domingo, 29 de abril de 2007

Da série "faça da sua festinha um sucesso" (Vol 1.0)

Organizar uma festa que agrade a gregos e baianos é um desafio para poucos. Por mais que você se esmere, sempre uma meia-dúzia de fila-bóias sairá criticando. Depois de detonar a cerveja da sua geladeira, comer oitocentos pãezinhos com carne-louca, mais algumas centenas de coxinhas, esses desinfelizes famélicos sairão reclamando de qualquer maneira. Torça para que morram de congestão. Então dane-se essa meia-dúzia. Minoria não decide eleição presidencial, nem assembléia de condomínio. Serão sempre um bando de fracassados. Vamos nos concentrar na maioria. Essa parcela significativa, capaz de eleger bizarrices como um torneiro semi-alfabetizado, um estilista afetado, um cantor de arremedos de forró ou mesmo o mais conhecido de todos os ali-babás da comunidade libanesa. Pragmatismo. Você quer ficar bem-visto pela maioria, certo? Então pronto.

Uma das questões mais complicadas nas festinhas domésticas é a animação. Muitas pessoas confundem o ambiente da festinha deixando o televisor com a antena conectada no móvel da sala. E sempre haverá uma meia-dúzia de boçais - não por acaso os detonadores das cervejas e das coxinhas - que ligarão a TV, localizarão algo bizarro como A Praça é Nossa ou Zorra Total, insistirão em aumentar o volume e fazer psiu. É que eles não podem jamais perder um segundo desse capim cultural que os nutre. Para evitar isso o ideal é subtrair o televisor da sala previamente escondendo-o em um dos quartos ou na lavanderia. Diga que o aparelho está no conserto se alguém perguntar. Se devido às dimensões do aparelho ou falta de espaço o translado for impossível, então desconecte os cabos do sintonizador e/ou da antena. Alegue aos pé-no-saco que a antena foi atingida por um raio, a operadora de TV à cabo está fora do ar ou algo semelhante. Está resolvida a questão da TV.

Agora vamos à principal complicação: o som. Já no tempo das fitas K7 os pretensos auxiliares de DJ mantinham a tradição de levar "algo sensacional" oculto no bolso, a fim de enfiar no aparelho de som. Por "algo sensacional", desde a década de 70 podia estar subentendido uma fita do Tarancón em uma festa de Discotheque, do Wando em um tributo ao Led Zeppelin ou do Beto Barbosa em uma festa de sambistas. O que mudou de lá para cá foi apenas a mídia. Como qualquer pobre-diabo já consegue comprar um computador com gravador de CD nas Casas Bahia em 1600 prestações de R$1,50 hoje os seres inconvenientes trazem CD´s sem marca contendo coisas tão inconvenientes quanto antes. Sem falar na péssima qualidade das gravações, sem normalização de volume, sem filtro de chiados e sem equalização. Verdadeiras merdas capazes de explodir seu aparelho de som antes da segunda faixa, sem falar na possibilidade de rebelião dos convidados.

Os 9 hábitos das pessoas que fazem festas eficazes:

1) Defina e avise previamente qual será o gênero musical da festa e selecione os convidados para tal. Esse é um excelente modo de você explicar para aquele merda do seu colega pagodeiro porque não o convidará, caso organizar uma festa regada à rock progressivo.

2) Chame um amigo que ninguém conheça que será o coordenador do som. Diga a todos que ele é um DJ tcheco, que não fala Português. Ele na verdade será mais um segurança armado pronto a assassinar o primeiro otário que chegar perto com um CD na mão ou abrir a boca para fazer pedidos musicais. Você pode ainda colocar uma plaquinha em cima do som: "Pedidos musicais: Rádio América, AM 1.400KHz, fone XXXX-XXXX".

3) Faça a lição de casa e, escolhida a mídia que tocará (CD convencional, MP3 ou direto do computador) monte suas playlists. Seja primoroso e separe os hits que combinam entre si, para não broxar os presentes tocando um techno a 140BPM e em seguida um bléquinho fubanga do 50 Cents com 80BPM. Isso provoca perturbações no sistema nervoso dos dançantes.

4) Se puder, destine um dos ambientes para dançar. Esse ambiente merecerá uma iluminaçãozinha piscante, ainda que improvisada. Se não tiver apetrechos adequados, qualquer casa de material elétrico vende lâmpadas coloridas de 40W com aquelas pastilhas pisca-pisca que são introduzidas nos soquetes. Em número suficiente - 10W por M³ de sala no mínimo - já dão um ar bacaninha.

5) Para garantir a isonomia do zelador do som tente fazer com que a aparelhagem fique em um plano menos acessível para os dançantes. Isso restringirá de fato os pentelhos e palpiteiros.

6) Fique atento: verifique se a música está agradando mesmo. Não há nada pior do que anfitrião que tenta empurrar à força seu gosto musical sobre todos. Se os convivas pararem de dançar de repente desconfie que a última virada de som foi ruim. Lasque um efeito especial ou então anuncie uma pequena pausa para o pessoal relaxar, enquanto corre para a outra playlist.

7) A potência do som tem que ser suficiente. O recomendável tecnicamente é 1W RMS por pessoa. RMS é a potência real contínua do aparelho. Ignore aquelas palhaçadas escritas nas caixas dos aparelhos atuais como "1.000W PMPO". Não sei quem foi o puto que inventou essa unidade, mas um aparelho com essa especificação não chega a 30W RMS que é suficiente apenas para 30 pessoas em ambiente fechado. A céu aberto, então ferrou: dobre a especificação para 2W RMS por pessoa.

8) O karaokê deve ser evitado a qualquer custo. A Interpol ainda está à procura de quem foi o fdp que inventou essa merda. Não há nada pior no mundo do que agüentar bêbado grunhindo ao microfone sobre um fundo musical de pianinho do Paraguai. Não basta os arquivos midi serem a destruição da boa música e o populacho ainda leva à risca o ditado "Quem canta seus males espanta". Vão cantar na pqp. Proíba terminantemente a instalação de aparelhos de qualquer marca, seja da Raf Eletronics®, Gradiente DVD-Okê™, ou do raio que o parta. Se necessário use a coerção física ou ainda o treizoitão que você esconde no seu guarda-roupas.

9) E, por último, não se acanhe: caso alguém tenha bebido demais e dane a assediar a todos na festa e ficar chacoalhando o CD vagabundo insistentemente para o DJ, convide-o a se retirar. Você não vai estragar sua festa por causa de um(a) bêbado(a) pentelho(a) mal-amado(a). Mande-o se tratar no AA ou no psiquiatra e voltar no ano que vem. Ou melhor, exclua-o da próxima lista.

Um comentário:

Anônimo disse...

ótimo....
adorei o blog...
quando organizar uma festinha me chama hein...rs*