quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Músicas para alegrar o reveillon

Já que o saldo da minha conta-corrente não ajuda, que tal lindas canções para alegrar o reveillon? Se você tem mais de 30 ainda poderá tentar reproduzir aqueles movimentos que caracterizaram a dança new-wave dos anos 80.

O figurino ideal mais em conta: é composto por calça de popeline (ainda existe isso?) de cor berrante, de preferência verde-limão ou abóbora. A camiseta, preferencialmente sem manga, deve ser da cor oposta à da calça. Tênis "Katina-surf" podendo ser substituído por All Star sem cadarço. Se encontrar um estampado de xadrês, excelente. Mas na verdade vale tudo: peças em vinil emborrachado, meias-soquete listradas, boina, echarpe, tenis "Bamba" grafitado, meias-arrastão de cor, gravata com camiseta, óculos de proteção industrial amarelo, etc.. Quanto mais distoantes as cores, mais new-wave. É só procurar fotos da Cindy Lauper que verá como é.

Dançar é muito simples: estique os braços e rode-os na posição vertical, como se estivesse nadando. De preferência - se você tiver coordenação melhor do que a do Stephen Hawking - tente com um braço em sentido horário e o outro anti-horário. Ao mesmo tempo balance a cabeça como aqueles cachorrinhos de pelúcia com mola no pescoço, que os taxistas mais ousados põem no painel do carro. Com os pés simule chutes alternados, esquerdo, direito, esquerdo... isso... Já está bom assim.

Agora faça tudo junto e dê play abaixo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

69 na virada de ano-novo!

Está decidido: o tio vai passar para 2010 com 69. Não, meu caro leitor, minha cara leitora. Não é nada do que sua mente poluída pensou. Veja a consulta que acabei de fazer à minha conta-corrente e entenderá. Já considero vender meu gasto corpinho para tentar melhorar a situação. Nesse caso o número poderá tomar outra conotação. É a vida.

Como diz o Zé Simão "Nois sofre, mais nois goza".

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Quem é sua razão? Do quê?

Com frequência lemos e ouvimos pessoas dizendo algo como "fulano(a) é minha razão de viver". À parte a intencionalidade romântica de demonstrar amor desmedido, é curioso que alguém ou algo cuja existência lhe esteja fora de seu domínio real, se lhe represente algo tão forte e tão profundo quanto a própria razão de viver. Para mim, honestamente, a expressão acima reflete algo bem estúpido, seja o objeto dessa paixão uma pessoa, um time, um partido político, uma banda pop, um animal de estimação ou até um nobre trabalho social. Não importa.

Isso me remete a uma questão que me foi muito bem colocada por uma amiga a quem admiro e me reporto com assiduidade. Psicóloga atuante, ela me reposicionou de modo terminológico razão, motivação e incentivo. Até então eu, imbuído do senso comum, usava inadvertida e indistintamente os termos, sobretudo para tratar de políticas empresariais e acadêmicas com o fim de conduzir pessoas à ação. Nada mais equivocado, aprendi.

Segundo minha intelectual amiga, razão, seria o pináculo último de uma pessoa para algo mais elevado, como o próprio viver. Não se trata da razão no sentido iluminista de racionalidade, ratio. Simplificando um bocado, razão seria uma elaboração complexa, composta de várias convicções, mais ou menos conscientes, que vão se construindo arraigando, se entrelaçando e interagindo dentro da mente humana. Poderíamos na linguagem religiosa traduzir a razão como alma, a anima que nos mantém em pé e vivos.

Já a motivação seria a resultante da razão, mas que nos coloca em movimento. Ela seria o que faz uma pessoa a embrenhar-se por determinado caminho, carreira ou empreitada. Por isso, só se encontra motivação dentro de si, no fundo da sua alma, no âmago da razão.

