domingo, 30 de novembro de 2008

Na reserva

Os camaradas mais próximos, que me conhecem pessoalmente saberão dizer que o tio é um cara enérgico. No sentido mais estrito da palavra, não sou muito afeito ao ócio. Geralmente realizo meia-dúzia de tarefas simultâneas, penso e lido com quatro ou cinco assuntos ao mesmo tempo no trabalho e não sou muito amigo do sono. Sempre achei, embora reconheça o poder revigorante deste, que dormir é uma perda de tempo que nos impede de realizar novas coisas. Na juventude fui dos que se contentavam com quatro ou cinco horas de sono por noite, quando não chegava de alguma farra, tomava um banho e ia direto para o trabalho.

Mas o tempo passa, a carcaça amassa e o espírito cansa. Lamento que minha vida atual não me propicie ao menos seis ou sete horas de bom sono. O meu trabalho agitado em todos os aspectos, emendado com minha vidinha de tio-universitário estão me consumindo aos poucos. Quando estico uma balada com a darling depois da aula na sexta-feira, acordo podre no sábado e passo o fim-de-semana com nhaca.

Este ano em particular foi puxado deveras. O ano próspero no trabalho que tentei aproveitar ao máximo juntou-se com um ano letivo muito extenso e um pouco mais exigente. No fim deste a correria que está somando os trabalhos da facu com o esforço extra para arrematar bons contratos dentre os clientes está me levando à bancarrota de energia. Sinto cada vez mais vontade de ficar deitado no tapete assistindo desenhos na TV, quando não estou cochilando no sofá. Mal mesmo. Nada a ver com o Xavier. Outro dia, em plenas 17h em um dia de semana eu cochilei em um semáforo da Av. Sumaré. Acordei com as buzinas dos motoristas de trás e vi que o carro da frente já estava a quase cem metros.

Daqui a duas semanas pretendo dar um desligão geral no trabalho e na faculdade, até 2009. Preciso muito. Preciso ir ao clube pra ficar boiando na piscina feito um calango estirado na caatinga. Preciso bebericar em mesinhas com meus amigos e amigas emendando um assunto no outro, sem concluir nenhum. Preciso assistir meus DVDs velhos do Chaves, do Ultra-Seven, do Speedy Racer e do Picapau. Preciso caminhar em parques com os pés descalços sobre a grama e a terra úmida. Preciso de cama, mesa e banhos, não exatamente nessa ordem. E dependendo da companhia não necessariamente de todos os itens.

Preciso dormir um pouco. Boa noite. Boa semana a todos.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Que time é teu?

Metrô Barra Funda sentido Itaquera, 23 horas. Um indivíduo ao fundo do vagão começa a cantarolar em tom de bravata:

- Tricolooooooor. Tri-co-lor... é Tricolor minha gente! Chupa! Chupa porco! Chupa peixe podre! Do time da outra divisão nem vô falá. Nem existe.

Olho pra trás para ver quem seria tal criatura e vejo um carinha aparentando uns 25 anos. Vestia uma calça de agasalho e a camiseta de uma certa torcida chamada carinhosamente de bambis, aqui em Sampa. Qual não foi minha surpresa ao constatar que o cidadão estava se pendurando nos balaústres e dando cambalhotas, enquanto ria como uma hiena gritando os títulos do time dele:

- Tricampeão de num-sei-quê*. Pentacampeão de num-sei-quê-lá*... Campeão da Libertadores X* vezes! É tricoloooooooor.

E novamente se pendurava qual um primata. Dava gargalhadas em tom de provocação aos demais passageiros possuidores de faculdades intelectuais normais:

- Chupa peixe. Chupa porco. O da segundona, nem conheço.

Para alívio de todos os tímpanos - imagino que até de seus envergonhados correligionários - o distinto desceu na estação seguinte, Marechal Deodoro. E ainda lá da plataforma deu pulos semelhantes aos de algumas espécies de símios, fez gestos de banana com os braços e provocou pela última vez, chamando o metrô da Zona Leste de podre, gambá e etecéteras.

