sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Finados

"Que os mortos enterrem os seus mortos", teria dito um conhecido profeta judeu no primeiro século. Independente da veracidade do proferido, a ordem encerra uma grande verdade. Há pessoas que vivem a vida dos mortos. Vivem o dia morto de ontem, o mês morto findo anteontem, o emprego morto perdido no ano passado. Vivem o fato morto ocorrido há tantos anos, ou em supostos "bons tempos", como se nos de hoje não fosse mais possível vivenciar experiências renovadoras e felizes.

A necro-indústria, alimentada pela religião, levará no dia de hoje centenas de milhares de pessoas aos cemitérios, onde hão de ser depositados tantos milhares flores e acendidas tantas velas quanto. Um belo dia para os comerciantes desses produtos. Bastava ver a movimentação das distribuidoras de flores no CEAGESP nesta semana, para avaliar a expectativa para este dia de "lavar a égua", comercialmente falando. Nada contra. A favor tampouco. Essa atração pelo necro-místico acompanha a Humanidade desde os tempos mais remotos e tudo indica que continuará logrando êxito por mais um tanto idêntico de tempo. Se a espécie humana durar mais tudo isso.

Não sou diferente de ninguém no quesito de possuir familiares mortos. Os que me conhecem há mais tempo sabem que a infalível ação da morte, já atingiu-me até em consangüíneos muito precocemente. Nada de extraordinário. Nem por isso hei de ir algum cemitério hoje. Os entes queridos que se foram estarão sempre vivos no carinho das lembranças dos tempos de convívio. E, da parte do tio, terão seus nomes lembrados somente a partir do melhor que trouxeram para esta espelunca de mundo, durante suas breves ou longas estadias. Cada religião dá um nome diferente a isso. Eu prefiro chamar de respeito.

Em outro post, se eu lembrar, talvez eu reproduza uma parábola budista sobre isso. Muito esclarecedora por sinal. Se eu esquecer, me lembre.

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