Por fim, fora do ser, é que pode existir o incentivo. É somente nele que conseguimos atuar quando tratamos com outras pessoas. Desta feita só conseguimos ter uma noção mais assertiva de com o quê podemos incentivar uma pessoa, quando passamos a conhecer e compreender suas motivações. Muitas pessoas fazem aparentemente as mesmas coisas: podem trabalhar ou estudar, na mesma empresa ou no mesmo curso. Podem estar unidas, dormindo na mesma cama, sob o mesmo teto, e no entanto ter motivações diferentes. Decorre disso que tentar incentivá-las da mesma maneira - no trabalho, por exemplo - pode ter efeitos distintos. Uma pode trabalhar movida por vaidade, outra movida por sede de poder, outra movida pelo dinheiro. À primeira poder-se-á ofertar reconhecimento público, à segunda possibilidades de crescimento hierárquico e à última recompensa financeira, caso se pretenda empenho dessas três.

O que mais me intriga em pessoas que projetam - aparentemente - suas motivações em outrem ou em algo, é que o fazem sem a menor noção de que seus nomeados sustentáculos podem desabar a qualquer tempo e, com eles, elas mesmas poderão amargar sensações depressivas. Quem faz isso, abdica de procurar suas razões dentro seu cofre interior, muito mais seguro. Ao não buscar o autoconhecimento, abre mão de encontrar bases mais consistentes para sua vida e, preferindo projetá-las, arrisca-se no pedregoso e instável terreno do apelo exterior, do mundo das aparências, como os semi-cegos da caverna de Platão. Prefere antes as sombras às imagens verdadeiras, tanto de si como das coisas e dos outros.

No fundo, essas pessoas que dizem "fulano(a) é minha razão de viver", adotam como alimento o feedback alheio ou a sensação ilusória que o objeto lhe proporciona, tal como um narcótico. Tomam o que o outro ou o objeto lhe propiciam e vinculam artificialmente seus motivos a isso. Nada mais arriscado e danoso. A mente humana é um celeiro de enganos. Aquilo do qual se aceita depender psiquicamente pode ser sua ruína, até mesmo pela possibilidade de ter origem em más formações conceituais ou distorções relacionais estabelecidas na infância. Aceitando tão somente esse retorno como alimento, nutre apenas suas próprias distorções e aprofunda aquilo que o conduzirá ao assassinato progressivo de sua personalidade verdadeira, de sua id-entidade.

Pelo amor de São Freud, recomendo a você que lê isto: jamais pense ou diga que alguém ou algo é a razão do seu viver. Ou, fazendo isso, se arrisque no beiral do penhasco onde há de precipitar seu ser. Os suicidas que o digam. Quem sabe, através de algum médium, caso isso seja possível.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mensagem da equipe Transnotícias



Uma bonita mensagem narrada pelo amigo Irineu Toledo da equipe do Transnotícias. O programa vai ao ar de segundas às sextas-feiras, das 6 às 7 da manhã, pela Rede Transamérica FM.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Bad Christmas: dúvidas crueis

Estou com sérias dúvidas natalinas:

1) Digo logo para a caçula que o tal Noel não passa de um velho pedófilo e que acentua a divisão social em classes ao presentear os abastados e renegar os pobrezinhos?

2) Digo logo para a caçula que o tal Jesus não nasceu dia 25 de dezembro em uma manjedoura envolto em luz divina, nem foi adorado por reis magos, e que talvez nem tenha existido?

3) Digo logo para os familiares que estou com o saco cheio de amigo secreto, ainda mais quando dele participam seres que sequer passaram os momentos marcantes do ano conosco?

4) Digo logo para a darling que os *$#³£%!¬¢ do Banco do Brasil continuam com o meu saldo bloqueado e não tenho grana pra comprar nem uma sidra vagabunda feita no interior de SP?

