quarta-feira, 30 de junho de 2010

Eu quero um

Esse é mais um mimo da minha lista de coisas essenciais e vitais, das quais eu não sabia a existência até há poucos segundos. Eu quero, eu preciso, eu não posso viver sem um.

Com vocês, senhoras e senhores, o CARRO-AVIÃO. Em 30 segundos o bólido abre as asas e o motorista pode ganhar os céus. E o mais legal: lá em cima não tem radar fotográfico da CET.

Esses americanos...

Foto: Terrafugia / Último Segundo - IG
Só não dá pra bobear com o combustível, ok?

domingo, 27 de junho de 2010

No terreiro da concorrência

Poucas coisas atestam tanta incompetência e falta de criatividade quanto copiar estratégias de outrem sem questioná-las. Já faz tempo que parte dos membros da Igreja Católica demonstram estar sem rumo e perplexos diante do esvaziamento de algumas atividades, enquanto "as concorrentes" abrem filiais imensas, quase que por semana.

Após o sufocamento do movimento da Teologia da Libertação há duas décadas, movimento este que propunha uma prática de fé mais politizada e engajada na transformação social, o que ocorreu foi o reflorescimento de movimentos direitistas, incluindo até um tal de Arautos do Evangelho, sabidamente viúvas da TFP de Plínio Correia de Oliveira, o suprassumo do facismo cristianizado no Brasil. Sem falar que outros, dos quais nem ouvíamos notícias mais, como a Opus Dei mas, gradualmente, vão dando os ares na base de fiéis.

Em rota distinta, porém mantendo crescimento, vê-se a Renovação Carismática Católica (RCC), movimento neopentecostalista que hoje comanda um pequeno império de comunicação, do qual o empreendimento "Rede Canção Nova" aglutina emissoras de TV, concessões de rádio e um sem-número de editoras e publicações. A RCC, se não conta com a simpatia extrema do Cardeal Ratzinger, atual papa, também não é execrada por este, parte pelo poder econômico e político que ela possui no meio católico e, por outro lado porque não é tão questionadora das estruturas hierárquicas, como foi a Teologia da Libertação.

Quem sabe esse assunto nem seja mais da minha conta, posto que deixei de ser católico há tempos. Mas me entristece ver que seres humanos de boa vontade e índole valiosa podem estar sendo orientados por gente que não tem nada a dizer e, em última análise, almejam somente a preservação de seu status. Deve ser a respeito desses que Jesus teria falado sobre os guias cegos.


O mais bizarro de tudo isso é a penetração que a linguagem neopentecostalista da RCC tem realizado entre os católicos. O cartaz ao lado parece ter sido arrancado de alguma porta da Igreja Universal de Edir Macedo. Mas eu fotografei na porta de uma paróquia católica na capital paulista. Se a seita de Edir Macedo chega aos limites do grotesco pelos descarregos, desobsessões, sessões e campanhas diárias contra os demônios, a respeito dos quais alegam quase a onipresença, pior ainda é quando a falta de linha pastoral faz com que comunidades religiosas sérias copiem esse tipo de marketing religioso embusteiro e paupérrimo. Podiam ao menos estudar um pouco de Teologia e mesmo de História para tentar fazer obras mais embasadas e, quem sabe até, menos ridículas.

Que me desculpem aqueles que se sentirem ofendidos pelo exposto. Não é minha intenção a ofensa jamais. Mas a Igreja Católica é um meio social onde tenho muitos amigos e pessoas estimadas que, porém, estão sendo conduzidas ao abismo da alienação por guias cegos. Contra fotos não há argumentos, parafraseio sem medo...

sábado, 19 de junho de 2010

Sala 304

Ontem foi uma noite singular nos meus três anos mais recentes. Foi o último dia de comparecimento em minha graduação em Pedagogia. Foi uma dádiva da darling que, tendo acesso a duas bolsas de graduação, adiantou-se em ceder uma para mim e outra para meu sorrateiro e sábio enteado. Podendo escolher qualquer curso da universidade, exceto Medicina (para a qual não tenho a menor vocação), optei pela Pedagogia. Em parte, devido a um voluntariado na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na qual eu militava pouco antes, e para o qual senti que devia me capacitar melhor. Mas o curso acabou me reavivando das cinzas a fênix de um projeto antigo, do qual eu me esquivara há duas décadas, que era uma possível carreira acadêmica. Agora, picado novamente pelo mosquito do estudo, tratarei de me matricular no lato sensu para o próximo semestre, aproveitando o movimento inercial. Concluo meu curso satisfeito. Se não fiz mais nele foi por absoluta impossibilidade, já que meus papéis sociais somados me exigem um desdobramento inimaginável. Mas fiz sim o meu melhor que, sem falsa modéstia, foi melhor em absoluto do que a maioria dos meus contemporâneos de lá.

