sábado, 19 de novembro de 2011

Quero mais saúde!

Sei que sou insistente sobre o assunto de serviços públicos. Sou mesmo. Nasci em uma classe de despossuídos: 25% do meu carro ainda pertencem a um banco, não possuo meios de produção senão meu fadigado intelecto, minha casa é hipotecada, não possuo poupança e nem investimentos no mercado financeiro. Enfim, eu e a darling dependemos unicamente de nossa capacidade de produzir mais-valia para a economia do país e nos virarmos nos 45 (nossos 30 já se foram há uma década e meia) para nos sustentarmos.

Estou impactado por reassistir a Sicko, do cineasta Michael Moore, justamente após uma reportagem ligada a um hospital de minha região, o Hospital Santa Marcelina, que por aqui é um dos únicos onde um cidadão consegue atendimento do SUS em questões complexas. Soube por uma reportagem na TV Cultura, entrevistando o ministro da saúde, que esse hospital vai receber ação do Ministério da Saúde para acolher mais e melhor às emergências da região (saiba mais aqui). Nada pode ser melhor.


Há cerca de um ano e pouco, tive duas ocasiões em que o SUS e o Hospital Santa Marcelina foram importantíssimos em minha vida. Tive crises renais, causadas por cálculos - as populares “pedras” - e eu estava sem convênio médico. Em ambas cheguei rastejando e gemendo, dada a dor insuportável, de sorte que tive prioridade no atendimento. O que me pediram lá depois de me colocaram em atendimento? O RG. E se eu não o tivesse em mãos eles teriam preenchido uma ficha incompleta mesmo, afinal o serviço é UNIVERSAL.
O atendimento é de fato abarrotado de gente. Não podia ser diferente. A cidade-dormitório em que consiste a região de Itaquera, na zona leste paulistana é imensa. Medicação imediata para a dor e uma espera imensa, entre uma passagem e outra pelo médico. Congestionado. Mesmo assim, em ambos os comparecimentos eu tive acesso a: consulta-médica, enfermagem, radiografia, ultrassonografia, hemogramas, exames de urina, tomografia e medicação no local. Em ambos os casos o cálculo era relativamente pequeno e o quadro infeccioso era de baixo risco, de modo que recebi alta e, de fato, as malditas pedrinhas se foram por meio escuso no dia seguinte. Mas fui bem atendido por médicos capazes, enfermeiros, técnicos e tive acesso a tecnologias que, se um colega de trabalho meu tivesse tido no convênio dele, talvez não teria morrido. O caso do meu colega, que já faz dois anos, exigia, entre outras coisas, uma simples tomografia que teria confirmado o câncer. Mas por meses a fio, o Hospital Albert Sabin e a Lam Saúde alegaram o aparelho estar quebrado. Outra hora eu conto alguns passos desse caso.
Duas décadas atrás uma querida amiga, a Inês, teve uma parada cardíaca. Ela era associada daqueles planos megaultravipblater da Golden Cross, há mais de dez anos. Talvez tenha usado em uma ou outra consulta oftalmológica ou algo assim. Eis que a demanda da crise foi por um marcapasso. Na época custava a “fortuna” de 7 ou 8 mil dólares. Bem, cliente há dez anos, ela conseguiu a autorização da Golden Cross, certo? ERRADO! Acontece que o acidente cardíaco foi atribuído a um problema de má formação congênita e blá-blá-blá-whiskas-sachê e, logo, a grande empresa multinacional de saúde não autorizava. Mais ou menos como se você tivesse ligado um aparelho de som no 220V e perdesse a garantia, entende? Simples assim. Afinal, para empresas de seguro, um coração ou um aparelho de som são bens e pagar consertos, bancar peças ou marcapassos traz prejuízos.
No caso de minha amiga Inês quem arcou com o marcapasso e, mais recentemente com a troca dele, foi o SERVIÇO PÚBLICO DE SAÚDE DO BRASIL. Sabe, esse serviço do qual a imprensa fica apontando fraudes, corrupção, desvios, o que, afinal de contas, qualquer ser pensante também abomina. Mas que nenhum cidadão consciente deveria proferir que devam ser extintos, principalmente em prol de corporações que só visam o lucro, ainda que, para que lucrem, danam-se que médicos ganhem pouco, que tratamentos vitais sejam negados, que gente vá parar na cova, contanto que mais “associados” entrem no plano e paguem suas mensalidades em dia.



Por essas e tantas outras, que vejo com louvor cada vez que um governante quebra patentes de medicamentos para distribuí-los no serviço público (viu Serra?), ou destina verbas para a saúde pública, encampa serviços malfeitos e, enfim, faz qualquer coisa para que em um hospital, QUALQUER PESSOA que esteja em solo brasileiro possa entrar, pedir socorro e ser atendida. Isso é muito importante.


Assim sendo, parem de cair no conto das revistas e emissoras de TV, cujos anunciantes são serviços privados de saúde. Pare de ficar papagueando pela privatização da saúde no Brasil. Assista a Sicko e veja como os trabalhadores estadunidenses estão sendo ROUBADOS, ENGANADOS e ASSASSINADOS pelos planos de saúde privados. Vejam como, na hora de tratar um sujeito que contribuiu com o seguro-saúde, esses crápulas não têm a menor piedade de jogar um doente na rua, porque ele não possui dinheiro ou bens para se endividar com os custos caríssimos de um tratamento.