quinta-feira, 30 de julho de 2009

O poder de cura do riso

Patch Adams já está entre nós. Muito interessante a reportagem e os esclarecimentos dos profissionais entrevistados. Destaque para a psicóloga Andréia Christina de quem eu tenho a honra de ser amigo.

domingo, 26 de julho de 2009

Envelhecer com dignidade

A questão da velhice sempre me intrigou. Me lembro de quando criança pegar nas mãos de uma tia-bisavó e ficar brincando com a sua pele flácida. Não achava beleza nem feiúra. Era apenas uma mistura de carinho e brincadeira de criança. Ao mesmo tempo, seus cabelos branquinhos e presos em coque me transmitiam uma imagem de grandiosidade que eu não sabia explicar. Hoje entendo mais racionalmente como sinais externos da experiência histórica de décadas vividas, a prenunciar a escassez do tempo restante.

Semana passada eu estava com a família em um balneário tirando uns dias de férias. No local, considerável parcela dos hóspedes eram pessoas acima dos sessenta anos, algumas das quais organizadas em excursões. O convívio inevitável nas áreas comuns - como no restaurante - permitiam-me observar trejeitos e comportamentos de vários deles, como em uma pesquisa de campo descompromissada. Os perfis eram dos mais variados e cada um denotava nas entrelinhas as diferentes concepções de vida.

Um dos casais parecia em plena lua de mel. O zelo e o trato mútuos levantavam-me a suspeita de que poderia não ser um casamento de bodas de ouro, mas sim um namoro recente. A história verossímil que construí mentalmente para eles dava conta de que ambos haviam enviuvado há alguns anos e tinham se conhecido em um baile. Com efeito eles dançavam com desenvoltura invejável durante os bailes noturnos no balneário. Tinham simplicidade no vestir, mas de modo esmerado, transmitindo a imagem de pessoas de poucas posses, porém caprichosas consigo. Os cabelos rareando e os rostos marcados pelo tempo nem pareciam ser das mesmas pessoas, que demonstravam gana por tirar o melhor proveito do cotidiano. Acima de tudo um bonito par de namoradinhos, isso eram mesmo.

Já outro casal destacava-se pelo contraste de aparências. Ela, curiosamente andava de bobes na cabeça durante parte do dia, sempre vestida de modo exagerado para o local. Era como se a qualquer momento fosse participar de um evento diplomático ou receber um célebre. O seu companheiro parecia mais velho. Era despojado, mas não menos distinto. Andava sempre bem arrumado e com boas costuras, mesmo que trajado de modo informal. A dona tinha características visíveis de quem passou por cirurgia plástica. Se sua face emprestava-lhe uma década a menos à primeira olhada - o que explicava a aparência de mais jovem que o marido - não resistia à segunda fitada, pois ostentava aqueles olhos repuxados pelo esticamento da pele. Chegava mesmo a ser estranha pelas vestes e aparência um bocado artificializadas. Sua postura era altiva e um tanto pedante, enquanto a de seu marido insinuava a vassalagem de quem ficava com parte bem menor das posses sociais e materiais.

No local haviam outros tantos. Uns solitários, de olhar perdido, e outros que mesmo sem par misturavam-se aos dançantes fazendo a própria festa. Vi também turmas de senhoras desacompanhadas, que ficavam em rodinhas tagarelando, cada qual encenando a seu modo o teatro concreto da velhice. No que será que pensavam quando estavam em silêncio? Fofocando com minha querida reparávamos em um e outro, aqui e acolá, enquanto aproveitávamos para elucubrar sobre como deveríamos viver a nossa terceira idade. De consenso até o momento só temos que o zelo com a aparência não resolve as questões da alma e que envelhecer com saúde, autonomia, dignidade e alegria possa ser o suficiente, apesar de ser um desafio grandioso por si só.

Acabamos elegendo como modelo a simplicidade do primeiro casal - os supostos viúvos - que acima de tudo faziam notar um equilíbrio carinhoso e sadio na relação amorosa. Não vejo com bons olhos o esforço desmedido em cirurgias e tratamentos estéticos, pois mais desfiguram do que configuram. Tentar resgatar forçosamente com bisturis e enxertos, o viço de décadas que já passaram, sempre me soou um pouco doentio.

Generalizando um pouco, minha percepção é que as pessoas que mais se sacrificam e gastam dinheiro pela aparência física curiosamente são as que menos zelam pela espiritualidade. Por espiritualidade, entenda aqui a busca de saberes mais profundos, de transcendência, de completude, de autoconhecimento e de um modo de viver presente e reflexivo. Para mim é como se a ganância cega pelo visual buscasse compensação pela esqualidez e fugacidade da alma desnutrida. Hoje em dia essa busca já não é exclusiva dos mais velhos. Podemos encontrar moças de vinte anos ou até menos entregando-se às clínicas de cirurgia estética, como quem rasteja diante dos ditames comerciais da beleza física a qualquer preço. O desespero pela aparência pode ser apenas uma válvula de escape, paradoxalmente por causa de um vazio interior. Em um mundo marcado pelo consumo não é de se estranhar que a embalagem ganhe mais atenção do que o produto. Mas são escolhas. Cada pessoa faz as suas.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Justa causa

Antes de você praquejar contra mim porque esta espelunca não é atualizada, explico: eu estaaaava gozando férias (infelizmente no pretérito).