Embora eu cursasse sem pagar mensalidades, a empreitada me custou muito alto: tanto em dinheiro direto - mensalidade é apenas parte dos gastos em um curso universitário - quanto em capital pessoal. Do alto dos meus quarenta e tantos anos tenho a percepção de que o tempo é nosso bem mais escasso e que nossa dedicação a algo nos consome esse tempo que nunca mais recuperamos. Por isso nunca consegui disfarçar minha irritação em todas as vezes nas quais foi dificultoso o simples ato de ouvir a fala de um professor (cerca de 90% do tempo), dado o desinteresse e desrespeito coletivo das moçoilas da turma a tagarelar, de modo estridente, sobre qualquer assunto alheio à aula. Continua incompreensível para mim que pessoas saiam de suas casas ou trabalhos, enfrentem congestionamentos ou conduções lotadas, submetam seus estômagos à junk food dos arredores e subtraiam preciosas horas do convívio familiar ou do lazer, para passar de qualquer maneira por um curso universitário.

Penso que um curso superior, ainda mais em educação, seja algo tão importante quanto incompatível com comportamentos desrespeitosos dentro de uma sala de aula, que foi o que mais presenciei. Tendo frequentado outrora dois outros cursos superiores, foi neste último que encontrei as posturas mais inadequadas, considerando que as pessoas que lá se graduaram foram licenciadas para o ensino. Sem falar em plágio, trabalhos comprados ou tomados de terceiros e toda sorte de subterfúgios apenas para não fazer o mais razoável, que seria estudar e se capacitar. Perdoe-me a minoria que de fato tenha levado a sério. Mas cabe ressaltar que é minoria mesmo, não passando muito de um décimo da turma. Surpreendeu-se? Eu não mais.

Voltando a ontem, na última sala ocupada pela turma - a de nº 304 do prédio - havia festinha com comes, bebes e uma alegria incontida. As moças e jovens senhoras concluintes fantasiaram-se, tocaram cornetas e apitos corredor afora e tiraram centenas de fotos que já devem estar nos perfis do Orkut. Mostravam em suas faces uma sensação de alívio invejável. Pena que esse alívio não tenha sido uma explosão de realização por um trabalho dedicado e extenuante. No fundo foi alívio por ter acesso a um diploma e não ter mais que ir àquelas “porcarias de aulas”, não ter mais que fazer as “porcarias de trabalhos”, não ter mais que ler as “porcarias de textos” e, enfim, não ter mais que fazer o mínimo paupérrimo que a maioria delas fez, apenas para obter conceitos mínimos para aprovação e um mero pedaço de papel. Infelizmente este papel teoricamente as credencia a pleitear um cargo de... professora! Mas o que terá para ensinar alguém que não tem prazer em aprender? Como poderão ensinar a estudar, sendo isto algo que pouco ou mal fizeram? O que terão para dizer às crianças, adolescentes e jovens, sobre o bem intrínseco do conhecimento, pessoas que não o descobriram ou até rejeitam-no?

Essas são as professoras que poderão estar em escolas públicas e particulares fingindo educar. Volto a dizer que essa minha observação não se aplica à totalidade dos que lá estiveram, posto haver meia dúzia contada de colegas que realmente se dedicaram, buscando se tornar pessoas melhores. Mas em uma sala com quase sessenta alunos... e o “resto”? Bem, o “resto”, meus caros três ou quatro leitores, perpetuará a geração média, mediana e medíocre que está aí. Tanto as que conseguirem vagas como “professorinhas” - ou então “tias” - como aquelas que pendurarão os diplomas em cima dos seus fogões domésticos ou nas baias de seus subempregos, apenas para engordar as estatísticas de diplomados incapazes do que consta em seus diplomas. Uma pena...

Foi por tudo isso a minha falta de sorriso, fuga das máquinas fotográficas e minha visível recusa em participar da animada festa. De pouquíssimos de lá levarei boas recordações. São Paulo Freire rogai por nós!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A modinha do correto transcendeu-se

Acreditem: copiei isso do site de uma empresa.

Não bastavam as chatices dos Politicamente Corretos e as farsas dos Ecologicamente Corretos. Agora com vocês, senhoras e senhores... os Espiritualmente Corretos.

Este último selo quem é que ratifica? Yahweh? Budha? Alah? Jesus? Khrishna? O Dalai-Lama? O papa Bentão? Ou os babalorixás da Bahia?

