economia pode seguir solta que se auto-regula pela força positiva da mão invisível do mercado. Por isso a burguesia em todos os países faz questão de pregar a extinção do Estado em prol de um mercado de homens livres no qual o desejo de progresso e prosperidade de todos impulsiona as forças produtivas para a construção de cada vez mais riqueza, o que é bom para todos, certo? E também que o risco é inerente às operações de investimento. Alguns ganham, outros perdem, depois a situação pode se inverter e no final todos ganham. Ahã...

Então observe para onde os capitalistas especuladores (ops!) os investidores dos mercados de capitais e bancários vão correr, quando o capital volátil das bolsas treme (por causas de peculiaridades do sistema de acumulação). Acabamos de ver nesta semana: para o Estado. Ora, ora... Lá se desnudam os valentes desbravadores do mundo financista que arriscam seus patrimônios heroicamente e que até então - enquanto lucram - pregam a extinção do Estado ou então o "Estado Mínimo". Estado Mínimo no conceito deles é o fim do Estado redistribuidor, que presta socorro aos que precisam do elementar, como educação, assistência médica, aposentadoria, programas de moradia, socorro a desabrigados, enfim o chamado Estado do Bem-Estar Social. Esse é o Estado que os capitalistas querem sepultar. O último resquício de que o Estado Burguês - outrora revolucionário - poderia promover melhoria de vida para a maioria das pessoas. O Estado que socorre o Capital, o defende com seus aparelhos jurídicos e com o braço armado - polícias e exércitos - esse fica.

Voltando a bushilândia, os "corajosos investidores" estão sempre destemidos para lucrar, mas correm com chapéu em mãos para o governo quando perdem alguns trocados. E este Estado, benevolentemente, em nome do bem-estar $ocial dele$, empenhou um socorro jamais antes visto. Foi muita grana. Procure as cifras nos noticiários. Os coitadinhos dos investidores foram lá apavorados porque não esperavam o baque em seus habituais megalucros. Curioso que um amigo do tio lá da bushilândia, ex-morador de New Orleans, contou-me semanas atrás que tantos anos após a tragédia do dique que matou trocentos pretos e hispânicos, ainda há milhares de desabrigados com famílias morando em traillers, esperando um socorro bem mais modesto da parte do Estado: um kitchenete do CDHU deles ou um empréstimo pra comprar um sobradinho de 40m². Pra esses não têm ajuda estatal. Por que não estou surpreso?

Chegamos aqui nas eleições municipais. Em cada cidade um dos potenciais prefeitos assumirá em janeiro. E todos os conglomerados de prestação de serviço que vivem de vender para a municipalidade já investiram nos elegíveis. Algum trocadinho para um ou outro minoritário porque este poderá se aliar ao eleito em troca de uma secretaria municipal e também favorecer as compras das prefeituras. Investimento sem risco, com retorno certo. Ao lado, milhares de candidatos se acotovelam em busca do shangri-lá de uma das vagas da Câmara Municipal e terão a árdua missão de avalizar atos do alcaide, além de renomear ruas e praças que são os projetos predominantes nas câmaras municipais. Tudo isso a preço de ouro e além dos custos formais, com muita grana saindo pelos cantos ajudando os pobres políticos eleitos e seus lacaios a ampliar seus modestos patrimônios.

Enquanto isso você eleitor que lê isto - se é que agüentou até aqui porque hoje estou prolixo demais - está aí pensando se vota no que prometeu hospital, no que prometeu escolas, no que diz que já fez tudo isso ou naquele que beija criancinhas na feira livre comendo pastel. Meu caro, minha cara, o baralho está marcado, os dados viciados e a roleta tem um pedal de freio escondido. Caia fora dessas. Nunca pensei que diria isso um dia, mas não há caminho para melhoria da nossa vidinha medíocre no tapetão deles. Forget it. Vamos lá para os (des)construtivos conselhos do tio:

NÃO VOTE OU VOTE NULO. Isso não mudará o quadro em nada, mas tirará o seu aval dessa balbúrdia que está aí.

COMPRE SEMPRE QUE PUDER de pequenos produtores, hortas comunitárias, cooperativas autônimas, do seu Zé que planta verduras no terreno ocupado, da dona Lola que costura em casa no anonimato. Corte o cabelo no seu Antônio que nem firma aberta possui e desconhece o que quer dizer ISS. Tudo isso ainda terá um resquício de imposto embutido mas a sua contribuição diminuirá bastante.

