sábado, 5 de maio de 2007

Cenas do cotidiano em um orelhão

O dito, duplo por sinal, fica exatamente na frente da casa do tio, do outro lado da rua. Assim torna-se obrigatório ouvir certas cenas como a abaixo - verídica - que presenciei. Legenda óbvia: (...) = a pessoa do outro lado da linha falando. Eu daria um rim por um grampo telefônico numa hora dessas:

- ALÔ! EU QUERO FALAR COM A SUA FILHA! EU SEI QUE ELA TÁ AÍ E EXIJO!
- (...)
- O QUÊ VOCÊ PENSA QUE TÁ FAZENDO AÍ? A SUA CASA NÃO É AÍ, DESDE QUANDO VOCÊ CASOU COMIGO!
- (...)
- VOCÊ VAI VIR POR BEM OU VOU TER QUE IR AÍ?
- (...)
- COMO ASSIM? COM QUEM VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FALANDO? EU SOU SEU MARIDO, SE VOCÊ ESQUECEU!
RESPEITO É BOM, SUA ATREVIDA! EU TE CATO PELOS CABELOS AÍ NA CASA DO SEU PAI, SUA MOLECA! E SE ELE SE METER EU ARREBENTO A CARA DELE!
- (...) Ploft!
- Alô? Alô? Alô? Cláudia?

Cinco minutos depois:
- Alô, Cláudia?
- (...)
- Eu sei que estou nervoso. E não era para estar? Você não tinha que estar aí, meu bem.
- (...)
- Claro que sei o que fiz. Você acha que tenho amnésia? Mas você me ofendeu até eu não agüentar mais.
- (...)
- Olha, vou te dizer uma só coisa: ou você volta por bem, ou...
- (...) Ploft.
- Alô? Alô? Alô? Cláudia?

Mais cinco minutos:
- Cláudia? O que você está fazendo comigo, Cláudia? Eu estou arrasado (snif).
- (...)
- Tá bom, tá bom, eu peço desculpas (snif). Desculpa. Já to arrependido (snif).
- (...)
- Eu sei, mas você é a mulher da minha vida (snif snif).
- (...)
- Me perdoa, meu amor, eu juro (snif) que vou mudar (snif).
- (...)
- Você tá certa (snif), mas eu não consigo viver sem você (snif). Sem você eu vou morrer (snif).
- (...)
- Não faz isso comigo, Cláudia. Você me arrasa desse jeito e não quer que eu chore? Eu não tô nem aí pra o que os outros vão pensar (Buááááá).
- (...)
- Cláudia, você não tem o direito de me diminuir assim, Cláudia. Eu dei toda minha vida pra você (Buááááá). Não faz isso comigo, por favor, eu te peço (Buááááá).
- (...)
- Como assim outro? Outro quem, Cláudia? Há quanto tempo isso? Não, isso eu não vou suportar (Buááááá). Cláudia, eu vou me matar aqui no meio da rua e todos vão saber o porquê (Buááááá).
- (...)
- Você não acredita né Cláudia, mas você está me machucando. Eu não posso aceitar isso nunca (Buááááá). Prefiro mesmo morrer.

- (...) Ploft.
- Alô? Cláudia? Alô? - larga o telefone pendurado e desce a perpendicular em desabalada carreira - Buáááááá buáááááá buáááááá.

Isso para não contar as inúmeras histórias de mulheres ligando pro Norte e cobrando pensão de filho, dona-de-casa ligando sei-lá-pra-quem para esculhambar a vida alheia, moçoilas esteticamente desfavorecidas paquerando seus "rolos virtuais". Enfim um palco pra botar qualquer teatro de comédia no bolso.

Eu devo merecer um orelhão na porta de casa, não é mesmo?

3 comentários:

Anônimo disse...

O pior de ter um orelhão na frente da sua casa, é ter uma igreja evangélica que toca hits tipo anos 80 ( como aquelas que do Jonh treis Volta), mais ou menos das 21 as 23 hs, e detalhe: Eles ensaiam todos os dias (a mesma música)...Quer trocar?

JRP disse...

Vizinho é sempre uma merda.
O meu vizinho, pagodeiro, resolveu comemorar seu aniversário colocando na rua seu aparelho de som Aiwa e tocando de Jorge Ben ao 50 Cents a partir das sete da noite.
Mas quando foi lá pelas três da manhã ele desligou e som e, devidamente mamadaço, chamou os amigos e fez um pagode no grito, no berro, um fundo-de-quintal no meio da rua.
O repertório era uma mistura de degola de porco com arara bêbada esgoelada.
Ficou nessa até raiar do dia.

Musa de Caminhoneiro disse...

E você reclama??? Eu ia me divertir horrores!!!

Adoro bisbilhotar bizarrices na vizinhança. Eu moro na subida de um morro e aqui acontecem coisas que vão de incursões de PMs armados de fuzis à moçoilas matando aula pra dar ficar dando mole pros moto-taxistas. Mas o mais grotesco é um coroa que vem todos os dias dar uns pegas e uma moça da favela. Ela desce no fim da manhã e fica esperando por ele para começarem um namorico estranhíssimo, que inclui tapas e chingamentos mútuos. No meio da rua! Segundo minha mãe, "uma pouca vergonha"!!