sábado, 3 de dezembro de 2011

Ações e significados: fim do período letivo.

Fico pasmo toda vez que constato a falta de interpretação, que grande parte dos seres humanos demonstra sobre fatos do cotidiano. Toda ação tem um significado, por mais insensata que ela possa parecer. Ações traduzem formas de pensar e de sentir. Essa é minha premissa para a postagem de hoje.

Essa foto eu tirei ontem, na fachada da Escola Estadual Helena Lombardi Braga, na zona leste de São Paulo. O ano letivo foi dado como terminado e esse lixo são cadernos e livros rasgados, peripécia realizada pelos alunos. Todo ano o fato se repete em várias escolas e se perpetua, como um ritual. Do que se pode presumir que ninguém faça nada a respeito. Além do prejuízo urbano da sujeira, entupimento de bueiros e sobretrabalho da limpeza pública há outro lado nisso. Está na mensagem dos alunos a respeito das aulas e da escola como um todo.

A mensagem subliminar da ação porcalhona é clara: "Professores, diretora e pais, essa escola é uma merda, estudar é um saco e olha aqui o que nós fazemos com o lixo a que vocês nos obrigam". Simbolicamente todo o suado trabalho dos professores e da direção vão para a sarjeta. Está muito claro. Ok, ninguém é obrigado a reter conhecimentos, valorizar os estudos, tampouco guardar material que não será mesmo reutilizado (embora possamos discutir a questão dos livros, que são reaproveitáveis).

Rasgar todo material - diga-se de passagem distribuído gratuitamente e indistintamente aos alunos - representa o menosprezo e desídia com que os alunos veem o que chamamos de educação pública. Talvez essas famílias não se lembrem, mas há pouco mais de duas décadas não se distribuía material escolar, nem mochilas, tampouco uniformes e não havia necessariamente vagas em escolas públicas para todos, sobretudo no período noturno, para atender jovens que ingressavam no mercado de trabalho e que só podiam continuar a estudar à noite.

A poucos metros do colégio vi um catador de recicláveis suando a puxar sua carrocinha e me ocorreu: Por que não promover coleta organizada do material em um evento, de preferência com a presença de um ou mais catadores de recicláveis do bairro? Quanta pauta e quanto assunto isso renderia! Sei que isso não foi feito porque tenho contato com alunos desse colégio. Mas imagino que alguns professores - e talvez a direção -  possam alegar necessidade de cumprir o calendário, conteúdos e, enfim, reproduzir tudo o que já foi feito no ano passado. Portanto não há tempo pra fazer esse tipo de coisa. Só que aprendizagem sem contextualização é vã. A prova está na foto. Mas vamos lá aos PCN's, que mencionam fartamente cidadania e educação ambiental!

Tudo bem, não me intrometerei mais no trabalho alheio. Apenas digo que também trabalho em um colégio (particular), onde a reciclagem se tornou assunto do cotidiano e os alunos recolhem tudo o que não será reaproveitado para doação, inclusive livros. Se alguém quiser visitar, terei prazer em indicar aos interessados. Se a direção quiser, me disponho até a comparecer nesse colégio estadual, como voluntário, para falar com os alunos sobre isso. Seria até uma forma de eu devolver a boa educação que tive em escolas estaduais, onde não me lembro de presenciar cenas tão deprimentes.

Sem mais para o momento prometo que, nesta mesma época em 2012, postarei uma foto atualizada e torcerei para que a imagem não seja idêntica.

2 comentários:

mimi disse...

Parabéns, Xavier. Espero que essa notícia possa fazer diferença em 2012.

Tio Xavier™ 4.5 Plus disse...

Oi Mimi! Se o post já chegou no RS, já fez a diferença. Obrigado!