sábado, 4 de dezembro de 2010

SESC BELENZINHO: Acessibilidade social e ao deficiente

Para quem é da classe proletária, aprecia opções de lazer, cuidados com a saúde e cultura a preços simbólicos (ou grátis) e ainda mora na Zona Leste de Sampa - eu me enquadro em todas essas categorias -, a inauguração do SESC Belenzinho ocorrida hoje é uma notícia excelente.

Situado próximo da estação Belém do Metrô essa nova unidade do SESC mantém o atendimento ótimo que o caracteriza, mas também surpreende a cada passo pela evolução nas instalações. Se você quiser saber o que há nessa unidade, CLIQUE AQUI.

Entretanto, o que faço questão de ressaltar é a crescente atenção para com os deficientes. Comento aqui a questão dos deficientes visuais. Além da acessibilidade e legendas em código braille em quase todas as dependências, destaco aqui a biblioteca. É nela que as pessoas BV e as sem nenhuma visão encontrarão não só livros transcritos como essas lindas engenhocas abaixo:

Este é um equipamento ampliador. Pessoas com baixa visão conseguem aumentar a imagem e percorrer páginas de jornais, livros e revistas até proporções enormes, mediante um conjunto de controles com legendas tácteis, em alto relevo. Veja na foto que brinquedão espetacular! É fundamental para que pessoas com baixa acuracidade visual e que são alfabetizadas possam ler páginas em tinta, com o mesmo conforto que os videntes em geral.





Esse outro é mais arrojado. Não sei o nome mas até onde fucei constatei que é um scanner que faz dupla transliteração. Ele reconhece a escrita em tinta por tecnologia OCR e comunica o texto, tanto com um sintetizador de voz como em código braille, mediante um "monitor táctil" de uma linha, com pontos móveis. Esse monitor possibilita ao cego alfabetizado ler o texto em pontos braille. Sei que posso estar exigindo muito mas, conversando com uma funcionária, citei o fato de haver uma impressora braille no SESC Santana, sugerindo a ela que requisitasse uma, já que a instituição demonstra atitude inclusiva.


De qualquer maneira, só por esses dois itens que vi eu concedo ao SESC Belenzinho a honraria do "Certificado Xavier de Qualidade em Acessibilidade". Um belo exemplo para muitos outros estabelecimentos, inclusive para universidades, viu senhores reitores?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Living without you - versão 2010

Oi senhor William! Sou eu de novo, lembra? Estou aqui para dizer que acabei de comprar um netbook da Acer. Pois é, da mesma marca de sempre. É que o custo-benefício faz deste um bom aparelho. Pode ser que, se eu tivesse mais grana, comprasse um Vaio, ou quem sabe um HP. Mas isso não vem ao caso. A Acer resolve bem as minhas necessidades e cobra pouco.

O que eu quero dizer pro senhor é que, como já era de se esperar, neste equipamento o sistema da sua empresa nem passou perto. Como ele veio sem sistema operacional fui direto instalando nele o Ubuntu 10.04. Rapaz, é show! A cada nova versão que instalo, fico mais surpreso com a compatibilidade e, sobretudo, a simplicidade para instalar. Afinal não sou técnico. Talvez eu seja só um pouco mais que um fuçador. Mas estou supersatisfeito. Tudo foi reconhecido de primeira sem que eu fizesse nenhuma intervenção: áudio, vídeo, teclas de funções especiais, touchpad, enfim um arraso!

Sinceramente, seu William, se o pessoal da sua empresa experimentar o Ubuntu 10.x, que além de ser ótimo é gratuito, creio que o senhor precisará muito mais do que bons cargos e salários para manter a fidelidade deles. Muitos, talvez, tornem-se técnicos autônomos e juntem-se ao projeto daquele doido do Linus Torvalds. Ou montem empresas para construir aplicativos para Linux.

Dos seus clientes, seu Gates, melhor nem falar que pode dar azar! Sei não. Se cuida, viu? Melhor o senhor ir lá ajudar as crianças pobres. Um abração pro senhor e pra família!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

DE ONDE VOCÊ VÊ O MUNDO?

Se esta última eleição teve um palco novo este terá sido a internet. Na proporção em que ocorreram manifestações, em prol e contra candidatos, foi perceptível que as redes sociais tornaram-se veículos massivos e massificantes. Elas foram largamente utilizadas, tanto pelos quartéis dos candidatos quanto pelos eleitores. As tags #Dilma e #Serra inundaram os posts do microblog Twitter, o que não deixa de ser um bom sinal.

Mas essa espontaneidade e participação, independente dos candidatos em questão, careceu de uma certa concretude. Observando os posts viam-se pessoas aguerridas no teclado mas que, sabidamente, só terão conhecido na vida esse tipo de participação. Atribuo a culpa ao atual processo eleitoral, marcado pela alienação. As eleições eletrônicas, do modo como são feitas hoje, tiraram do cidadão o direito mais amplo e legítimo de manifestar sua indignação. Limitou o descontentamento aos estéreis votos branco, nulo e à abstenção. Quem quer tenha participado da apuração das saudosas cédulas de papel, constatou que o eleitor podia substituir seu voto por impropérios de toda sorte: contra o Governo, contra candidatos e contra o que bem entendesse. Era coisa corriqueira, em uma época em que o anonimato da cédula garantia que o manifestante não sofreria retaliação.

Por trás do avanço tecnológico, a higienização eleitoral também teve outras medidas que tiraram o debate das ruas. Um exemplo foi a proibição da boca-de-urna. A pretexto inclusive da sujeira de papel que fazia - e isso lá é verdade! - uma aguerrida militância foi subtraída das ruas nos dias de eleição. A boca-de-urna tradicionalmente era dividida em dois grupos: de um lado militantes voluntários, que geralmente participavam de organizações de oposição ao regime; de outro os cabos eleitorais pagos, movidos pela necessidade de levar um dinheiro extra para casa. Era uma tremenda oportunidade de dialogar com o eleitor e até mesmo de cooptar pessoas politicamente. Saudável mesmo que às vezes algum tipo de confusão mais acalorada ocorresse. Em dia de eleição não era raro ver, após o horário de almoço, boqueiros pagos abandonarem seus postos em prol de candidatos em que acreditavam, trocando de panfleto a distribuir, a despeito e para desespero dos seus coordenadores, também pagos.

É diferente olhar o mundo do terreno onde as coisas acontecem, construindo uma leitura de mundo própria. Participar de comissões de fábrica, grupos de moradores, movimentos de reivindicação, sindicatos, comunidades de base e diretórios de partidos políticos propicia uma percepção diferente da sociedade e da política, distinta daquela de quem fica plantado diante da TV e do computador. Através das mídias de massas bebe-se de opinião alheia, tomando ideias de outrem para si. Nesta última perspectiva, o que vi na internet foram pessoas defendendo um e outro candidato tendo obtido suas opções do mesmo modo como se vai ao supermercado e escolhe entre o sabão A ou B. Isso não constroi consciências. Antes habitua a mente ao preguiçoso processo da repetição daquilo que é pasteurizado por máquinas de terceiros, como o copiar e colar, largamente utilizado na internet. 

A alienação política de hoje se dá em uma dinâmica na qual o eleitor é chamado apenas a referendar o que um reduzido número de protagonistas determina. Lamento dizer, mas não tem sentido nem valor em si se alguémpensa estar participando de algo, quando está apenas passando procuração. Se você quiser tomar parte, vá a um movimento social ver o que ocorre; auxilie um serviço assistencial e aprenda quais são as suas dificuldades estruturais; experimente visitar um acampamento de pessoas sem moradia ou então acompanhar um movimento de greve por melhores condições de trabalho e salário. Você vai perceber rapidamente que na política não há anjos puros nem demônios absolutos, de nenhum dos lados. Mas também perceberá por quais opções políticas a população organizada pode avançar, em prol de melhores condições de vida, sobretudo para aqueles que mais necessitam, e também quais caminhos propiciam mais justiça social e distribuição de renda. 

