domingo, 13 de abril de 2008

Uma no cravo, outra no casco

Nunca antes na história deste país um presidente conseguiu a façanha de superar a máxima "uma no cravo, outra na ferradura". A expressão, até onde eu soube, aludia a ferreiros com habilidades limitadas para ferrar um cavalo. Em vez de dar as marteladas todas nos cravos de fixação, erravam e acertavam na ferradura, prejudicando inclusive a estabilidade dos cravos já inseridos.

A analogia da ferradura agora aplica-se com perfeição ao senhor Luís Inácio. Ele aprovou semana passada, em uma só canetada, a manutenção do hediondo imposto sindical obrigatório e a desobrigação de as entidades sindicais prestarem contas aos tribunais públicos. No mês de março um dia cheinho continuará a ser arrancado de seu bolso à força e irá direto para o bolso dos sindicalistas. E estes poderão continuar gastando como bem entenderem, inclusive para promover prejuízos aos que eles supostamente representam. O chefe da nação teria ainda dito que a fiscalização dos sindicatos cabia aos trabalhadores. Concordo em parte. Mas, no quadro atual, tente você ir a uma assembléia do seu sindicato e pedir balancetes ou comprovantes de gasto.

A contradição do ato não tem precedentes. O Estado encarrega-se do serviço sujo de usurpar o dinheiro, mas tira o seu da reta ao desonerar-se da fiscalização. Dessa forma ex-sindicalista Lula matou dois coelhos com uma só cajadada na cabeça do trabalhador: manteve o atrelamento dos sindicatos com o Governo, processo desencadeado na primeira fase do governo de Vargas, e traiu uma das principais bandeiras dos trabalhadores na década de 80 que era o fim do imposto sindical obrigatório.

Para quem não sabe, os sindicatos até meados da década de 80 ou eram dirigidos por interventores nomeados pelo Governo ou tutelados por dinastias legitimadas por processos eleitorais chulos e podres. Embora, segundo Lênin, toda eleição seja fraudulenta, o feito dos operários do ABC paulista ao constituírem a CUT foi pomposo e importante: retomou os processos eleitorais interrompidos pela ditadura e varreu os interventores. Representou a possibilidade de ruptura com o aparelhamento governamental dos sindicatos de até então. Faltava extinguir o imposto sindical.

Berger em "A construção social da realidade" sabiamente dissecou a dinâmica das instituições. Segundo ele, elas nascem a partir de propósitos humanos fundamentais, depois se institucionalizam e em dado momento tomam assumida postura de dirigir a maior parte dos seus esforços para a sua perpetuação, como resultante do seu processo de burocratização. Com a CUT não havia de ser diferente. O que foi no passado um legítimo canal de expressão dos operários, ao longo do tempo foi se especializando e aperfeiçoando na criação de castas de burocratas profissionais que se fossilizaram nas suas estruturas. Ainda mais hoje, com o representante que melhor expressa os anseios de 1.980 ocupando o maior posto executivo do país. Seria de se estranhar que a CUT continuasse a dar vazão às necessidades mais legítimas do operariado. Naturalmente ela foi sendo ocupada por contra-revolucionários e conciliadores das piores espécies.

Se no passado, o PT e a CUT foram os braços político e sindical do movimento popular, hoje já não passam de meros tentáculos do estado burguês. Ou alguém acredita que Lula ocuparia o posto que ocupa, sem ser por consenso entre as elites coronelistas, os representantes do imperialismo e burguesia urbana acovardada? Óbvio que não. O status-quo se alimenta do refreamento dos movimentos sociais acabrestados por dirigentes canalhas. A esses dirigentes o prêmio pelos bons serviços prestados "à nação": muita grana confiscada do trabalhador e nenhuma conta para prestar.

Pra eles, melhor que isso só os dois disso. Lula concedeu-lhes ambos. Às nossas custas.

6 comentários:

Anônimo disse...

