quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Happy birthday to me

Oficialmente é HOJE que o tio Xavier completa quarenta e duas primaveras. Literalmente. Foi na estação das flores que a avó Xavier deu-me à luz. Vou explicar cientificamente: na véspera do dia em que se comemora meu nascimento eu COMPLETO o ano. Amanhã será o primeiro dia do meu quadragésimo-terceiro ano. Se não entendeu, problema seu. Páro por aqui.

Segundo algumas correntes de pensamento que misturam Biologia com esoterismo, no caso presente estou encerrando o meu sexto ciclo de vidas. Acontece que uma célula vive no máximo sete anos. Sendo assim, amanhã iniciarei meu sétimo ciclo celular que se encerrará ao têrmo do meu quadragésimo-nono ano.

Esse tempo significa muita coisa. Significa que hoje sou muito mais. Mais impaciente, mais intolerante, mais desbocado, mais saco cheio, mais fadigado, enfim mais chato do que vocês já conheceram. Chega desse papo babaca estilo: "eu não me troco por esses carinhas de vinte e cinco anos". Claro que se houvesse a possibilidade de eu esvaziar a alma de algum jovem e me apossar da carcaça dele eu o faria sem pestanejar. Aliás se alguma feiticeira de plantão souber a receita, pago bem pelo serviço executado.

Neste sábado receberei um seleto grupo de seletos amigos mais próximos. Algo modesto, caseiro e destinado apenas àqueles que de fato estão "sempre aí" quando o tio precisa e chamam-me quando estão no apuros. Os demais são colegas, parentes e grupos circunstancializados. Têm algum lugar na estima do tio, mas para os momentos como esse eu costumo mesmo restringir.

Inspirado por uma crônica que li dia desses não haverá apagamento velas. Nada de apagar. Se for para ter fogo, será para acender e mantê-lo como espero manter minha chama vital por mais algumas décadas, enquanto eu tiver qualidade de vida. À certa altura dos comes chamarei as pessoas para o bolo de sobremesa. Por favor sem cantoria nenhuma, tampouco "o tio faz anos, o azar é só dele". Azar para PQTP porque vencer quatro décadas e tanto de luta não foi fácil. Não é, aliás.

Se você que lê esta espelunca tiver alguma relação comercial com o tio, seja fornecedor, representado, cliente, credor ou do governo, por favor não me ligue amanhã para pedir isto ou aquilo. Amanhã tirarei o dia para mim. O máximo de esforço que me permitirei será ir até a padaria comprar um pãozinho quente e uma mortadela defumada. Talvez ir à pedicure tirar os lençóis de calosiodade sob a unha do dedão. Talvez eu pare no caminho pra tomar um açaí gelado e ficar olhando as moçoilas a passar pela calçada, com suas saias curtas e coxas grossas. Talvez eu pare em alguma loja e compre um mimo pra mim, porque trabalhar como camelo e não tirar uma lasquinha ninguém merece.

Parabéns pra mim. Meeeeeeesmo.

domingo, 26 de outubro de 2008

Justificativa

Prezado Senhor Presidente do Tribunal Regional Eleitoral:

Tio Xavier, brasileiro, trabalhador, divorciado e reajuntado, corinthiano, meio-budista, filósofo e descrente da falsa democracia, vem por meio desta apresentar o formulário abaixo de justificativa para o não comparecimento ao segundo turno do pleito realizado neste ano. Segue após o formulário a argumentação, embora possa ser desnecessária.

Ocorre que nenhum dos candidatos apresenta qualquer medida que possa conduzir nossa imatura democracia para além dos tapetões eleitorais, onde ganha quem tem a melhor máquina eleitoreira. Neste turno particularmente os dois remanescentes passaram o tempo todo, além de trocando acusações fúteis, tentando empinar o peito (ela) e a barriga (ele) para posar de "o melhor the best of city administration" quando o que a população precisa é de educação para participar de verdade - com consciência e co-responsabilidade - dos destinos da polis.