Fora do terreno concreto o que há são “telespectadores sociais”, outros tantos acovardados a proteger o que pensam ser privilégios e muitos compradores de sabão eleitoral. A vida é feita de escolhas, que por sua vez, mudam a forma como se vê a vida: uma eterna dialética.

domingo, 31 de outubro de 2010

O tempo que se chama hoje

Imagens falam mais que as palavras. Cai a ditadura assassina e vendilhona, apodrecida e decrépita: nasce um novo tempo.




É com muito orgulho que digo que estive lá.

Aperte o play sem medo: som na caixa, DJ!

domingo, 24 de outubro de 2010

Missionários da Torre de Vigia

Sábado, dez e meia da madrugada. O tio ia saindo com a cria para ir ao colégio onde somos voluntários na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Eu já estava destrancando a porta quando a campainha tocou. A propósito eu odeio campainha, sabem? Em mais de uma residência eu cheguei a adaptar um botão para desabilitar a campainha. Que saco! Se você for à minha casa, suponho que telefonará previamente e combinará, certo? Assim estarei esperando. Então para que serve campainha? Para chatos, pedintes e toda sorte de pessoas que não deviam estar consumindo recursos naturais tocarem e torrar minha paciência. Mas voltemos aos visitantes matinais do sábado.

Eram testemunhas de Jeová. Mais chato do que receber a estes na porta, só mesmo vendedores de carnê do Sílvio Santos. Uma jovem, de aparentes vinte e poucos anos (e 140Kg) acompanhada de seu pai. Este um tiozinho com cara de boa gente, mais um pobre bebê no carrinho, com menos de 1 ano a acompanhar a árdua missão de pentelh..., digo, transformar o mundo em testemunhas do tal Jeová. Abri a porta rápido, já fazendo questão de demonstrar a pressa de sair. Essa é uma técnica razoável de dizer "cacete, que saco, vocês aqui?". E já começou a funcionar, pois o simpático pai da hipop... - melhor dizendo, jovem - disse algo que demonstrou sua aguçada percepção. Eis a moça:

- Bom dia senhor, vou ser rápida. Não é sobre religião. É só um folheto sobre a Bíblia, o senhor aceita?

- Aceitar aceito, mas a Bíblia não trata de assunto religioso?

- Bem... ahn... bom... Não é de uma religião específica: é de todas.

- Todas? Espera aí. A Bíblia é dos judeus e dos cristãos, que são religiões específicas, certo? 

- Não moço! Todas as religiões seguem a Bíblia.

- Nananana... alto lá! Eu estive com um cliente nessa semana e ele me deu um livro chamado Bhagavad Gita. E ele me disse que são as escrituras dos hindus me garantindo que não segue a Bíblia de vocês.

- Ah é? - olhando para o pai a pedir socorro - Eu não sabia. 

- Então é bom saber. E tenho um amigo que é muçulmano. Ele me mostrou "um tal" de Alcorão. Achei bacana também. Ele disse que segue o Alcorão.

- Ah, moço, não sei não. Mas a Bíblia é um livro sagrado, né?

- Eles me disseram o mesmo. O que me deu o Bhagavad Gita pediu que eu tratasse o livro com carinho e respeito, porque eles consideram escritos sagrados. Aliás, o amigo do Alcorão nem deixou eu tocar o livro. Do que presumo que há vários livros considerados sagrados pela humanidade.


A moça, mais perdida do que cachorro em dia de mudança, olhou para o pai, olhou pra mim e esticou o folheto:

- O senhor aceita este folheto?

- Claro. Obrigado.

Eu já ia abrindo o portão para tirar o carro e os dois se despediram desejando-me um bom passeio. Era o que restava, depois de perceberem que precisavam voltar às lições da escolinha das testemunhas. 

Eu sidivirtu. Nada como a boa e velha maiêutica para dar conta desses chatos.

sábado, 18 de setembro de 2010

Notícias de última hora

A redação do Sem Sentido presta um serviço a você, que não tem tempo de ler longas reportagens. Aí vai um clipping das principais chamadas e comentários exclusivos do tio.


DIRETO DO ESTADÃO

Ibope: Mesmo com crise, Dilma mantém 51%; Serra tem 25%
"Mesmo com crise", nesse caso, se refere a quem? Com 25% das preferências...

Comissão de Ética só agora pune Erenice por esconder parentes
Como punição, ela terá agora que conviver com eles.

Mineiros presos em jazida registram entrada de perfuradora
Buttman e Brasileirinhas disputam os direitos da filmagem.

Goleiro Bruno teria tentado se matar 'várias vezes' na prisão, diz Macarrão
Ele jamais conseguirá se matar "várias vezes". Se conseguir, será uma só.

OAB-SP pede retirada de obra polêmica da Bienal
Nos desenhos, o autor aparece assassinando FHC e Lula. Advogados acham que os presidentes são feios demais e assustam visitantes.


DIRETO DA FOLHA

Marta e Netinho continuam na liderança pelo Senado em SP
O destino prega peças: a Oscar Freire e a Cohab de Carapicuíba juntinhos.

Nasa apresenta mapa completo de crateras lunares
Isso é fácil. Quero ver eles documentarem as crateras das ruas paulistanas.

Mineiros presos no Chile ajudarão em seu próprio resgate
Uau! Quando tudo indicava que eles nem estivessem interessados no assunto.

Ban Ki-moon aposta em ajuda inteligente para erradicar pobreza
Inteligência pra quê? Pobreza se erradica com trabalho remunerado, comida e moradia.

Yom Kippur deixa ruas de Israel vazias em dia sagrado para o judaísmo
Judeus estão com medo de encontrar seus devedores, justo no dia do perdão.

Sri Lanka reduz a 25 número de mortos em explosão acidental
Expectativa é de que até o fim das apurações não haja mais nenhum morto.

Bento XVI admite "vergonha e a humilhação" em relação às vítimas de padres pedófilos
Padres pedófilos teriam reclamado que as vítimas xingam quando os vêem nas ruas.

Kevin Costner fará show com sua banda no interior de São Paulo em novembro
Espero sinceramente que seja a 500Km da capital.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Apelo ao público

Eu preciso disso. Doravante não me será mais possível viver sem isso. Não sei como o mundo funcionou antes sem isso e não imagino mais como hei de continuar a carregar toneladas de livros e apostilas na mochila, prejudicando minha velha coluna vertebral, já que inventaram isso.

Por favor, a quem possa interessar ganhar pontos no céu com o God: Compre um exemplar e presenteie o Tio Xavier. Está sendo vendido na Amazon.com. Saiba que o Senhor não te abandonará nunca.

Obrigado desde já à alma caridosa que o fizer.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sem memória, sem história



Dia desses uma amiga muito querida me telefonou. Dizia estar na sacada externa da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, situada ao lado da praça da Sé, em São Paulo. Lembrou-me das tantas vezes em que nós, nas sacadas internas, confidenciávamos nossas angústias, descobertas e reflexões. Éramos jovens e sonhadores estudantes da faculdade Nossa Senhora da Assunção - ligada à atual UNIFAI - cujo curso noturno, bacharelado em Filosofia e Teologia, funcionava nas salas anexas cedidas.

