sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Living without you - versão 2010

Oi senhor William! Sou eu de novo, lembra? Estou aqui para dizer que acabei de comprar um netbook da Acer. Pois é, da mesma marca de sempre. É que o custo-benefício faz deste um bom aparelho. Pode ser que, se eu tivesse mais grana, comprasse um Vaio, ou quem sabe um HP. Mas isso não vem ao caso. A Acer resolve bem as minhas necessidades e cobra pouco.

O que eu quero dizer pro senhor é que, como já era de se esperar, neste equipamento o sistema da sua empresa nem passou perto. Como ele veio sem sistema operacional fui direto instalando nele o Ubuntu 10.04. Rapaz, é show! A cada nova versão que instalo, fico mais surpreso com a compatibilidade e, sobretudo, a simplicidade para instalar. Afinal não sou técnico. Talvez eu seja só um pouco mais que um fuçador. Mas estou supersatisfeito. Tudo foi reconhecido de primeira sem que eu fizesse nenhuma intervenção: áudio, vídeo, teclas de funções especiais, touchpad, enfim um arraso!

Sinceramente, seu William, se o pessoal da sua empresa experimentar o Ubuntu 10.x, que além de ser ótimo é gratuito, creio que o senhor precisará muito mais do que bons cargos e salários para manter a fidelidade deles. Muitos, talvez, tornem-se técnicos autônomos e juntem-se ao projeto daquele doido do Linus Torvalds. Ou montem empresas para construir aplicativos para Linux.

Dos seus clientes, seu Gates, melhor nem falar que pode dar azar! Sei não. Se cuida, viu? Melhor o senhor ir lá ajudar as crianças pobres. Um abração pro senhor e pra família!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

DE ONDE VOCÊ VÊ O MUNDO?

Se esta última eleição teve um palco novo este terá sido a internet. Na proporção em que ocorreram manifestações, em prol e contra candidatos, foi perceptível que as redes sociais tornaram-se veículos massivos e massificantes. Elas foram largamente utilizadas, tanto pelos quartéis dos candidatos quanto pelos eleitores. As tags #Dilma e #Serra inundaram os posts do microblog Twitter, o que não deixa de ser um bom sinal.

Mas essa espontaneidade e participação, independente dos candidatos em questão, careceu de uma certa concretude. Observando os posts viam-se pessoas aguerridas no teclado mas que, sabidamente, só terão conhecido na vida esse tipo de participação. Atribuo a culpa ao atual processo eleitoral, marcado pela alienação. As eleições eletrônicas, do modo como são feitas hoje, tiraram do cidadão o direito mais amplo e legítimo de manifestar sua indignação. Limitou o descontentamento aos estéreis votos branco, nulo e à abstenção. Quem quer tenha participado da apuração das saudosas cédulas de papel, constatou que o eleitor podia substituir seu voto por impropérios de toda sorte: contra o Governo, contra candidatos e contra o que bem entendesse. Era coisa corriqueira, em uma época em que o anonimato da cédula garantia que o manifestante não sofreria retaliação.

Por trás do avanço tecnológico, a higienização eleitoral também teve outras medidas que tiraram o debate das ruas. Um exemplo foi a proibição da boca-de-urna. A pretexto inclusive da sujeira de papel que fazia - e isso lá é verdade! - uma aguerrida militância foi subtraída das ruas nos dias de eleição. A boca-de-urna tradicionalmente era dividida em dois grupos: de um lado militantes voluntários, que geralmente participavam de organizações de oposição ao regime; de outro os cabos eleitorais pagos, movidos pela necessidade de levar um dinheiro extra para casa. Era uma tremenda oportunidade de dialogar com o eleitor e até mesmo de cooptar pessoas politicamente. Saudável mesmo que às vezes algum tipo de confusão mais acalorada ocorresse. Em dia de eleição não era raro ver, após o horário de almoço, boqueiros pagos abandonarem seus postos em prol de candidatos em que acreditavam, trocando de panfleto a distribuir, a despeito e para desespero dos seus coordenadores, também pagos.

É diferente olhar o mundo do terreno onde as coisas acontecem, construindo uma leitura de mundo própria. Participar de comissões de fábrica, grupos de moradores, movimentos de reivindicação, sindicatos, comunidades de base e diretórios de partidos políticos propicia uma percepção diferente da sociedade e da política, distinta daquela de quem fica plantado diante da TV e do computador. Através das mídias de massas bebe-se de opinião alheia, tomando ideias de outrem para si. Nesta última perspectiva, o que vi na internet foram pessoas defendendo um e outro candidato tendo obtido suas opções do mesmo modo como se vai ao supermercado e escolhe entre o sabão A ou B. Isso não constroi consciências. Antes habitua a mente ao preguiçoso processo da repetição daquilo que é pasteurizado por máquinas de terceiros, como o copiar e colar, largamente utilizado na internet. 

A alienação política de hoje se dá em uma dinâmica na qual o eleitor é chamado apenas a referendar o que um reduzido número de protagonistas determina. Lamento dizer, mas não tem sentido nem valor em si se alguémpensa estar participando de algo, quando está apenas passando procuração. Se você quiser tomar parte, vá a um movimento social ver o que ocorre; auxilie um serviço assistencial e aprenda quais são as suas dificuldades estruturais; experimente visitar um acampamento de pessoas sem moradia ou então acompanhar um movimento de greve por melhores condições de trabalho e salário. Você vai perceber rapidamente que na política não há anjos puros nem demônios absolutos, de nenhum dos lados. Mas também perceberá por quais opções políticas a população organizada pode avançar, em prol de melhores condições de vida, sobretudo para aqueles que mais necessitam, e também quais caminhos propiciam mais justiça social e distribuição de renda. 

Fora do terreno concreto o que há são “telespectadores sociais”, outros tantos acovardados a proteger o que pensam ser privilégios e muitos compradores de sabão eleitoral. A vida é feita de escolhas, que por sua vez, mudam a forma como se vê a vida: uma eterna dialética.