Fala sério!

sábado, 5 de junho de 2010

Chega de desculpas

Créditos da foto: Profª Eloísa Meneses / Editora Plus

Há poucos dias o Governo definiu uma nova redução de orçamento, sendo que o Ministério da Educação foi o mais afetado: R$ 1,28 bilhão a menos em 2010. Essa questão do corte de gastos sociais já é antiga. Está na linha de destruição do "Estado do Bem-Estar Social" (Welfaire State - WS). O WS foi, no século passado, motor político e econômico internacional para tirar o Capitalismo da crise de 29 e, sobretudo, fomentar a mão-de-obra fabril da indústria crescente. A política do WS durou até meados dos anos 70, cujo reflexo aqui no Brasil foi o chamado "milagre econômico". Daí para diante o que vemos cá e lá é a paulatina destruição do WS. Então, meus caros, não se espantem. Para aumentar os lucros dos bancos e dos grandes conglomerados tudo vale: redução de salários, subtração de garantias trabalhistas e sucateamento dos serviços públicos. O processo de ataque inclui também o encolhimento destes ainda que, paradoxalmente, mantenha-se o inchamento de algumas máquinas estatais, claro que por apadrinhados da burguesia dirigente.

Sem ligar para isso tudo, a professora de Língua Portuguesa Eloísa Meneses, da periferia pobre de Porto Alegre (RS), cansou-se de ver o reflexo da violência local invadir a sala de aula sob a forma de indisciplina, ofensas, brigas e bullying. O cenário onde trabalha reflete o fim do WS: lousa velha e ruim, carteiras idem, tudo dentro de uma escola pública com instalações que remetem ao século passado, e ainda deteriorada pelo tempo de uso. Quem sabe ótimos pretextos para um professor pensar que não há nada a fazer.

Mas a professora Eloísa apostou no inusitado: convocou seus alunos para escrever um livro. Colocar suas identidades em algo que pudessem produzir refletindo sobre si mesmos. Pensando na diminuição da violência escolar concluiu que podia ensinar os alunos a usar a voz, a escrita e os sentidos para fazer algo de bom. Assim que tomou conhecimento do projeto Faça um E-book na Escola da Editora Plus, inscreveu a turma e organizou os alunos para a empreitada. Montou com sua turma uma coletânea de textos, desenhos e fotos dentro de um trabalho cooperativo, no qual as crianças colocaram em prática o ato de refletir e realizar, coisas que deveriam ser comuns em qualquer escola. O resultado, além do resgate do ambiente escolar, foi o livro Brincando Com Os Sentidos e pode ser baixado gratuitamente. Leia AQUI os detalhes da obra. Os incrédulos que me desculpem, mas a práxis educativa refletida pelo professor é capaz de remover montanhas.

Saiba a professora Eloísa ou não (tenho quase certeza que sabe), foi Paulo Freire quem sistematizou as premissas desse tipo de trabalho, no qual ninguém ensina a ninguém mas todos se auxiliam na reflexão e elaboração do conhecimento. Não é sonho: é prática educativa pensada, planejada e com objetivos. Quando o educando, em qualquer nível educacional, se torna protagonista do ato de aprender, coloca em movimento o que é mais peculiar na aprendizagem: a reflexão. Não dá mais para conceber, ainda mais hoje com tantas fontes de informação, que um professor se poste diante de uma turma e discurse ininterrupta e enfadonhamente. O trabalho educativo implica em pensar novas práticas que envolvam a TODOS na elaboração de conhecimentos. O professor passa a ser aquele que desafia os alunos a fazer e estes, construindo seus próprio conhecimentos, passam à construção de si mesmos como cidadãos conscientes. Agora chegou no ponto onde eu queria chegar...

A professora Eloísa pode nem ter intenções tão politizadas mas, ao voltar o olhar dos alunos para si mesmos, lança as bases para uma educação política. Educar não é senão um ato político, onde não há vez para neutralidade, como o próprio Freire nos esclareceu. Somente pessoas pensantes e conscientes são capazes de entender os mecanismos macabros e egoístas que movem a politicagem da camarilha que subtrai as verbas da educação e dos demais serviços públicos. O bom trabalho educacional implica TAMBÉM em desmascarar os que exploram, os que roubam do bem público, os que ludibriam o eleitor, os que favorecem aos bancos e conglomerados capitalistas em detrimento dos trabalhadores. A propósito, depois desse belo exemplo dessa professora Eloísa, o Governo Federal bem que podia diminuir alguns reais do corte nos gastos e enviar uns computadores para a Escola Estadual Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, onde ela leciona, não é mesmo senhores Lula e Guido Mantega? Enquanto isso não ocorre, vamos lá professor e professora, mãos à obra! Botem suas crianças para trabalhar de verdade. Mas aproveitem para mostrar a eles quem são esses senhores que estão na política.