Naquele tempo saltava-nos aos olhos o requinte do estilo daquela igreja. Construção estilosa, algo entre o barroco e o arcaico, a obra é do séc. XVIII e guarda verdadeiros tesouros históricos. Entre eles uma cripta subterrânea, onde eram sepultados membros notáveis da ordem. Lamentavelmente, entre outras desgraças, no meio do século passado o espaço foi invadido por ladrões, que saquearam os túmulos. Deixaram as ossadas em tal anarquia, de sorte que aquelas que não foram reclamadas por descendentes e herdeiros, foram amontoadas pela zeladoria em uma urna comum, ao centro da cripta. História violada, espalhada e, pior: abandonada por alguns que não foram lá dar conta dos próprios ascendentes. 

De volta ao templo, um enorme afresco se insinuava no teto côncavo, preciosidade esta que foi revelada durante uma das restaurações. E pensar que aquelas estátuas, a linguagem subliminar dos contornos, o próprio piso e, por fim, o afresco no teto haviam sido para gerações uma fonte de mensagens, quase como o que é hoje o cinema. Nesse tipo de arte, nada era fruto do acaso, mas tinha objetivo de transmitir mensagens, com formas e cores meticulosamente pensadas. 

Contudo, essas lembranças que eu trouxe aqui são recheadas de tristeza. Minha amiga, naquele telefonema, me disse que tudo estava novamente despencando. Madeiras carcomidas por cupins, rachaduras e infiltrações por toda parte, de tal modo que o prédio encontrava-se mais uma vez interditado, como fora por tantas vezes. Na narrativa da amiga professora, a relíquia arquitetônica e cultural tombada pelo Estado parecia pedir socorro, em nome de sua própria história, em nome da história dos escravos que a erigiram, em nome da história de cada um que por lá passou, inclusive a dela e a minha. Meus olhos se encheram de lágrimas, inclusive agora quando escrevo isto. Mas o ser humano, entorpecido pelas maravilhas consumíveis do mundo moderno, pouca importância dá à História. E, ao ignorarmos esta, seguimos cambaleantes para lugares e tempos que ninguém sabe onde e como serão. 

Pobre povo que não preserva sua história. Sem passado, vive sem identidade e sem identidade tem futuro incerto.



A Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo foi tombada pelo IPHAN, em 04/12/92.

sábado, 14 de agosto de 2010

Pandora (não é o filme)

A indústria da Informática é proficiente na criação, produção em escala e no esforço por entupir nossas casas de apetrechos eletrônicos "essenciais". O problema residual é que esses lançamentos vão esvaziando nossos bolsos e enchendo os abarrotados lixões de mimos descartados, por sua planejada obsolescência.

Pensando nas questões educacionais, que hoje passam pela disseminação das tecnologias da informação e comunicação (TICs), vira e mexe eu procuro saber de projetos e lançamentos a respeito de computadores populares. Não que a informática vá resolver a educação, longe disso. Mas defendo com unhas e dentes que não é mais possível praticar a educação sem utilizar também o suporte digital. E tenho dito!

Pois vejam o brinquedinho que encontrei esses dias. O Pandora parece um híbrido (adjetivo carinhoso para Frankestein), composto de carroceria de Nintendo DS, turbinada com teclado qwerty de 43 teclas, alguns parcos recursos de netbook, rodando uma versão enxuta (mas gráfica!) do sistema operacional Linux. Mas tem Wi-Fi®, navegador web, Bluetooth® e USB. Gostchei!

Já pensou isso na sala de aula usando o Google Docs?

O último status do projeto, em maio deste ano, era de que o envio aos clientes das primeiras unidades produzidas já teria iniciado. No site, os empreendedores avisam claramente que o pagamento é antecipado, obviamente porque nenhum capitalista os está patrocinando. Já entrei em contato com a rapaziada aí ao lado e estou aguardando informações. Quem sabe não será o sonhado computador de U$100 para colocarmos nas mãos dos alunos?

Para saber mais: http://www.openpandora.org/ (em Inglês)

sábado, 24 de julho de 2010

Não se culpe mais

Todo mundo que dirige, alguma vez já vez uma barbeiragem: ralou o carro no muro de casa, na garagem do prédio, no portão, em outro carro e até coisas mais graves. Enfim é para isso que o carro tem lata e as montadoras aperfeiçoam os itens de sobrevivência. E tem um lado social: os pintores e restauradores não perdem seus empregos.

Para você não ficar aí se culpando e se martirizando por esses pequenos danos, inerentes à responsabilidade de dirigir, veja o que essa pessoa conseguiu fazer no vilarejo de Liguria, norte da Itália:

Esclareço, para efeito estatístico, que foi uma mulher de 34 anos.

sábado, 3 de julho de 2010

Agora que a copa acabou...

Pessoal, a selecinha perdeu, o Dunga e seus anões estão cantando "eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou" só que eles estão com as contas pagas e a barriga cheia. Apenas ganharão um pouco menos de milhares de dólares. Até Das Kapital está defecando para os canarinhos, os bacalhauzinhos ou os negrões de Gana. Patrocinadores bilionários hão de achar outros filões para exporem suas marcas e os tontos saírem correndo a comprar seus produtos caríssimos, só porque são "renomados" (pelos seus próprios donos, claro). Há um mundo bem melhor, eu sempre digo.

Porém, enquanto isso, aqui mesmo em Pindorama, nossos irmãos estão escavando lamaçais em ruínas de armazéns à procura de qualquer alimento ou água engarrafada que seja possível salvar da sujeira, da tifo e da leptospirose, sabe pessoal? Seres humanos que até há poucas semanas tinham casa, fogão e cama para dormir estão no relento, sem teto, sem proteção e sem higiene alguma.
Vamos manter (ou recolocar) as bandeiras brasileiras nos carros, mas desta vez para levar alimentos, roupas, remédios e produtos de higiene nos postos de arrecadação? Vamos lá, gente! Essa o Brasil pode ganhar fácil.




A esperança deles geralmente morre por último: pobre povo.

EM TEMPO: CONVERSANDO COM A DEFESA CIVIL HOJE (03/07) RECEBI A RECOMENDAÇÃO DE QUE SEJAM DOADOS ALIMENTOS DURÁVEIS E CONSUMÍVEIS DE IMEDIATO (ENLATADOS, BISCOITOS), MATERIAIS DE HIGIENE BÁSICOS (SABONETES, CREME DENTAL e ESCOVAS, PAPEL HIGIÊNICO, FRALDAS DESCARTÁVEIS) E PROFILÁTICOS DE USO EXTERNO (CURATIVOS, MERTHIOLATE, ÁGUA OXIGENADA, ALGODÃO).

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Eu quero um

Esse é mais um mimo da minha lista de coisas essenciais e vitais, das quais eu não sabia a existência até há poucos segundos. Eu quero, eu preciso, eu não posso viver sem um.

Com vocês, senhoras e senhores, o CARRO-AVIÃO. Em 30 segundos o bólido abre as asas e o motorista pode ganhar os céus. E o mais legal: lá em cima não tem radar fotográfico da CET.

Esses americanos...

Foto: Terrafugia / Último Segundo - IG
Só não dá pra bobear com o combustível, ok?

domingo, 27 de junho de 2010

No terreiro da concorrência

Poucas coisas atestam tanta incompetência e falta de criatividade quanto copiar estratégias de outrem sem questioná-las. Já faz tempo que parte dos membros da Igreja Católica demonstram estar sem rumo e perplexos diante do esvaziamento de algumas atividades, enquanto "as concorrentes" abrem filiais imensas, quase que por semana.