SONEGUE SEMPRE QUE PUDER os impostos. Os impostos vão para sustentar e perpetuar o Estado Burguês incluindo a polícia que te dá borrachada se você for pra rua reclamar. Infelizmente quase tudo que chega às nossas mãos já vem com impostos antecipados ou tributados do produtor (exceto os vegetais da horta do tiozinho do terreno invadido). Mas quando se tratar da suada rendinha do seu trampo, sempre que puder faça-a informalmente e enfie a grana no bolso. Com o $ que seria da tributação você poderá contribuir melhor do que ninguém para o bem-estar social da sua família. Isso inclui não cair no conto da Nota Fiscal Paulista e suas assemelhadas de outras unidades territoriais. O Estado não te devolve merda nenhuma no final das contas. Ele apenas quer saber quanto VOCÊ GANHA e o mesmo a respeito do cara que te vendeu.

E novamente eu insisto:

NÃO VOTE OU VOTE NULO. Não fará a menor diferença mas pelo menos você desencantará sua mente das ilusões, tornando sua visão mais limpa e realista. Se você se ausentar a multa é irrisória; mais barata do que o busão de ida e volta. Não caia também nessas histórias de que se X% mais tanto votarem branco, nulo, absterem-se, etc.. anulará o pleito. Isso não tem a menor base jurídica. E ainda que tivesse, se um colapso eleitoral ocorrer, o TSE, o STF e as câmaras legislativas federais darão um jeito rapidinho de mudar as regras e manter a legitimidade da farsa. Toda eleição é fraudulenta, já disse o tio Lênin. Ela traz no seu âmago as regras espúrias e o germe da locupletação.

Desculpe pelo mau humor. Por esses dias estou frio e realista demais.

Pode confirmar sem medo: o número está mais que certo.

sábado, 27 de setembro de 2008

Rent-a-vote

Já que:

a) As eleições não passam de um falsete democrático,

b) A tal democracia representativa é um imbróglio, pois os cidadãos permanecem alienados das esferas de poder e

c) Comprar ou vender voto é crime, ao menos na teoria e na legislação eleitoral.

O tio decidiu alugar o voto. Agora que me caiu a ficha: não preciso vender. O voto só tem validade por 4 anos, que é a duração do mandato. Então é simples faturar uma grana sem incorrer em crime eleitoral: basta alugar que não consta na legislação como crime correlato.

Os políticos e partidos interessados podem enviar suas propostas para o Tio Xavier que as analisará. Serão alugados separadamente o voto para prefeito e o para vereador. O critério classificador será a maior oferta, em moeda corrente. Em caso de empate o tio poderá, com critérios próprios, solicitar aos finalistas uma oferta adicional de desempate.

O resultado será postado aqui na sexta-feira que antecede o pleito, ao meio-dia. O(s) vencedor(es) deverá(o) depositar imediatamente a importância acertada na conta do tio. Em espécie porque cheque de político nem pensar. Caso contrário não alugarei meu voto.

Alea jacta est.

Atenciosamente.

Tio Xavier

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

The train, parte XVII

Senhor de meia-idade e suburbano que sou, adentro ao vagão do trenzão da zona leste umas sete e tanto da madrugada. Pego-o voltando para a primeira estação para poder ir sentado, pois tentar pegar o trenzão na terceira estação, como seria meu caso, é impossível. Não dá nem para entrar.

A composição pára na estação final, eu permaneço confortavelmente sentado bem no canto e abro o livro de Emília Ferreiro que estou lendo. Eis que quando o vagão lota compactando a massa proletária ouve-se um aparelho sonoro tocando no último a grudenta, sebosa e enjoada voz do ex-detento Belo. Aos poucos a banda sintetizada cresce e o mais chato dos pagodes românticos toca a todo vapor. Putaquipariu.... tem que ser no meu vagão.

No banco atrás de mim, duas senhorinhas reclamam entre si. Pessoas bufam. Mas ninguém fez o menor intento de introduzir o aipódi do energúmeno no respectivo orifício defecador dele. Essa é merda da inclusão da gentalha no mercado de consumo. O jeca foi nas lojas do Sr. Samuel Klein, comprou o treco em quatrocentas e dezesseis prestações e acha que toda a Humanidade quer ouvir o mesmo lixo que ele.

