domingo, 25 de outubro de 2009

Peruadas, galinhadas & other things

Foto: Fabiano Cerchiari/UOL

Dia 16 passado, ao final da tarde, fui buscar minha cara companheira no trabalho para irmos para casa. Mal desci a rua Vergueiro - centro da capital paulista - e enfrentei um congestionamento digno horário de rush de véspera de feriado. No meio do trânsito eu soube que era uma manifestação de estudantes. Suspirei consolado. Afinal participei de tantas na minha remota juventude estudantil e os compreendia. Tratei apenas de achar caminhos alternativos. Só mais tarde tomei conhecimento de que tratava-se de uma tal "peruada" organizada por estudantes de Direito da USP do largo São Francisco.

No dia seguinte vi diversas fotos nos jornais online e um desânimo me abateu. Nada de faixas com palavras de ordem nem camisetas com slogans contra o governantes, reclames contra escassez de universidades públicas, reivindicações sociais, nada disso. Como pano de fundo - mais pretexto do que qualquer coisa - havia sim o que chamavam de "caráter político e humorístico do evento" sendo que o anti-homenageado, a princípio, era Sarney pelo seu nepotismo. Mas as imagens falam mais que palavras. Essas mostraram um trio elétrico com ninguém menos que a "cantora" Gretchen e uma banda comandando uma verdadeira festa para os dois milheiros de jovens que os seguiam. Muitos dos presentes estavam fantasiados de tudo o que se pode imaginar, dançando, empunhando latas de cerveja e, afinal de contas, curtindo mesmo uma animada micareta. Me custa acreditar que ao menos uma ínfima parte dos garotos ali tivesse intuitos politizados ou estivesse a fazer lá algo mais do que dançar, paquerar e beber ao som da "cantora" do hit Freak le boom boom.

Uma lembrança saudosa dos protestos da década de 80 que culminaram na campanha pelas eleições diretas e, pouco depois, nas Campanhas pela Constituinte, me acometeu. Foi no início de 1987 - logo após a posse dos parlamentares que escreveriam a nova Carta Magna do país - que voltamos às ruas para coletar milhões de assinaturas em toneladas de papel encaminhadas para Brasília, a fim de que na Nova Constituição fossem incluídas emendas populares por direitos civis e conseguíssemos garantir reivindicações trabalhistas, educacionais e mesmo as liberdades sociais pouco antes suprimidas. Foi um trabalho árduo, de sol a sol, que deixou nossas peles bronzeadas de tanto andar pelas ruas, montar banquinhas nas calçadas e abordar transeuntes para discutir a importância do que acontecia naquele momento. Mas valeu à pena, considerando alguns dos avanços que a Constituição Federal incorporou.

Nós os estudantes, ao lado do movimento sindical e alguns partidos de esquerda, naquele momento éramos a voz da consciência política para as massas. Precisávamos desalienar a população que ficara vinte e tantos anos à margem do processo político, intimidada e acuada pelos militares da linha-dura e seus lacaios. Éramos jovens que dividiam o tempo entre trabalho, estudo, diversão e militância, nem sempre nessa ordem. Curtíamos Legião Urbana, Cazuza e Titãs. Namorávamos, bebíamos, estudávamos, mas sobretudo sonhávamos com um país melhor e, suando nossas camisetas com slogans politizados, tentávamos por todos os meios realizar ações que tornassem o Brasil um lugar justo e equânime.

Talvez eu esteja me tornando apenas um tiozão desolado. Mas é triste ver que os estudantes secundaristas e universitários de hoje demonstram-se alienados de tudo o que acontece e sem nenhuma vontade de fazer algo que não seja "empurrar com a barriga" os seus cursos para tão somente para conseguir um trabalho bem assalariado. Quando não, cabulam aula para ir ao bar ou acompanhar algumas das baladas e micaretas propagandeadas na porta da universidade. Sei bem do que falo, pois na porta de onde estudo nunca vi uma panfletagem, que não fosse apenas sobre entretenimento.