Após o sufocamento do movimento da Teologia da Libertação há duas décadas, movimento este que propunha uma prática de fé mais politizada e engajada na transformação social, o que ocorreu foi o reflorescimento de movimentos direitistas, incluindo até um tal de Arautos do Evangelho, sabidamente viúvas da TFP de Plínio Correia de Oliveira, o suprassumo do facismo cristianizado no Brasil. Sem falar que outros, dos quais nem ouvíamos notícias mais, como a Opus Dei mas, gradualmente, vão dando os ares na base de fiéis.

Em rota distinta, porém mantendo crescimento, vê-se a Renovação Carismática Católica (RCC), movimento neopentecostalista que hoje comanda um pequeno império de comunicação, do qual o empreendimento "Rede Canção Nova" aglutina emissoras de TV, concessões de rádio e um sem-número de editoras e publicações. A RCC, se não conta com a simpatia extrema do Cardeal Ratzinger, atual papa, também não é execrada por este, parte pelo poder econômico e político que ela possui no meio católico e, por outro lado porque não é tão questionadora das estruturas hierárquicas, como foi a Teologia da Libertação.

Quem sabe esse assunto nem seja mais da minha conta, posto que deixei de ser católico há tempos. Mas me entristece ver que seres humanos de boa vontade e índole valiosa podem estar sendo orientados por gente que não tem nada a dizer e, em última análise, almejam somente a preservação de seu status. Deve ser a respeito desses que Jesus teria falado sobre os guias cegos.


O mais bizarro de tudo isso é a penetração que a linguagem neopentecostalista da RCC tem realizado entre os católicos. O cartaz ao lado parece ter sido arrancado de alguma porta da Igreja Universal de Edir Macedo. Mas eu fotografei na porta de uma paróquia católica na capital paulista. Se a seita de Edir Macedo chega aos limites do grotesco pelos descarregos, desobsessões, sessões e campanhas diárias contra os demônios, a respeito dos quais alegam quase a onipresença, pior ainda é quando a falta de linha pastoral faz com que comunidades religiosas sérias copiem esse tipo de marketing religioso embusteiro e paupérrimo. Podiam ao menos estudar um pouco de Teologia e mesmo de História para tentar fazer obras mais embasadas e, quem sabe até, menos ridículas.

Que me desculpem aqueles que se sentirem ofendidos pelo exposto. Não é minha intenção a ofensa jamais. Mas a Igreja Católica é um meio social onde tenho muitos amigos e pessoas estimadas que, porém, estão sendo conduzidas ao abismo da alienação por guias cegos. Contra fotos não há argumentos, parafraseio sem medo...

sábado, 19 de junho de 2010

Sala 304

Ontem foi uma noite singular nos meus três anos mais recentes. Foi o último dia de comparecimento em minha graduação em Pedagogia. Foi uma dádiva da darling que, tendo acesso a duas bolsas de graduação, adiantou-se em ceder uma para mim e outra para meu sorrateiro e sábio enteado. Podendo escolher qualquer curso da universidade, exceto Medicina (para a qual não tenho a menor vocação), optei pela Pedagogia. Em parte, devido a um voluntariado na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na qual eu militava pouco antes, e para o qual senti que devia me capacitar melhor. Mas o curso acabou me reavivando das cinzas a fênix de um projeto antigo, do qual eu me esquivara há duas décadas, que era uma possível carreira acadêmica. Agora, picado novamente pelo mosquito do estudo, tratarei de me matricular no lato sensu para o próximo semestre, aproveitando o movimento inercial. Concluo meu curso satisfeito. Se não fiz mais nele foi por absoluta impossibilidade, já que meus papéis sociais somados me exigem um desdobramento inimaginável. Mas fiz sim o meu melhor que, sem falsa modéstia, foi melhor em absoluto do que a maioria dos meus contemporâneos de lá.

Embora eu cursasse sem pagar mensalidades, a empreitada me custou muito alto: tanto em dinheiro direto - mensalidade é apenas parte dos gastos em um curso universitário - quanto em capital pessoal. Do alto dos meus quarenta e tantos anos tenho a percepção de que o tempo é nosso bem mais escasso e que nossa dedicação a algo nos consome esse tempo que nunca mais recuperamos. Por isso nunca consegui disfarçar minha irritação em todas as vezes nas quais foi dificultoso o simples ato de ouvir a fala de um professor (cerca de 90% do tempo), dado o desinteresse e desrespeito coletivo das moçoilas da turma a tagarelar, de modo estridente, sobre qualquer assunto alheio à aula. Continua incompreensível para mim que pessoas saiam de suas casas ou trabalhos, enfrentem congestionamentos ou conduções lotadas, submetam seus estômagos à junk food dos arredores e subtraiam preciosas horas do convívio familiar ou do lazer, para passar de qualquer maneira por um curso universitário.

Penso que um curso superior, ainda mais em educação, seja algo tão importante quanto incompatível com comportamentos desrespeitosos dentro de uma sala de aula, que foi o que mais presenciei. Tendo frequentado outrora dois outros cursos superiores, foi neste último que encontrei as posturas mais inadequadas, considerando que as pessoas que lá se graduaram foram licenciadas para o ensino. Sem falar em plágio, trabalhos comprados ou tomados de terceiros e toda sorte de subterfúgios apenas para não fazer o mais razoável, que seria estudar e se capacitar. Perdoe-me a minoria que de fato tenha levado a sério. Mas cabe ressaltar que é minoria mesmo, não passando muito de um décimo da turma. Surpreendeu-se? Eu não mais.

Voltando a ontem, na última sala ocupada pela turma - a de nº 304 do prédio - havia festinha com comes, bebes e uma alegria incontida. As moças e jovens senhoras concluintes fantasiaram-se, tocaram cornetas e apitos corredor afora e tiraram centenas de fotos que já devem estar nos perfis do Orkut. Mostravam em suas faces uma sensação de alívio invejável. Pena que esse alívio não tenha sido uma explosão de realização por um trabalho dedicado e extenuante. No fundo foi alívio por ter acesso a um diploma e não ter mais que ir àquelas “porcarias de aulas”, não ter mais que fazer as “porcarias de trabalhos”, não ter mais que ler as “porcarias de textos” e, enfim, não ter mais que fazer o mínimo paupérrimo que a maioria delas fez, apenas para obter conceitos mínimos para aprovação e um mero pedaço de papel. Infelizmente este papel teoricamente as credencia a pleitear um cargo de... professora! Mas o que terá para ensinar alguém que não tem prazer em aprender? Como poderão ensinar a estudar, sendo isto algo que pouco ou mal fizeram? O que terão para dizer às crianças, adolescentes e jovens, sobre o bem intrínseco do conhecimento, pessoas que não o descobriram ou até rejeitam-no?

Essas são as professoras que poderão estar em escolas públicas e particulares fingindo educar. Volto a dizer que essa minha observação não se aplica à totalidade dos que lá estiveram, posto haver meia dúzia contada de colegas que realmente se dedicaram, buscando se tornar pessoas melhores. Mas em uma sala com quase sessenta alunos... e o “resto”? Bem, o “resto”, meus caros três ou quatro leitores, perpetuará a geração média, mediana e medíocre que está aí. Tanto as que conseguirem vagas como “professorinhas” - ou então “tias” - como aquelas que pendurarão os diplomas em cima dos seus fogões domésticos ou nas baias de seus subempregos, apenas para engordar as estatísticas de diplomados incapazes do que consta em seus diplomas. Uma pena...

