Abro o envelope com as avaliações escolares da caçula. Sob meus olhos o sinal nítido de que alguns professores não se renovam, não pesquisam, não se aperfeiçoam. Perguntas com jeitinho de CTRL-C / CTRL-V, frases para completar transcritas literalmente de parágrafos do livro, perguntas descontextualizadas, passíveis de serem respondidas com “sim” ou “não”, mas que ainda incluem a petulante comanda “explique”. Como assim, professora? Explicar o quê? Que tipo de explicação a senhora quer?
A avaliação em questão era de História e, seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o tema era República Brasileira. Perfeito! Dentro do assunto. Até porque é exatamente o que o livro didático adotado traz. Mas o livro é um mero instrumento de apoio. A aprendizagem pressupõe uma dinâmica, na qual o professor desvende o nível de compreensão prévia dos alunos sobre um tema para, a partir dessa compreensão, alicerçarem os conceitos necessários para o avanço sobre um assunto. Não há de ser possível uma criança entender uma unidade temática, sem que as categorias fundamentais do assunto estejam sedimentadas.
Desse modo, não faz sentido tratar - no exemplo em questão - a ditadura Vargas abordando datas de início e fim, nomes de lugares e menção a fatos isolados sem que:
Desse modo, não faz sentido tratar - no exemplo em questão - a ditadura Vargas abordando datas de início e fim, nomes de lugares e menção a fatos isolados sem que:
- Conceitos como formas de governo, ditadura e democracia estejam firmados;
- A compreensão do que são agentes sociais, partidos políticos e movimentos, esteja assegurada;
- O entendimento de que a história é uma construção coletiva com mudanças, lentas ou abruptas,seja de comum compreensão.
- Filha, você sabe o que é uma ditadura?
- Não.
- Você sabe o que é uma democracia?
- Não.
- A diferença entre eleições diretas e indiretas?
- Não.
Bem, professora, aposto uma feijoada no sábado - com caipirinha e tudo! - que os conceitos elementares não foram amadurecidos, discutidos, trabalhados, simulados, teatralizados e esgotados com os pequenos. Aposto também que se eu lhe perguntar com firmeza sobre eles, a senhora escorregará ao menos em um ou dois. Então, qual será a serventia de ficar pedindo datas, nomes e locais se o assunto em si não é significativo para as crianças, professora? Para decorar?
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- Quase tudo que aprendi, amanhã já esqueci. |
Por favor, para seu próprio bem, de seus alunos e de nosso país!