quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

O futuro que nos espera

"Que pena que ela vai morrer. Mas quem vive?" - Com essa frase rememorada pelo policial Deckard, protagonizado pelo impagável Harrison Ford, termina a Director´s Cut de Blade Runner. Sem dúvida um dos melhores filmes SCI-FI de Hollywood.

Depois de vê-lo no cinema mais de uma vez na época em que fora lançado, adquiri o vinil da trilha sonora, depois comprei as duas versões em CD (uma com a New American Orchestra e outra com o próprio Vangelis), eis que chega à coleção do tio Xavier o DVD do filme. De tanto procurá-lo em vão eu já cogitava mandar digitalizar meu conservadíssimo VHS, mas não foi preciso. Pela bagatela de vinte e cinco reais pude adquirir no Submarino uma cópia remasterizada de ótima qualidade. Entre tê-lo achado na internet, preencher o pedido e pagar o boleto, meu impulso de compra foi tal que fiz tudo em menos de cinco minutos. Acho que era medo de que o estoque acabasse.

A Los Angeles de 2019 pintada por Ridley Scott é soturna, chuvosa, poluída em todos os sentidos, superpopulosa, impessoal e fria. Saturada pela mão destrutiva da civilização, a Terra está inabitável. Grandes empreendedores imobiliários do futuro anunciam loteamentos em outros planetas colonizados. É o homem predador levando a cabo a missão que criou para si, de devastar todo o Universo à sua volta. A Engenharia Genética, através da Tyrrel Corp cria os replicantes, uma espécie de andróides semi-humanos, para servirem de escravos e guerreiros na nova conquista do Oeste, desta vez a rapinar terras muitos anos-luz distantes do Arizona, com espaçonaves no lugar de diligências. Os replicantes são planejados para não saber que o são e para durabilidade finita. Porém, um grupo deles toma consciência dos fatos e se amotina em busca do segredo para viver mais. O ex-policial Deckard é intimado a prestar serviços novamente no extermínio dos invasores. Um enredaço baseado no livro de Philip K. Dirk, Do Androids Dream of Electric Sheep? (Os andróides sonham com carneiros elétricos?).

Blade Runner é um filme profundíssimo, cuja fotografia e cenografia são labirintos de sutilezas. Como no instante em que Deckard tira o casaco e aparece por baixo uma camiseta que lembra uma camisa cowboy. Ele a qual despe - também simbolicamente - ao confrontar-se com estonteante replicante Rachael (Sean Young) por quem se apaixona. As questões existenciais clamadas pelo filme percorrem as dúvidas sobre os destinos da civilização. Escancara que, diante do sistema que levou o mundo ao caos da Los Angeles de 2019, andróides e humanos são difíceis de se diferenciar na multidão. Mais do que na aparência, no papel de cada um na manutenção silenciosa do sistema em que as multidões patéticas mais parecem reses abate. Como andróides? Durante uma das caçadas em que Deckard sai atirando e atropelando a multidão, vê-se um grupo de Hare-Khrishnas cantando a boa e velha Hare-Hare. Essa aparição sugere que a busca pelo divino e o transcendente talvez nunca morra, mesmo naquele futuro caótico e tenebroso.

É quase certo que em 2019 as metrópoles ainda não estarão como no retrato cinematográfico de Riddley Scott, ao menos no que diz respeito à tecnologia e ao visual. Porque essencialmente cada vez mais será difícil diferenciar os humanos dos andróides. Seremos todos criação da indústria genética para a manutenção do sistema? O que nos faz humanos? - são questões que, de modo cifrado, o replicante Roy (Rutger Hauer), tece no seu discurso de morte. Time to die, em suas últimas palavras.

* * * * *

Agora chega. Compre o seu e assista. De preferência dezenas de vezes, como o tio Xavier. Sinto que há mais a filosofar com essa pérola cinematográfica do que pode imaginar a nossa vã TV aberta (eca!).

Nota: O Submarino, a Warner, o Ridley Scott e o Harison Ford nada pagaram ao tio por essa babação de ovo. Mas não resisto. O filme é mesmo sensacional.

3 comentários:

Unknown disse...

Tio, me responda: Você acha que o Deckard era um replicante? Achou isso a primeira vez que viu o filme?

Grato!

Tio Xavier™ 4.5 Plus disse...

Caro Luiz:
Eu entendo que Deckard era um replicante sim. Mas não faz muito tempo. Devo essa conclusão à evolução de minha reflexão filosófica e coompreensão das mensagens subliminares do filme.
Eu diria mais: TODOS os personagens do filme são replicantes. Inclusive nós, do lado de fora da tela.

JRP disse...

Também comprei esse DVD.
Essa cópia foi uma das piores que já assisti: sem encarte, sem maiores atrações, só o filme e pronto.
Normal.
Mas as legendas estavam péssimas! Tradução vagabunda, adaptação de texto porca...
É impressionante como a Warner consegue cagar em um filme tão simpático.
E simpático NUMAS porque ele envelheceu bastante, heim?
Aquele marketing da TDK nas cenas finais estava um absurdo.
Aliás, disseram que, ainda este ano, lançarão aqui um DVD duplo do Blade Runner em uma edição comemorativa de sei lá o que!
Vai preparando o bolso!