quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ano novo: além da simples cronologia

atas comemorativas têm lá sua graça se pensarmos nos festejos, na comilança, bebidas e como desculpa para nos reunirmos com pessoas queridas (algumas nem tanto assim). Mas a demarcação cronológica dos anos faz cada vez menos sentido na vida das populações urbanas. Nossos ciclos de vida tomaram uma dinâmica que nada tem a ver com a sucessão de dias e meses e, de fato, pouco importa. Exceto por alguns impostos, cobrados em janeiro, como o IPVA e o IPTU, quase nada muda com as tais passagens de ano novo. Já existem inclusive vários cursos universitários e de pós-graduação que não se pautam mais em períodos letivos tradicionais e iniciam-se em qualquer mês do ano. Talvez seja por isso que vejo o decréscimo da importância das festas de virada de ano. Se algo muda e renova, há de ser em nossas vidas, como resultado de decisões, ações de mudança e conquistas.

Dentro de minha maneira peculiar de ver as coisas, acabei adotando uma "festa de fim de ano" com parte de meu círculo familiar mais próximo - os que moram em Sampa -, agora acrescido de minha querida nora. Do jeito que dá, arranjamos uma noite qualquer, no meio da semana mesmo, e vamos a um restaurante jantar juntos, coisa que praticamente não fazemos no restante do ano. No jantar comemoramos e brindamos às pequenas conquistas de cada um, mudanças que conseguimos imprimir em nossas vidas simples, mas que têm significado de renovação, muito mais do que os dígitos do calendário esvaziado.

Às vezes ocorre de algum de nós não trazer nada à mesa como marco na vida, mas isso não importa e fazê-lo não se trata de obrigatoriedade, senão para consigo mesmo. Nesse caso pode ser que a própria reunião sirva individualmente, quando deixamos um longo período passar liso e não inserimos nenhuma medida nova na vida, valendo então como questionamento. Se servir para isso, a reunião acabará por ser boa, mesmo para quem não declara nada. Dali para diante abre-se a chance de rever-se e reinventar-se, coisa que todos precisamos fazer, a todo e qualquer tempo.

Neste ano, entre outras coisas, celebramos minha certificação da pós-graduação, o término do ciclo I do ensino fundamental da caçula (vale dizer que com excelentes notas), uma promoção da nora, da qual ainda não sabemos bem as re$ultante$ e outra que, em minha opinião, foi a mais audaciosa de todas: a darling se matricular em um curso de licenciatura. Às vésperas de se aposentar de sua carreira administrativa, momento em que a maioria pensa em mofar em casa e sobreviver de minguado pecúlio, minha voluntariosa companheira enseja uma segunda carreira. Essa é minha companheira!

Ano novo de fato é isso minha gente! E podemos começá-lo em janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho... 

sábado, 10 de dezembro de 2011

O mundo não é para os fracos

Família pobre. O pai operário, com baixa qualificação e de empregos inconstantes por muito tempo, o que exigia mudanças igualmente frequentes de residência da família, que morava de aluguel. Assim não era possível que o menino cultivasse amizades duradouras, circunstância que o afetava um bocado. A mãe, muito simples e que mal frequentara três anos incompletos de escola, cuidava do lar fazendo malabarismo para dar conta de alimentar a si, dois filhos e o marido, com os parcos recursos obtidos por este. Para os filhos, nada de materiais escolares abundantes e de boa qualidade, roupas de marca ou calçados vistosos. Tudo sempre do mais simplório, mas sem nada faltar. Lenta e tardiamente é que alguns pequenos confortos foram adentrando a casa da família, incluindo a televisão e a geladeira, pontos de honra para uma família da classe trabalhadora que via o The American Way of Life como modelo nunca alcançado. Essa na verdade é minha origem.

