sábado, 31 de janeiro de 2009

Quanto lhe custa uma má referência?

Um amigo do tio comprou um certo aparelho de DVD de marca coreana um ano e meio atrás. O aparelho era o power-hiper-mega-tudo. Além de fazer o óbvio - que é rodar DVD - permitia gravar programas em um HD interno e depois ainda gerar um DVD com o conteúdo. Sensacional, não fossem os pretéritos imperfeitos. Permitia enquanto funcionava. Depois de poucos dias de expirada da garantia o trem pifou.

Com a maior boa vontade o meu amigo foi a uma assistência autorizada, entregando a traquitana aos cuidados do doutor digital. Dias depois uma jovem da autorizada ligou dizendo para ele retirar o aparelho, pois não tinha conserto. Indignado, o consumidor foi até a oficina esclarecer o assunto. O fato descrito foi a queima de um chip XYZ e que a Samsung "não tinha". Meu amigo achou estranho porque o aparelho constava no site do fabricante e nos diversos magazines como um item de linha. "E como é que eles dão garantia desses troços se não tem o componente?" - perguntou a inocente vítima.

O técnico confessou que a Samsung só fornece o chip XYZ (e gratuitamente) para aparelhos sob garantia; que ele adoraria comprar um, consertar e ganhar o quinhão dele, mas para serviços avulsos neca de pecinha dos coreanos. Putérrimo da vida meu amigo ligou para a Samsung que primeiro recusou-se a atender, dizendo que só ouvem consumidores depois de não-sei-quantos-dias sem resposta da autorizada. Não adiantou argumentar que já tinham dado o veredito. SACs são compostos andróides incapazes de extrapolar as opções da tela do sistema. Mesmo que você diga pausadamente "Le-ve-me-ao-seu-lí-der" eles são programados para ignorar. Só depois dos tantos dias é que o amigo conseguiu ser atendido pelo SAC da Samsung. Mas...

A atendente da Samsung disse que só poderia "estar atendendo o consumidor" caso o aparelho estivesse sob garantia. Do contrário eles só falam com assistências autorizadas e o desenganado consumidor teria que se virar com a oficina. Dos fatos podemos concluir que, uma vez encerrada a garantia, os aparelhos Samsung viram párias. Uma espécie de órfãos de pais vivos, só que sem direito à Febem, nem assistência do Padre Júlio Lancelotti. Conclusão: depois de ter gasto uns dois mil reais comprando o aparelho sul-coreano supostamente power-hiper-mega-tudo, o que ele possui hoje não passa de uma sucata, embora tenha pouco mais de um ano e continue a ser vendido no mercado.

E neste exato momento o tio Xavier está navegando o cyberespaço à procura de um bom aparelho que rode DivX. Em vários sites aparecem os tais Samsung. Agora vamos à enquete do dia:

O tio Xavier deve comprar algo desses coreanos?

( ) Jamais.

( ) Nem a pau, Juvenal.

( ) Nothing fucking.

( ) Coreanos, introduzam seus aparelhos onde estou pensando agora.

Joe Girard, o maior vendedor de carros do mundo, em seu livro "Como vender qualquer coisa a qualquer um" arriscou uma estatística. Disse que se você fizer um bom negócio ou uma boa compra, tende a contar para DEZ pessoas em média. Mas que se sentir-se ludibriado ou vítima de um desonesto alertará a CEM pessoas. Faz sentido...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Agulhas milagrosas

Fazia dois meses que o tio estava de cama, próximo do estado de moribundo. Na verdade eu pensava em chamar um padre para a extrema-unção e já arriscar fazer as pazes com o deus dos cristãos, pois nada tinha a perder. A dor física me fazia desejar não estar mais encarnado e me livrar da carcaça podre.

Eram meados de 2002. O tio era sócio em um escritório de TI. Um mau jeito, ajuntado com estresse além da conta - e contas bancárias bem rasas -, me debilitaram. Resultado: uma baita inflamação no ciático, de proporções insuportáveis. Não havia posição cômoda pra eu ficar e a avó Xavier cuidava de mim de dia, o que incluía levar-me ao sanitário e me segurar no assento enquanto eu gemia de dores lombares. A darling ia trabalhar e me dava banho à noite. Eu mal e porcamente conseguia dar suporte remoto para o sócio, trabalhando deitado com uma adaptação de bandeja de cama, que acomodava o notebook e o headset do telefone. Uma espécie de kit que me permitia trabalhar deitado entre um urro de dor e outro.