Foi por tudo isso a minha falta de sorriso, fuga das máquinas fotográficas e minha visível recusa em participar da animada festa. De pouquíssimos de lá levarei boas recordações. São Paulo Freire rogai por nós!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A modinha do correto transcendeu-se

Acreditem: copiei isso do site de uma empresa.

Não bastavam as chatices dos Politicamente Corretos e as farsas dos Ecologicamente Corretos. Agora com vocês, senhoras e senhores... os Espiritualmente Corretos.

Este último selo quem é que ratifica? Yahweh? Budha? Alah? Jesus? Khrishna? O Dalai-Lama? O papa Bentão? Ou os babalorixás da Bahia?

Fala sério!

sábado, 5 de junho de 2010

Chega de desculpas

Créditos da foto: Profª Eloísa Meneses / Editora Plus

Há poucos dias o Governo definiu uma nova redução de orçamento, sendo que o Ministério da Educação foi o mais afetado: R$ 1,28 bilhão a menos em 2010. Essa questão do corte de gastos sociais já é antiga. Está na linha de destruição do "Estado do Bem-Estar Social" (Welfaire State - WS). O WS foi, no século passado, motor político e econômico internacional para tirar o Capitalismo da crise de 29 e, sobretudo, fomentar a mão-de-obra fabril da indústria crescente. A política do WS durou até meados dos anos 70, cujo reflexo aqui no Brasil foi o chamado "milagre econômico". Daí para diante o que vemos cá e lá é a paulatina destruição do WS. Então, meus caros, não se espantem. Para aumentar os lucros dos bancos e dos grandes conglomerados tudo vale: redução de salários, subtração de garantias trabalhistas e sucateamento dos serviços públicos. O processo de ataque inclui também o encolhimento destes ainda que, paradoxalmente, mantenha-se o inchamento de algumas máquinas estatais, claro que por apadrinhados da burguesia dirigente.

Sem ligar para isso tudo, a professora de Língua Portuguesa Eloísa Meneses, da periferia pobre de Porto Alegre (RS), cansou-se de ver o reflexo da violência local invadir a sala de aula sob a forma de indisciplina, ofensas, brigas e bullying. O cenário onde trabalha reflete o fim do WS: lousa velha e ruim, carteiras idem, tudo dentro de uma escola pública com instalações que remetem ao século passado, e ainda deteriorada pelo tempo de uso. Quem sabe ótimos pretextos para um professor pensar que não há nada a fazer.

Mas a professora Eloísa apostou no inusitado: convocou seus alunos para escrever um livro. Colocar suas identidades em algo que pudessem produzir refletindo sobre si mesmos. Pensando na diminuição da violência escolar concluiu que podia ensinar os alunos a usar a voz, a escrita e os sentidos para fazer algo de bom. Assim que tomou conhecimento do projeto Faça um E-book na Escola da Editora Plus, inscreveu a turma e organizou os alunos para a empreitada. Montou com sua turma uma coletânea de textos, desenhos e fotos dentro de um trabalho cooperativo, no qual as crianças colocaram em prática o ato de refletir e realizar, coisas que deveriam ser comuns em qualquer escola. O resultado, além do resgate do ambiente escolar, foi o livro Brincando Com Os Sentidos e pode ser baixado gratuitamente. Leia AQUI os detalhes da obra. Os incrédulos que me desculpem, mas a práxis educativa refletida pelo professor é capaz de remover montanhas.

Saiba a professora Eloísa ou não (tenho quase certeza que sabe), foi Paulo Freire quem sistematizou as premissas desse tipo de trabalho, no qual ninguém ensina a ninguém mas todos se auxiliam na reflexão e elaboração do conhecimento. Não é sonho: é prática educativa pensada, planejada e com objetivos. Quando o educando, em qualquer nível educacional, se torna protagonista do ato de aprender, coloca em movimento o que é mais peculiar na aprendizagem: a reflexão. Não dá mais para conceber, ainda mais hoje com tantas fontes de informação, que um professor se poste diante de uma turma e discurse ininterrupta e enfadonhamente. O trabalho educativo implica em pensar novas práticas que envolvam a TODOS na elaboração de conhecimentos. O professor passa a ser aquele que desafia os alunos a fazer e estes, construindo seus próprio conhecimentos, passam à construção de si mesmos como cidadãos conscientes. Agora chegou no ponto onde eu queria chegar...

A professora Eloísa pode nem ter intenções tão politizadas mas, ao voltar o olhar dos alunos para si mesmos, lança as bases para uma educação política. Educar não é senão um ato político, onde não há vez para neutralidade, como o próprio Freire nos esclareceu. Somente pessoas pensantes e conscientes são capazes de entender os mecanismos macabros e egoístas que movem a politicagem da camarilha que subtrai as verbas da educação e dos demais serviços públicos. O bom trabalho educacional implica TAMBÉM em desmascarar os que exploram, os que roubam do bem público, os que ludibriam o eleitor, os que favorecem aos bancos e conglomerados capitalistas em detrimento dos trabalhadores. A propósito, depois desse belo exemplo dessa professora Eloísa, o Governo Federal bem que podia diminuir alguns reais do corte nos gastos e enviar uns computadores para a Escola Estadual Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, onde ela leciona, não é mesmo senhores Lula e Guido Mantega? Enquanto isso não ocorre, vamos lá professor e professora, mãos à obra! Botem suas crianças para trabalhar de verdade. Mas aproveitem para mostrar a eles quem são esses senhores que estão na política.

sábado, 29 de maio de 2010

Marcha pela maconha, Evo e os cocaleros

As passeatas recém-realizadas para pleitear a liberação da maconha chamam à pauta um velho assunto, talvez mais antigo do que a própria civilização. De fato é preciso discutir na sociedade a questão dos aluncinógenos e entorpecentes, mas com profundidade, sem simplificações ou generalizações infundadas.

As primeiras formações sociais, clãs e tribos, já utilizavam alucinógenos retirados da natureza, sobretudo para rituais espiritualistas e alívio de dores. No Oriente Médio e na China, por exemplo, a papoula é um cultivo comum de alguns grupos, chegando a ser sua principal fonte econômica. É dela que se extrai, entre outras coisas, o ópio. Entre os indígenas sulamericanos, diversas tribos utilizam o ayahuaska há centenas de gerações, a título de alcançar o êxtase mental e, por suposto, comunicar-se com entidades espirituais. A coca, por sua vez, é um vegetal considerado sagrado desde os Incas, a ponto de denominarem-na K'ócah, sinônimo de "sagrado". Sua utilização remonta à cultura de períodos bem anteriores, sendo sua folha utilizada em chás com efeito analgésico, anestésico e de combate à náusea. No Peru é comum e habitual qualquer hotel ter folhas de coca na recepção, à disposição dos visitantes. Elas são mascadas e minimizam nos visitantes o mal-estar causado pelo estranhamento da baixa pressão atmosférica e baixos índices de oxigênio.

O curioso e semelhante a todos esses vegetais - alucinógenos, entorpecentes ou apenas terapêuticos nos seus contextos de origem - é que o isolamento e potencialização de suas piores propriedades ocorre justamente fora do seu âmbito original. É por volta do século XVII e XVIII na Europa que a maioria dessas plantas torna-se objeto de produção do que se pode chamar de "drogas", no sentido mais amplo da palavra. Não é preciso ser sociólogo para observar que é no capitalismo que a droga vira mercadoria, se multiplica e passa a ser produzida em escala, se tornando um dos grandes problemas do presente. Para ficar em um único exemplo, a coca, natural e sagrada há milênios para os indígenas sulamericanos, vai se transformar na potente cocaína somente nos idos do século XIX pelas mãos de dois alemães - Albert Neiman e Friedrich Gaedecke - e do italiano Paolo Manteguzza. Nas mãos dos europeus e dentro do ambiente capitalista substâncias psicotrópicas são isoladas e tomam a característica de produto. Portanto, se o que eram extratos naturais, xamânicos e ritualísticos se tornaram drogas pesadas, produzidas em escala industrial e causadoras das piores tragédias sociais contemporâneas, não terá sido por culpa dos indígenas. Nem do sindicato dos cocaleros, nem de Evo, por quem não nutro simpatias políticas.