O que pode servir de pretexto para os letárgicos conformados pode servir de motivação para os afrontadores como me considero. De vez em quando tenho notícias de alguns que frequentaram os mesmos bancos escolares comigo e me decepciono. Considerando que em renda familiar e em benesses decorrentes minha família ficara sempre no rodapé dos remediados, se a perpetuação fosse uma lei, eu encontraria aqueles meus contemporâneos em situação social muito melhor que a minha. Mas tal não se dá. Na média deparo-me com ex-colegas sem profissão definida, muitos sem formação acadêmica e - em casos extremos - sujeitos com falta de dentes posteriores, o que considero caso de penúria e baixa autoestima alarmantes. Não por acaso é que intuitivamente me afasto destes, talvez mais por representarem o que poderia ser eu. Embora eu me sinta um pouco culpado por essa escolha, acho que me faria mais mal a proximidade deles. Só um bom terapeuta há de me ajudar a desvendar isto.

Também eu não sou lá grande coisa hoje. Mas me orgulho de minhas formações acadêmicas - algumas recentes e extemporâneas - assim como de minha múltipla formação profissional, que vão de lavar banheiro embosteado por patrão porco a já ter comandado programadores e analistas competentes, dialogando com (e arrancando grana de) empresários bem de vida. Formações ecléticas que me permitem dialogar com praticamente qualquer área de conhecimento sem manifestar ignorância plena ou, no caso de esta persistir, de demonstrá-la com a tranquilidade de quem já aprendeu que ninguém sabe tudo. Me orgulho de ser capaz de gerar recursos suficientes para manter um padrão de vida muito melhor do que daquele de onde vim, de jamais ter perdido a sede de saber e de estudar tudo o que consigo alcançar em uma estante, o que me fez investir muito do dinheiro que passou por minhas mãos em livros e cursos. E nestes últimos aspectos penso que resida o meu "sucesso sobrevivente", que nada tem a ver com esse sucesso pregado pelos embusteiros da cultura da autoajuda comportamental.

Ps.: Essa foto não é do colégio em que trabalho.
Creio que essas razões acima me fazem enxergar que os novos tempos de minha militância política hão de se dar na área educacional. É por isso que sinto tanta satisfação em colaborar com a educação de jovens e adultos, trabalho que hoje exerço ainda voluntariamente em um colégio em São Paulo. Nesta semana pude entregar, junto com outros professores, os certificados de conclusão de Ensino Fundamental I para alguns alunos que conseguiram passar nos exames de suplência. Não dá para esconder a emoção, ao constatar que esses tiveram sua autoestima elevada, sua dignidade resgatada e suas possibilidades de elevar o padrão de vida ampliadas. Esses já são vencedores ao romper com o continuísmo e o conformismo de que "sempre foi assim".

Esses são os meus. Aqueles que tiveram seu berço e suas chances, as desperdiçaram e hoje moram em casas precárias, andam com fala de dentes e desorientados profissionalmente, sinto muito. Por essas e tantas outras o meu tempo é dos que querem vencer!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Ações e significados: fim do período letivo.

Fico pasmo toda vez que constato a falta de interpretação, que grande parte dos seres humanos demonstra sobre fatos do cotidiano. Toda ação tem um significado, por mais insensata que ela possa parecer. Ações traduzem formas de pensar e de sentir. Essa é minha premissa para a postagem de hoje.

Essa foto eu tirei ontem, na fachada da Escola Estadual Helena Lombardi Braga, na zona leste de São Paulo. O ano letivo foi dado como terminado e esse lixo são cadernos e livros rasgados, peripécia realizada pelos alunos. Todo ano o fato se repete em várias escolas e se perpetua, como um ritual. Do que se pode presumir que ninguém faça nada a respeito. Além do prejuízo urbano da sujeira, entupimento de bueiros e sobretrabalho da limpeza pública há outro lado nisso. Está na mensagem dos alunos a respeito das aulas e da escola como um todo.

A mensagem subliminar da ação porcalhona é clara: "Professores, diretora e pais, essa escola é uma merda, estudar é um saco e olha aqui o que nós fazemos com o lixo a que vocês nos obrigam". Simbolicamente todo o suado trabalho dos professores e da direção vão para a sarjeta. Está muito claro. Ok, ninguém é obrigado a reter conhecimentos, valorizar os estudos, tampouco guardar material que não será mesmo reutilizado (embora possamos discutir a questão dos livros, que são reaproveitáveis).