Com as dúzias de consultas e dezenas de radiografias os médicos só engordavam a lista de remédios e mais remédios, cujas contra-indicações superavam dezenas de parágrafos as indicações. Era notório, cada vez que eu ia ao banheiro, que meu fígado estava se esfacelando e parte dele ia embora quando eu dava a descarga. Uma adorável e prestimosa amiga (que não está mais entre nós), vinha me buscar e me levava às consultas, tendo passado até pelo constrangimento de me despir para exames, coisa que me era impossível fazer com autonomia. É quase certo que só por conta desse desprendimento, deve ter arranjado um bom apartamento celestial. Merecido.

Com mais de mil reais de antiinflamatórios, corticóides e injeções desfilando numa sacola, eu estava desenganado. Achei mesmo que ficaria um aleijão com dores pro resto da vida, mas antes disso eu usaria minhas últimas forças pra apanhar meu Rossi quando estivesse sozinho em casa e daria cabo nisso. Não deixaria a darling me sustentar pro resto da vida, tampouco a minha mãe passar a terceira idade cuidando de um marmanjo incapaz. Com certeza não. Um escorpião sabe qual é o seu limite.

Até que um conhecido que morava no ES falando comigo ao telefone me sugeriu a Acupuntura. Desconhecedor total do que quer que fosse o fundamento da terapia das agulhas, eu quase ignorei. Mas com a dor que eu estava eu tentaria até a bispa Sônia, se alguém me levasse. O capixaba não conhecia nenhum profissional em Sampa e resolvi ligar para alguns amigos. Até que um santo homem, um amigo monge budista, me deu o telefone de um tal Dr. Darwin Caldeira Ribeiro. Depois de falar com este, fiz a darling me levar lá na mesma noite. O atencioso terapeuta me disse para ir no mesmo dia a qualquer hora que ele me atenderia em caráter de urgência.

E lá foi a darling atravessar toda Sampa City no horário de rush e escorar o projeto de Quasímodo. Demorei vinte minutos para andar os cinquenta metros que separavam o estacionamento do consultório, que por misericórdia tinha elevador. Depois de me entrevistar e fazer contagens estranhas da minha pulsação segurando os meus punhos, me perguntou o que eu estava tomando. Ao ver o tamanho da sacola, a pilha de receitas e ler alguns nomes o tio Darwin me pediu que abandonasse tudo aquilo, sobretudo umas injeções que, de acordo com alguns profissionais, estavam sendo responsabilizadas até por necrose muscular. Como não resolviam merda nenhuma mesmo e eram caros pra cacete, abandonei a alopatia e entreguei o meu resto quase em putrefação do tio às agulhas do acupunturista.

Depois de duas horas e umas mil e seiscentas agulhadas (não doem nem um pouco) saí de lá andando ereto, o que foi um grande feito. Claro que com resquícios de dor, mas bem menos e com a retidão física digna de alguém pós-Neanderthal. Melhorei sensivelmente na sessão seguinte - três ou quatro dias depois - e na terceira sessão de agulhas EU MESMO FUI SOZINHO E DIRIGINDO! Passei mais alguns meses aos cuidados dele, espaçando as sessões cada vez mais, até ficarem mensais e bimestrais. Então entramos em consenso pela minha alta. Eu gastei uma fração do que teria gasto em remédios, mesmo considerando cruzar a cidade de carro. Mas nascia um novo homem. Tanto que faz uns três ou quatro anos que não passo lá sequer pra dar um abraço no sujeito que me tirou do leito e me restaurou a saúde lombar. Um homem milagroso que enquanto me tratava explicava os fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa.