Nenhum dos dois fez qualquer menção em instituir conselhos consultivos e deliberativos nas subprefeituras para discutir o que de fato seria prioridade em cada região. Ambos têm históricos pregressos péssimos a respeito de não receber a população organizada quando grupos desta resolveram finalmente tirar as bundas dos sofás, desligaram as TVs e foram ao gabinete do alcaide. Ao contrário, consta que costumam não recebê-los mantendo as portas trancadas ou mandando seus cães-de-guarda espantar a gentalha, pois assim eles nos vêem depois de eleitos.

Nenhum dos dois levanta junto aos parlamentares municipais a lebre de que falta transparência, quando não honestidade, no que se faz com o dinheiro público, prestando contas de verdade do que fazem com os centavos. Ao contrário, se locupletam com os nobres vereadores para poderem fazer passar projetos que nem sempre são de importância coletiva. Também ninguém faz menção de abrir canais diretos para que pobres populares, como este tonto que aqui posta, possam emitir sua opinião no Diário Oficial do Município ou em algum fórum eletrônico aberto, já que temos que correr atrás do pão de cada dia e não podemos nem pensar em ir à Câmara, se é que seríamos recebidos como comentei acima.

Enfim, ambos receberam polpudas doações de empreiteiras, bancos e fornecedores de produtos e serviços ao serviço público permitindo que possamos levantar ao menos uma distante suspeita de que estes seriam bondosamente favorecidos nas aquisições da municipalidade. Então já sabemos de antemão que independente do contemplado pelas urnas, os governantes de fato serão aqueles acima.

Por esses argumentos que julgo suficientes, peço carimbar o protocolo acima. Os R$3,50, recolherei ao cofre público oportunamente. Será apenas mais um pagamento ao Estado, dentre os tantos que fazemos em cada grão de arroz que comemos. Considerando a gasolina que eu gastaria, o calor que está lá fora e o tempo que eu perderia, prefiro brincar com minha cria, dedicar-me aos estudos tardios e aos afazeres domésticos. Afinal a multinha sairá bem mais barato do que a ida à seção.

Nestes termos,

Pede deferimento,

Tio Xavier
Título eleitoral 0000000, zero à esquerda.
Zona? (não sou em quem a promove).

domingo, 12 de outubro de 2008

Nota de falecimento, parte XVI

Faleceu nesta madrugada uma das pessoas mais importantes que passou na vida do tio. Ele soube ser amigo, camarada e até pai nos momentos mais difíceis da minha juventude. Presente igualmente em ocasiões divertidas em volta da churrasqueira (com caipirinha e cerveja também), o padre Pedro Paloschi, natural de Botuverá-SC, foi uma das pessoas mais coerentes e responsáveis que conheci.

Os amigos do tio mais próximos dessa época, hão de saber a diferença que o padre Pedro fez na vida de tantas pessoas nas comunidades por onde passou. Estudioso, sensato, equilibrado e sobretudo responsivo, Pedro nunca se calou diante de uma situação injusta e é claro que em alguns momentos isso lhe custou os pouquíssimos desafetos que ele teve.

Por uns bons anos participei da paróquia católica que ele coordenou na Vila Maria. Devo dizer que muito da minha formação e caráter tem base na passagem do Pedro. Embora hoje eu já não professe o mesmo credo religioso dele, respeito muito a este, sobretudo pelo testemunho vivo do Pedro. Ainda no início deste ano tive oportunidade de almoçar com ele e apresentar-lhe a darling e a cria mais nova. Pude ver nos seus olhos e sorriso a sincera satisfação de ver uma velha ovelha desgarrada vivendo feliz.

Só que hoje pela manhã recebi um telefonema de um amigo comum, me dando conta da triste notícia de sua partida. Para onde? Não sei. Mas se o deus em que ele acredita existir mesmo é certo que há de ter um lugar reservado para esse meu amigo. Com muito churrasco e cantoria de modinhas. Ah, e umas cervejas na geladeira.

Vai lá com ele, Pedrão. Se for verdade mesmo, talvez um dia a gente se veja de novo. Desculpe pelas tantas lágrimas de hoje, que não combinam com as lembranças das nossas festas. Mas é também pelas lembranças felizes delas.

Leva saudades deste seu amigo e admirador.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

To chegando na Cohab

Ao ler a lista dos vereadores eleitos de Sampa e constatar que o pagodeiro escroto Netinho de Paula está no top ranking, eu reflito e concluo: ESSE POVINHO DE BOSTA MERECE!

sábado, 4 de outubro de 2008

Estado de quem, cara-pálida?