Depois de me dar conta de que as palavras da autora já não se processavam no meu cérebro não resisti mais. Assim que o trem parou na estação seguinte e me certifiquei que seria ouvido dei um berro digno de vendedor de sapatos da rua Direita.

- Ô didjei! Abaixa esse troço aí por favor!

Felizmente o merda deve ter se constrangido e foi abaixando, abaixando até que a voz nojenta do Belo sumiu-se de vez. Aí, nada como um arremate:

- Brigado aê, falou?

Gentalha.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Denúncia de maus tratos...

De novo! Um noticiário está mostrando uma mãe em Recife - escondendo o rosto não sei o porquê - que denunciou uma babá por comprovados maus tratos à uma menina de dois anos. No vídeo, que a mãe forneceu à polícia depois de contratar um sistema de vigilância interna, a tal babá (na verdade uma serviçal sem a menor qualificação) bate, puxa os cabelos, ergue pelo braço e - pasme! - fura a perna da criança com um palito de dente. Depois de demitida, agora a sujeita está foragida. Puxa, vida...

Onde já se viu denunciar à polícia uma pessoa dessas? Oumaigódi, o que tem na cabeça dessa mãe? A criança tem pai? Tem tio? Avô? Ou pelo menos, caso a mãezinha viva sem marido, não haverá um amigo mais chegado que tenha estima pela família?

O tio Xavier nunca admitiria uma denúncia contra alguém que maltatasse uma criança de minha casa, um idoso, nem sequer um animal doméstico, incluindo os peixes do meu aquário. Não, isso não é motivo para se denunciar. Eu socaria a boca até que não restasse um centímetro de gengiva para dar suporte a um implante, enfiaria um cabo de enxada por um lugar escuso até que saísse pela boca e por fim, tapearia o switch da porta do microondas para poder cozinhar a cabeça desse ser.

Depois chamaria a polícia e simularia uma possessão de exu, fazendo um discurso sobre o que merecem seres que maculam e maltratam indefesos, independente da espécie desses. Duvido e faço pouco que qualquer juiz criminal teria argumentos para me condenar.

Denúncia? Tá bão, viu...

sábado, 20 de setembro de 2008

O império de Satã

Fazia quase uma década que pelo menos duas das três TVs da casa do tio estavam inativas. Foi quando caiu um raio na antena e o tio entendeu como uma mensagem de Alá, para eu proteger minha família contra o império de Satã. Na ocasião mantive apenas o aparelho da sala em operação parcial e quando não chovia era possível discernir alguns personagens em meio aos chuviscos. Como não canso de dizer e todos já sabem a TV aberta é uma merda, então não havia razão para restaurar o funcionamento. A TV por assinatura é uma merda mais sofisticada. Tem alguns canais informativos e às vezes passa algum filme bom que se reprisa por 403983 vezes nos meses seguintes. Custa uns bons trocados por mês; "despesa fixa" como classifica-se na Administração Clássica. Por isso eu me recusei toda vida a bancar essa brincadeira.

Meu exemplar e já bem-sucedido enteado, formado e ganhando mais que o tio (o que até um catador de papelão consegue) já tem autonomia para diversas coisas. Nunca pede um real para o padrasto nem para a darling. Ao contrário, já assume alguma despesa da casa e com freqüência deixa cédulas na bolsa da mãe. Um exemplo e você que tem filho proto-delinqüente mooooooorra de inveja.

Ocorre que o caro jovem contratou a TVA para a casa do tio. Do dia pra noite, cheguei em casa e vi toda a família assistindo TV, cada um em um cômodo, como cabe a uma família moderna. Enfim o império de Satã conseguiu adentrar a casa da família do tio. Agora produções dos pecadores hollywoodianos que pregam o evangelho infernal do consumismo, o sucesso a qualquer custo, a infidelidade e do desprezo pelo semelhante, invadem todos os dias a sala e os quartos casa. Desenhos de bonecos abobalhados (que têm por missão neutralizar os neurônios das poucas crianças inteligentes) passarão a estrelar nos horários em que a cria assiste TV. Estou impotente diante da situação e já considero protagonizar um ataque-bomba à minha própria casa, como única forma de garantir a salvação da minha família.