De lá para cá, às vezes senti falta de umas agulhadas para relaxar a musculatura estressada e até para pequenos desajeitos lombares. Mas nunca foram suficientes para me abalar por trinta quilômetros até o consultório onde o dentista Darwin reveza-se entre uma obturação e uma agulhada, correndo como um doido entre uma sala e outra. Sinto saudades dele. Vou ver se crio vergonha na fuça e passo lá pra tomar um chá com o homem que me salvou.

Só que há algumas semanas a darling fez mais uma de suas maravilhosas descobertas. Uma de nossas vizinhas, além de ser bem graciosa (ops!), agradável e simpática é... acupunturista! Resolvi tentar uma sessão com ela que solicitamente veio me atender em casa. Show de bola. Não obstante a pouca experiência da juventude - incomparável com a do sexagenário Darwin - os efeitos da manutenção dela comigo são plenamente satisfatórios. Agora, a cada duas ou três semanas convido a jovem senhora a tomar um suco enquanto me espeta. Serviço eficiente, preço módico, papo culto e simpatia de sobra. Pra quê eu vou querer mais, não é mesmo?

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Na casa do Senhor

Subtítulo: Uma reflexão teológica sobre o incidente na Renascer.

A auto-sagrada "bispa" Sônia Hernandes e seu fiel companheiro por esses dias não resistiram ao cerco de cobranças e pressões. Resolveram terceirizar a culpa. Nada melhor do que empurrar o ônus no ânus de quem não pode se defender (que trocadalho horrível...).

Ao culpar o pobre e sempre perseguido Belzebu, o Tinhoso, Satanás, Lúcifer, o Banido ou como quer que o chamem, a Bispa faz o que a Administração Moderna recomenda há mais de uma década. Terceirizar, além de tirar dos próprios ombros o trabalho, é uma forma de ter um "Zé" pra botar a culpa dos erros. Neste caso o Bel--Bu (esse foi ainda pior!).

Logo eu, que tinha prometido anteriormente a não fazer reflexões teológicas sobre o acontecimento, agora não tenho como me furtar de fazê-lo. Vamos ao desmascaramento da bispa e de sua instituição.

Atenção que nunca antes nenhum teólogo se atreveu a tão audacioso silogismo:

1) Ela pôs a culpa em Satanás pelo despencamento do teto da igreja. Logo, o suposto "inimigo" tem jurisdição sobre o território dos templos da Renascer.

2) Opa... isso é grave! Não seria um templo supostamente dedicado ao Deus Cristão?
Então...

3) Se na casa do Senhor, não existe Satanás (xô Satanás, xô Satanás) e no templo da Renascer Satanás agiu livremente..

Conclui-se que: Os templos da Renascer não podem ser considerados "Casa do Senhor". Lá, ao invés do Paráclito - o Santo Espírito do Deus - é Satanás que pode mandar em tudo, inclusive sobre as estruturas dos telhados. Complicado isso. A "bispa" nesse caso é representante de quem?

Concluam o que quiser. Vejam que os argumentos acima são irrefutáveis. A polêmica está lançada.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Yes, nóis também can

Este país é inigualável. Temos tudo para alçar o status de primeiro mundo no que quisermos. Tudo o que se consegue lá fora, em países ricos e arrogantes nós também - brazucas com muito orgulho - conseguimos. Não há limite para nossa capacidade.

É com essas contundentes palavras de espírito patriótico que quero lançar a campanha nacional YES, NÓIS TAMBÉM CAN.

Vejam por exemplo esse acidente ocorrido na Alemanha. O motorista foi parar no teto de uma igreja, após se desgovernar da direção do bólido. A imprensa noticiou como algo sensacional e blá, blá, blá...

Mas para provar que nós também somos capazes de produzir essas façanhas, o tio Xavier, intrépido pesquisador de fatos e implacável noticiador de feitos, coloca aqui no Sem Sentido, em primeira mão o nosso feito carro no telhado.

S E N S A C I O N A L

Essa espetacular realização foi nas terras do Senhor do Bonfim.
Em destaque nossa bandeira, para que ninguém pirateie
nosso feito e reivindique para outro país. Note que o vão
que o carro saltou parece intransponível. Não para nós.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A casa está caindo?