Posteriormente, fingindo vistas grossas à Antropologia e às questões culturais, surge o moralismo pós-moderno ocidental a culpar os cocaleros peruanos, clãs muçulmanas e tribos pelas mazelas das drogas em consumo massivo. Já na metade do século passado, a ONU decretou que mascar a folha da coca era "vício em droga" e os EUA proibiram o comércio internacional da planta. Claro que "uns são mais iguais que os outros", como vaticinou Orwell pois, para a Coca-Cola - emblema do sistema capitalista estadunidense - é mantida até hoje a única concessão para livre importação da folha. Curioso, não é?

Hoje a grande mídia burguesa procura capitalizar antipatia aos povos ameríndios, particularmente, a Evo Morales e ao sindicato dos cocaleros, utilizando-se de acusações no mínimo hipócritas. Recorro a este adjetivo, pois os grandes veículos de comunicação pertencem a círculos de gente abastada e festeira e, quem quer que tenha ido a uma só dessas festas particulares, há de ter presenciado bandejas requintadas transitando com cocaína, drogas sintéticas e cigarros artesanais da "demoníaca"
canabis sativa, tudo circulando livremente, para deleite dos convivas. Sem falar no próprio álcool e no tabaco, este então com suas "mais de 4.000 substâncias cancerígenas", de acordo com o descrito nos maços de cigarro. Mas estas duas drogas são "boas", pois geram altos impostos de modo que, na regra do estado burguês, estão liberadas.

Entendo que o ser humano deva se manter em estado de vigília e consciência, para, alerta, tornar-se capaz de realizar o melhor para si e para a sociedade. Do mesmo modo, que devamos evitar a ingestão de substâncias nocivas à saúde ou que nos subtraiam, ainda que temporariamente, a plena consciência. Rogo a todos que, ao verem seus amigos enfiando os narizes em pó (e pulverizando suas vidas) ou tomado psicotrópicos, não lhes sejam coniventes. Mas tampouco caiam no conto de crucificar àqueles para quem o cultivo e uso da coca, papoula ou da canabis representa, antes de tudo, identidade cultural, religiosidade ou sobrevivência econômica. Há outros culpados pelos males do mundo. Muitos se escondem atrás de posições sociais nobres, gravatas caras, pautas de noticiários e outros anteparos que não posso nem descrever aqui... Que tal problematizar e discutir o assunto sem paixões?

domingo, 16 de maio de 2010

Crianças invisíveis?

Crianças invisíveis? Ou sociedade cegada?

Ontem à noite fui prestigiar alguns shows da Virada Cultural SP. A propósito do evento, aconselho aos que nunca foram a procurar com antecedência informações no próximo ano. É uma oportunidade sui generis de assistir aos espetáculos mais diversos, que vão do punk rock à música sacra, a poucos passos de distância. Fica aqui o meu registro honroso para os velhinhos remanescentes da banda cubana Buena Vista. Os velhinhos mostraram uma forma invejável com performance musical de música latina da mais alta qualidade.

* * *

Mas meu olhar de pensador não se limitou à festa. Tendo ido de transporte público, os primeiros locais por onde passei à pé, a caminho da praça Júlio Prestes, foram as travessas do complexo conhecido como Cracolândia. Meu olfato indefectível logo indicou o uso generalizado de crack, mal chegada a noite. Ao passar pela rua Mauá, pude ver crianças e pré-adolescentes literalmente jogados sob marquises, onde uns cheiravam cola em sacos plásticos e outros pitavam seus cachimbos com a droga mortífera. Senti-me um impotente ao ver algumas zanzando atônitas e fora de si, como zumbis. Seus corpos já semimortos eram animados apenas pelos espíritos malignos da fumaça que os cachimbos exalavam. Seus olhos sem brilho procuravam qualquer coisa que pudessem roubar, inclusive de mim. Em meio à paisagem que mesclava lixo, ratos, prédios deteriorados e essas crianças abandonadas ao próprio azar, tudo era triste e em tons de cinza. Que raio de sociedade é esta que mantemos, que deixa à míngua seus filhos, a ponto de sentirmos medo deles?

Após juntar-me a alguns amigos no show do Buena Vista, findo este, fomos bater pernas até o Vale do Anhangabaú. Evitamos as travessas menores da Cracolândia por questões de segurança. Tagarelávamos e ríamos matando as saudades mas, lá pelo Largo do Paissandu, vi um pequeno grupo de crianças negras catando latinhas de alumínio e colocando-as em sacos. Provavelmente venderiam-nas a um ferro-velho. Por sorte ou azar social, maus cidadãos que bebiam nos arredores jogavam-nas sem cerimônia pelo chão. Num mundo onde a desgraça e a benesse se misturam, pensei: e se não houvessem cidadãos imundos a jogar as latas, seria melhor? E os moleques coletariam o quê? É difícil chegar a uma boa conclusão em um cenário desses. Enquanto isso, defronte a igreja da praça, a estátua da Mãe-Preta apenas olhava seus filhos largados, sem nada poder fazer.

Por fim, quando decidimos jantar em um shopping no Viaduto do Chá, vi um minicarro de coleta de lixo, desses elétricos, passando com o motorista e um coletor. Do nada surgiram dois meninos bem miúdos, descalços, mal-agasalhados e sujos, mas ainda saudáveis o suficiente para correr. Perseguiam o carro, gargalhando como só eles. Ao alcançarem o veículo, atiraram-se na caçamba, agarrando-se como puderam. Naquele único parque de diversões possível a eles, seguiram de carona furtiva, sob as vistas grossas dos funcionários da limpeza. Essa é a lembrança que mais mareja meus olhos enquanto escrevo. Lembrei-me na hora da cena de que eles, acima de tudo, são crianças. Vi neles o desejo de felicidade marota e pueril, o desejo de brincar, de aprontar peripécias e de simplesmente terem uma infância, coisa que lhes é subtraída diariamente.

Se ninguém ou o Estado abrigarem a esses dois, logo estarão em companhia daquela dezena de outros da Cracolândia. Ou serão explorados sexualmente por adultos degenerados. Mas o pior de tudo é que já estarão sem o espírito de criança, que lhes terá sido arrebatado. Seus corpos estarão animados e movidos apenas pelos espíritos demoníacos do crack, fornecido também por adultos degenerados. Não mais correrão, mas arrastarão os pés com olhos esbugalhados a procurar qualquer coisa roubável de um transeunte. O furto ou roubo será convertido em drogas, com as quais serão liquidados aos poucos. Suas gargalhadas não serão mais ouvidas atrás do carrinho de coleta. Terão se tornado crianças invisíveis, semimortas, graças à cegueira voluntária de nossa sociedade.

sábado, 1 de maio de 2010

Tem gente pra tudo

Vejam que linda imagem. Um fã da Suzana Vieira paga esse King-Kong todo para tirar uma foto com ela. Bom proveito, né gente?

Crédito da foto: www.revistaquem.globo.com

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Foi mal, aí...