Mais dúvidas no SPTV. Boa tarde. Fiquem agora com Globo Cor Especial.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Prestação de contas à sociedade

Informo a quem possa interessar, inclusive reitores e coordenadores de cursos superiores, o desempenho acadêmico do Tio Xavier no semestre. Não foi fácil, de modo algum. Estar no topo requer três "E": esforço, estudo e empenho.

Inúmeras vezes veio de brinde um quarto "E", de estresse. Mas nada que cochilos alternativos, acupuntura, fitoterapia - e outras coisas que não cabe escrever aqui - não me ajudem a superar.

Agradeço antes e sempre à darling e à cria caçula pela paciência com relação às minhas ausências e por me aturarem durante os dias em que eu estive com os cascos afiados, devido ao desgaste físico e mental. Agradeço também às colegas da equipe mais recente, Taty, Pat Souza, Pat Berloffa e Ketty, posto que sem elas tudo seria mais difícil e os resultados não seriam tão excelentes. Go to 2010. Come on, girls!

Mirem-se no exemplo do tio, estudantes.

* Nota do autor: Antes que alguém do ramo perceba, há duas notas não mencionadas devido às disciplinas transcenderem o semestre e, logo, não possuírem nota final.

Natal do Google

A galera do Google mandou para os usuários de diversos serviços o simpático cartão de boas festas abaixo.

Nada de hightec ao extremo, mas sim uma modesta animação em Flash. Só que vale pela iniciativa generosa da corporação (leia o texto). O usuário Tio Xavier aprova e continua Google-Fan. Espero inclusive que parte da doação venha para instituições brasileiras.

Clique na imagem para ir à animação original.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O bom combate

* Texto publicado originalmente em minha coluna no site do programa Transnotícias da Transamérica FM. Aqui.

O fim do semestre acadêmico me trouxe um alívio indescritível. O acúmulo de papeis profissionais, universitários e familiares, somados à minha idade - posto que não tenho mais vinte anos - me exigem, ano após ano, um desdobramento e uma versatilidade não tão fáceis de manter. Às vezes sucumbo mesmo, diante de alguma tarefa ludibriando-me com um julgamento tendencioso, segundo o qual alguma tarefa não seria relevante e poderia ser ignorada. Sei que são estratégias de sobrevivência comandadas pelo meu subconsciente, do contrário a estafa já teria me atirado em uma cama hospitalar.

Porém sempre fica em mim a sensação de insuficiência. Sinto que não li o quanto devia, que poderia ter caprichado mais em algum trabalho acadêmico, que poderia ter-me dedicado mais à família e aos amigos, que poderia ter sido mais eficaz no trabalho e obter melhores resultados, que poderia ter feito algum trabalho voluntário ou militado na política, que poderia ter cuidado mais de mim indo ao dentista ou chamando a acupunturista, que poderia ter feito algum curso suplementar, nadado, pescado, viajado...

Mas o deus Chronos é implacável e equânime: se recusa a privilegiar a quem quer que seja com a benesse de dias maiores, e muito menos com os tempos infinitos, com os quais sempre sonhei. Limitado por Ele, e segundo um certo perfeccionismo que me persegue, sinto-me sempre um ser incompleto e inacabado. Há sempre algo que eu possa fazer ou aperfeiçoar. Afinal, se algo merece ser feito é porque merece ser bem feito. Do contrário nem vale à pena fazê-lo.

Por todo esse turbilhão de pensamentos que me perseguem o tempo todo eu fico injuriado ao ver colegas na universidade ou no trabalho seguindo a vã filosofia do sambista que prega "deixe a vida me levar, vida leva eu". Nada contra o autor dos versos. É só uma "despreferência pessoal" tanto para com ele como com a obra. Mas tomo-os emprestados para demonstrar meu inconformismo com essas pessoas que desperdiçam a vida. São seres humanos que, abdicando de sua humanidade, trabalham pensando tão somente no mirrado salário do quinto dia útil; estudam apenas para "tirar nota" e "ganhar um diploma"; acordam por acordar já que o despertador lhes interrompe o sono. Vivem por viver, vivem por acaso. Ou pensam que vivem, posto que suas vidas carecem de intensidade, profundidade e direção.