Embora eu tenha credenciais acadêmicas para tal, não farei reflexões teológicas sobre o desabamento do teto da igreja Renascer em São Paulo. Abomino explicações que não passem pela Engenharia e pela Física no caso de desabamento de tetos. Mas deve ser difícil para os Hernandes, lá do alto de sua confortável e abastada prisão domiciliar, explicar aos fiéis de modo consistente e confortador. Considerando que a mente religiosa dos fiéis tenta a ler os fenômenos físicos sob as lentes da fenomenologia espiritual, poderá parecer que a tragédia seja um sinal de reprovação divina à azienda religiosa do casal Hernandes. Vamos lembrar que estamos falando de empreendedores religiosos processados no Brasil e nos EUA, por lavagem de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica. No tangente à transparência jurídica, financeira e fiscal, o versículo "... dai pois a César o que é de César..." (Mc 12, 17) teria sido subtraído da bíblia dos Hernandes?

Um amigo do tio, proprietário de alguns imóveis, descobriu da pior forma que ostentar camiseta, bíblia e discurso de renascentista cristão não são garantia de honestidade. Ele alugou um salão para procuradores da seita montarem uma filial na Zona Norte de Sampa. Acertou contrato, aluguel, verificou que os signatários tinham procuração da pessoa jurídica da Renascer, tudo nos conformes. Mas nada garantiu que parte do dízimo e das contribuições dos incautos seguidores fosse destinada ao simples, honesto e combinado pagamento do aluguel. E lá se vão dois ou três anos para efetivação do despejo e outro tanto para ação cível de ressarcimento, sentença que até há pouco tempo - transcorrido um quinqüênio da demanda toda - não havia se efetivado. O proprietário do pequeno patrimônio de renda da última vez que falou comigo continuava decepcionado e sem ver seu aluguelzinho. Tudo porque seguidores dos Hernandes - inclusive diretores da seita a quem procurou - teriam se mostrado não tão puros de coração e sinceros de alma quanto aparentavam. Estranho para gente que se intitula de princípios cristãos.

O teto de um dos principais templos da Renascer ter caído pode simbolizar que a cobertura à empreitada toda não é tão sólida deveria. As notas dadas à emprensa pela assessoria de comunicação da entidade e outra emitida pelos Hernandes se limitam a observações que nada acrescentam. Apenas se esforçam para ressaltar que a documentação do imóvel está em dia. Considerando o caso do meu pobre amigo, vai saber o que significa "documentação em dia" no conceito dos Hernandes. Now it's too late. A esta hora pobres fiéis ainda jazem sob os escombros. Quem é que prestará contas disso e para quem prestará eu não tenho a menor idéia. Enquanto isso gente de bem e de bom coração, mas espiritualmente ingênua, continuará freqüentando outros templos da seita e contribuindo com a polpuda conta-corrente dos Hernandes. Uma pena.

Por essas e tantas que o tio é pela tributação das igrejas e instituições religiosas. São pessoas jurídicas, empregam gente, arrecadam fundos, alugam prédios (ok, às vezes não pagam), compram veículos e máquinas, compram espaços publicitários e até emissoras de rádio e TV, consomem eletricidade, água, insumos, usam telecomunicações, publicam jornais... Qual é a diferença para que esse tipo de constituição jurídica não tenha que pagar imposto, como qualquer outro? Ser sem fins lucrativos? Ah, fala sério! A não-tributação, em última instância, só serve para favorecer a captação de recursos escusos, sua má destinação e a não-prestação de contas financeiras à sociedade. E não pense que estou me referindo apenas à seita dos Hernandes ou à do outro auto-sagrado bispo da Record. Pense também em uma certa multinacional sediada em Roma...

Por que não?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Comunicação sanitária

Os departamentos de marketing e comunicação das empresas não param de se superar. Para firmar os seus produtos e reforçar o recall de suas marcas lançam-se nos mais inusitados métodos, ocupando todos os espaços possíveis e até os improváveis. Claro que sempre procuram vincular a divulgação da empresa à prestação de serviços, sobretudo de informação.

É nesse contexto que em Jundiaí pude ver esse lindo e instrutivo cartaz afixado no banheiro de um cliente. Obviamente o dito estava posicionado na parede atrás do vaso sanitário à altura dos olhos de brasileiros medianos como o tio.

