
Dia desses uma amiga muito querida me telefonou. Dizia estar na sacada externa da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, situada ao lado da praça da Sé, em São Paulo. Lembrou-me das tantas vezes em que nós, nas sacadas internas, confidenciávamos nossas angústias, descobertas e reflexões. Éramos jovens e sonhadores estudantes da faculdade Nossa Senhora da Assunção - ligada à atual UNIFAI - cujo curso noturno, bacharelado em Filosofia e Teologia, funcionava nas salas anexas cedidas.
Naquele tempo saltava-nos aos olhos o requinte do estilo daquela igreja. Construção estilosa, algo entre o barroco e o arcaico, a obra é do séc. XVIII e guarda verdadeiros tesouros históricos. Entre eles uma cripta subterrânea, onde eram sepultados membros notáveis da ordem. Lamentavelmente, entre outras desgraças, no meio do século passado o espaço foi invadido por ladrões, que saquearam os túmulos. Deixaram as ossadas em tal anarquia, de sorte que aquelas que não foram reclamadas por descendentes e herdeiros, foram amontoadas pela zeladoria em uma urna comum, ao centro da cripta. História violada, espalhada e, pior: abandonada por alguns que não foram lá dar conta dos próprios ascendentes.


Pobre povo que não preserva sua história. Sem passado, vive sem identidade e sem identidade tem futuro incerto.
A Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo foi tombada pelo IPHAN, em 04/12/92.
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