domingo, 25 de março de 2007

Bailando per un sueño

O tio é um saudosista. Embora não tenha vivido os tempos gloriosos dos grandes bailes de salão, passei boa parte da adolescência freqüentando a Toco, a Contramão, a Ponta, a Cris e tantas outras "discotecas" (era assim que se chamavam) da Zona Leste. Bons e doces tempos.

Usava-se a expressão "ir ao baile" entre a molecada. Minha preferências por essas casas que citei vinha obviamente do tipo de som funk que elas detonavam nas pistas. Mas o baile era dividido em três sessões. Na abertura, o DJ detonava uma pilha de efeitos sonoros com fumaça de gelo-seco, vinhetas e rifs de músicas conhecidas que se faziam seguir por uma coletânea bombástica de batidas pra dançar aos sons da melhor qualidade das grandes bandas e os melhores cantores mundiais. Destaque para Michael Jackson, KC & The Sunshine Band e Earth Wind & Fire que jamais poderiam faltar.

Depois de uma hora e tanto de passos sincronizados que ensaiávamos em grupo e performances "no meio da roda" que era quando a turma abria para cada um fazer sua graça por um ou dois minutos ao centro, vinha uma seleção de músicas românticas. Aí era o bicho. Quem era esperto, já ciscava o par para essa dança desde o início do baile e marcava a ponta em um canto determinado para a hora da "seleção de lentas". Aí tome melódicas do The Manhattans, Marvin Gaye, Betty Wright, Air Supply, Kenny Rogers com Diana Ross e outro tanto de musiquetas que, se eram tão breguinhas quanto um Roberto Carlos, tinham uma pegada de som lento-balançante que nos permitia dançar de rosto e corpo coladinho em uma ginga sensual, mas que chegava a ser ingênua para os padrões depravados de hoje. Esse jeitinho de dançar colado foi o que se chamou de cheek-to-cheek. Uma delícia, de tal forma que não queríamos que acabasse mais e de vez em quase sempre me valia um beijo bem molhado da parceira a quem não necessariamente não iríamos ver depois desse baile. Eram praticamente encontros únicos, embora às vezes rendessem namoros. A molecada de hoje que se julga esperta no vazio do "ficar" com qualquer um em qualquer lugar, nada sabe que o ficar daquela época já existia, porém era recheado de muito mais romantismo e sensações do que os atuais.

Na terceira rodada, acabadas as lentas, começava outra leva de balançantes para pôr a casa abaixo. Sem repeteco da primeira jamais os DJ´s lascavam mais funk, disco e do eletric house que começava a nascer a partir de bandas que descobriram os samplers com uma batida mais aceleradinha. Muito bom mesmo. O tio tem uma coleção invejável de vinis, K7´s e agora a maioria em .mp3 dessas levas de sons.

Well, vou procurar na internet onde é que se pode dançar boas músicas com uma canja para um rostinho colado e uns beijos bem gostosos aqui em Sampa. Desta vez, obviamente irei com a Tia Darling, o que tornará o evento mais gostoso, intimista e cúmplice. Se você tiver alguma sugestão legal, escreva para o tio.

Um curso de "dança de salão" não será uma má idéia também. Vou dar uma olhada nisso...

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