Segundo, caso queira ler os melhores microposts do momento, aviso que estou tuitando:


Sem mais para o momento.

Tio Xavier

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Tunak

No clima criativo de modinha indiana que a novela da Globo está suscitando, a Som Livre bem que podia ressuscitar o Tunak. Afinal de contas, ninguém mais sensacional, indiano e dançante do que ele. Acrescente-se "Bizarro".

domingo, 12 de julho de 2009

Festival do quê???

Pamplona, Espanha. Festival de São Firmino. Lá foi o povo lançar mão do seu sadismo e manifestar seu desprezo pelos animais na realização de mais uma competição absurda. Competição é modo de dizer, porque na verdade trata-se de um massacre onde os vencedores são sempre os mesmos: uma multidão covarde de seres humanos. O perdedor - ou melhor dizendo, a vítima fatal - é um pobre animal, que não pediu para participar e sequer entende o que está acontecendo. Aliás nem eu entendo. Gostaria de saber se esse tal Firmino que batiza a festa era também sádico e maltratava animais. Não pesquisei sua vida, mas duvido um bocado. Os homens santos de verdade são marcados principalmente pelo respeito à vida e pela compaixão.

Desesperado com a turba ensandecida o touro tenta apenas fugir e se defender como possível. Talvez instintivamente ele perceba que seus minutos estão contados. Como resultado, na última "festa" desta semana o valente bovino conseguiu o que na minha avaliação foi uma façanha. Ao defender-se bravamente da multidão logrou êxito ao atacar um dos endemoninhados que se divertia com os maus-tratos. Matou o idiota a chifradas perfurando seu pulmão e o pescoço. Querem saber minha opinião? Bem feito! Parabéns para o touro! Pena que o pobre animal, atacado por centenas de dementes não tenha dado conta de mais uma dúzia deles. Claro que depois dessa palhaçada o animal é abatido, sempre da forma mais cruel possível.

Mas nem tudo está perdido. Enquanto o massacre era praticado, um enorme grupo de manifestantes vindos de vários países protestava contra essa aberração. Muitos aproveitaram o verão europeu e desfilaram nus o que, segundo organizadores, era para chamar a atenção. Espero que tenham conseguido o objetivo. Embora esses peladões sejam um tanto bizarros e andar com genitálias expostas não seja a única maneira eficaz de protesto, ao menos estão expondo a si mesmos, ao contrário dos sádicos e cruéis que se divertem expondo ao sofrimento animais inocentes.

Que existam seres humanos idiotas e maus o suficiente para realizar festivais como o de São Firmino, vaquejadas, touradas, rodeios e similares isso já não me espanta, embora eu continue indignado. O que ainda me preocupa mais é que governantes sejam igualmente covardes e sádicos a ponto de continuar a permitir esse tipo de coisa, tendo como pretexto promover o turismo e seja lá o que mais for.

Enquanto nada é feito, continuarei a torcer pelos touros e vibrar quando algum desses pobres bichos conseguir dar o troco devido. Espero também que o idiota que morreu a chifradas acorde em outro mundo, correndo desesperado e nu no meio de uma porção de touros enlouquecidos, em algo como um "festival de São Bovinus". Tomara mesmo.

Foto: Reuters

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Bingo versus o abandono de animais

Anos antes de eu me mudar do bairro de Vila Romana, uma colega de sala - a Marta - avisou na escola que sua cachorrinha sem raça definida havia parido meia-dúzia de filhotes e os doaria assim que desmamassem. Demorou alguns dias para eu convencer meus pais a me deixarem ficar com um. Mas com minha persistência acabaram cedendo. Claro que com aquela lista de condições que se referiam ao zêlo com o animal, incluindo a higiene dele e limpeza da sujeira. Tudo seria a meu cargo, mas eu prometeria qualquer coisa naquela hora, ainda que todos soubéssemos que nem sempre cumpriria.

Como fui o último a confirmar, tive que me resignar com o último deles que era o mais feinho de todos. Era cinzento, de pelagem bagunçada e seu porte indicava que nunca teria uma estatura vistosa. Bingo foi o nome que escolhi.

Os meses foram passando e tal e qual na fábula do pato, o cãozinho feio foi se configurando no mais bonito de toda a ninhada. Como rezava um boato, o suposto pai era um cocker-espanhol que morava na vizinhança. Se for verdade, Bingo herdou suas mais bonitas características que incluiam um farto pêlo dourado, sedoso e esvoaçante. Sua estatura ficou média e a postura garbosa. Como eu nunca fora muito de brincar na rua, Bingo era na prática o meu melhor amigo. Chorava comigo quando eu levava chineladas da minha mãe, fazia papel de monstro nas brincadeiras com meus soldadinhos e miniaturas e me acompanhava em passeios, ocasiões em que me protegia sempre que uma turminha de moleques folgados vinha me importunar.

