quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O bocoió

Hoje encontrei um bocoió. Não lembro o nome dele. Mas o cara entrou no no boteco onde eu estava almoçando. Um baianinho sorridente, que fala mole. Se bem que baianinho que fala mole é quase um pleonasmo. Mas saca só o diálogo:

- Tio?

- ...

- Você não lembra de mim, né?

[Tio procurando o botão eject]

- Lembrando eu tô sim... mas...

[Tio pensando: "Cazzo e se for um cliente e não comprar mais de mim?"]

- É tio! Como você tá de cabelo branco! Tá 'véio' hein?

[Tio pensando em mandá-lo tomar no ânus, mesmo que ele for presidente de multinacional]

- Tenta lembrar quem eu sou.

[Tio pensando: E por que eu deveria?]

- É tio... você ainda é católico?

[Tio pensando: porra, o que você tem com isso?]

- Não. Não sou católico.

- Nãããããããão?

- Não.

- Mas o que você é agora?

- Eu tenho que 'ser' alguma coisa?

- Ah.. eu sou católico. Não vou mais na igreja. Mas continuo católico. É que aqueles caras da Renovação Carismática lá estavam insuportáveis. E aí blá blá blá blá blá blá...

[Tio pensando: mas quem perguntou algo?]

A essa altura eu lembrei mais ou menos quem era. Assim de vista, mas nome nem pensar. Era um bocoió da Igreja que o tio freqüentava na juventude. Bocoió mesmo, daqueles mais incautos e ingênuos. Por exemplo, enquanto o tio coletava donativos pra acampamento de ocupação de sem-terra, à qual eu ajudara pessoalmente a invadir, o tonto tava rezando terço com a turma Legião de Maria e falando que o que eu fazia era coisa do demônio.

Mas agora, pra você ter uma idéia da significância dele para mim e do "reencontro", tente imaginar como foi que o bocoió se foi do boteco e como nos despedimos. Pois é. Eu não tenho a menor idéia. Acho que ele foi ficando invisível. Veja você leitor, como ele foi importante. Acho que naquele momento de extrema chatice fui apagando ele da mente e ignorando-o até que sumiu. Não o vi saindo do bar.

Lembrei-me dos ensinamentos de Buda, para quem o Universo é produto de nossa mente. Nesse caso eu "desproduzi" parte do Universo, por sorte o bocoió. Mas agora há pouco quando narrava essa história pra uma amiga, ela concluiu: "The Secret" também funciona para se livrar dos chatos. A mente produz aquelas ondinhas como no filme e desmaterializa os chatos. Que bom. Preciso praticar mais isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ñ acredito que perdi tempo lendo essa merda !!!