Mas tudo que é ruim pode piorar. Já faz uma semana que o técnico da TVA, um tiozinho calvo e gorducho, não sai daqui de casa. Traduzindo: a merda da tecnologia dos caras não tá funcionando direito e as imagens vira e mexe congelam, eventualmente junto com o áudio. Num dia ele vem e troca os decodificadores, no outro as fontes de alimentação, no outro o filtro de sinal, no outro os cabos e por aí vai. Me lembrei de uma propaganda, na qual o técnico vai morar com a família, porque a TV deles o só dá problema. Acho que vai sair uma nova versão. Aqui na casa do tio.

Jihad já! Pela destruição de todas as emissoras pecadoras! Viva a Al Jazeera!

Coração de estudante...

- A senhora nunca mais se intrometa nos assuntos que não são da sua alçada. Estão dispensadas as suas sugestões a respeito, minha senhora. Quanto às provas, a senhora limite-se a aplicá-las e corrigi-las. Eu fiz a prova e farei todas as outras que eu decidir fazer até o final deste curso. E caso a senhora não tenha percebido e não lembre minha nota, independente da suas opiniões sem fundamento, estou entre os mais capacitados desta turma. Nunca mais, nem aqui, nem para as pobres criancinhas do CDHU pra quem a senhora leciona, repita suas sugestões esdrúxulas, anti-pedagógicas e anti-éticas. Se sua intenção era me desestabilizar a minutos da prova, eu lamento muito minha senhora. Pra conseguir isso é preciso ser alguém muito bom. No seu caso... tsc... tsc...".

Com esse discurso, com um sorrisinho cínico insuportável e com dedo em riste o tio arrematou a aula de Didática na facu da última quinta-feira, uma semana depois da prova. Antes que você me faça acusações, permita-me explicar o ocorrido:

Uma semana antes, minutos antes da prova de Didática, a mais limitada, insossa e desinteressante professora deste semestre estava fazendo a última embromação após três aulas enroladas. Manja aquelas técnicas que aplicam em alunos do Fundamental-I quando manda-os confeccionar cartazinhos e apresentar para a sala? Pois pasme: o assunto em questão era sobre os pensadores da Educação do século XX, cujos reflexos encontram-se na Pedagogia atual. Tema de complexidade, importância e profundidade, que requeria ao menos duas aulas de exposição e acalorado debate. Mas a professorinha, ao invés disso, passa tarefinha de pesquisinha e montar cartazinho. Típica (má) operária da Educação Infantil que se aventura pela universidade. As mais incautas e empolgadas colegas do tio se esmeraram nas canetinhas coloridas e colagens. Mas o tio é um pouco mais exigente e não vê razão para treinar colagem e letra-caixa em cartolina. Aliás não há razão.

Dessa forma há três aulas eu estava com a mesma cara de reprovação, quando a pentelha resolveu pedir para eu explicar a colagem nas coxas que minha equipe havia feito. Com o saco na Lua, primeiro eu disse um sonoro: "Está escrito lá". Mas a mala-sem-alça e sem noção insistiu ao que - com a maior indisposição do mundo - resmunguei: "Parece que...". Era o que ela esperava. A protótipa de chefinha medíocre desembestou a dizer coisas como: "Começou mal. Se no dia da prova você 'acha' ou 'parece que', então é melhor você não fazer a prova porque não está capacitado e blá blá blá...". Mantive o sapo cururu paradinho na garganta. Eu bem me conheço e qualquer coisa que eu dissesse naquela hora, com 50% do fluxo sangüíneo concentrado no cérebro, começaria obrigatoriamente com "Enfia no seu ânus a sua opinião que eu não pedi"; depois eu vestiria meu gorrinho da Gaviões da Fiel e daria uma cabeçada no nariz dela. A prova seria suspensa, eu seria retirado por seguranças e é provável que trouxessem pastores da Universal para me amarrar em nome de Jesus. Ao final de tudo eu perderia as benesses que tenho lá (que não vem ao caso quais são) e seria expulso com assinatura irrecorrível do próprio reitor, aliás, meu benfeitor.

Mas o tio é um cara zen e acredita nos ensinamentos de Buda. Sobretudo se ele tiver proferido algum que diga algo como: "Antes de encolerizar-se lembre-se que você pode esperar até a próxima oportunidade e colocar seu oponente abaixo do cu do cachorro". Depois, quem se desequilibraria para a prova seria o tio e jamais conseguiria obrigá-la a aplicar um reluzente 9,5 na exímia dissertação, que foi o que aconteceu. O cururu desceu até o estômago onde fermentou por sete dias até eu vomitá-lo anteontem na cara dela.