Gostaria eu de poder comprar dessa gente os dias e horas desperdiçados. Eu realizaria mais e melhor tudo aquilo que tomo por missão. Mas Chronos também detém o monopólio do mercado de tempo. Não permite escambo ou venda, mas antes toma de volta para si cada minuto desperdiçado, para nunca mais devolvê-lo ao esbanjador.

Lutando para me livrar da auto-severidade vejo porém que o ano que se encerra foi generoso comigo em todos os aspectos. Prosperei, aprendi, fiz novos amigos, escrevi, li, briguei, fiz as pazes, assisti a filmes, subi em árvores, pesquei, vadiei, errei, acertei, em suma vivi. Vivi com apego sôfrego a cada minuto que caiu em minhas mãos como presente, desde o acordar com a querida trazendo a infalível caneca de café, até quando já era a madrugada do dia seguinte e esgotado consegui me esborrachar na cama para o que seriam minhas poucas horas de sono. Mas só tenho a comemorar.

Em suma sou grato à Vida. Agnóstico e mais apegado a São Tomé do que aos santos que creram sem ver, não professo nem isto nem aquilo. Mas antes procuro minuciosamente as pequenas verdades que cada momento encerra e revela. Tirar os infinitos véus de cada fração da vida é para mim uma fonte de satisfação infinita. Sem os apegos religiosos, restam-me os versos de Sérgio Britto, que sabiamente professam uma fé descuidada, porém confiante: "O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído". Seja lá quem ou o quê for esse "acaso" que nos proteja sempre. Inclusive do risco de "viver por acaso".

Deixo aqui meu agradecimento a todos os ouvintes e leitores, mas sobretudo um convite: viva com intensidade e dedicação cada minuto de suas vidas. Como a criança que, absorta pela brincadeira, é capaz de se esquecer tudo à sua volta e mergulhar e emergir, indo e vindo, no universo do seu brinquedo. Um forte abraço!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Living without you

Olá senhor William... Lembra daquele notebook que comprei da Compaq em 2000? O fabricante tinha feito um acordo com o senhor e ele veio com seu sistema versão 98 embutido, com o respectivo preço idem? Pois é.

Lembra daquele potente servidor Pentium-IV, que comprei há oito anos e no qual instalei seu potente sistema versão 2000 Server? Pois é, eu paguei para o senhor na época algo em torno de mil e quinhentos dólares, só pelos seus CDs.

Lembra daquele outro notebook, da Acer (ops! é este onde estou editando), e que veio também com seu sistema embutido, com o respectivo preço? Pois é.

Lembra ainda daquele outro notebook Acer que comprei no início do ano passado, que agora anda na minha mochila, lembra? Ele também tinha vindo com seu sistema embutido (e os custos idem).

De toda a grana que lhe entreguei por anos a fio, espero que o senhor, além de aumentar seus bilhões na caderneta de poupança, tenha ajudado muitas ONGs, crianças famintas na África e hospitais.

Mas lamento informar ao senhor que TODOS OS MEUS COMPUTADORES agora estão rodando UBUNTU 9.10.

Depois eu lhe conto o resto. É bem capaz que o senhor queira mudar também.

Um forte abraço.

Tio Xavier.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Chatos culinários

Post escrito em parceria com a Red's.

Você conhece um? Claro que sim, todo mundo conhece. Talvez você seja um deles - os chatos culinários, pessoas sem noção cuja missão no mundo é azucrinar a paciência alheia querendo convencer as pessoas de que eles e o seus egos inflados são verdadeiros chefs milagrosos, capazes de fazer todos os seres humanos mudarem de opinião a respeito de comida, mesmo os mais resistentes.