Rasgar todo material - diga-se de passagem distribuído gratuitamente e indistintamente aos alunos - representa o menosprezo e desídia com que os alunos veem o que chamamos de educação pública. Talvez essas famílias não se lembrem, mas há pouco mais de duas décadas não se distribuía material escolar, nem mochilas, tampouco uniformes e não havia necessariamente vagas em escolas públicas para todos, sobretudo no período noturno, para atender jovens que ingressavam no mercado de trabalho e que só podiam continuar a estudar à noite.

A poucos metros do colégio vi um catador de recicláveis suando a puxar sua carrocinha e me ocorreu: Por que não promover coleta organizada do material em um evento, de preferência com a presença de um ou mais catadores de recicláveis do bairro? Quanta pauta e quanto assunto isso renderia! Sei que isso não foi feito porque tenho contato com alunos desse colégio. Mas imagino que alguns professores - e talvez a direção -  possam alegar necessidade de cumprir o calendário, conteúdos e, enfim, reproduzir tudo o que já foi feito no ano passado. Portanto não há tempo pra fazer esse tipo de coisa. Só que aprendizagem sem contextualização é vã. A prova está na foto. Mas vamos lá aos PCN's, que mencionam fartamente cidadania e educação ambiental!

Tudo bem, não me intrometerei mais no trabalho alheio. Apenas digo que também trabalho em um colégio (particular), onde a reciclagem se tornou assunto do cotidiano e os alunos recolhem tudo o que não será reaproveitado para doação, inclusive livros. Se alguém quiser visitar, terei prazer em indicar aos interessados. Se a direção quiser, me disponho até a comparecer nesse colégio estadual, como voluntário, para falar com os alunos sobre isso. Seria até uma forma de eu devolver a boa educação que tive em escolas estaduais, onde não me lembro de presenciar cenas tão deprimentes.

Sem mais para o momento prometo que, nesta mesma época em 2012, postarei uma foto atualizada e torcerei para que a imagem não seja idêntica.

sábado, 19 de novembro de 2011

Quero mais saúde!

Sei que sou insistente sobre o assunto de serviços públicos. Sou mesmo. Nasci em uma classe de despossuídos: 25% do meu carro ainda pertencem a um banco, não possuo meios de produção senão meu fadigado intelecto, minha casa é hipotecada, não possuo poupança e nem investimentos no mercado financeiro. Enfim, eu e a darling dependemos unicamente de nossa capacidade de produzir mais-valia para a economia do país e nos virarmos nos 45 (nossos 30 já se foram há uma década e meia) para nos sustentarmos.

Estou impactado por reassistir a Sicko, do cineasta Michael Moore, justamente após uma reportagem ligada a um hospital de minha região, o Hospital Santa Marcelina, que por aqui é um dos únicos onde um cidadão consegue atendimento do SUS em questões complexas. Soube por uma reportagem na TV Cultura, entrevistando o ministro da saúde, que esse hospital vai receber ação do Ministério da Saúde para acolher mais e melhor às emergências da região (saiba mais aqui). Nada pode ser melhor.


