segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

A estrela Dalva

Um baile de Carnaval de matinê, onde idosos, jovens, crianças, deficientes, casais com filhos e toda sorte boas pessoas se divertem, cantam e dançam em meio à intensa chuva de confete e serpentina. Sonho? Nostalgia? Nada disso. Foi o que presenciei hoje no SESC da Vila Mariana em Sampa. Presenciei só não. Claro que entrei na dança, irresistível que era.

Eu havia deixado minhas queridas lá no início da tarde para nadarem um pouco, enquanto eu resolveria umas questões logísticas com uma amiga nas proximidades. Quando voltei para buscá-las, por volta de 16h, achei estranha a demora para o segurança liberar minha entrada ao estacionamento. O jovem, empunhando um "moderno" walkie-talkie de uns doze quilos, veio à minha janela cortês e educamente me explicar que estavam monitorando as vagas por causa da lotação. Esperei por uns dez ou quinze minutos até que fui liberado.

Ao circular pelas alas internas do clube, me deparei com um espaço onde uma porção de gente cantava e dançava ao som das mais originais, puras, ingênuas e agradáveis canções carnavalescas. Nada lembrava a beijação desesperada e nojenta dos micareteiros, nem esfregação de bundas suadas do carnaval em Salvador, nem gente tentando tirar lasquinhas de partes de outrem como em bailes-funk. Nadica de nada. Tudo na mais pura diversão e espontâna alegria em que as pessoas dançavam de mãos dadas e carregavam no pescoço suas crias. Um típico baile familiar.

No palco estava Maria Alcina. Com seus quase sessenta anos mostrava que ainda vai animar bailes por algumas décadas. A tiazona esbanjou um fôlego digno de inveja, já que vozeirão todos sabemos que ela tem. No repertório, as tradicionais marchinhas, intercaladas com sambas-enredo famosos e adaptações carnavalescas de sucessos como Fio Maravilha, de Jorge Benjor. Coisa da melhor qualidade, pra bons ouvintes jamais botarem defeito. Até as marchinhas hilárias do Sílvio Santos tiveram lugar no repértório.

Imediatamente liguei para minha amiga, com quem estou bolando um plano para salvar o mundo. Pedi para ela adiar algumas ações, até que consigamos mapear melhor os locais. Temos que preservar esse monte de gente boa que ainda sabe brincar o Carnaval.

"A estrela Dalva
no céu desponta.
E a lua anda tonta
com tamanho esplendor.
E as pastorinhas
pra consolo da lua,
vão cantando na rua
lindos versos de amor..."
(Braguinha e Noel Rosa)

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