Pena que o celular da darling que está emprestado comigo não tira boas fotos. Mas dá pra ver as lindas ilustrações que demonstram bom e esmerado gosto. Claro que se as pessoas tivessem aprendido os rudimentos de higiene e compartilhamento de espaço esse cartaz nem estaria lá. Então é difícil decidir o que é pior, se é o cartaz ou os fatos sociais que o motivam.

A frase mais comovente é a do quadro 5:
"Dê descarga. Urina não é perfume francês."

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Agressão ao intelecto

Isto vale para os que prezam as atividades neurais que vão além do controle da respiração. Pelamordedeus é ver as mulheres do Ciro Gomes e a do Edson Celulari ficarem de bem e ainda pra cantar moda caipira, mal pra cacete!

Nunca imaginei que depois do Sérgio Reis com o Almir Sater como "Pirilampo & Saracura" pudesse surgir algo tão chato do gênero.

É minha impressão ou...

É condição contratual do Tarcísio Meira e da Glória Menezes que só trabalhem em novela se formarem o par romântico de sempre?

Coitados. Nem fazendo novela eles conseguem dar uma variada.

Direitos autorais das caricaturas: http://www.adolar.com.br

Não sei o que é pior

a) Se é o próprio programa em si.

b) Se é o povão suado e fedorento (que não gosta de ar-condicionado) comentando no busão.

c) Se é o tom entusiástico falséééérrimo do Bial nas chamadas.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Tupinamerican way of life

O Capitalismo consegue até o momento uma façanha que nenhum outro sistema conseguiu com tanta perfeição. Ele mantém na sua periferia uma massa populacional elástica. Ora ela cresce (crises) ora ela encolhe (bonança). E esse sistema, ocasional ou não, deixa ansiosa uma imensa parcela da população, ardente por ingressar na massa de consumo. A ansiedade subtrai qualquer possibilidade de senso crítico.

Além de não saber exigir seus direitos, as massas não têm presença de espírito suficiente para ignorar os apelos de marketing do Capital e colocá-lo com seus produtos no devido lugar. Por isso as pessoas compram o que não precisam, endividam-se até onde não deviam buscando satisfação para a vida com quinquilharias sem as quais viveriam perfeitamente, senão melhor.

Desse modo não é raro uma pessoa de hábitos de consumo moderados ver que sua faxineira possui um celular plus-blaster-master muito melhor que o seu ou ainda que o filho do porteiro ganhou o videogame x-mega-over enquanto seu filho ainda se diverte com o bom e velho PS¹. Óbvio que os serviçais compraram tudo em 34098439 prestações. O presidente Lula-Lelé diria: "Nunca antes na história deste país...". Mas não é bem assim.

A população em geral já não recebe nenhum tipo de educação básica, quanto menos de como lidar com o dinheiro e administrar a vida pessoal. Eu mesmo não fui educado a respeito nem pelos meus pais e muito menos pela Escola e aprendo fazendo as piores burradas. Nada a esperar da escola em geral se a entendermos sociologicamente como fruto e serviçal do Capital. Por isso o Godzila do sistema financeiro vive a engordar, alimentando-se do endividamento da população. Do lado da classe média através de produtos com status como cartões de crédito, carros reluzentes e linhas de cheque especial; do lado da categorias mais pobres propiciando que encham suas casas com produtos comprados a juros escorchantes em prestações intermináveis. Frequentes pesquisas mostram que consumidores não sabem calcular a simples diferença entre o preço à vista e o preço final financiado.

Aí está a magia marqueteira do Capital: fazer com que a classe média (profissionais liberais e pequenos proprietários) enebrie-se e sinta-se dominante - quando não passa de vassala - e que as classes proletárias sintam-se incluídas no maravilhoso mundo do consumo, acessando bens com displays eletrônicos piscantes, controles remotos multifuncionais, potência sonora de trocentos watts e assemelhados. Em ambos os casos constroem-se modos de vida insustentáveis a longo prazo. O SPC e a SERASA que o digam. E mais e mais trabalhadores penhoram indiretamente seus suores, fígados e rins nos cofres dos bancos e financeiras.

