quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

O dia em que conheci o marabú

- Então, Má... é tipo um rabo-de-gato mas é feito com penas tingidas. Acho que chama malibu, maracatu, alguma coisa assim. Cinqüenta também. Não esquece o resto. De lá você me liga, tá? Beijo, tchau! - E desligou o telefone.

Essa era Ana, uma parceira de negócios e amiga muito querida do interior de São Paulo me pedindo para ir à rua 25 de março procurar um troço que eu desconhecia. Ela disse que ia ser madrinha de casamento em São José do Rio Preto e resolveu patrocinar enfeites para convidados. Eu ainda achava isso prá lá de estranho.

Eis que eu desço a Ladeira da Constituição no centro de Sampa e vejo algo parecido com o estranho objeto narrado. Uma tripa plumosa com cerca de 1 metro, tingido com alguma cor berrante. Entro na loja e a vendedora:
- Ah, isso aqui é marabu. É prá casamento né? Sai muito, o pessoal compra direto. Quantos você precisa?
- Cinqüenta. E cinqüenta óculos coloridos variados.
- Tenho também. E chapéus? Olha tenho um estilo malandro que a turma gosta.
- Não me pediram chapéus. Mas me pediram aquelas pulseiras que acendem, tipo neon.
- Tá aqui. Olha que lindas. Este estojo tem cem peças.

Eu não resisto e pergunto:
- Escuta: é verdade mesmo que o povo distribui isso para os convidados em festas de casamento? Fala sério.
- Claro! Não acredito que você nunca foi em um. E olha, tem isto aqui também que usa assim... isto aqui... isto - a mulher ia me desfilando um arsenal de acessórios e eu continuo a duvidar que sejam usados em algum outro lugar, que não em bailes de Carnaval.
- Olha, tem um brinde pro noivo e um prá noiva. Uma cartola prá ele e uma estola prá ela.
Estola era algo mais ou menos parecido com o tal marabú, só que bem mais cheio e maior. Traduzindo: horroroso em proporções mais escandalosas. Comprei as tralhas e liguei para minha amiga, que me pede pra despachar tudo e urgente. O casamento é sábado.

Já fui em umas três dezenas de casamentos, em São Paulo e no interior. Confesso que nunca me deparei com a distribuição daquele mau-gosto para os convidados. Nem consigo me imaginar usando óculos coloridos, pulseiras luminosas, tampouco com a nova aquisição de meu conhecimento geral: o marabú. Mas estou certo de uma coisa. De hoje em diante, quando eu for a algum um casamento, primeiro passarei em frente do salão bem devagar com os vidros do carro fechados. Se eu notar o menor vestígio dos lindos adereços sendo distribuídos para os convidados, engatarei a segunda e voarei para uma tranqüila pizzaria, onde esperarei encontrar gente normal.

Agora sou um homem com medo de marabús. Coisa mais horrorosa!

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