terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mediação, professora! Sabe o que é?


Abro o envelope com as avaliações escolares da caçula. Sob meus olhos o sinal nítido de que alguns professores não se renovam, não pesquisam, não se aperfeiçoam. Perguntas com jeitinho de CTRL-C / CTRL-V, frases para completar transcritas literalmente de parágrafos do livro, perguntas descontextualizadas, passíveis de serem respondidas com “sim” ou “não”, mas que ainda incluem a petulante comanda “explique”. Como assim, professora? Explicar o quê? Que tipo de explicação a senhora quer?

A avaliação em questão era de História e, seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais, o tema era República Brasileira. Perfeito! Dentro do assunto. Até porque é exatamente o que o livro didático adotado traz. Mas o livro é um mero instrumento de apoio. A aprendizagem pressupõe uma dinâmica, na qual o professor desvende o nível de compreensão prévia dos alunos sobre um tema para, a partir dessa compreensão, alicerçarem os conceitos necessários para o avanço sobre um assunto. Não há de ser possível uma criança entender uma unidade temática, sem que as categorias fundamentais do assunto estejam sedimentadas.

Desse modo, não faz sentido tratar - no exemplo em questão - a ditadura Vargas abordando datas de início e fim, nomes de lugares e menção a fatos isolados sem que:
  • Conceitos como formas de governo, ditadura e democracia estejam firmados; 
  • A compreensão do que são agentes sociais, partidos políticos e movimentos, esteja assegurada; 
  • O entendimento de que a história é uma construção coletiva com mudanças, lentas ou abruptas,seja de comum compreensão. 
Ficarei apenas nesses três aspectos acima, pois julgo que para a questão, sejam suficientes. Notei que a criança não respondeu a três ou quatro questões, de comanda e clareza duvidosas e perguntei:


- Filha, você sabe o que é uma ditadura?

- Não.

- Você sabe o que é uma democracia?

- Não.

- A diferença entre eleições diretas e indiretas?

- Não.


Bem, professora, aposto uma feijoada no sábado - com caipirinha e tudo! - que os conceitos elementares não foram amadurecidos, discutidos, trabalhados, simulados, teatralizados e esgotados com os pequenos. Aposto também que se eu lhe perguntar com firmeza sobre eles, a senhora escorregará ao menos em um ou dois. Então, qual será a serventia de ficar pedindo datas, nomes e locais se o assunto em si não é significativo para as crianças, professora? Para decorar?

- Quase tudo que aprendi, amanhã já esqueci.
Meu caro professor, minha cara professora: parem de ficar aplicando decoreba e passem a firmar conceitos, promover a articulação de conhecimentos, contextualização. Agora, se vossas dificuldades, por ventura, incluírem desconhecimento de concepções mais atuais sobre aprendizagem, boas técnicas didáticas ou o que venha ser mediação pedagógica, na boa: voltem para a universidade e debrucem-se sobre os livros.

Por favor, para seu próprio bem, de seus alunos e de nosso país!