domingo, 27 de junho de 2010

No terreiro da concorrência

Poucas coisas atestam tanta incompetência e falta de criatividade quanto copiar estratégias de outrem sem questioná-las. Já faz tempo que parte dos membros da Igreja Católica demonstram estar sem rumo e perplexos diante do esvaziamento de algumas atividades, enquanto "as concorrentes" abrem filiais imensas, quase que por semana.

Após o sufocamento do movimento da Teologia da Libertação há duas décadas, movimento este que propunha uma prática de fé mais politizada e engajada na transformação social, o que ocorreu foi o reflorescimento de movimentos direitistas, incluindo até um tal de Arautos do Evangelho, sabidamente viúvas da TFP de Plínio Correia de Oliveira, o suprassumo do facismo cristianizado no Brasil. Sem falar que outros, dos quais nem ouvíamos notícias mais, como a Opus Dei mas, gradualmente, vão dando os ares na base de fiéis.

Em rota distinta, porém mantendo crescimento, vê-se a Renovação Carismática Católica (RCC), movimento neopentecostalista que hoje comanda um pequeno império de comunicação, do qual o empreendimento "Rede Canção Nova" aglutina emissoras de TV, concessões de rádio e um sem-número de editoras e publicações. A RCC, se não conta com a simpatia extrema do Cardeal Ratzinger, atual papa, também não é execrada por este, parte pelo poder econômico e político que ela possui no meio católico e, por outro lado porque não é tão questionadora das estruturas hierárquicas, como foi a Teologia da Libertação.

Quem sabe esse assunto nem seja mais da minha conta, posto que deixei de ser católico há tempos. Mas me entristece ver que seres humanos de boa vontade e índole valiosa podem estar sendo orientados por gente que não tem nada a dizer e, em última análise, almejam somente a preservação de seu status. Deve ser a respeito desses que Jesus teria falado sobre os guias cegos.


O mais bizarro de tudo isso é a penetração que a linguagem neopentecostalista da RCC tem realizado entre os católicos. O cartaz ao lado parece ter sido arrancado de alguma porta da Igreja Universal de Edir Macedo. Mas eu fotografei na porta de uma paróquia católica na capital paulista. Se a seita de Edir Macedo chega aos limites do grotesco pelos descarregos, desobsessões, sessões e campanhas diárias contra os demônios, a respeito dos quais alegam quase a onipresença, pior ainda é quando a falta de linha pastoral faz com que comunidades religiosas sérias copiem esse tipo de marketing religioso embusteiro e paupérrimo. Podiam ao menos estudar um pouco de Teologia e mesmo de História para tentar fazer obras mais embasadas e, quem sabe até, menos ridículas.

Que me desculpem aqueles que se sentirem ofendidos pelo exposto. Não é minha intenção a ofensa jamais. Mas a Igreja Católica é um meio social onde tenho muitos amigos e pessoas estimadas que, porém, estão sendo conduzidas ao abismo da alienação por guias cegos. Contra fotos não há argumentos, parafraseio sem medo...

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