Por que refleti tudo isso? É que além de em alguns dias eu estar mais introspectivo e pensante do que em outros, ontem eu passei por vários bairros comerciais. Fiquei pasmo com as filas nas portas das lojas do Magazine Luiza. A empresa tinha anunciado uma megaliquidação (já sem trema e sem hífen) e o populacho fez filas quilométricas para aproveitar a oportunidade insubstituível de comprar o desnecessário. Pude ouvir um dos locutores ao microfone gritando na calçada: "Já sai daqui na hora com o seu DVD, com o sua televisão LCD, com seu móvel... se não tiver dinheiro não tem problema; leva um carnezinho e a felicidade pra sua família". Felicidade de quem?

Vila Maria: ao meio-dia a fila virava a esquina com cerca de 200 pessoas.


Pela única porta entreaberta somente meia-dúzia de agraciados de cada vez.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Edite seus documentos na web

Em plena era da mobilidade, da web acessível - ao menos nos centros urbanos - e de seres humanos que exercem suas atividades computacionais em locais diferentes todos os dias, a oferta dos suítes de edição online parece tentadora. Este pobre escrevedor (escritor requer outras competências) por exemplo precisa ter pelo menos parte dos seus textos, planilhas e apresentações de forma móvel para utilizar em casa, no escritório, na faculdade e sabe-se lá onde acabará precisando.

Fã incondicional dos serviços Google, o que inclui esta plataforma bloguística, desde as versões beta passei a utilizar o Google Docs. Sei que há outros, mas a web tem se mostrado uma infinitude tão grande de serviços que acaba não dando para provar tudo. A não ser que alguma revista conceituada ou site resolva me contratar só pra isso. Nada que um polpudo salário, flexibilidade de horário e local de trabalho livre não me façam aceitar. Mas enquanto isso não ocorre, me limito a utilizar o necessário e de vez em quando compartilhar com meus amigos e leitores (boa parte são os mesmos) as experiências que tenho com ferramentas informáticas. Vamos ao benchmarking.

Recentemente a Microsoft fez algum alarde a respeito de sua Microsoft Office Live Workspace. Já vacinado contra os propó$ito$ explícitos da empresa fundada pelo Sr. Gates não me interessei nem um pouco. Vez ou outra vi uma das minhas contas do Hotmail exibir chamada para testar esse troço, mas nem fiz menção de tocar. Pois bem ao resolver blogar sobre serviços de edição de documentos online, dei uma chance ao Office Live. Fucei, fucei, fucei e o que encontrei? Vejam abaixo:



Edição online não existe, ao menos se você não for cliente do Bill Gates. O Office Live presume antes de tudo que o usuário seja um feliz comprador do Microsoft Office (de R$199 uma versão chinfrim para estudantes até R$1.300 na versão profissional). Para o tio, que preza boas ferramentas gratuitas, isso simplesmente não serve. Não possuo a suíte do Bill Gates. Nesse caso eu teria que me resignar a armazenar meus documentos no site e para editar teria que fazê-lo no desktop em um editor minimamente compatível. Algo imprevisível e impraticável para quem mal sabe onde estará no dia seguinte como eu. Sem falar que fazer upload e download "por fora" do editor não é lá algo muito confortável. Explicarei mais abaixo. Muito obrigado.

O Zoho, ferramenta que acesso eventualmente só pra bisbilhotar, é sem dúvida uma das mais completas suítes de edição. Possui um editor de texto rico (RTF/HTML) simpático, intuitivo e bem completo (vide screenshot abaixo). Para os acostumados a usar a web e que saibam rudimentos do idioma de Abraham Lincoln não há grandes problemas e as vantagens compensam. Seria o meu caso se eu não fosse um brazuca chato e exigente com minha língua-pátria. Por enquanto apenas o dicionário para revisão ortográfica comporta o Português Brasileiro. Nem sei ainda como fica isso a partir deste ano com a nova ortografia, mas aí já é querer muito. Prometo ainda pensar no caso porque o editor é bem robusto e bonito.