Há cerca de um ano e pouco, tive duas ocasiões em que o SUS e o Hospital Santa Marcelina foram importantíssimos em minha vida. Tive crises renais, causadas por cálculos - as populares “pedras” - e eu estava sem convênio médico. Em ambas cheguei rastejando e gemendo, dada a dor insuportável, de sorte que tive prioridade no atendimento. O que me pediram lá depois de me colocaram em atendimento? O RG. E se eu não o tivesse em mãos eles teriam preenchido uma ficha incompleta mesmo, afinal o serviço é UNIVERSAL.
O atendimento é de fato abarrotado de gente. Não podia ser diferente. A cidade-dormitório em que consiste a região de Itaquera, na zona leste paulistana é imensa. Medicação imediata para a dor e uma espera imensa, entre uma passagem e outra pelo médico. Congestionado. Mesmo assim, em ambos os comparecimentos eu tive acesso a: consulta-médica, enfermagem, radiografia, ultrassonografia, hemogramas, exames de urina, tomografia e medicação no local. Em ambos os casos o cálculo era relativamente pequeno e o quadro infeccioso era de baixo risco, de modo que recebi alta e, de fato, as malditas pedrinhas se foram por meio escuso no dia seguinte. Mas fui bem atendido por médicos capazes, enfermeiros, técnicos e tive acesso a tecnologias que, se um colega de trabalho meu tivesse tido no convênio dele, talvez não teria morrido. O caso do meu colega, que já faz dois anos, exigia, entre outras coisas, uma simples tomografia que teria confirmado o câncer. Mas por meses a fio, o Hospital Albert Sabin e a Lam Saúde alegaram o aparelho estar quebrado. Outra hora eu conto alguns passos desse caso.
Duas décadas atrás uma querida amiga, a Inês, teve uma parada cardíaca. Ela era associada daqueles planos megaultravipblater da Golden Cross, há mais de dez anos. Talvez tenha usado em uma ou outra consulta oftalmológica ou algo assim. Eis que a demanda da crise foi por um marcapasso. Na época custava a “fortuna” de 7 ou 8 mil dólares. Bem, cliente há dez anos, ela conseguiu a autorização da Golden Cross, certo? ERRADO! Acontece que o acidente cardíaco foi atribuído a um problema de má formação congênita e blá-blá-blá-whiskas-sachê e, logo, a grande empresa multinacional de saúde não autorizava. Mais ou menos como se você tivesse ligado um aparelho de som no 220V e perdesse a garantia, entende? Simples assim. Afinal, para empresas de seguro, um coração ou um aparelho de som são bens e pagar consertos, bancar peças ou marcapassos traz prejuízos.
No caso de minha amiga Inês quem arcou com o marcapasso e, mais recentemente com a troca dele, foi o SERVIÇO PÚBLICO DE SAÚDE DO BRASIL. Sabe, esse serviço do qual a imprensa fica apontando fraudes, corrupção, desvios, o que, afinal de contas, qualquer ser pensante também abomina. Mas que nenhum cidadão consciente deveria proferir que devam ser extintos, principalmente em prol de corporações que só visam o lucro, ainda que, para que lucrem, danam-se que médicos ganhem pouco, que tratamentos vitais sejam negados, que gente vá parar na cova, contanto que mais “associados” entrem no plano e paguem suas mensalidades em dia.



Por essas e tantas outras, que vejo com louvor cada vez que um governante quebra patentes de medicamentos para distribuí-los no serviço público (viu Serra?), ou destina verbas para a saúde pública, encampa serviços malfeitos e, enfim, faz qualquer coisa para que em um hospital, QUALQUER PESSOA que esteja em solo brasileiro possa entrar, pedir socorro e ser atendida. Isso é muito importante.


Assim sendo, parem de cair no conto das revistas e emissoras de TV, cujos anunciantes são serviços privados de saúde. Pare de ficar papagueando pela privatização da saúde no Brasil. Assista a Sicko e veja como os trabalhadores estadunidenses estão sendo ROUBADOS, ENGANADOS e ASSASSINADOS pelos planos de saúde privados. Vejam como, na hora de tratar um sujeito que contribuiu com o seguro-saúde, esses crápulas não têm a menor piedade de jogar um doente na rua, porque ele não possui dinheiro ou bens para se endividar com os custos caríssimos de um tratamento.

sábado, 15 de outubro de 2011

Erradicar o analfabetismo é o melhor acúmulo tecnológico



uitos de nós discutimos nas redes e em outros fóruns sobre melhorias sociais, progresso econômico e inclusão. Enfim e de certo modo, a maioria de nós concordamos que é preciso acabar com a miséria e que não é concebível que, em um mesmo território, alguns tenham direito de possuir carros de cem mil dólares e outros não tenham um dólar por dia para se alimentar. Ainda que estejamos há mais de um século de 1888, chamo a estes últimos de cativos dos novos tempos. E como nos tempos escravagistas, há diversos níveis de cativeiro diferentes. Da senzala à cozinha da casa grande, o que temos hoje não são senão versões melhoradas do regime passado.