Depois de quatro anos na Vila Romana, o meu amigo canino chegou a morar conosco em mais duas efêmeras residências no bairro de Vila Maria. Mas eis que chega em casa uma carta muito implorada aos anjos e santos pela minha mãe. A Cohab - Cia Habitacional de São Paulo - ofereceu à minha família um apartamento na Cohab-II, um conjunto imenso no fundão do final, da então última beirada da Zona Leste de São Paulo. O sonho da casa própria iria se concretizar. Mas havia um pequeno problema: em um minúsculo apartamento de dois dormitórios, os cães, além de não terem lugar adequado, eram expressamente proibidos pela arrendatária. Em suma, eu teria que me despedir do meu amigo Bingo, com quem eu convivera em significativa parte das infâncias de ambos.

Por semanas procuramos entre a vasta parentela quem tivesse uma casa com espaço e se dispusesse a adotar um cachorro com seis anos. Bingo era inofensivo, mas a maior das pessoas hesita em arcar com um cão adulto. De conversa em conversa meu pai conseguiu que uma prima, que morava no diametralmente oposto bairro do Jaraguá, ficasse com Bingo. Já o conheciam e aceitaram na família. Avesso às minhas preces para o tempo parar, o destino chegou e trouxe consigo o dia de o levarmos. Um tio que tinha carro nos transportou até a casa da prima. Fomos eu e meu pai, levando Bingo e seus pertences. Eu estava no banco de trás e fiz o trajeto todo abraçado a ele, ensopando-o com o sofrido choro da separação. Não era um cão. Era antes parte de minha vivência, da qual eu me despedia naquele momento. Depois de ambientado na casa da prima, almoçamos e chegou a hora de partirmos. Dói lembrar essa cena e não sei por mais quantos dias ou semanas eu chorei escondido pela saudade do cãozinho a quem eu tinha dado leite, comida, carinho e amizade. Do Bingo eu tinha recebido fidelidade, afeto e companhia infalíveis. Por causa da distância, agravada pela falta de um automóvel e pela condução precária, revi meu amigo por mais poucas vezes depois disso. Até que anos mais tarde soube que ele morrera.

Hoje recordando-me do meu amigo Bingo não me conformo que a Prefeitura de São Paulo tenha que fazer uma campanha de conscientização para que não se abandone animais. Que raio de animal é o bicho-homem para ser capaz de expulsar do convívio familiar um animal domesticado e abandoná-lo indefeso em beiras de estrada, bairros desconhecidos e terrenos baldios? A racionalidade atribuída como exclusiva do homem, antes de ser sua melhor qualidade, talvez seja seu pior defeito. A razão, nesse caso, talvez seja o atributo que permite a um humano contabilizar egoisticamente o que julga oportuno para si, ignorando, entre outras coisas o olhar terno e fiel de um animal de estimação.

Me preocupa conviver com uma comunidade humana tão consumista e pragmática a ponto de um animalzinho de convívio não lhe despertar amor de verdade, com zelo e responsabilidade. Mas esses são os tais humanos e quanto mais os conheço mais me decepciono com eles. Sempre suspeitei que um ser humano que não sinta compaixão por um animal seja igualmente incapaz de senti-la pelo seu semelhante.

Fica aqui meu recado: não abandone nunca seu animal de estimação. Ao menos consiga outro lar para ele. Faça isso por você mesmo. Caso seja incapaz de compreender, lamento muito por você.

Cartaz da campanha contra o abandono de animais.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Depois da santa do vidro...

No RS uma família encontrou o que acha ser o rosto do Michael Jackson na gordura de uma carne assada (foto).

Emílio Rotta/Ag. Free Lancer /Futura Press/Site Terra

Essa imagem, no meu ver, revela ao menos dez coisas:

1) Eles lavam os utensílios de maneira duvidosa. Tem crostas que estão lá desde quando Michael começou a carreira.

2) Essa família não é longeva. Devem morrer de infarte ou AVC em pouco tempo.

3) Pelo mesmo motivo, os manequins da família são todos acima de 46, incluindo a filha de 6 anos.

4) O Gugu no próximo domingo fará uma extensa cobertura do assunto, já que a santa do vidro foi esquecida.

5) Em breve legiões de fãs piedosos farão romaria ao RS para ver o rosto gordurento na fôrma.

6) O milagre só durará o inverno. Na primavera essa nojeira derreterá.

7) Há gente desocupada na família. Quem é que fica olhando gordura em assadeira à caça de imagens?

8) Esse fotógrafo (devidamente creditado) tem um futuro brilhante. Cobertura de assadeira com gordura é sem dúvida um furo de reportagem.

9) Lajeado-RS é um mercado potencial para venda de papel-alumínio. Ninguém por lá sabe forrar uma assadeira.

10) E, por fim, a família em questão tem um baita mau-gosto para decoração: a cortina de bambuzinho, a geladeira bege e o gabinete cor de mogno são lamentáveis. Extreme Makeover neles!