sábado, 29 de março de 2008

Coisas que só acontecem com os outros

Acabo de tomar conhecimento de um fato muito triste. Recebi um telefonema me dando conta de que o presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da TAM é um ex-colega de trabalho meu. Eu ando totalmente alheio de noticiários, sobretudo quando se trata de notícias funestas, mas o informante que também trabalhou conosco sabia bem de quem se tratava.

Dario Scott é um daqueles seres sensatos, ponderados e equilibrados. Não me lembro jamais de tê-lo visto alterado, ao menos durante nosso convívio profissional. Às vezes triste, às vezes preocupado com as dificuldades, como qualquer pensante. Mas nunca a ponto de perder as estribeiras. Pesquisei notícias na web e soube o pior: a vítima do vôo fora Thaís, filha única do casal. Me veio à mente a máxima nua e crua de que a vida é volátil e estamos aqui de passagem. Ora mais longa, ora breve.

Conheci Thaís por volta de 2000 quando tinha apenas nove anos. Não teria nenhum motivo para canonizar a quem quer que fosse, mas a lembrança que me vem à mente é de uma menina meiga, exemplarmente educada e alegre. Em uma das ocasiões em que almocei na casa do casal Dario e Ana Volpi - esta última neta do pintor Alfredo Volpi -, Thaís me recepcionou como se eu fosse o embaixador britânico. Na mesa da refeição, minuciosamente arrumada por ela, haviam papéis grafados com letra de criança indicando os lugares. Gentilezas que duraram todo o tempo que passei lá. Ao final daquele almoço me senti de fato como alguém importante. E fui. O pai e a mãe notadamente também ensinaram à Thaís o bom trato com o semelhante.

Após nos desligarmos da empresinha onde trabalhamos no ABC paulista, suponho que Dario deva ter viajado para vários cantos dando suporte intelectual e tecnológico para os trabalhos acadêmicos da esposa. Assim o fizera na década de 90 na Europa. Por essas e outras, perdemos o contato. Há poucos meses passei a cinqüenta metros da casa onde moraram. Cheguei a pensar em bater mas, certo de que não os encontraria, desisti.

De alguma forma foi até bom. Eu não saberia conter meu desconcerto caso encontrasse algum parente morando lá e soubesse da absurda tragédia que abateu a família Scott. Thaís, então com dezesseis anos, vinha do RS junto com uma amiga para visitar a saudosa avó. Mas infelizmente estavam no fatídico vôo.

Meus sentimentos ao Dario e à Ana. Que Thaís descanse em paz. Sua lembrança será para mim a da menina bonita, amorosa, vivaz e educada que nunca esquecerei.

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