Contudo, há estruturas e superestruturas que garantem a permanência das coisas como estão. Quero chamar aqui a atenção para a educação. Dentro e fora da escolarização formal pairam ideologias que atribuem a pobreza à baixa escolaridade. Laudas, páginas e tomos inteiros dedicam-se a correlacionar a baixa renda com a baixa escolaridade. Basta visitar o site da UNESCO e conferir. Mas há algo mais engenhoso por trás dessa constatação questionável: a premissa de que o únicos conhecimentos válidos - nesse caso para ascensão social - são aqueles determinados pela escola formal. E, dentro desta, não será por acaso que algumas ciências são privilegiadas e outras praticamente abandonadas. Currículos oficiais são fruto de ações e decisões humanas, logo artificiais. Em última análise justificam a extratificação social. Assim é que torna-se "óbvio" que médicos, advogados e engenheiros "tenham que ganhar mais" do que lavradores, faxineiras, pedreiros e estivadores. Será tão óbvio assim?

Dirijo-me especialmente aos educadores: sei que é nosso papel transportar os estudantes, quer sejam sejam crianças, jovens ou adultos ao universo das ciências. Mas podemos fazê-lo de modo mais audacioso, colocando-lhes em permanente questionamento de que, por trás do status social que alguns conhecimentos têm por sobre outros, há um mercado de bens e serviços, intencionalmente construído, que valoriza umas coisas e desvaloriza outras. O que quero dizer com isso é que, em essência, não há conhecimentos "melhores" ou conhecimentos "piores". A estrofe de um cordel não é inferior a uma produção de Chico Buarque; os acordes sanfonados de um xote não são menos belos do que o dedilhado de João Gilberto; um grupo de maracatu ou teatro mambembe não é menos cultural do que uma apresentação (caríssima) do Circo de Soleil. As culturas têm valor intrínseco.

Colocadas as premissas acima, apelo a todos quantos possam: ajudem nossos trabalhadores menos favorecidos a conquistarem os códigos das letras e dos números, a se apossarem da parte das ciências que os ajudem a viver melhor, a não precisarem mais apresentar papeizinhos escritos por terceiros e perguntar para estranhos na rua onde fica tal endereço. A pior prisão, sem sombra de dúvida, é a treva da ignorância, pois aprisiona e domestica a consciência. Viver como um iletrado num mundo de regras letradas é ser um pária em seu próprio país. Não vamos conseguir construir sociedades melhores, porquanto persistir a segregação social, mediante artifícios tão sutis e perversos como o analfabetismo e as ideologias que sacramentam a inferiorização dos tais iletrados. Ensinar e conscientizar é preciso! 

Como militante da educação de jovens e adultos (EJA) convoco a todos quantos possam: aventurem-se a dedicar, ainda que umas horinhas de seu tempo, a essa urgente tarefa. Eu lhes asseguro: aprenderão com esses educandos tardios coisas com as quais se espantarão; descobrirão que esses supostos ignorantes graduaram-se desde sempre, na melhor e mais verdadeira escola que existe: a vida. Constatarão que eles já são vencedores, ao sobreviverem sem as letras em um mundo que só privilegia os letrados. Só lhes faltam as letras. E isto, nós, os letrados e privilegiados, podemos solidarizar com eles, ajudando-os a viver melhor e a conquistarem a dignidade em suas consciências.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mediação, professora! Sabe o que é?


Abro o envelope com as avaliações escolares da caçula. Sob meus olhos o sinal nítido de que alguns professores não se renovam, não pesquisam, não se aperfeiçoam. Perguntas com jeitinho de CTRL-C / CTRL-V, frases para completar transcritas literalmente de parágrafos do livro, perguntas descontextualizadas, passíveis de serem respondidas com “sim” ou “não”, mas que ainda incluem a petulante comanda “explique”. Como assim, professora? Explicar o quê? Que tipo de explicação a senhora quer?

A avaliação em questão era de História e, seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o tema era República Brasileira. Perfeito! Dentro do assunto. Até porque é exatamente o que o livro didático adotado traz. Mas o livro é um mero instrumento de apoio. A aprendizagem pressupõe uma dinâmica, na qual o professor desvende o nível de compreensão prévia dos alunos sobre um tema para, a partir dessa compreensão, alicerçarem os conceitos necessários para o avanço sobre um assunto. Não há de ser possível uma criança entender uma unidade temática, sem que as categorias fundamentais do assunto estejam sedimentadas.

