sábado, 26 de maio de 2007

Uma verdade inconveniente

Ao contrário do que apregoam os defensores do sono profundo e da hibernação o Tio Xavier dorme um bocado mal nas noites frias. No quarto do tio não há aquecedor, nem ar-condicionado, nem nada capaz de manipular internamente o clima da choupana onde resido. Essa é pelo menos a auto-explicação que tento para compreender porque em uma manhã de sábado, quando não tenho nenhum compromisso social nem profissional, eu acordo às cinco da madruga e não consigo mais dormir. Foi o que ocorreu hoje.

Depois de infinitos trinta ou quarenta minutos a contar todo tipo de ovino que conheço desisti e desci à sala. Lembrei que eu tinha pego emprestada - daquela minha informante secreta que descobriu o papa no RS - uma cópia genérica de "Uma verdade inconveniente" . O documentário mostra Al Gore na sua melhor performance de ecologista. Para quem já se esqueceu Gore foi o candidato derrotado por Bush Jr. na penúltima eleição presidencial norte-americana. Aquela tal que deu o maior sururú, rendeu recontagem de votos, revisão judicial e uma polêmica mundial. Tudo porque o democrata Gore teve mais votos absolutos dos eleitores. Mas as regras de pleito dos gringos - que nunca entendi nem tenho vontade - fizeram o republicano Bush Jr. ocupar o posto. Bush Jr. como todos sabem é o presidente com QI mais baixo registrado dentre os presidentes estadunidenses desde que o teste existe.

Voltando a Al Gore e ao filme, o conteúdo é estarrecedor. Mas nada do qual não saibamos. Só que desta vez com fotos, animações, estatísticas, gráficos e um texto direto e reto. Tudo indica que estamos ferrados mesmo. O efeito estufa vai economizar anjos e pragas divinas, pois trará o Armagedon sem a menor chance de defesa, para quem quer que seja. Irão para o saco da História gregos, troianos, europeus e baianos. A casa caiu mesmo. Sabe aquelas fotinhos bonitas do planeta Terra, todo azul, límpido e fofo? Esqueça. O que está por vir de certo modo já está aqui por meio de catástrofes locais e progressivas. É uma seqüência de desgraças ambientais jamais vistas desde a estorinha do dilúvio de Noé.

Tudo agravado pelo modo como essa cambada de idiotas chamados seres humanos conduzem seu modo de vida na base do "fuck the rest". Resumindo, a poluição causada pela queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a manipulação indiscriminada de rios. A camada atmosférica está grossa e densa de forma que já não é mais capaz de filtrar de volta para o cosmo o calor solar. Estamos dentro de uma gigantesca panela de pressão. Os números, gráficos e animações que o Gore mostra - ao menos para o tio que é leigo de tudo - são alarmantes. O que espanta não são os números em si, como o aumento da temperatura e diminuição das calotas polares, mas sim a progressão e aceleração com que isso ocorre. Manja quando colocamos uma pedra de gelo no sol? Ela leva determinado tempo para derreter até a metade, mas a segunda metade se vai muito mais rápido que a primeira.

Para encurtar este post, recomendo aos leitores deste pasquim que aluguem, peguem emprestado, comprem, furtem, peçam ao camelô, mas assistam ao documentário. O mínimo que garanto de (in)satisfação ao espectador é arrepender-se de ter procriado, caso já o tenha feito. E desistência caso o planeje. Dá vergonha de ver a merda de mundo que esta (in)civilização está deixando para trás. Daqui a 40 anos nossos filhos hão de nos rogar pragas até o inferno por não termos feito nada em tempo.

Tristeza garantida ou seu dinheiro de volta.

An Inconvenient Truth
100 minutos
EUA,
2006
Site Oficial: www.climatecrisis.net
Distribuição: Paramount Classics / UIP
Direção: Davis Guggenheim
Produção: Lawrence Bender, Scott Burns, Laurie Lennard e Scott Z. Burns
Música: Michael Brook e Melissa Etheridge
Edição: Jay Lash Cassidy e Dan Swietlik
Tristeza: todos os que assistirem

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