Era quase uma hiena, sem percepção da vidinha medíocre de todos nós mortais pobres. Fantasiava orgasmos mentais com a genitália de jogadores que nem sabem que ele existe. Vibrava por um esporte que rende vultuosas importâncias apenas para cartolas e intermediadores às custas do próprio tonto, que compra adereços futebolísticos e certamente deve gastar seu dinheiro com ingressos a estádios.

Agora me pergunto: como um ser tão desprovido de senso pode sair circulando pelas ruas sem coleira nem focinheira?

* O tio Xavier desconhece listas de competições desportivas. E não tem o menor interesse em letrar-se no assunto.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Tentando ser justo

Depois daquele episódio com a OI no qual eu estava praticamente jogando o chipzinho no lixo, resolvi dar o telefonema de misericórdia. A telefonista - com um gostoso sotaque da Guanabara que só elas têm - pediu mil desculpas em nome da companhia. Me explicou que justo o prefixo 67xx do meu telefone fazia parte de uma recente conversão de números fixos da Telefônica de São Paulo e, por isso, ainda haviam problemas na comutação de linhas.

A moça me garantiu que durante aquela mesma tarde eu teria de volta a possibilidade de fazer ligações gratuitas, acrescentando que, devido ao desconforto provocado, eles estavam estendendo a promoção "ligue grátis" por mais um mês. Nada mal, considerando que nem cheguei a usar de fato e o atraso foi de dez dias.

Assim tio Xavier carregou a bateria de outro aparelho, reinstalou o chip e está fazendo ligações digrátis todos os dias, à cota de vinte reais. SMS então estou mandando de monte e ainda não descobri qual é o limite deles. Sem paixões e pragmático, economizo uns bons trocados do que eventualmente gastaria usando meu Claro. Tirando a chatiCe de andar com dois aparelhos, sem problemas.

A propósito, chegando o Natal acho que vou começar a prospectar um aparelho que suporte dois chips como é do da darling. Duro vai ser um que tenha todas as traquitanas que tem o meu Nokia, incluindo o precioso teclado QWERTY que me ajuda a economizar toneladas de papel, já que não uso mais caderno na faculdade nem bloco de notas nas reuniões com os clientes.

Alguma dica aí?

A sucursal do inferno

Estava começando a escrever esta coisa e acabei lembrando que minha cara amiga Red já tinha escrito sobre essa escrotidão a céu aberto que é o Largo 13 de Maio (está aqui). Pelo amor dos meus filhinhos, o que é aquilo? Deve ser o rascunho do mapa do inferno que foi jogado na privada.

Hoje tive que visitar um prospect na região. Até aí nada demais, só que eu apenas tinha passado vagamente pelo local durante um domingo qualquer, de carro. Estava tudo vazio. Quando comentei com um amigo que iria para a região ele logo foi me aconselhando a não ir de carro, porque estacionar na região era algo impossível e se movimentar com o veículo muito menos. Segui o conselho do camarada e fiz um desafio ferroviário urbano.

Saí da Zona Leste de Sampa pela manhã e fui até a Barra Funda, onde embarquei num trem caindo aos pedaços que vai para Itapevi. Desci na estação Presidente Altino, que fica no município de Osasco, após um rápido percurso de uns quinze minutos no máximo. Aí fiz a baldeação para pegar o outro trem que segue para a Zona Sul, cujo final é longe pra cacete. Opa... este trem sim. Pensei que estava em outro país. Após descer da sucata móvel mal acreditei quando subi no trem novinho em folha, com vidros fumê, ar condicionado geladinho, TV Trem no display LCD e por aí vai. Até as pessoas que nele viajavam eram diferentes, predominando gravatas nos machos e saias e salto nas mocinhas bem arrumadas.

Só seria melhor mesmo se ele não andasse a 25Km por ora, coisa que não entendi. Imaginei que trens mais novos andassem mais rápido. Vai ver ele não corre muito pra não gastar e ficar velho como o sucatão. Desci na estação Santo Amaro e peguei o metrô que vem do Grajaú, pra andar apenas uma estação, até a famigerada Largo 13. Este último metrô também é muito bacaninha, moderno e confortável. E corre. Mas ao sair do buraco do metrô e me deparar na superfície com isso... Putz, sem comentários. Depois de andar nos arredores desse lugar horrendo, você vai achar que a Praça da Sé é uma verdadeira Champs Elysées. Juro.

