sábado, 10 de janeiro de 2009

Tupinamerican way of life

O Capitalismo consegue até o momento uma façanha que nenhum outro sistema conseguiu com tanta perfeição. Ele mantém na sua periferia uma massa populacional elástica. Ora ela cresce (crises) ora ela encolhe (bonança). E esse sistema, ocasional ou não, deixa ansiosa uma imensa parcela da população, ardente por ingressar na massa de consumo. A ansiedade subtrai qualquer possibilidade de senso crítico.

Além de não saber exigir seus direitos, as massas não têm presença de espírito suficiente para ignorar os apelos de marketing do Capital e colocá-lo com seus produtos no devido lugar. Por isso as pessoas compram o que não precisam, endividam-se até onde não deviam buscando satisfação para a vida com quinquilharias sem as quais viveriam perfeitamente, senão melhor.

Desse modo não é raro uma pessoa de hábitos de consumo moderados ver que sua faxineira possui um celular plus-blaster-master muito melhor que o seu ou ainda que o filho do porteiro ganhou o videogame x-mega-over enquanto seu filho ainda se diverte com o bom e velho PS¹. Óbvio que os serviçais compraram tudo em 34098439 prestações. O presidente Lula-Lelé diria: "Nunca antes na história deste país...". Mas não é bem assim.

A população em geral já não recebe nenhum tipo de educação básica, quanto menos de como lidar com o dinheiro e administrar a vida pessoal. Eu mesmo não fui educado a respeito nem pelos meus pais e muito menos pela Escola e aprendo fazendo as piores burradas. Nada a esperar da escola em geral se a entendermos sociologicamente como fruto e serviçal do Capital. Por isso o Godzila do sistema financeiro vive a engordar, alimentando-se do endividamento da população. Do lado da classe média através de produtos com status como cartões de crédito, carros reluzentes e linhas de cheque especial; do lado da categorias mais pobres propiciando que encham suas casas com produtos comprados a juros escorchantes em prestações intermináveis. Frequentes pesquisas mostram que consumidores não sabem calcular a simples diferença entre o preço à vista e o preço final financiado.

Aí está a magia marqueteira do Capital: fazer com que a classe média (profissionais liberais e pequenos proprietários) enebrie-se e sinta-se dominante - quando não passa de vassala - e que as classes proletárias sintam-se incluídas no maravilhoso mundo do consumo, acessando bens com displays eletrônicos piscantes, controles remotos multifuncionais, potência sonora de trocentos watts e assemelhados. Em ambos os casos constroem-se modos de vida insustentáveis a longo prazo. O SPC e a SERASA que o digam. E mais e mais trabalhadores penhoram indiretamente seus suores, fígados e rins nos cofres dos bancos e financeiras.

Por que refleti tudo isso? É que além de em alguns dias eu estar mais introspectivo e pensante do que em outros, ontem eu passei por vários bairros comerciais. Fiquei pasmo com as filas nas portas das lojas do Magazine Luiza. A empresa tinha anunciado uma megaliquidação (já sem trema e sem hífen) e o populacho fez filas quilométricas para aproveitar a oportunidade insubstituível de comprar o desnecessário. Pude ouvir um dos locutores ao microfone gritando na calçada: "Já sai daqui na hora com o seu DVD, com o sua televisão LCD, com seu móvel... se não tiver dinheiro não tem problema; leva um carnezinho e a felicidade pra sua família". Felicidade de quem?

Vila Maria: ao meio-dia a fila virava a esquina com cerca de 200 pessoas.


Pela única porta entreaberta somente meia-dúzia de agraciados de cada vez.

Um comentário:

Bloody Mary disse...

É uma questão de prioridades: ou fulaninho conserta o telhado ou compra uma LCD 42". O risco é ter uma goteira bem em cima da sua tela plana...