O Google é tão simpático que até quando ele erra feio a gente fica sem jeito de xingar. Estava eu editando uma apresentação de slides no Google Docs quando fui fazer o download para finalizá-lo no meu desktop e recebi isto:
Espero que não signifique que a palestra que ministrarei AMANHÃ tenha se perdido para sempre... Ou vocês terão notícias do meu suicídio.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Por que aprender isso?

- Professor, por que eu tenho que aprender isso?

Quem quer que já tenha lecionado, ou ao menos frequentado uma sala de aula de ensino regular, já ouviu essa pergunta. Talvez a tenha feito, como eu mesmo fiz a dezenas de professores durante minha infância e adolescência.

A reação mais comum entre os professores é a de irritação. Afinal, como um aprendiz ousa desafiar o mestre com tal bravata? Ou então o professor responde com a indiferença e frieza de um algoz, que precisa ajustar o nó da forca e apenas puxar a alavanca do alçapão, materializando a sentença: "Porque está no currículo", "Porque cai no vestibular", "Porque cai na prova". Não sei qual é a resposta pior, mas o fato é que grande parte dos professores não refletem sobre a contextualidade, utilidade, aplicabilidade e significância do que ensina.

No ano passado um conhecido meu, professor de Matemática, desabafou comigo sobre o desinteresse dos seus alunos do Ensino Fundamental II. Naqueles meses o assunto era Geometria plana. Segundo ele, ninguém queria nada com nada a respeito dos seus formosos polígonos, arcos, ângulos e triângulos. Restava-lhe dar o conteúdo - verbo este que contesto, já que ele recebe dinheiro pelo trabalho - e após as provas constatar que ninguém aprendeu coisa alguma. Nenhuma novidade nisso, mas tampouco providência. Afinal meu amigo "fez a parte dele" (sob seu limitado ponto de vista) e foi o aluno que não cumpriu com sua cota-parte que, na mesma ótica, significa abrir sua própria caixa craniana para que a escola e o professor despejem os saberes no recipiente supostamente vazio.

Indaguei-o se não haveria outras maneiras de tornar o mesmo conteúdo mais interessante e mais real. Por exemplo - arrisquei - se ao invés de calcularem abstratamente arcos e cossenos, não poderiam fazer uma oficina de pipas, das mais simples às mais complexas, aplicando concretamente as teorias da Geometria. O mais legal depois seria testar na prática se o voo dos brinquedos dava bom resultado ou se deveriam voltar à prancheta. Ele disse ter achado interessante e até fez cara de surpreso, mas não me pareceu convencido. Depois disso ainda não falei com ele, mas temo que não tenha sequer testado minha despretensiosa sugestão e neste ano esteja repetindo as mesmas aulas, diante do mesmo apático quadro-negro para, daqui a uns meses, amargar as mesmas frustrações.

Um sobrinho meu, aluno de uma escola particular, manifesta algumas dificuldades de aprendizagem. Há prognósticos, a serem confirmados, de que ele seria disléxico em algum grau. No último ano letivo, após duas progressões anteriores quase forçadas pelo conselho de classe, decidiram em conjunto com os pais que ele deveria refazer o ano. Seu aproveitamento estava muito abaixo do esperado e não foram constatados progressos em seu desempenho individual. Lá está o garoto, às expensas suadas dos pais, refazendo o ano. O assunto foi bem conversado com ele, tanto dos porquês da decisão quanto das oportunidades que a repetição propiciaria. Porém, todos notam que ele tem um nível de criatividade e esperteza pronunciados em determinados contextos. É rápido e interessado em trabalhos manuais, construções de foguetes com bicarbonato de sódio, testes com produtos químicos e, aos doze anos, já se arrisca aos primeiros experimentos culinários mais simples, como preparar arroz. Opa! Então podemos concluir que ele não seja incapaz de aprender, mas ser possível que o quê tentam ensinar-lhe, da forma como o fazem, é que lhe sejam desinteressantes.

No colégio onde estuda - até por ser privado - há uma certa preocupação em manter a clientela e como incentivo neste ano meu sobrinho foi inscrito em um curso paralelo de Robótica. Foi o que você leu: o garoto repetente, de aparente indolência, que não se dá bem com as fórmulas da Física e da Química (ok, nem com o restante do currículo), está frequentando aulas especiais ao lado daqueles que almejam trabalhar na indústria aeroespacial ou quiçá na NASA. Achou absurdo? Agora perguntem sobre o estado de ânimo do garoto. Nesta semana, segundo minha irmã, o menino chegou em casa radiante. Disse que montou um protótipo de carro de corrida e que nas próximas aulas o professor vai explicar como motorizá-lo e estabelecer as regras e princípios necessários para movimentá-lo e dirigi-lo. Pelo menos nessa aula o menino não é mais o mesmo do ano passado, que ia e voltava do colégio arrastando os pés, a mochila e a alma carente. Está irreconhecível ao menos com relação à aula de Robótica.

O que quero dizer com tudo isso é que já passa da hora de ficarmos dando murro em ponta de faca querendo que nossas crianças de hoje achem as aulas compostas por giz e saliva algo interessante. Para mim, que na idade de meu sobrinho estava nos meados dos anos 70, as explanações monocórdias dos meus professores até podiam ser interessantes. Seus aventais de cores discretas e seus gizes de quatro ou cinco variedades de cores ainda eram mais atraentes do que nossa pálida TV e jornais em preto e branco. Mas hoje, sejamos sinceros, em tempos de Avatar 3D, internet, multimídia, DVD, com kits de física e química acessíveis e tanta coisa a explorar, qual é o aluno que não vai bocejar diante de um monólogo sobre capitanias hereditárias, sem sequer discutir o significado disso e sua herança sobre os dias de hoje? Até eu, meu caro amigo professor. Mas preste bem atenção: não estou falando de fazer as mesmas coisas do mesmo modo, usando roupagem diferente. De nada adiantam computadores, softwares de apresentação e projetores LCD se não envolverem os alunos com o lado concreto, realizador e prático do que está se tentando ensinar. É fazer diferente de fato.

É preciso repensar a contextualização e concretude dos conteúdos escolares. Claro que o questionamento estende-se à seleção do que se ensina na escola e esse "buraco" fica mais em cima, lá no MEC. Mas dentro do papel do professor, que às vezes é mesmo o de mero executor, pode-se fazer muita coisa de modo diferente e atraente. Aceite o desafio de tornar a aprendizagem mais significativa fazendo o ensino de maneiras mais interativas. Ouse! Pesquise, faça um projeto e o apresente à direção. Ninguém há de perder se os alunos forem mais estimulados e, por conseguinte, tiverem melhor desempenho. Pelo contrário: ganha o aluno, ganha o professor, ganha a escola.

Ganha mais ainda a sociedade, com pessoas mais críticas, mais capazes, mais éticas e mais realizadoras. Por ora ouçam a respeito as bordoadas poéticas de meu ídolo, Gabriel o Pensador. Aperte o play.

quinta-feira, 25 de março de 2010

E que as crianças cantem livres...

Por alguma razão sináptico-mnemônica, ontem à noite me lembrei de uma das mais bonitas canções de Taiguara. Por favor, antes de prosseguir, caso você esteja pensando se Taiguara é algum ser improdutivo que participou do BBB, faça um favor intelectual a si: leia aqui antes.

Não se culpe. Ocorre que a mídia conseguiu piorar a qualidade de modo vertiginoso e quem tem menos de trinta anos pode não ter tido muitas oportunidades de conhecê-lo. Podiam ter exibido a obra dele, ao invés desses programas inúteis e entorpecentes das consciências. Mas o homem se foi, porém sua obra permanece. Aproveite e pesquise.