Pra quem é leigo no assunto, a Contribuição Sindical é prevista na CLT art 578 a 591, aos assalariados recomendo q leiam o art 580. Ainda para os desavisados cabe aos sindicatos toda a responsabilidade e gasto com impressão, taxa bancária, cobrança, fiscalização (qdo necessário for, desse valor e por fvr pode ser exorbitante ao salário, mas não o é pra entidade sindicais. Caso ainda os desavisados não saibam do valor arrecadado e livre de quaisquer despesas 20% é creditado numa conta especial do governo, 5% pras confederações, 15% das federações (inexistindo as duas últimas esse percentual vai pra aquela continha do governo) e 60% fica com os sindicatos que depois de tirar todas as despesas somente pode gastar o montante "exclusivamente" com assessoria jurídica (aquela q todo trabalhador quando em homologação requer) e com "assessoria contábil" aquela q todo trabalhador quando em dúvida ou em processo requer q sejam refeitos os cálculos (então pense bem se dá pra encher os "bolsos" e pra q mais "prestação de conta") Casos os menos informados não saibam é esse o destino daquele diazinho de trabalho tão chorado.. Vc sabia q as DRTs dificultam cada vez qquer trabalho sindical? vc sabe qual o destino daqueles 20% (na pior das hipóteses) que o governo leva? Vc sabia que uma GRCSU + tx de postagem e financeiras (sim pq isso é um boleto q fica a cargo da mais cara das entidades Cx Economica Federal) são de quase R$ 3,00 por "cada um", vc sabe q o custo da impressão de uma única guia?? vc sabe quanto sai a postagem dela?? (nos dois últimos casos em se tratando de profissional autônomo), a GRCSU é a menor das suas preocupações, ah Sr assalariado, vc deve pagar no mês que vem a Contribuição Assistencial que "alguns" sindicatos (talvez o de informática) cobram (e uma vez aprovada e homologada pelo DRT é comum a tds os trabalhadores daquela classe social).. Então antes de levantar bandeiras, instruam-se.

Tio Xavier™ 4.5 Plus disse...

Senhor defensor (anônimo) da sindicalização presumida:

Não é que faltem-me fontes de informação. Sei quanto custa uma tarifa bancária, que a anacrônica CLT sacramenta o peleguismo há décadas, e mesmo os custos de uma assessoria jurídica e contábil, entre tantas outras coisas.

O que é curioso é que essas tão combativas entidades não tenham testosterona suficiente para se desvincular da arrecadação imposta. De tão boas que são poderiam partir para um sindicalismo de livre associação, não-exclusiva e desvinculada do aparelho governamental. Se o trabalho sindical é tão bom, certamente a classe trabalhadora procurará a entidade e se filiará, espontânea e massivamente como "nunca antes na história deste país".

Mas é óbvio que os centristas, conciliadores, burocratas e fazedores de média a serviço da burguesia por tabela, prefiram o cômodo aparelho arrecadador do Estado ao trabalho árduo de convencimento das suas categorias acerca de seus feitos.

Ao diabo com suas despesas até porque doravante não precisarão mais prestar contas mesmo. Não espanta que alguém que se proponha a defender o indefensável poste comentário como "anônimo".

Anônimo disse...

NUnca precisamos prestar contas ora sr trabalhador, se é tão contra a ararcadação, pq não atua como autônomo? Já q conforme deve plenamente saber a associação é livre portanto não há como "fiscalizar" aqueles q não contribuem.. Ora Sr esperto.. Vc desconhece o q ocorre de fato e seu motivador é reclamar sem que faça qquer coisa em prol de algo ou alguém?? VC desconhece sim.. e não se dá ao trabalho de querer conhecer... e sabe pq .. num país onde só se sabe reclamar, poucos são os q fazem alguma coisa..Levante o seu traseiro dessa cadeira e vire a noite na defesa de uma comunidade.. Vc e como tantos, se é governo sou contra.. Faça ou invés de parecer uma criança mimada de quem tiraram o seu docinho. E de q adianta dizer nome e CPF, tú achas q nessa tua cabecinha de vinil vai fazer alguma diferença?

Tio Xavier™ 4.5 Plus disse...

Tsc... tsc... A propósito: já sou autônomo. Não dependo de seu ninguém a não ser de mim para sustentar a família. Os burocratas podem ficar com suas receitas tributárias, ate´ que - oxalá logo - a classe trabalhadora passe por cima de vossas cabeças. Defesa da comunidade... tá certo, Sr. Super-15.

Ps.: Sempre paguei os custos de minhas ações sociais do meu próprio bolso, ok?

Anônimo disse...

Aposto uma bataca que pela indignação que o imposto sindical (e se é autonomo não é março/abril o recolhimento este exclusivo para os assalariados, ao desavisado o recolhimento para autônomo foi em fevereiro)vc não anda lá tão quites com os impostos não... ,ah sério mesmo que vc custeia todas as suas "ações sociais", tive a curiosidade de ler então suas postagens e pelo visto desde fevereiro deste ano, deixou de ser autônomo ou pelo menos assim propagandeou.. Nem imagino (nem quero) o q seriam suas ações ..

Quanto a ser vc a sustentar a sua família, bem não foi essa a minha conclusão, apesar q não seria mais do que sua obrigação.. mas é problema seu, e tsc tsc.. ofenda não tiozinho, nem sempre se é o dono da palavra, precisa tbm ter conhecimento, de discurso o planalto tá cheio, e como seu slogan mesmo diz.. tô me lixando pra pensamentos tão somente arruaceiros.. até

Tio Xavier™ 4.5 Plus disse...

Nada há de ser tão penoso quanto legitimar-se por viver do trabalho alheio. Não deve ser fácil.

Boa sorte na empreitada. Apenas de agora em diante procure outra mídia.