Well, eu não sou vingativo, mas minha memória é altamente eficaz nessas ocasiões. E agora, depois de gaguejar diante da sala, a professorinha medíocre terá que respirar fundo todas as quintas-feiras à noite. Ela lembrará que terá que ver minha cara de irônico, que nem eu mesmo suporto quando olho no espelho... Problema dela. Venha, que eu moro muito adiante da Penha.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Amy Winehouse

Tenho lido algumas chamadas para notícias e muitas críticas na mídia à cantora Amy Winehouse. Dia desses, zapeando o controle remoto eu vi no Pânico na TV uma performance bastante bizarra batizada de "Momento Amy Winehouse" que na sua estrutura relembrava o antigo quadro - igualmente sem o menor senso - chamado "A Hora da Morte".

Sinto-me no dever de confessar aos dois ou três leitores deste blog que eu não tenho a menor idéia de nada sobre essa tal Amy Winehouse. Não sei de que país ela é, nem que tipo de música canta ou se toca algum instrumento, nem como é o seu timbre de voz (dizem que é muito bom), enfim quase nada. Só o que ouço ou leio nos títulos: que é uma surtada que se entope de drogas - legais ou ilegais, sei lá - e que tem protagonizado várias presepadas em locais públicos.

Curiosamente esse "conhecimento" não me fez nenhuma falta, assim como aquelas notícias de colunas sociais tipo "Fulano trepa com Beltrana no castelo de Caras", "Emengarda está curtindo a gravidez do jogador Sicrano", "Joãozinho casou-se nesta semana com Mariazinha e foi passar a lua-de-mel nas ilhas gregas" e coisas assim, nada, nada, absolutamente nada disso me desperta o menor tipo de interesse.

Isso se aplica também à vida dos vizinhos e parentes. Nas reuniões ou festas o que mais rola é comentário sobre a vida alheia. Vejo pouca gente falando de si, de seus projetos pessoais, de suas eventuais frustrações ou de seus relacionamentos amorosos. É sempre "o outro" o objeto da conversa. Não que eu seja algum tipo de santo budista iluminado e jamais comente alguma coisa sobre outrem. Claro que o faço, sobretudo se tratar-se de uma pessoa querida que me desperte alguma preocupação ou ainda melhor, quando é alvo de admiração por algum progresso visto. Só não é meu foco.

Mas continua me faltando tempo para cuidar de mim, da minha prole, dos meus estudos, das minhas finanças e dos meus projetos. Talvez felizmente. Assim continuarei a não dar a mínima para essa tal de Amy Winehouse. De algum modo estar ignorante sobre a vida de celebridades me faz sentir mais feliz.

E o Quico? Pergunte ao Chaves.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Guia básico de comunicação feminina

Entender as mulheres é cientificamente impossível. Mas pesquisas lingüísticas recentes revelaram alguns significados próprios da linguagem feminina.

Com isso, tio Xavier - lingüista, ocultista e psicanalista de botequim - lança o projeto: "Guia Básico da Comunicação Feminina". Ele contém verbetes e expressões corporais minuciosamente estudadas em fêmeas da espécie humana. Se você é um macho do sexo masculino, vai lhe ser útil. Em breve nas bancas.

Preste atenção e entenda o que elas querem dizer, quando dizem:

Legal - Terminação argumentativa. Ela se acha certa e você deve calar sua boca estúpida.

Cinco minutos - Algo entre meia-hora e uma hora e meia, dependendo da situação.

Nada - Não se iluda; significa alguma coisa. Geralmente "Nada" quer dizer "quero te trucidar". Antecedido de um "Legal" significa: bote suas barbas de molho que ela falará por "cinco minutos".

Vá em frente (com sobrancelhas erguidas) - Ameaça gravíssima. Se ela completar com "Nada" e "Legal", contrate seguranças.

Vá em frente (com sobrancelhas normais) - Significa “eu desisto” ou “estou me lixando pra você”. Antecede um “Vá em Frente" com as sobrancelhas erguidas”. Mas se for seguido de um “Nada” e/ou um “Legal”, ligue para 190 imediatamente.

