sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Vá em paz Gunther

Os desígnios divinos são mesmo imperscrutáveis. Quem saberá o que se passa na cabeça dos deuses, sejam eles politeístas ou monoteístas? Já li - não lembro em qual romance - que "Deus, o Destino e o Kaiser são a mesma pessoa" (acho que foi em um Machado de Assis).

Mas quero manifestar meus pêsames pelo falecimento de Gunther Link. Alguém de quem pouco sabemos, mas que sem dúvida foi um homem sincero na sua devoção. Católico fervoroso com 45 anos Gunther havia ficado preso em um elevador pouco antes. Podemos supor que a maioria dos leitores daqui já tenham ficado presos em elevadores. Pelo menos eu fiquei algumas vezes, já que nem todos são mantidos com as preventivas recomendadas. Felizmente nenhum despencou do cabo de aço, razão pela qual encontro-me aqui escrevendo para deleite dos 5 leitores. Mas voltemos ao assunto.

É a fé que permite ao homem enxergar os acontecimentos com outros olhos. No aparentemente corriqueiro, o homem de fé consegue enxergar a ação divina. Do alto da sua fé, Gunther interpretou seu resgate como um milagre divino, tal como um Lázaro a sair do sepulcro. Logo Gunther não teve a menor dúvida em dirigir-se a um templo católico para agradecer, com um ato de reverência, gratidão e adoração. Porém o destino lhe reservava mais uma surpresa. Pior ou melhor, ninguém senão ele agora poderá saber.

Ocorreu que ao abraçar uma pilastra do altar - provavelmente emocionado e orando aos prantos - o Sr. Link foi abatido pela gigantesca pedra da mesa de culto que caiu sobre ele. Seu corpo padeceu ali mesmo, naquele que seria seu derradeiro ato de fé na vida carnal. Ao morrer na casa do seu senhor, Gunther talvez estivesse sinalizando simbolicamente o destino de sua alma.

Não sei como são as igrejas na Áustria, se há zelador, se trancam as portas ou se são ao menos vigiadas. Mas essa em específico parece que não. Gunther foi encontrado por fieis somente no dia seguinte, por ocasião dos preparativos para a missa. Qual não terá sido o choque das pessoas que, adentrando ao templo, encontraram aquele homem simples e piedoso prensado sob o altar sagrado de oferenda e celebração? Pois assim estava o próprio corpo de Gunther como um auto-sacrifício para a incompreensão de muitos. Descrente e materialista, agora a polícia de Viena está investigando o ininvestigável. Pobres homens esses que tentam compreender o que não é compreendido pelo intelecto, mas tão e somente pela alma daquele que crê.

Vai ter azar assim no inferno, hein Gunther! Ou sorte no paraíso. Quem há de saber?

A propósito, a notícia foi obtida AQUI.

Um comentário:

Anônimo disse...

Xavier, com este texto exato e vigoroso, vc não tem apenas 5 leitores. Ai, os desígnios divinos... quem pode entender?
Mara