quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Momento junk food

Porta de faculdade é um paraíso da informalidade e da livre-iniciativa do setor alimentício. Onde estou estudando, quando se chega a uma quadra e meia de distância, tem-se a sensação de andar por uma feira em Xangai ou na Chinatown do filme Blade Runner. Só que sem o charme hollywoodiano e no lugar dos neons há lampiões de gás e lâmpadas incandescentes. Tá bom e eu não sou nenhum Harrison Ford. São carrinhos, barracas, vans, carros de passeio com porta-malas adaptados, tudo dando mostras de criatividade sem-limite, quando o assunto é obter um sustento honesto, de carona na fome dos estudantes.

As opções gastronômicas são inúmeras. Vão dos tradicionais sanduíches, passando por pastéis, mini-pizzas, tapiocas e chega até a pratos elaborados como yakissoba e macarronada tradicional. Tudo pode ser levado para viagem ou ser consumido no local, seja em pé, seja nos banquinhos plásticos que abarrotam as calçadas. Essa balbúrdia toda não me parece algo ruim por si só, pois na minha passagem anterior pela mesma faculdade há uns oito ou nove anos, não havia quase nada disponível para interromper o ronco do estômago. Só uns poucos pioneiros dos quais enjoávamos na terceira semana de aula.

Hoje como a oferta é abundante em quantidade e diversidade, os empreendedores dos mata-fome curvam-se às leis do mercado e procuram diferenciais para atrair e fidelizar a clientela rotativa. Aí é que a coisa começa ficar apavorante. Ontem parei em um dos pontos de venda e vi que se tratava de um comerciante de cachorro-quente. Li um cartaz que era um cardápio-tabela e não acreditei. Jamais imaginei ser possível fazer vinte e duas variações de um simples pão com salsicha. Você não tem idéia da diversidade: com uma ou duas salsichas e com molho ou sem molho eram os triviais. Mas as combinações possíveis incluíam até quatro-queijos, adição de "calabresa processada" (tenho medo de imaginar o que significa) e saladas das mais diversas, além dos diferentes tipos de pães. Enfastiado pela múltipla escolha decidi pedir um simples, tradicional e objetivo cheeseburguer. Um hambúrguer com queijo, no meio de um pãozinho e nada mais. De preferência pão francês porque esses pães industrializados esfarelentos não me atraem. Simples, certo? Não lá.

- Certo tio, um xisburgui. Ou superdoguiburgui?

- Super o quê?

- É uma novidade da casa (sic). Um rotidógui com tudo que tem direito e no meio ainda vai um hambugui picadinho espalhado. No capricho tio.

Faço um esforço pra disfarçar a náusea e reforço o pedido:

- Por favor. Um cheeseburguer o mais simples possível no pão francês.

Enquanto o cara fritava o meu hambúrguer eu tentava esquecer a gororoba ofertada por ele. Um hambúrguer estraçalhado no meio de um pão com salsicha, coberto por outros cento e trinta ingredientes definitivamente não me parece algo apetecedor.

Algo está me dizendo para eu trazer uma marmitinha extra de casa e jantar no escritório antes de ir pra aula.

Um comentário:

JRP disse...

Era mais fácil o cara substituir o hamburguer por carne moída.
Dava um tcham especial.

Aliás, melhor mesmo são os yakissobas feitos na hora!

Comer em SP é uma aventura!