É muito fácil identificar um chato culinário. Tal personalidade vem à tona quando uma pessoa ousa divulgar que não suporta determinado prato. Vamos pegar o exemplo da Red, que odeia todo e qualquer tipo de prato com peixe.

- Odeio peixe.

- Mas Red.. isso é porque você nunca comeu o peixe QUE EU PREPARO (há muita ênfase neste trecho da frase). Eu preparo uma tainha recheada de nozes que vc vai ADORAR!!! Você VAI TER QUE adorar... Não vai ter como não ficar fã.

- Tudo bem, mas não é o preparo. Eu não gosto é DO peixe em si.

- Um dia, Red, eu vou fazer um peixe lá em casa. Você vai ter que comer, nem que seja só um pouco. Vai experimentar. Depois de comer minha tainha com nozes eu DU-VI-DO que você não coma até se entupir.

- Você não entendeu. Eu tenho certeza que você prepara um peixe espetacular. Para quem gosta de peixe. Vou tentar explicar mais uma vez: EU NÃO GOSTO DE PEIXE.

O exemplo cita os peixes, mas o exemplo pode ser utilizado para qualquer prato.

É possível supor que o interlocutor compreendeu, tal a objetividade da frase e sua estrutura sucinta, certo? Errado. Durante seu desenvolvimento cognitivo, o chato culinário só conseguiu estabelecer sinapses o suficiente para processar operações de adição de ingredientes na panela. Ao contrário do que estudou Jean Piaget, depois dessa fase de operações concretas, o chato culinário não seguiu para a fase de operações abstratas. Por isso é que elucubrações complexas quanto "ele gosta disso", "ela não gosta daquilo" e muito menos "será que estou enchendo o saco?" não fazem parte do universo cerebral do chato culinário.

Na verdade ele está apenas processando a sua vaidade. Eis o raciocínio: a pessoa pode até não gostar de peixe, mas isso não tem nada a ver com o peixe DELE. O peixe DELE, assim como ele, é o máximo. Não dá pra aceitar, assim, de bate pronto, que um ser humano QUALQUER não o aprecie revirando os olhos e batendo palminha.

Até que um belo dia o chato convida Red para almoçar o tal peixe, a obriga a enfiar uma garfada goela abaixo e eis que ela emite o seu parecer:

- Não gostei.

E no segundo seguinte o chato culinário deve dizer:

- Ah, mas não é possível!

Sim, não é possível. A pessoa DEVE AMAR o peixe. Caso contrário, ele amarrará uma tromba, ficará ofendido para o resto da vida ou pensará - esta é a hipótese mais provável - que a pessoa é um caso perdido, um ser inferior que não sabe apreciar uma boa culinária.

Do alto da sua soberba o chato culinário tem semelhanças com o fundamentalista religioso. Ele vê como única hipótese de salvação - nesse caso gastronômica - que você se obrigue a amar, respeitar e adorar o que ele faz ao fogão, ainda que contenha toneladas de coentro, galões de dendê e um barril de cominho, por exemplo, e você diga claramente que não gosta de temperos muito fortes.

Assim também ao rejeitar a buchada de bode de um chato culinário você será taxado de fresco, de não saber o que é bom na vida, de não ter paladar e que deveria participar da sessão de descarrego, porque só um espírito das trevas pode fazer alguém não gostar do que ele gosta.

Nessa hora, a única saída plausível para a vítima é firmar o pé e não ameaçar ceder um milímetro, sob o risco de o chato culinário achar que ela tem potencial de gostar de tudo o que ele gosta. Se a pessoa fingir que gostou, já era.

Para o chato culinário não existem coisas como personalidade, gosto pessoal, preferências individuais, nem nada. Pessoas que não gostam do que ele gosta são problemáticas ou estão apenas a fim de ser do contra. Não existe outra possibilidade. De qualquer maneira, a outra pessoa deve ser convertida, e esforços para isso não devem ser poupados.