Desse modo, não faz sentido tratar - no exemplo em questão - a ditadura Vargas abordando datas de início e fim, nomes de lugares e menção a fatos isolados sem que:
  • Conceitos como formas de governo, ditadura e democracia estejam firmados; 
  • A compreensão do que são agentes sociais, partidos políticos e movimentos, esteja assegurada; 
  • O entendimento de que a história é uma construção coletiva com mudanças, lentas ou abruptas,seja de comum compreensão. 
Ficarei apenas nesses três aspectos acima, pois julgo que para a questão, sejam suficientes. Notei que a criança não respondeu a três ou quatro questões, de comanda e clareza duvidosas e perguntei:


- Filha, você sabe o que é uma ditadura?

- Não.

- Você sabe o que é uma democracia?

- Não.

- A diferença entre eleições diretas e indiretas?

- Não.


Bem, professora, aposto uma feijoada no sábado - com caipirinha e tudo! - que os conceitos elementares não foram amadurecidos, discutidos, trabalhados, simulados, teatralizados e esgotados com os pequenos. Aposto também que se eu lhe perguntar com firmeza sobre eles, a senhora escorregará ao menos em um ou dois. Então, qual será a serventia de ficar pedindo datas, nomes e locais se o assunto em si não é significativo para as crianças, professora? Para decorar?

- Quase tudo que aprendi, amanhã já esqueci.
Meu caro professor, minha cara professora: parem de ficar aplicando decoreba e passem a firmar conceitos, promover a articulação de conhecimentos, contextualização. Agora, se vossas dificuldades, por ventura, incluírem desconhecimento de concepções mais atuais sobre aprendizagem, boas técnicas didáticas ou o que venha ser mediação pedagógica, na boa: voltem para a universidade e debrucem-se sobre os livros.

Por favor, para seu próprio bem, de seus alunos e de nosso país!

domingo, 26 de junho de 2011

Culpa do Kassab²

Todos sabem que quando temos enchentes em Sampa, o único culpado é o Kassab. Ou a Marta, ou o Serra, dependendo da época.

Um bom exemplo é a foto abaixo, tirada pelo tio na Av. Calim Eid, na zona leste de Sampa. A sequência das avenidas Calim Eid, Dom Helder Câmara e Gov. Carvalho Pinto é cortada por um córrego que vez ou outra transborda. Não é difícil saber o porquê dos transbordamentos.

Como sabiamente diria o Quico: GENTALHA!!!

Sugiro aos subprefeitos e ao prefeito guardarem fotos como essa até o próximo verão e apresentarem-nas no SPTV e no Cidade Alerta, quando o zé povão porcão reclamar das enchentes. Que a verdade seja dita!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Níveu curturau dus proficionais

Você contrataria ou manteria no cargo uma pessoa que se comunica nos termos do texto abaixo?
"Peço a   gentileza de  localizar o crédito da cliente SCHELBTS DA SILVA*, pago em 31/03/2011 no valor de R$ 399,00 através do BANCO TABAJARA*  ref. a  c/c ...,  sob o nosso n° 1234567890*Pelo  uns dos créditos ter sido repassado (SIC!) via arquivo de cobrança, o outro crédito pode ter sido rejeitado porque á cliente (SIC!) efetuou o pagamento antes, poderia verificar se a o (SIC!) crédito ou se retornou para o banco recebedor?OBS.: A um (SIC!) pagamento no mesmo valor de R$ 399,00 pago pela cliente em 10/01/2011, foi repassado via arquivo de cobrança."
Pois é, meu amigo, minha amiga. Isso existe e foi extraído de uma correspondência verdadeira! Gente assim recebe salário para enviar textos com esse nível.

Agora você se surpreenderia se soubesse que o empregador em questão é uma instituição de ensino? Melhor parar o assunto por aqui, não é mesmo?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Kassab promete recapear vias paulistanas

O prefeito Gilberto Kassab (foto) visitou algumas das principais avenidas paulistanas e tentou relevar os problemas na pavimentação asfáltica, após as sucessivas chuvas na cidade: "Não há motivo para tanta reclamação; o que há são algumas ondulações, normais de surgirem nesse período" - garantiu o prefeito.

