sexta-feira, 6 de abril de 2007

Preserve a fauna

Eis a fauna que pude ver e catalogar na Boogie:

O pavão-clubber defasado
Meu Deus, o que era aquele cara com óculos Mojave® e suéter mostarda com gola olímpica? Juro que não bebi mais do que dois ou três drinks. Eu o vi mesmo. Já que ele escolheu os simpáticos óculos, podia tê-lo montado com lentes que não fossem amarelo âmbar. Se bem entendi ele quis combinar as lentes com a suéter, no melhor estilo tom sobre tom.

Os macacos-prego
Esses tipos de seres que habitam as estepes e prados das pistas caracterizam-se por uma postura que ultrapassa o narcisismo. Eles agem assim: quando a música está no auge e cada milímetro da pista é disputado por seres chacoalhantes, os macacos-prego pegam uma bebida, caminham para o ponto mais movimentado e lá páram. Ficam estáticos ocupando um precioso meio-metro quadrado de chão e de iluminação para apenas não dançar. Ficam inertes. Imaginei por um momento que fossem performers de estátua-viva pagos pela casa. Mas também achei que poderiam ter ficado em pé no meio da sala da casa deles, porque ao menos não ocupariam nosso espaço escasso.

Os falcões
Eles voam em bandos de quatro ou cinco. Por estarem sempre em grupos de machos é presumível que tenham dificuldades para acasalamento. À cada balada tentam obter uma presa feminina para tal. Só tentam, porque nenhuma mulher que se preze se sente atraída por um macho que só vive cercado de machos. Seus habitats são as beiras das pistas e os mesaninos, de ondem ficam mirando suas presas, mas sem nunca conseguir capturá-las. Estranho é o fato de que apesar de não conseguirem se reproduzir, os falcões não sejam extintos. Devem ser hermafroditas.

O Tony-Manero-que-não-deu-certo
Esse espécime é nascido por volta de 1960. Portanto ele tinha cerca de dezessete anos quando "The Saturday Night Fever" e a discoteca estouraram. Ele queria ser John Travolta, mas seus pais mandaram o vagabundo trabalhar e parar com aquela palhaçada de dançar na sala de casa. No terceiro milênio, já divorciado e beirando os cinqüenta anos, o Tony-Manero-que-não-deu-certo costuma aterrisar nas pistas aproveitando-se da onda revival. Basta o DJ mandar qualquer hit dos Bee-Gees ou do Tavares que ele se transforma, imitando a coreografia Travoltiana no meio da pista. Alguém precisa dizer para ele que não se dança mais com aqueles gestos de um braço para cima e outro para baixo com os indicadores em riste e fazendo biquinho. Tudo culpa dos pais dele. Freud explica.

A tia fatal
Ah, a tia fatal. Na verdade ela é ex-mulher do Toni-Manero-que-não-deu-certo. À quinquagésima primavera, resolve do nada que tem que pôr piercing no umbigo, fazer uma tatuagem na cervical e colocar roupinhas que... digamos assim... ficam bem desde que em jovens de 18 anos que não freqüentam fast-food. A tia fatal lança olhares irresistíveis - na opinião isenta dela - aos twenties. Como eles ficam vigiando ela prontos para zarpar caso ela se aproxime, ela acredita que eles estão dando bola. Na segunda-feira, na repartição pública, a tia fatal conta para as amigas - todas concursadas em 1980 - que arrasou na balada. Apenas não comeu e nem foi comida. Mas isso é só um detalhe.

O ginecologista de pista
O serviço de segurança interna da Boogie me pareceu bom. As hostees, alguns garçons e os seguranças todos portam walkie-talkies tendo-os sempre à mão. O ginecologista de pista é aquele segurança tipo Men-in-black, que fica no meião dos chacoalhantes. Ele permanece quase imóvel, se revesando entre uma fala no talkie e a observação de tudo à volta com olhos de lince. Que profissãozinha do cacete! Trabalhar no meio do bem-bom sem poder fazer uma graça nem ao menos sorrir deve ser uma merda. Típica vida de ginecologista.