A página inicial do Zoho traz uma lista de serviços generosa. O surpreendente é a integração de alguns serviços com o passaporte Google, permitindo que se faça login com sua conta do Gmail. Mas são só alguns. Os principais até onde vi. Acessei o CRM por exemplo e ele abriu uma tela de autenticação diferente, sem inclusive cadastrar-se ou questionar se o e-mail que eu estava colocando, se era autêntico ou não. Dá pra perceber que Zoho é uma complexa colcha de retalhos de serviços que está longe de ser integrada de fato. O resultado dá em interfaces diferentes entre os aplicativos e certamente em armazenamento disperso. Talvez venha a ser algo verdadeiramente unificado, como foi com o Google Services, quando começou a incorporar o Writer, o Spreadsheet e recentemente o Presentations que eram programas de terceiros, mas que foram integrados de verdade.

Outra das vantagens do Zoho é a existência de plugins de integração dele para com o gratuito Open Office da Sun. A sua versão abrasileirada - BROffice - é minha suíte desktop padrão, tanto nos computadores com Windows como no servidor Linux Ubuntu de casa. Se eu fosse você e não conhecesse o BROffice, trataria logo de baixar e aprender. Além de ser uma ferramenta gratuita em substituição competentíssima do office do Bill Gates, já é utilizado por uma porção de empresas de todos os portes, sobretudo estatais federais, estaduais e autarquias como o Metrô de SP entre outras. Ou seja: já é requisito para quem quer trabalhar em uma delas. Os editores de textos, planilhas e apresentações do Zoho exportam nos formatos mais conhecidos do mercado, incluindo PDF e até mesmo o DOCX do Bill Gates, caso você precise mandar para alguém que insista em pagar por suítes de escritório.

Voltando à questão dos plugins, estes propiciam que um documento seja editado - opcionalmente - no desktop e seja salvo diretamente no repositório online do serviço Zoho. Assim, mesmo que você tenha usado um computador que não esteja em seu alcance em determinado momento o documento o estará na suíte online do Zoho. Se você não tem nenhum serviço de edição online e se vira bem com menus em Inglês, o Zoho tem o selo de recomendação Tio Xavier.


Por fim a ferramenta de apoio que uso - o Google Docs - prima pela interface espartana. Com muito menos recursos do que seu concorrente online mencionado acima, o GDocs é totalmente integrado ao login do GMail e oferece o básico com facilidade simplicidade. Espartanidade e minimalismo são emblemas dos serviços Google. Por isso não é para se esperar muita sofisticação futuramente da suíte Google a ponto de ela vir a se tornar parecida com a da Zoho. Mas para 99% dos usuários que trabalham apenas os recursos mais simples, é uma mão na roda indubitável.


O GDocs também atende à questão de integrar-se com a suíte gratuita da Sun. O OpenOffice - e por extensão o BROffice - possuem plugins que estendem a função "salvar como" ao GDocs, utilizando a conta Google do usuário. Geralmente é o mesmo plugin que se utiliza em prol do Zoho. Óbvio que a compatibilidade estética e a conversão de alguns recursos um pouco mais sofisticados como caixas de texto flutuantes, quebras de texto em colunas e mesmo a flutuação de imagens sobre (ou sob) textos corridos fica devendo. Na hora em que o arquivo sobe para a plataforma GDocs grande parte das formatações vai para o espaço e precisa ser refeita ou adaptada, pois nem tudo é suportado pela linguagem web. Mas volto a dizer que é suficiente para a produção de textos em grupo como trabalhos escolares, pesquisas e dá até para editar dentro das temidas normas ABNT para trabalhos acadêmicos. O GDocs oferece também uma interface compatível com smartphones, mas não se fie nela. Se na tela do PC o GDocs já é simples pacas, imagine no smartphone.

Se você é um usuário primoroso, arrojado e afeiçoado aos recursos de edição, engula o Inglês e abrace o Zoho. Mas se o conteúdo dos seus arquivos é mais importante do que a forma e se o seu uso em textos, planilhas e apresentações de slides não vai muito além do arroz-com-feijão, o GDocs lhe será suficiente. De presente terá uma integração muito bacana entre os diversos serviços Google. Ou, se você estiver com o bolso abarrotado, seja cliente do Sr. William Gates-III. Quem sou eu pra lhe dizer que não o faça?