Desenvolver novas habilidades

Pode parecer um discurso batido de palestra em empresa ou livro de autoajuda. Mas não é. Veja como desenvolver novas habilidades é fundamental para a sobrevivência no 3º milênio:

Vaca subiu em árvore para escapar da enxurrada.(Foto: Nauro Júnior/Zero Hora/Agência RBS)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Vamos a la playa?

Ir a Long Beach City, quando eu era molecão, já foi sinônimo de lazer. Com uma turma que incluía minha namorada, alugar uma kitchenete, pegar o busão na rodoviária, botar a mochila nas costas e para passar fins de semana no litoral paulista compunham uma boa estratégia para fugir da estressante soma trabalho + faculdade + militância política.

Não sei dizer ao certo qual era o maior atrativo da brincadeira. Mas penso que era uma combinação de ficar longe da casa dos pais, próximo de amigos e amigas queridas e, principalmente, ter a namorada ao lado para tomar banho, trepar e dormir junto sem pudores, não necessariamente nessa ordem. No cotidiano esse aconchego não era tão facilmente realizável. Mas nesses fins de semana construíamos uma área de proteção, sem tutela dos familiares, principalmente os das meninas, claro. Era um quase-amor-livre, embora monogâmico. Tudo bem, um beijo lá outro cá em outra amiga, que não era a namorada era até tolerado. Revezávamos entre o apartamento e a praia, dando prioridade absoluta para esta, onde salgávamos a pele bebíamos cerveja e caminhávamos falando besteira. Em suma, foi bom.

Mas como tudo passa e até a uva passa, hoje em dia não consigo achar graça em praia lotada e sol escaldante. A praia é a mesma, o Atlântico é o mesmo, o público é o mesmo. Tenho clareza de que a única variável que se alterou fui eu. Primeiro que nunca suportei de fato o sol. Sou branco como um esquimó e tenho olhos claros. Por isso a única forma de eu permanecer algum tempo em lugares ensolarados é justamente minimizar os efeitos do astro-rei sobre mim: protetor fator 290, óculos escuros, camiseta e guarda-sol. As águas agitadas e salgadas do mar, não me possibilitam nadar e me exercitar. As muvuca na praia, com profusão de barracas, vendedores que nos abordam sem parar, gente fazendo batucada e aparelhos sonoros tocando música de mau gosto também não me apetece. Em se tratando das praias mais popularescas sobrou alguma coisa? Não, né? Quem está sobrando sou eu e sei o que significa "retirada estratégica".

Na próxima vez em que a darling insistir em ir à praia, valendo-nos de nossa maturidade conjugal, combinaremos que ela e a cria vão e eu fico. Na categoria de lazer aquático, uma piscina, de preferência coberta, faz mais minha cabeça. Se for à noite então, melhor ainda!

sábado, 22 de janeiro de 2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Prefeito Kassab libera atividade de gondoleiros

Devido ao estado de emergência da cidade de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab decidiu liberar temporariamente a atividade de gondoleiros venezianos. "Não podemos dispensar nenhum tipo de alternativa de transporte durante essas calamidades" - disse o prefeito em recente entrevista.

Muitos gondoleiros, estão recém-chegados em São Paulo devido à crise econômica que assola a Europa e viram como uma ótima oportunidade de garantir uns trocados, enquanto não conseguem emprego formal. Giuseppe Benatti (foto acima) não perdeu tempo e transportou vários paulistanos que acharam interessante.

A SPTrans já cogita credenciar os gondoleiros para linhas especiais no Jardim Romano (foto ao lado), bairro situado na zona leste da capital paulista, que tem muitas semelhanças com Veneza, na Itália.

Por enquanto, de acordo com informações obtidas na Secretaria Municipal de Transportes, não há definição de tarifa para esse tipo de transporte, que deve ficar entre R$5 e R$7, pois parte do valor corresponde ao couvert artístico do gondoleiro já que eles costumam cantar durante o trajeto.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Isso diz alguma coisa?