Só Osama conseguirá dar um jeito nisso.

sábado, 15 de novembro de 2008

Sacrilégio

Início da noite de sábado. O tio Xavier estava com a cria mais nova e a darling a beber um delicioso açaí geladaço batido com banana, granola e outras coisinhas nutritivas. A Frutaria Santo Eduardo, situada no bairro de Vila Maria é destaque pela iguaria que sai às toneladas todos os dias nas mesas lotadas. Mas é característica também pelos funcionários péssimos e um bizarro cachorro SRD (eufemismo da Cinofilia para vira-latas), o qual entra e sai da cozinha na hora em que quer.

Como nem tudo é saborear açaí gelado, tem o brinde da casa: ter que ouvir as sensacionais atrações musicais que passam no telão de plasma com som no talo. Já tive que tomar meu açaí ouvindo a Banda Calcinha Preta (sim, existe isso), pagodeiros de Os Travessos, Jeito Muleke e tantas outras merdas, que só não me regurgitam o açaí porque tenho bom estômago. Já cheguei a reclamar com o dono para abaixarem o volume pois o som torna impossível conversar ali.

Ontem o DVD era de um show do Alexandre Pires. Nada contra ele desde que ele não alcance meus tímpanos. Pelo pouco que olhei para o telão às minhas costas ele recebeu duzentos convidados no palco para duetar. Entre eles a Ivete Poeira Sangalo, para uma versão demolidora de Hunting High and Low. Pois é. Alguém teve a manha, a petulância, a audácia de fazer esse sacrilégio musical pra cantarem batendo em couro de gato. A versão livre não passa de um apanhado de versos desconexos, bregas e com vocabulário limitado. E antes que você diga que a letra do A-Ha não vai muito além disso, vamos combinar que o ex-SPC que geme ao microfone não dá nem pra comparar com a voz do Morten Harket, ainda que na época ele fosse um moleque.

Pagode-rebolador, forró falsificado e sertanejo-corno disputam entre si o Nobel da Química, transformando excelentes canções em lixo. O sucesso do A-Ha também não foi poupado e a versão podre chama-se Estrela Cadente. Ainda bem que eu já tinha terminado meu açaí e minha coxinha. Devia haver uma lei que proibisse esses breguetes de fazer bizarrices com músicas boas. Você ainda está duvidando do que eu disse, não é? Então comprove você mesmo(a), clicando AQUI.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Botorixta abigo

Estudo mostra que 80% dos estudantes pegam carona com quem bebeu. "Apesar do número de estudantes que admitem misturar álcool e volante freqüentemente ter caído... 80% deles confessam que ainda pegam carona com motoristas embriagados depois da balada" (Fonte: Uol Notícias).

As estatísticas falam mais pelo que ocultam. O que não foi divulgado é que 20% dos entrevistados restantes eram os próprios motoristas, assim divididos:

- Metade confirmou que dirigiram bêbados;

- Outra metade não conseguiu responder e abraçavam o entrevistador falando "fozêêêêê é beeeeu abiiiigu".

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Oi... e tchau

Há alguns dias desembarcou na Paulicéia a operadora OI. Gastou alguns milhões com mídia e, se não me engano, até promoveu uns shows digrátis em Sampa. A ruidosa chegada incluiu moças bonitas e gostosinhas na porta da faculdade, todas com roupas alaranjadas gritando "olha o chip OI, só vinte reais". Na propaganda da TV veicularam a promessa de que, comprando o chip, poderia-se fazer ligações de Oi para Oi e para fixos, à cota de vinte reais por dia durante três meses. Bastava comprar o chip, instalá-lo em um telefone desbloqueado e a farra estava inaugurada.

Descrente que sou acerca de soluções mágicas e de operadoras de telefonia boazinhas, dei os vintinhos na mão de uma das gostosas, mais com o intuito de usufruir da franquia promocional dos três meses, como telefone auxiliar. Me recuso a abrir mão do meu número da Claro, pois o utilizo comercialmente há dez anos. Aguardo ansioso pela prometida portabilidade para ao menos se eu mantiver a operadora atual, que ela me dê algo melhor em retribuição, de preferência redução de tarifas. Mas cá estava eu com dois celulares, o que acho um absurdo, mas animado para fazer as chamadas gratuitas ofertadas pela novata.

