segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A casa está caindo?

Embora eu tenha credenciais acadêmicas para tal, não farei reflexões teológicas sobre o desabamento do teto da igreja Renascer em São Paulo. Abomino explicações que não passem pela Engenharia e pela Física no caso de desabamento de tetos. Mas deve ser difícil para os Hernandes, lá do alto de sua confortável e abastada prisão domiciliar, explicar aos fiéis de modo consistente e confortador. Considerando que a mente religiosa dos fiéis tenta a ler os fenômenos físicos sob as lentes da fenomenologia espiritual, poderá parecer que a tragédia seja um sinal de reprovação divina à azienda religiosa do casal Hernandes. Vamos lembrar que estamos falando de empreendedores religiosos processados no Brasil e nos EUA, por lavagem de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica. No tangente à transparência jurídica, financeira e fiscal, o versículo "... dai pois a César o que é de César..." (Mc 12, 17) teria sido subtraído da bíblia dos Hernandes?

Um amigo do tio, proprietário de alguns imóveis, descobriu da pior forma que ostentar camiseta, bíblia e discurso de renascentista cristão não são garantia de honestidade. Ele alugou um salão para procuradores da seita montarem uma filial na Zona Norte de Sampa. Acertou contrato, aluguel, verificou que os signatários tinham procuração da pessoa jurídica da Renascer, tudo nos conformes. Mas nada garantiu que parte do dízimo e das contribuições dos incautos seguidores fosse destinada ao simples, honesto e combinado pagamento do aluguel. E lá se vão dois ou três anos para efetivação do despejo e outro tanto para ação cível de ressarcimento, sentença que até há pouco tempo - transcorrido um quinqüênio da demanda toda - não havia se efetivado. O proprietário do pequeno patrimônio de renda da última vez que falou comigo continuava decepcionado e sem ver seu aluguelzinho. Tudo porque seguidores dos Hernandes - inclusive diretores da seita a quem procurou - teriam se mostrado não tão puros de coração e sinceros de alma quanto aparentavam. Estranho para gente que se intitula de princípios cristãos.

O teto de um dos principais templos da Renascer ter caído pode simbolizar que a cobertura à empreitada toda não é tão sólida deveria. As notas dadas à emprensa pela assessoria de comunicação da entidade e outra emitida pelos Hernandes se limitam a observações que nada acrescentam. Apenas se esforçam para ressaltar que a documentação do imóvel está em dia. Considerando o caso do meu pobre amigo, vai saber o que significa "documentação em dia" no conceito dos Hernandes. Now it's too late. A esta hora pobres fiéis ainda jazem sob os escombros. Quem é que prestará contas disso e para quem prestará eu não tenho a menor idéia. Enquanto isso gente de bem e de bom coração, mas espiritualmente ingênua, continuará freqüentando outros templos da seita e contribuindo com a polpuda conta-corrente dos Hernandes. Uma pena.

Por essas e tantas que o tio é pela tributação das igrejas e instituições religiosas. São pessoas jurídicas, empregam gente, arrecadam fundos, alugam prédios (ok, às vezes não pagam), compram veículos e máquinas, compram espaços publicitários e até emissoras de rádio e TV, consomem eletricidade, água, insumos, usam telecomunicações, publicam jornais... Qual é a diferença para que esse tipo de constituição jurídica não tenha que pagar imposto, como qualquer outro? Ser sem fins lucrativos? Ah, fala sério! A não-tributação, em última instância, só serve para favorecer a captação de recursos escusos, sua má destinação e a não-prestação de contas financeiras à sociedade. E não pense que estou me referindo apenas à seita dos Hernandes ou à do outro auto-sagrado bispo da Record. Pense também em uma certa multinacional sediada em Roma...

Por que não?

Um comentário:

Carlota disse...

Assino embaixo, em cima, no título e rubrico.
Fenomenal.
Beijo enorme!!!