quarta-feira, 16 de maio de 2007

Esta espelunca ainda tem jeito

Cena adorável do cotidiano:

Uma amiga do tio, psicóloga e ex-gerente de Recursos Humanos de uma empresa vai ao Ibirapuera fazer o temido exame prático para habilitação do Detran. Trêmula e nervosa como todos ali ela encontra um jovem ex-funcionário da ACME* onde trabalhava:

- Ô dona Cinthia* a senhora por aqui? Vai prestar o exame também?
- Pois é Robertinho*. Está nervoso também?
- Pô se tô. Mas meu tio, irmão do meu pai, vai chegar daqui a pouco.
- Vai tirar CHN também?
- Nããããão - riu o jovem - ele é delegado. Ele vai acompanhar o exame - disse em tom de ironia - .
- Ah, entendi.

Translate: usando o velho e podre chavão "sabe com quem você está falando?" o tal delegado iria dar a famosa "carteirada" no examinador a fim de garantir a aprovação por premissa. Minutos mais tarde aparece o tal tiozão, de terno, gravata e carteira na mão. Depois de conversar rapidinho com o garoto, dirige-se a dois examinadores e tenta dar o recado. Visivelmente os dois ficam putos da vida e dizem meia-dúzia de desaforos ao tiozão enquanto gesticulam. Pelo desagrado com que o tiozão se distanciou deles, a conversa não fora muito amistosa, tampouco a carteirinha com brasão fez efeito. Por suposto, os dois rejeitaram a intimidação. Defecaram caminhando para o tio intrometido. O tio passou pelo sobrinho e disse que ia embora. A cara dele era mesmo de quem tinha dado com os burros n'água.

Não sabemos o desfecho exato do episódio, porque a Cinthia* foi embora antes de o jovem prestar o exame. Foi reprovada, pelo que me contou desapontada. É bem possível que o jovem tenha passado no exame porque, como bom filhinho de papai, já dirigia desde os doze ou quatorze anos. Mas se passou, foi na raça. Sem tio nem carteirinha.

Clap your hands, everybody para os examinadores.

2 comentários:

Thunderbird disse...

"clap clap"
Houve uma história parecida com um conhecido meu. Ele tinha as costas quentes e o examinador o "ferrou". É bom ver que cenas como essas ainda existem, e que subordinados saibam valorizar seus postos, mesmo que em posição não tão valorizada.

Musa de Caminhoneiro disse...

Isso é porque em Sampa as coisas são relativamente organizadas. Aqui no nosso Detran, provavelmente o delega teria conseguido a carteira da sobrinha!