O chato culinário, porém, tem outras formas de abordagem que podem ser tão irritantes quanto esta citada. A primeira é sempre partir do princípio de que o que ele gosta é algo universal, e que não existem preferências particulares. Logo, quando a pessoa diz que não gosta de buchada de bode, ele fará a pergunta mais óbvia e mais cretina do universo:

- Mas você já comeu?

Ele usará uma expressão facial e uma entonação de voz de quem está questionando seriamente a afirmação da outra pessoa. Ele deixa bem claro que quem faz tal afirmação não pode ter embasamento algum no que diz. Ele pensa em desmerecer a vítima até a última gota, levando o tom da conversa para o seguinte raciocínio: "Você nunca comeu, logo não sabe do que está falando, pare de espalhar a sua ignorância pelo mundo!". Isso fará com que a vítima se sinta mal ou culpada por emitir tal opinião, e que seja reduzida ao tamanho de uma reles azeitona.

Se a pessoa disser que nunca comeu porque tem nojo de se imaginar comendo bucho de bode (ou é vegetariana), o chato imediatamente pula para a chatice descrita no começo. Se ela disser que já comeu e não gostou, então dê a resposta fatal:

- Ah, isso é porque você nunca comeu uma buchada bem preparada...

E emenda a ladainha anterior.

* * *

Fato mais inusitado ocorreu dias atrás com uma amiga psicóloga. Era aniversário de alguém em um barzinho. Aniversário em barzinho por si só é recheado de impessoalidade e torna-se ocasião em que você vai encontrar dezenas de pessoas que são "amigos, do amigo, do amigo do aniversariante" e, então, toda sorte de chatos pode aparecer. E, claro, o chato culinário está lá. Vejam esse diálogo verídico, narrado pela vítima:

- Oi, como você se chama, gracinha?

- Victoria*.

- Então, Vic. Posso lhe chamar de Vic né?

- Hãhã...

- Vic, vou pedir uma porção de rã fritinha, vai nessa?

- Não obrigada.

- Não gosta?

- Er... olha, não me ocorre degustar anfíbios. Ainda mais um batráquio.

- Batr... o quê? Você já comeu rã?

- Não, mas não quero comer. Não me agrada a ideia.

- Como não? Nâo pode ser. Você vai comer umazinha sim.

- Não, obrigada mesmo. Agradeço, mas dispenso.

- Ninguém resiste depois de comer a primeira. Você vai ver.

- Não vou não.

- Ah, vai. Você não tem a menor ideia do quê está perdendo.

- Tá bom, mas... entende? Eu apenas não quero.

Dali uns minutos aterrisa na mesa a travessa com os sapos efeminados. Acredite que o cara ainda pegou um e fez menção de leva-lo à boca da educada moça, que apenas levantou-se foi ao banheiro e demorou uns quarenta minutos para voltar, pois passou na pista de dança onde ficou um tanto. Para sua sorte a volúpia e gula do chato em questão foram maiores que sua pentelhice.

Mas neste caso acima, a chatice não se resume apenas às questões gastronômicas. Ao que parece, o estrago é bem maior. Mas este não é o assunto deste post.

Eu aposto meus dedos que vários chatos gastronômicos estão lendo este texto e pensando: "Isso é porque ela nunca comeu o MEU ____________________ (digite aqui o prato de preferência)".

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Arte sacra

Esse bonito vitral encontra-se em Sampa, no interior de uma igreja denominada "São Pedro". No retrato, o apóstolo parece que acaba de ser preso. Até aí tudo bem. Pena que o artista não tenha concebido que, na época da prisão do sujeito, os romanos não usavam armaduras medievais, que foram surgir centenas de anos depois.

Na mesma igreja há outras bizarrices, como Jesus pregando para sujeitos parecidos com Quakeres com um castelo estilo francês ao fundo. Qualquer dia vou lá fotografar tudo. Coming soon...


Piedade demais, conhecimento histórico de menos.