Ao usar por uns três ou quatro dias, notei o que já presumia: os vinte reais depositados graciosamente no meu chip mal davam para falar "alô" para um telefone local. Segundo meus cálculos, o minuto girava em torno de R$1,20. Até aí tudo bem. Em cavalo "dado" não se olham os dentes. Nem tão dado, mas pelo valor pago o retorno ainda seria satisfatório.

Só que terça-feira passada eu tentei fazer umas chamadas locais e os números TODOS davam em uma mensagem "o número discado no momento não está recebendo ligações". Acreditei ingenuamente até que resolvi ligar para minha própria casa. Adivinha? Também estava programado para não receber ligações. E o da empresa também. Assim como o da casa da minha mãe, o da minha irmã, o do bispo local e até o do Hospital das Clínicas. Todos programados para não receber ligações, ao menos as ligações OI que não completam, pois de outro telefone o sucesso era garantido.

Liguei calmamente para a operadora. Depois do habitual labirinto de menus numéricos durante quinze consegui falar com uma humana. Ela conferiu detalhadamente o que eu falava e encerrou com o tradicional gerundês. Iria "estar encaminhando para o departamento técnico estar verificando pra poderem estar me retornando" (sic). Ao fim dos quase trinta minutos de atendimento, agradeci e pedi que me comunicassem logo o resultado para decidir se eu jogava já o chip no lixo ou se aguardava mais um tempo. Ainda aguardo o contato da operadora em cinco dias com uma solução, embora já tenham se passado sete.

Pedi à darling há cinco minutos que me ligasse no meu número OI e ela disse que estava "ocupado". Ocupado estou eu para gastar tempo com isso. Agora mesmo acessei o site da operadora à procura de algo como atendimento online ou um fale conosco. Veja que coisa fofa eu encontrei. Para uma empresa de tecnologia ter como atendimento mais palpável a carta, não me pareceu assim muuuuuito legal.

Oumaigódi. Acho que vai pro lixo já.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Independência ou...?

Uma porção de subdistritos, ao menos por estes lados estão reinvindicando sua emancipação para transformarem-se em novos municípios. Aliás, ser morador de um subdistrito já é por si uma cruz. O próprio nome denuncia que você é da oitava divisão do campeonato social. É como torcer para o Aliados de Pindamonhangaba ou o Colorado de Santo Antônio do Catigiró. Parelheiros é um desses pontos de Sampa onde os bandeirantes sequer se atreveram a chegar. Para quem não é daqui ou sendo nem sabia que havia um local chamado Parelheiros, o tio explica.

Trata-se de uma localidade um bocado distante em relação à Praça da Sé, marco zero da cidade. Coisa de cinqüenta e tantos, quase sessenta quilômetros, se fosse em linha reta. Mas um ônibus do centrão da cidade até lá roda cerca de oitocentos quilômetros para chegar ao destino. É a beiradinha do final do extremo sul da cidade, sendo que da rebarba dela dá pra ver... O MAR. É verdade. Existe um subdistrito do subdistrito, que é uma subdivisão de Parelheiros, pois desgraça pouca é bobagem. Chama-se Engenheiro Marsilac e do alto de uma colina desta dá prá ver o Atlântico, já que de Marsilac é mais perto ir para Mongaguá pela mata do que ir para o centro de Sampa de busão. É provável que alguns moradores de lá trabalhem no litoral, indo à pé todos os dias.

Como se não bastasse morar em um lugar desses, a região de Parelheiros obviamente coleciona os piores índices sociais. A pesquisa do IDH da ONU nem chega lá. Escolaridade? Vamos mudar de assunto. Saúde esse povo deve ter de sobra, porque conseguem sobreviver sem uma mísera instalação hospitalar. Violência nem tanto. Basta não olhar torto pra ninguém, pois não há xerife local. Saneamento, nem o básico e fossa lá já é um item de luxo nos casebres. A economia deve basear-se em agricultura de subsistência, considerando que o capitalismo ainda não chegou. Nem deve ser por maldade dos governantes, pois creio que a maioria sequer soube que essa beirada cartográfica existia.