Bilhetes como esse abaixo são vistos nas portas das casas de trabalhadores residentes no Complexo do Alemão, RJ. Para saber mais, leia em: http://migre.me/3x6aQ 


CORRERIA DE FIM DE ANO


Poucas coisas me parecem tão patéticas quanto o alvoroço e desespero que toma conta da maioria da população durante o mês de dezembro. Os centros comerciais transformam-se em verdadeiros infernos, isto é, para quem não gosta de multidão, nem de ser mal atendido e menos ainda do barulho a níveis condenáveis pela OMS. Está bem, eu admito: sou um tiozão chato mesmo! Ou apenas sinto que o desfrute do que há de melhor na vida não combina necessariamente com balbúrdia, mas está nas coisas mais singelas e, muitas vezes, no silêncio dos ollhares de pessoas que se amam. Voltando ao assunto inicial é conversando com as pessoas verificamos um jargão repetido, tão natural quanto irracionalmente: “Ah, é a correria de fim de ano!”. Correria? De onde diabos surgiu essa correria?



O ano civil está terminando. Por questões fiscais e contábeis, muitas empresas precisam calcular fechamentos e emitir balanços, relatórios e afins. Mas essas atividades normalmente se dão no foro fechado dos escritórios. Nada têm a ver com a multidão se trombando grosseiramente pelas ruas, com vias congestionadas e carros conduzidos por motoristas sem educação, que fazem da buzina sua válvula de escape para neuroses. Então, se não são os encerramentos contábeis, serão o menino Jesus e o Papai-Noel os culpados pela muvuca? Não, minha gente. O que faz as pessoas ficarem correndo feito idiotas pelas ruas não tem nada a ver com Jesus, nem com natal, nem com o velho Noel. É apenas uma conveniência criada pelo sistema de mercado capitalista. Ele apossou-se simbolicamente de diversas festividades e, mediante a propaganda de massa, passou a ditar normas para sua “correta” comemoração.



Portanto, o natal de Jesus e do velho bispo Nicolau, não tem nada a ver com amigo secreto da empresa, presentes caríssimos para as crianças, trocas de mimos ostensivos, compras para si, menos ainda com roupas exuberantes, panetones, perus ou banquetes dionísicos. Isso tudo constituem formas que o sistema de mercado e o capitalismo criaram para as pessoas torrarem o dinheiro que possuem e que não possuem para realizar a alegria. De quem? Dos empresários industriais, comerciais e, sobretudo, multiplicar a acumulação de capital dos banqueiros. Vou concluir meu raciocínio com uma opinião, que espero que minha caçula não venha a saber por enquanto: eu me lixo para os significados artificiais atribuídos ao dia 25 de dezembro! Não vejo sentido comemorar com tanto pieguismo o nascimento de Jesus nesta data, se foi apenas uma adaptação grosseira da efeméride romana do Sol Invictus, somada aos equívocos astronômicos e conveniências do calendário gregoriano. Pronto, falei.



Mesmo assim, sem crise. Digamos que adotemos isso por conveniência. Será então que um casal de humildes migrantes palestinos, mal acomodados em um casebre, estábulo ou semelhante, cuidando de uma criança especial 2000 anos atrás, tem relação com shoppings entupidos, carros buzinando e pessoas arrastando sacolas e dívidas maiores do que elas próprias? Creio que não. Certamente a memória do nascimento de Jesus de Nazaré combinaria mais com uma pequena e também humilde reunião de família, no seu menor núcleo, para reflexão de como tem sido a vida e o que possa ser feito de bom no porvir. Quem sabe aos que tem fé, no sentido religioso, caiba também uma singela prece de agradecimento pela vida. Isso sim me pareceria natal. Sem buzinas, sem endividamento com os bancos, sem lojas lotadas, sem se entupir de gordura e carboidratos, sem encher a cara de álcool e falar merda (perdão pela palavra) para os convivas. Enfim, penso que o amor verdadeiro não faça alarde.


Mas paciência, nada podemos. Deixemos os ignorantes e alienados seguirem seu curso, como gado, entupindo as ruas comerciais, se endividando, buscando felicidade no artifício dos presentes cheios de pompa, mas vazios de sentido. Aviso aos navegantes: a família Xavier está saindo de fininho dessa, em especial, neste ano. Bom natal a todos! Cada um à sua moda.