"Toda eleição é fraudulenta". Demorei um bocado de tempo para compreender esse postulado simples e direto de Wladimir Ilich Ulianov, esse cara aí ao lado, mais conhecido com Lênin. Certamente ele já falava dos rumos da democracia pós-revolução bolchevique que assinalava os contornos do fiasco totalitário em que iria se tornar a experiência russa nas mãos dos burocratas do PC soviético. Lá se enterrariam os sonhos da democracia proletária e da própria futura extinção das classes sociais. Nas terras bushianas, quiçá em breve barackianas, o Estado Burguês faz uma gigantesca operação financeira para "salvar a economia". Cá amanhã teremos eleições municipais que renovarão cem por cento das câmaras legislativas municipais e seus executivos alcaides. O que há de ligação em tudo isso?

Aqui entra um pouco de análise política. Quando falamos de Estado (com maiúscula), referimo-nos a organização política maior de uma nação. O Estado representa a classe que o constituiu ou que o tomou de assalto. Por isso um Estado é sempre classista. Desde os movimentos iluministas e as revoluções que puseram abaixo os regimes feudais e monarquias, a classe revolucionária que tomou o poder foi a burguesia economicamente ascendente. E que logo tomaram para si a política. Assim podemos entender que a política é o reflexo organizacional e normativo daqueles que detém o poder econômico, ao cabo, o poder de controlar quem mora, quem se alimenta, quem se veste e como o fazem.

O regime econômico que domina o mundo hoje, o Capitalismo, é fruto da ascenção burguesa a todas as esferas de poder político em nível mundial. E a faceta "globalista" do Capitalismo é exatamente a hegemonia dos extratos burgueses dos países mais ricos sobre os extratos burgueses dos países menos ricos e destes sobre as classes não possuidoras dos meios de produção. Nós que não possuímos riqueza e dependemos tão somente da nossa força de trabalho e inteligência para o sustento. Essa força de trabalho precisa geralmente ser exercida para os possuidores ou para o Estado, expressão maior das classes dominantes.

Curiosamente a burguesia é disseminadora do discurso mais falacioso e inconsistente do capital, desde os postulados de Adam Smith: o de que a economia pode seguir solta que se auto-regula pela força positiva da mão invisível do mercado. Por isso a burguesia em todos os países faz questão de pregar a extinção do Estado em prol de um mercado de homens livres no qual o desejo de progresso e prosperidade de todos impulsiona as forças produtivas para a construção de cada vez mais riqueza, o que é bom para todos, certo? E também que o risco é inerente às operações de investimento. Alguns ganham, outros perdem, depois a situação pode se inverter e no final todos ganham. Ahã...

Então observe para onde os capitalistas especuladores (ops!) os investidores dos mercados de capitais e bancários vão correr, quando o capital volátil das bolsas treme (por causas de peculiaridades do sistema de acumulação). Acabamos de ver nesta semana: para o Estado. Ora, ora... Lá se desnudam os valentes desbravadores do mundo financista que arriscam seus patrimônios heroicamente e que até então - enquanto lucram - pregam a extinção do Estado ou então o "Estado Mínimo". Estado Mínimo no conceito deles é o fim do Estado redistribuidor, que presta socorro aos que precisam do elementar, como educação, assistência médica, aposentadoria, programas de moradia, socorro a desabrigados, enfim o chamado Estado do Bem-Estar Social. Esse é o Estado que os capitalistas querem sepultar. O último resquício de que o Estado Burguês - outrora revolucionário - poderia promover melhoria de vida para a maioria das pessoas. O Estado que socorre o Capital, o defende com seus aparelhos jurídicos e com o braço armado - polícias e exércitos - esse fica.

Voltando a bushilândia, os "corajosos investidores" estão sempre destemidos para lucrar, mas correm com chapéu em mãos para o governo quando perdem alguns trocados. E este Estado, benevolentemente, em nome do bem-estar $ocial dele$, empenhou um socorro jamais antes visto. Foi muita grana. Procure as cifras nos noticiários. Os coitadinhos dos investidores foram lá apavorados porque não esperavam o baque em seus habituais megalucros. Curioso que um amigo do tio lá da bushilândia, ex-morador de New Orleans, contou-me semanas atrás que tantos anos após a tragédia do dique que matou trocentos pretos e hispânicos, ainda há milhares de desabrigados com famílias morando em traillers, esperando um socorro bem mais modesto da parte do Estado: um kitchenete do CDHU deles ou um empréstimo pra comprar um sobradinho de 40m². Pra esses não têm ajuda estatal. Por que não estou surpreso?