Os versos dos quais lembrei foram esses:
"E que as crianças cantem livres sobre os muros
e ensinem o sonho a quem não soube amar sem dor.
E que o passado abra os presentes pro futuro
que não dormiu e preparou o amanhecer."
Lindo, não? Assista também a uma antiquíssima apresentação dele. Tio Xavier também é curtura.



É isso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Metrô: Embarque melhor? Uau!

Decidi que a partir de amanhã vou deixar meu carro em casa. De agora em diante só de metrô. Que outro sistema de transporte no mundo oferece um programa chamado "Embarque melhor, com conforto e segurança" ? Só o metrô de São Paulo. Nunca antes na história deste país houve outro igual!

Só de ver a foto percebi que meu MP3, ar-condicionado e bancos anatômicos do meu carrinho popular são um pseudo-luxo, perto dessa beleza que é o transporte público paulistano. Vamos lá gente, de metrô! Sigam-me os bons!

Estação Sé, no horário de saída da galera.

sábado, 13 de março de 2010

Nota de esclarecimento à população

Com alguma frequência tenho sido questionado por pessoas, devido a comportamentos sociais considerados inconvenientes ou ao menos distoantes da maioria. É fato que, com o passar do tempo, cada vez mais vou dando "lhufas" para opiniões alheias a esse respeito, desde que não me afete financeiramente, nem atente contra meu bem-estar ou integridade física. Mesmo assim me resta uma boa dose de hipocrisia social, refletida e estratégica, sempre que consigo ponderá-la, o que não me isenta de incoerências. Posso afirmar que boa parte de minhas posturas são profundamente pensadas, calculadas e conscientes. Por isso, esclareço algumas abaixo ao menos para os seres pensantes, embora eu creia que os meus questionadores não estejam entre eles. Vamos lá:

Comportamento em rituais religiosos:


Como moramos em um país que se pensa predominantemente católico - crença que podemos refutar pelo quesito da qualidade - é comum em ambientes não-religiosos como ONGs, trabalhos voluntários e até mesmo em ambientes escolares confessionais as pessoas invocarem bênçãos, preces e coisas semelhantes. No fundo acho isso um desrespeito com a pluralidade, posto que não há a menor possibilidade de conjunção teológica entre as diversas manifestações religiosas existentes, assunto deveras complexo para eu explanar aqui.

Nessas ocasiões, incluindo celebrações de casamento, batizados e afins, independente do credo, o tio permanece e sempre permanecerá apenas em silêncio respeitoso. Não ajoelho, não faço sinal de cruz, não faço gestos de salam-aleikam, nem dou cumprimentos de saravá ou axé, nem agradeço a Alah, Yahweh ou a quem quer que seja. Apenas silencio, aguardando que os fieis respectivos terminem suas piedades. Assim o faço, assim o farei sempre, ok?

Hino Nacional Brasileiro e civismos assemelhados:

O tio não cultiva civismos baratos e sentimentos piegas por um falso conceito de pátria, que não tem nada a ver com nação ou identidade cultural. Os símbolos nacionais vigentes, a saber: hino nacional, banderia nacional e afins, não contém as concepções que julgo libertadoras, mas antes expressam a cultura do positivismo e outras questões que não vem ao caso agora.

Por essa razão, em manifestações do tipo o tio permanece em silêncio e, dependendo da circunstância, pode até manter-se sentado como forma de protesto. Então peço encarecidamente que, se você não for capaz de entender, não me perturbe com gestinhos e cochichos como "Vai, levanta!" sob o risco de ser mandado para algum lugar ou a fazer algo desagradável. Exceção: pode ser que eu encene o civismo diante de alunos jovens em um estabelecimento escolar, mas pela mera compreensão de que seja muito cedo para eles desconstruírem as mentiras cívicas. Será uma concessão à hipocrisia com fins pedagógico-estratégicos.

Filminhos de retrospectiva:

A vaidade humana excede os limites do que seria razoável. Aliás, o ser humano não é razoável mesmo. Faz as coisas movido pela mente reativa e sentimentos que sequer consegue identificar, muito menos compreender. Recentemente estive em uma festa de aniversário, a prestigiar uma família de conhecidos e presentear a criatura primaveril com um mimo. Pois acreditam que na hora da tal retrospectiva um pobre bobo-da-corte, digo, animador de festinha tentou me coagir dizendo que eu tinha que ir assistir ao besteirol? Claro que ele correu o risco de tomar uma botinada chucknorriana na boca, mas o tio possui temperança e apenas sorriu ao desinfeliz, enquanto continuava a tuitar, voltando a ignorar a tão desprezível e desavisada presença.

Para ficar bem claro: eu não tenho o menor saco, acho uma idiotice vaidosa, perda de tempo e ocupação neural infrutífera produzir e assistir a esse tipo de porcaria. Pouco me importo se o(a) aniversariante ou os nubentes nasceram em uma maternidade ou em uma estrebaria, se frequentaram a escola X ou cresceram na completa ignorância científica, se venderam chicletes no semáforo ou se cresceram servidos por súditos. Importa que a pessoa está ali viva e eu optei por comparecer, como forma de agrado ao anfitrião. Quem sabe não foi apenas para não fazer janta em casa e comer guloseimas, mas isso é de foro íntimo. Não me chame para assistir e se insistir não estranhe as consequências.

Apresentações de trabalhos em sala de aula:

Não tenho a menor dificuldade em me apresentar em público, palestrar, ministrar uma aula ou treinamento. É natural de minha pessoa. Uma vez que me comprometo com algo do tipo, não há nada de sobrenatural que eu tenha me empenhado por fazer algo decente, consistente, talvez atraente ou ao menos dentro do requisitado. Portanto não faço a menor questão de aplausos. Não tenho banda, não sou cantor, nem trata-se de comédia stand-up. Posso até aplaudir a palestrantes por educação e como devolutiva pelo fato de o sujeito estar lá. No máximo.

Você nunca me ouvirá gritar da primeira fila coisas como "Bravo! Bravo!" porque acho uma bestialidade esfuziante e festiva demais. É por essa razão que eu não aplaudo a colegas de faculdade quando apresentam o que quer que seja lá no patamar. Teve que apresentar algo? Não fez mais do que a obrigação. Foi ótimo? Ok. Foi uma merda? Nunca o saberá por mim, exceto nos casos abaixo. Bastará olhar o boletim, caso o avaliador tenha o mínimo de critério e tremei se o dito for este que vos escreve. Além do mais aplausos consomem tempo, a fila anda e tem mais gente para apresentar.

Opinião sobre trabalhos de qualquer natureza:

Quando você pergunta para alguém "O que você achou do que fiz?" você está querendo um elogio barato ou uma crítica sincera e fundamentada? Se sua opção for a primeira então não o faça comigo. Sou sincero. Se o seu trabalho se me parecer como um arremedo feito por amador, de má vontade, sujo, mal escrito, mal acabado ou sem base nenhuma "Está uma porcaria" é o que você ouvirá de mim. Poderei explicar minha opinião e você terá a chance de melhorá-lo, melhorar a si mesmo e evoluir. Portanto não vá dizer "Ai tio, noooofa!" quando eu disser algo como "Está muito ruim". Do contrário vá perguntar a um bajulador e não gaste meu precioso tempo.

Feitos esses esclarecimentos, espero que não venham me questionar obviedades. Se você for disléxico ou analfabeto funcional, terei prazer em auxiliá-lo neste entendimento mediante desenhos ou atividades concretas.

Por ser verdade, subscrevo a presente.

Tio Xavier