A gordinha sex-symbol
A falta de solidariedade entre as pessoas me decepciona. Alguém precisa dizer para aquelas gordinhas que ficam fazendo performance no mesaninos que mulheres com coxas com doze polegadas de diâmetro não ficam bem de microssaia muito menos com blusinhas tomara-que-caia coladas. Tudo bem que é pouco provável que as blusinhas caiam. Os tecidos mais elásticos desenvolvidos pela Rhodia™ são incapazes de esticarem a ponto de ultrapassarem seios tamanho 54. Mas ainda que ignoremos as saias e as blusinhas, pelo menos elas podiam tentar dançar sem dedinho na boca. Imagine a cena que vi e adicione cabelos tingidos de loiro com sombrancelhas pretas e entenderá porque as critico tanto.

O tiozão-do-churrasco
Ê tiozão! O tiozão do churrasco estava lá também. Camisa babylook estampada, com sua singela barriguinha de cerveja que o obriga a comprar calças na Varca®. O tiozão do churrasco deve ter tido uma noite de alforria e saiu a milhão para a primeira boite que encontrou. Sua imensa calva até ajudou na iluminação da pista com efeito reflexivo. Contudo ele ficou se mexendo fora do ritmo da música o que não incomodava a ninguém. Apenas ele podia tentar caçar alguma mulher mais do número dele, ao invés de ficar cobiçando as poucas ninfetonas que estavam na Boogie. Não fica bem. Vai que ele chama alguma passante de "princesinha" e ela se vira e pergunta: "Pai, o que o senhor está fazendo aqui?" Mas ele merece nosso respeito, pois se é navalha na pista e não come ninguém no sábado, no domingo prepara um churrascão imbatível.

A aniversariante
Essa espécime noturna da galera nunca falta em baladas e bares. A que vimos no bar era uma moça magrinha e trajava uma blusa tipo gueixa. Com sorriso de plástico, soltava gritinhos histéricos sempre que chegava algum convidado e fazia uma pose de celebridade digna da banheira de Caras®. Francamente, não há nada tão impessoal, artificial e desintegrador do que aniversário em barzinho ou danceteria. Primeiro isso quer dizer que o(a) aniversariante é pão-duro e monta festinha às expensas da economia alheia e do bolo que a casa oferece. Pô, que custa comprar uns lanches de metro, um bolo gostoso na rotisseria e receber os convivas em casa? De mais a mais, em baladas e barzinhos é quase impossível conversar em grupo. Então esse tipo de aniversário acaba se fracionando em dez ou doze micro-festinhas. Mas não adiantaria eu falar mesmo. A aniversariante ficou lá como se fosse a rainha do Nilo e não pôs um puto do bolso.

Os anciãos da tribo
Na Boogie, ao lado da escadaria que leva ao mesanino há um cubículo que por pouco não parecia destinado a encontros íntimos. Não imagino o que uma pessoa que vai a uma balada poderia fazer de bom naquele espaço minúsculo e longe da pista, além de dar uns bons amassos. Mas lá estavam, junto com outra aniversariante, um casal de vovozinhos com cerca de setenta anos (de matrimônio). Pobrezinhos devem ter sido arrastados de casa pela neta pentelha, que insistiu que o aniversário tinha que ser lá e não abria mão dos avós na festa. Sem comentários. Deveria haver patrulha do Conselho Tutelar para verificar maus-tratos com velhinhos.

A fauna baladística paulistana é adorável. Daqui eu não saio nunca.

2 comentários:

Unknown disse...

~Tio:
Tua análise sobre a fauna da balada é tão detalhada que fiquei imaginando que você ficou tanto tempo observando e anotando que nem dançou, né?
Pow...Dinheiro jogado fora, né, meu!?
Ó, da próxima vez, me convida que eu ajudo escrever o article depois...hehehe

Anônimo disse...

sou carioca, mas já vi mt "macaco-prego", "falcão" e "tia fatal" por aqui tb...
e tenho q confessar q já dei uma de "aniversariante"...rs*