domingo, 9 de janeiro de 2011


CORRERIA DE FIM DE ANO


Poucas coisas me parecem tão patéticas quanto o alvoroço e desespero que toma conta da maioria da população durante o mês de dezembro. Os centros comerciais transformam-se em verdadeiros infernos, isto é, para quem não gosta de multidão, nem de ser mal atendido e menos ainda do barulho a níveis condenáveis pela OMS. Está bem, eu admito: sou um tiozão chato mesmo! Ou apenas sinto que o desfrute do que há de melhor na vida não combina necessariamente com balbúrdia, mas está nas coisas mais singelas e, muitas vezes, no silêncio dos ollhares de pessoas que se amam. Voltando ao assunto inicial é conversando com as pessoas verificamos um jargão repetido, tão natural quanto irracionalmente: “Ah, é a correria de fim de ano!”. Correria? De onde diabos surgiu essa correria?



O ano civil está terminando. Por questões fiscais e contábeis, muitas empresas precisam calcular fechamentos e emitir balanços, relatórios e afins. Mas essas atividades normalmente se dão no foro fechado dos escritórios. Nada têm a ver com a multidão se trombando grosseiramente pelas ruas, com vias congestionadas e carros conduzidos por motoristas sem educação, que fazem da buzina sua válvula de escape para neuroses. Então, se não são os encerramentos contábeis, serão o menino Jesus e o Papai-Noel os culpados pela muvuca? Não, minha gente. O que faz as pessoas ficarem correndo feito idiotas pelas ruas não tem nada a ver com Jesus, nem com natal, nem com o velho Noel. É apenas uma conveniência criada pelo sistema de mercado capitalista. Ele apossou-se simbolicamente de diversas festividades e, mediante a propaganda de massa, passou a ditar normas para sua “correta” comemoração.



Portanto, o natal de Jesus e do velho bispo Nicolau, não tem nada a ver com amigo secreto da empresa, presentes caríssimos para as crianças, trocas de mimos ostensivos, compras para si, menos ainda com roupas exuberantes, panetones, perus ou banquetes dionísicos. Isso tudo constituem formas que o sistema de mercado e o capitalismo criaram para as pessoas torrarem o dinheiro que possuem e que não possuem para realizar a alegria. De quem? Dos empresários industriais, comerciais e, sobretudo, multiplicar a acumulação de capital dos banqueiros. Vou concluir meu raciocínio com uma opinião, que espero que minha caçula não venha a saber por enquanto: eu me lixo para os significados artificiais atribuídos ao dia 25 de dezembro! Não vejo sentido comemorar com tanto pieguismo o nascimento de Jesus nesta data, se foi apenas uma adaptação grosseira da efeméride romana do Sol Invictus, somada aos equívocos astronômicos e conveniências do calendário gregoriano. Pronto, falei.



Mesmo assim, sem crise. Digamos que adotemos isso por conveniência. Será então que um casal de humildes migrantes palestinos, mal acomodados em um casebre, estábulo ou semelhante, cuidando de uma criança especial 2000 anos atrás, tem relação com shoppings entupidos, carros buzinando e pessoas arrastando sacolas e dívidas maiores do que elas próprias? Creio que não. Certamente a memória do nascimento de Jesus de Nazaré combinaria mais com uma pequena e também humilde reunião de família, no seu menor núcleo, para reflexão de como tem sido a vida e o que possa ser feito de bom no porvir. Quem sabe aos que tem fé, no sentido religioso, caiba também uma singela prece de agradecimento pela vida. Isso sim me pareceria natal. Sem buzinas, sem endividamento com os bancos, sem lojas lotadas, sem se entupir de gordura e carboidratos, sem encher a cara de álcool e falar merda (perdão pela palavra) para os convivas. Enfim, penso que o amor verdadeiro não faça alarde.


Mas paciência, nada podemos. Deixemos os ignorantes e alienados seguirem seu curso, como gado, entupindo as ruas comerciais, se endividando, buscando felicidade no artifício dos presentes cheios de pompa, mas vazios de sentido. Aviso aos navegantes: a família Xavier está saindo de fininho dessa, em especial, neste ano. Bom natal a todos! Cada um à sua moda.

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