Chegamos aqui nas eleições municipais. Em cada cidade um dos potenciais prefeitos assumirá em janeiro. E todos os conglomerados de prestação de serviço que vivem de vender para a municipalidade já investiram nos elegíveis. Algum trocadinho para um ou outro minoritário porque este poderá se aliar ao eleito em troca de uma secretaria municipal e também favorecer as compras das prefeituras. Investimento sem risco, com retorno certo. Ao lado, milhares de candidatos se acotovelam em busca do shangri-lá de uma das vagas da Câmara Municipal e terão a árdua missão de avalizar atos do alcaide, além de renomear ruas e praças que são os projetos predominantes nas câmaras municipais. Tudo isso a preço de ouro e além dos custos formais, com muita grana saindo pelos cantos ajudando os pobres políticos eleitos e seus lacaios a ampliar seus modestos patrimônios.

Enquanto isso você eleitor que lê isto - se é que agüentou até aqui porque hoje estou prolixo demais - está aí pensando se vota no que prometeu hospital, no que prometeu escolas, no que diz que já fez tudo isso ou naquele que beija criancinhas na feira livre comendo pastel. Meu caro, minha cara, o baralho está marcado, os dados viciados e a roleta tem um pedal de freio escondido. Caia fora dessas. Nunca pensei que diria isso um dia, mas não há caminho para melhoria da nossa vidinha medíocre no tapetão deles. Forget it. Vamos lá para os (des)construtivos conselhos do tio:

NÃO VOTE OU VOTE NULO. Isso não mudará o quadro em nada, mas tirará o seu aval dessa balbúrdia que está aí.

COMPRE SEMPRE QUE PUDER de pequenos produtores, hortas comunitárias, cooperativas autônimas, do seu Zé que planta verduras no terreno ocupado, da dona Lola que costura em casa no anonimato. Corte o cabelo no seu Antônio que nem firma aberta possui e desconhece o que quer dizer ISS. Tudo isso ainda terá um resquício de imposto embutido mas a sua contribuição diminuirá bastante.

SONEGUE SEMPRE QUE PUDER os impostos. Os impostos vão para sustentar e perpetuar o Estado Burguês incluindo a polícia que te dá borrachada se você for pra rua reclamar. Infelizmente quase tudo que chega às nossas mãos já vem com impostos antecipados ou tributados do produtor (exceto os vegetais da horta do tiozinho do terreno invadido). Mas quando se tratar da suada rendinha do seu trampo, sempre que puder faça-a informalmente e enfie a grana no bolso. Com o $ que seria da tributação você poderá contribuir melhor do que ninguém para o bem-estar social da sua família. Isso inclui não cair no conto da Nota Fiscal Paulista e suas assemelhadas de outras unidades territoriais. O Estado não te devolve merda nenhuma no final das contas. Ele apenas quer saber quanto VOCÊ GANHA e o mesmo a respeito do cara que te vendeu.

E novamente eu insisto:

NÃO VOTE OU VOTE NULO. Não fará a menor diferença mas pelo menos você desencantará sua mente das ilusões, tornando sua visão mais limpa e realista. Se você se ausentar a multa é irrisória; mais barata do que o busão de ida e volta. Não caia também nessas histórias de que se X% mais tanto votarem branco, nulo, absterem-se, etc.. anulará o pleito. Isso não tem a menor base jurídica. E ainda que tivesse, se um colapso eleitoral ocorrer, o TSE, o STF e as câmaras legislativas federais darão um jeito rapidinho de mudar as regras e manter a legitimidade da farsa. Toda eleição é fraudulenta, já disse o tio Lênin. Ela traz no seu âmago as regras espúrias e o germe da locupletação.

Desculpe pelo mau humor. Por esses dias estou frio e realista demais.

Pode confirmar sem medo: o número está mais que certo.