Enfim, Parelheiros e sua sub-sub-divisão Marsilac (vide o A assinalado no mapa), estão aí querendo ser municípios pois, segundo a população de lá, a autonomia é o caminho para a melhoria. Se eu fosse prefeito Kassab aproveitaria agora e assinava embaixo, enviando o projeto para a Câmara Federal. Uma tremenda oportunidade de livrar-se desse bico do mapa e melhorar diretamente as estatísticas sociais de Sampa. E mais: eu ainda faria um programa de incentivo à colonização de Parelheiros-Marsilac, financiando a mudança de mala e cuia de todos os que se dispusessem enfrentar cobras, jaguatiricas e tribos antropófagas em busca de uma nova Eldorado. Aliás se eu fosse o Lula, venderia Parelheiros e Marsilac pro Evo Morales.

Tá de bobeira, Kassab! A hora é agora.

domingo, 2 de novembro de 2008

Cuidado com onde senta

Não, meu três caros leitores. Isto não é um post sobre sacanagem. Eu até escrevo algumas, mas sob pseudônimo e em um site apropriado para tal.

Há dias que fico um bocado irritado com uma certa faxineira que trabalha (ou melhor, finge) na praça de alimentação da faculdade. O tio chega um pouco mais cedo e antes de subir costuma tomar um açaí batido ou comer algo que preencha o estômago e permita agüentar vivo até as onze e meia da noite que é quando chego no barraco.

Acontece que quando vou jogar o lixo, a dita faxineira em cem por cento das vezes está escorada na lixeira. Algumas vezes já tive que pedir um polido "com licença" para jogar o meu lixo. Em outras ocasiões ela desencosta o traseiro do utensílio com um esforço de Hércules e cara de orifício anal. Por essas tantas eu decidi colaborar com a manutenção do emprego dela de outra maneira, que é deixando todo o lixo e a bandeja sobre a mesa para que ela tenha que recolher. Sei que é injusto com os demais colegas que chegam afoitos por um escasso lugar pra lanchar, mas achei ser a única maneira de eu não me arriscar a dar uma cabeçada nela na próxima vez que ela bufasse diante da minha reivindicação pelo direito de uso da lixeira.

Só que na quinta-feira eu recebi três ou quatro folhetos panfletados na porta do estabelecimento e como sou um ser asseado esperei chegar na lixeira para descartá-los ao invés de jogá-los no chão como faz a população porca que estuda lá. Quando chego na lixeira, quem eu encontro? Vamos, tente adivinhar! A ditinha, que tem menos de um metro e meio de altura dando um pulinho pra encaixar a buzanfa raquítica na boca da basculante da lixeira. Sim meu amigo, minha amiga: ela passou a sentar naquele artefato que ela teria que permanecer enchendo e esvaziando. Com minha indisfarçável cara de "tô com o saco cheio de você" eu pedi espaço para jogar a bola de papel e a sujeita saiu fazendo corpo mole, tal era a acomodação e conforto da poltrona eleita por ela. E dessa vez havia uma segunda funcionária do mesmo nível hierárquico, escorada na lateral a tramar como seria o próximo churrasco de acém na laje ao som do novo CD do Belo.

Mal enfiei meu lixo pela basculante e a mocinha uniformizada já saltou para encaixar seus gluteozinhos no buraco novamente e por pouco não prendia minha mão junto. Aí eu olhei pra cara da beneditinha e disse: "Cuidado hein, criatura! Qualquer hora te levam junto na hora da coleta".

Para minha surpresa, quando virei de costas ainda pude ouvi-la perguntar para a segunda inútil:

- Ele tá querendo dizer que vão me confundir com lixo?

Não sei se isso foi despeito ou uma simples indagação. Mas espero que ela filosofe bastante sobre essa dúvida. Quem sabe ela se toque e descubra que nossas escolhas determinam nossos lugares no mundo.

Enquanto isso as mesas continuam sujas.