Suspiro alto - Indicação não-verbal. Traduz-se por: "Você é um idiota". Nesse momento ela está se questionando a razão de perder o tempo precioso dela argumentando com você, mesmo depois ter dito um “Nada”.

Suspiro suave - Outra indicação não-verbal. Significa que ela está contente. Evite movimentos bruscos e não diga nada. Geralmente ela não avança na sua jugular após um suspiro suave e até pode ser que role um sexo.

Tudo bem - Uma das frases mais perigosas, já catalogadas pelos peritos policiais e legistas. Ela só quer pensar melhor como vai se vingar de você. “Tudo bem” é geralmente usado com a palavras “Legal” e em conjunção com um “Vá em Frente”, com as sobrancelhas sobre-erguidas. Converta-se a alguma religião, porque lhe será útil em um futuro próximo.

Por favor, faça - Isso é uma oferta. Ela está te dando a oportunidade de contar alguma que você já aprontou. Dissimule fazendo parecer verdade. Mas se ela responder “Tudo bem”, a casa caiu mesmo.

Obrigada - Apenas diga: “de nada”. Não prolongue nem olhe para os lados. Você está fora de perigo.

Muito obrigada - É diferente de “Obrigada”. Quer dizer que ela está fula com você. Você fez alguma merda. Se seguir-se um “Suspiro Alto”, tente sair de cena ou chamar a atenção para um avião no céu. Mas nunca, jamais pergunte o que há de errado após um “Suspiro Alto”. Ela irá responder: “Nada”. Nesse caso, você já está morto.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Nosso líder curandeiro

Nosso Chefe de Estado é imbatível. Nunca antes na história deste país tivemos um presidente tão multi-tudo. O homem tem conhecimentos de diversas áreas da saúde e da Medicina. No lançamento do programa de saúde em Pernambuco, o nobre dirigente esbanjou conselhos dos mais variados para uma platéia masculina de 20 a 39 anos. Vejam só:

Sobre o exame de próstata:
“Se tem um bicho covarde é homem. Seria bom que ele engravidasse um pouco para ver quantos toques ele ia tomar...”

Sobre exercícios físicos, dos quais ele é um adepto inverterado, disse ao ministro Temporão:

“Você não anda, não corre, não faz ginástica e fica dando conselho pra gente.”

Lula também é dentista:

“Minha preocupação é que rico não tem dor de dente, mas pobre é uma desgrama. (...) Tem até dentista infantil para rico. Se a rede pública não atender, pobre não tem condição”.
Entre outras pérolas consta que ele tenha proferido que dor de dente, quando ele era criança, era curada com o despejo de cachaça no dente com cárie. Isso explica algumas coisas sobre ele...

Ele também tem um lado otorrinolaringologista. Contou que dor de ouvido, nesse mesmo tempo da cachaça, era curada colocando um algodão com óleo quente no ouvido do desinfeliz.

Esse é o nosso prizidenti! Lula pra presidente vitalício já!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Powerpointaquipariu

Inicia-se hoje minha retumbante campanha internacional "Morte ao PowerPoint".

No passado fui adepto do retroprojetor e habituei-me a escrever com letra-caixa sobre transparências para expor minhas idéias, projetar cânticos no telão durante a missa, ministrar aulas e coisas assim. Foi um tempo bom, apesar de o recurso e os meios físicos darem um bocado de trabalho, tanto na produção quanto na logística. Pra quem não conheceu, o retroprojetor era um trambolho e tinha quase que ser carregado em liteira, pois além de tudo a caríssima lâmpada era sensível e queimava por qualquer abalo sísmico de 0,01 na escala Richter.

Com o advento do Windows e posteriormente do PowerPoint, apresentar tornou-se deveras simples, assim como a inclusão de recursos antes impensáveis como movimento, som, fundos decorados, variações de letras e tantas coisas que vieram, sem dúvida, enriquecer as apresentações de conteúdo. Ênfase, por favor na palavra CONTEÚDO. Ocorre que todo recurso fácil de usar acaba caindo nas mãos da gentalha - o populacho - e aí a coisa começa a feder. Gentalha não sabe o que é conteúdo e pensa que se refere aos 350ml da latinha de cerveja. Então, após ler as mais piegas poesias do Renato Soviético ou escutar uma música chata de fundo, enquanto passam palavras supostamente proferidas por um também suposto monge tibetano, o pentelho não tem a menor dúvida: ele PRECISA passar isso para toda a sua lista de contatos.

