sábado, 29 de setembro de 2007

O futuro da Educação - Parte I

É a primeira vez, acho, que escrevo um texto e já o intitulo como "Parte I" antes de conceber a segunda parte. O que me motivou a esta audaciosa iniciativa literária nunca antes vista, foi a sucessão de fatos que observei esta semana na turma acadêmica do tio. Daria até para escrever uma nova versão do Febeapá.

Primeiro, recordemos que o tio é um recente universitário de Pedagogia. Tardio talvez, mas aí é outro assunto. Relembro a todos também que a minha turma é composta de setenta e duas mulheres e o tio. Dito isso, vamos aos fatos.

Na sala de aula existe um aparelho de TV que fica fixo acima da lousa. Serve obviamente para apresentações de multimídia e audiovisuais. Mas em nenhum lugar está escrito que deva servir para isso. Por essa razão, o tio tratou de descobrir os meandros necessários para ligar o aparelho. E em alguns minutos, poucos antes da aula, lá estava o SPTV sendo exibido diante da turma. Ingenuamente julguei que a turma apreciaria assistir a um noticiário antes dos estudos.

Mas surge o problema principal: seria possível ouvir algo se as setenta e duas matracas ao menos abaixassem o tom de voz. Deus do céu, onde é que as mulheres arranjam tanto assunto? E por que falam tão alto? Se não consegue abstrair a ordem de grandeza do absurdo volume da fala feminina em minha sala, isso pode ser expresso pela equação abaixo.

Onde:
CTF = Capacidade Total de Fala
FI = Fala Individual (em dB)
ETS = Espaço Total da Sala (em m³)

Considere uma variável generosa de 3dB para FI. Mas lembre que uma mulher, na verdade, produz cerca de 10dB (se estiver calma). Para calcular a área da sala, multiplique A x L x C em metros lineares. A do tio deve ter aproximadamente 3,5m x 10m x 15m, o que dá 510m³. A CTF da turma nesse caso é de 3 multiplicado por 10 elevado à 72ª potência, divididos por 510. Eu bem que tentei fazer isso na planilha de cálculo mas estourou. E se os números estouram as células, imaginem o que aquelas vozes esganiçadas fazem com os refinados tímpanos do tio. Para os ruins de cálculo dou outro exemplo mais direto: um pregão de bolsa de valores dominado por fêmeas. Em suma, um horror.

O Carlos Tramontina da Globo anunciava as matérias do noticiário. Com um esforço inédito de leitura labial e interpretação de imagens, identifiquei que as três principais reportagens estavam relacionadas de algum modo com o Ensino. A primeira sobre um vazamento de gás em uma escola. A segunda de uma garota que teria esfaqueado a colega dentro da sala de aula. A terceira acerca da greve dos professores municipais de Sampa. Eureka, pensei. Já sei como hei de obter silêncio.

- Aí meninas: vejam o que as espera. Viram a violência na sala de aula? Olha lá greve dos professores municipais - meu tom e minha expressão eram as de um pregoeiro público - .

Diante dos olhares de interrogação, apontei a TV. E deu certo. Silêncio. Só que eu gostaria que o silêncio durasse mais do que os dez segundos que durou. No décimo-primeiro segundo lá estavam de novo as sete dezenas de tagarelas falando sobre o último lançamento da Natura®, a nova fio-dental da De Millus® e que fulana da turma de Letras, tinha ido pro motel com beltrano de Comércio Exterior. Toca o pobre tio tentar ler os lábios das pessoas do telejornal, praticamente em vão. Até que chegou a professora e desliguei o aparelho. Agora vem a cena dois.

Nove horas da noite - habitual horário do intervalo - e uma colega inspirada pela iniciativa do tio corre ligar a TV. Hora da novela. Essa da Globo, que acabou ontem ou hoje. Adivinhem se havia algum som de voz além obviamente das vozes dos atores da novela. Não fosse o som do televisor poderíamos identificar o sexo de uma mosca pela freqüência do bater das asas.

Vejam que tipo de professoras estão se formando lá. E o que o pobre tio tem que agüentar. Daqui a alguns anos elas estarão se candidatando a postos de professoras nas escolas públicas e particulares da cidade. Espero que eu não me depare com nenhuma, onde algum de meus filhos vá estudar.

Mas não pára por aí. Tem mais.

Ps.: Santo Expedito aceita devolução?

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