Uma pena. Enquanto Gretchen "canta" no trio elétrico e mostra seus glúteos recauchutados para a turba estudantil de nossos dias, Renato Russo deve estar dando cambalhotas no túmulo. Terão meus herois morrido de overdose? Porque os meus inimigos, até onde sei, continuam lá onde sempre estiveram.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Notícias populares

Era um domingão à tarde. Eu havia abandonado as coisas que estavam por fazer e resolvi tirar uma soneca após o almoço. A invejável siesta, praticada religiosamente em alguns países como México, Espanha e Grécia. Povos sábios, eu diria.

A darling saíra pra ver a mãe levando a cria. Uma bênção. Deitei na minha deliciosa queen-size e coloquei o tapa-olhos, a fim de não ver os fios de claridade que entravam pela veneziana. Os carneirinhos começaram a saltar: um... dois... trêzzzz... Zzzz... O quarto ovino vinha na raia de atletismo em slow-motion ao som de Chariots of fire. Mas o telefone interrompe com aquele pipipipipi irritante. Tocou uma, duas, três... Não tive remédio senão levantar e atender com voz de poucos amigos:

- Alô.

- Oi meu filho - era a avó Xavier - você tá escutando os helicópteros?

- Hum, até estou. Mas tinha conseguido dormir apesar deles. Parecem longe.

- Mas já sabe o que é, né? - a voz da velha tinha um tom de que eu tinha que saber - por isso eu to ligando.

- Não, não sei.

A mulher assume um tom dramático de Datena e dá o fato:

- Roubaram um carro em um bairro próximo. Os ladrões fugiram e a polícia veio atrás. Então entraram em uma travessa do lado da universidade. Mas bateram no muro de uma casa e o carro pifou. Aí pularam o portão de uma casa e tomaram a família como reféns. A polícia está cercando o local. Um pandemônio! Liga na Record.

- Ahn, tá. Vou ver - minha pobre intenção era desligar o telefone e voltar a dormir -.

Mas a velha insiste:

- Ligou? Tá vendo?

- Não mãe, não liguei. Daqui a pouco eu ligo.

- Daqui a pouco coisa nenhuma. Liga agora! O repórter Schlebts tá fazendo a cobertura. Um horror. Ai meu Deus, olha isso!


- Entendi. Bom, eu vou ver lá então. Mas primeiro vou tirar minha soneca.

A dona esbraveja:

- COMO ASSIM??? VOCÊ NÃO QUER VER AGORA? VOCÊ NÃO FICA PREOCUPADO?

- Eu devia ficar?

- Mas você não tem medo?

- Medo do quê, mãe? Minha casa tá trancada. Se pularem o muro eu garanto que porta adentro eles não chegam. Não vivos, pois tenho meus meios pra isso.

- Não acredito que você não queira ver na TV. É aqui perto. Você não quer saber o que está acontecendo?

- Sinceramente? Não.

- Nossa, viu? Eu ligo aí pra dar a notícia e você nem se interessa. Olha, nunca mais te ligo pra dar notícas. Eu aqui preocupada e você nem se incomoda.

- Olha mãe, se for esse tipo de notícia, não precisa.

- Tá bom - o tom agora era de vitimização - nunca mais informo você. Puta merda, viu?

- Tá bom, mãe. Obrigado. Mas prometa.

- Tchau - se despede abrupta -.

Até o momento desta publicação ela realmente cumpriu o prometido. Doravante poderei tirar os meus cochilos dominicais pós-almoço. Sem notícia ruim. Ufa!

sábado, 10 de outubro de 2009

Não acredito. Mas que existe, existe.

Tem coisas nas quais eu não acredito nem a pau. Meu agnosticismo não permite.




E com a palavra final...

Pronto, está dito. E não se fala mais nisso.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Personal Mobility Device

Que obras na Marginal Tietê, que nada. Nada de investir bilhões em vias férreas e transporte de massa. Já que a linha do Capitalismo vai sempre focar o individual, o jeito é substituírem todos os veículos por esse genial dispositivo que está sendo gestado pela Honda: o U3-X, o mais novo e revolucionário dispositivo pessoal para transporte.

Os donos dos estacionamentos já estão se preparando para mudar de ramo.



O único problema ainda não resolvido pelo fabricante é com relação aos dias chuvosos. Aí danou-se.