Por essa razão o PowerPoint, que tinha tudo para ser uma poderosa ferramenta de apresentação e de vendas, para mim e para grande parte das pessoas tornou-se uma coisa hedionda, odiável e digna do meu mais veemente desprezo. Odeio quando alguém me manda algo intitulado "lindo", "leia e medite" e outras tantas besteiras de auto-ajuda com anexos .PPS e .PPT. Até piada! Porra, uma simples piada que se pode mandar pelo bom e velho texto simples, a horda de emo-desocupados anda montando em PowerPoint acrescentando imagenzinhas tontas e fundo musical, barulhinhos... E cada frase em um slide, ainda por cima. Ou seja, uma piadinha de 10 linhas de diálogo passa a ter doze slides, já que tem abertura e encerramento.

Vou procurar no Orkut se tem alguma comunidade tipo "Introduza o PowerPoint no final do seu intestino". Morte ao PowerPoint.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Papo cultural dus manu

Nessa minha vida semi-proletária, utilizando o transporte ferroviário urbano, sou obrigado a presenciar conversas de todo tipo. Essa que segue abaixo captei em uma das viagens suburbanas, ouvindo o diálogo entre dois manus.

Para quem não é de Sampa, antropologicamente falando, manus são uma espécie de jacus suburbanos que se vestem com fakes de grifes famosas e calças cargo. A indumentária inclui camisetas de times de basquete estadunidenses, igualmente falsificadas, além dos tênis comprados nas mesmas barracas. Vivem em tribos e seus estranhos costumes ainda não foram suficientemente estudados, exceto alguns bem específicos cujos estudos são feitos pelas Secretarias de Segurança Pública e pelas Polícias Militares.

Culturalmente falando, devido à evasão escolar e ao baixo nível do ensino público em grande parte das escolas, os manos se caracterizam também por um dialeto próprio desprovido de regras gramaticais rígidas e por vocábulos muito específicos, às vezes ininteligíveis até para os melhores lingüistas.

Tentarei reproduzir grafologicamente as pronúncias, tais como são proferidas, embora a Língua Portuguesa em sua forma culta possa ser pouco suficiente para representar o dialeto manês urbano periférico. Abaixo está o belo diálogo. Atentem para os dados culturais e conhecimentos históricos e econômicos que estão presentes nele:

- Ô véio, viu u bagüi do final das olimpíada?

- Vi uns lanci.

- Da hora né?

- Só. Cada bagüi lôcu que us cara faz. Mós efeitu.

- Podicrê.

- Manu, essis chinêis são foda.

- Só.

- É qui us cara são centenáriu, tá ligadu?

- Qui mané centenáriu... Os cara é milenáriu.

- Us cara inventaru tudu qui é bagüi, mano.

- E us brasileiru? Nada. Us cara inventaru o avião, mas us francêis que levaru a fama.

- É, nu fim us francêis ficaru ca grana. U Santus Dumont morreu mó pindaíba.

- Só. Mas us chinêis, tá ligado qui eles inventaru a póvora, né?

- Podicrê. Elis inventaru tudu qui a gente temu in casa.

- Só. Liquidificadô, batedera, televisão... Tudu di eletrônicu foi us chinêis qui inventaru. Pô véio, us cara num cansa. Tá ligadu que elis vai dominá u mundu.

- Podi crê... Tudu quantu é bagüi.

- Num dá nem pra alcançá elis, véio. Us cara faiz uns cem mil anu qui têm a civilização delis.

- Dus tempu dus faraó então.

- Podicrê, bem antigão memu... achu qui dus tempu dus dinossauru.

- Vai sabê si num foi us chinêis qui acabaru cus dinossauru.

- Só, véio. Vai vê elis invetaru a póvora i estreiaru nus dinossauru memu. Meteru uma pá de teco nelis. Já era us dinossauru. Cum aquele tantu de genti cum fomi elis dévi tê cumidu us dinossauru.

- Lógu nóis tá é comenu cachorru. Tá ligadu que us chinêis come cachorru?

- Cé locu!

- É fiu, ma du jeitu qui vai...

- Podicrê. Vixi... cachorru tô fora.

- Nada a vê.

- Só. Falô véio... to inu nessa.

- Falô.