quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Depois do reveillon

Como o leitor pôde perceber nos posts anteriores o tio não tinha nenhum propósito para 2008. Nada daquelas promessas de fazer dieta e se livrar dos quilos a mais, nada de ir mais ao cinema, voltar a nadar, enfim nada dessas coisas bestas que as pessoas se prometem todos os anos. Como se os algarismos no calendário fizessem alguma diferença além da convenção de contagem de tempo. Não faz. E consciente disso eu só quero que 2008 e o Lula Lelé façam as suas partes e não me atrapalhem nos meus afazeres. Mais nada.

Contudo uma coisa eu já defini. A partir de fevereiro estarei de trabalho novo. Me enchi da minha multinacional. A ferrada de ficar de saco cheio do emprego tendo um escritório próprio é não poder se demitir e não poder mandar o chefe pro inferno. Ao menos em tese, porque foi isso que eu fiz. Propus uma sociedade com o diretor de uma representada minha, com quem venho estreitando relações há tempos e resolvi parte de minhas dores-de-cabeça. Entreguei-lhe a minha boa e velha Carteira de Trabalho e Previdência Social e agora vou cuidar tão e somente do que melhor sei fazer: vender e receber polpudas comissões.

Doravante serei um empregado. Terei chefe, agüentarei dias de cara feia e serei chamado à atenção quando fizer alguma grande merda. Terei que pedir autorização quando tiver que decidir algo, mas por outro lado pedirei verba quando julgar que há algo oportuno a ser feito, pedirei sulfite, pedirei grampo pro meu grampeador, pedirei clipes e também cartucho para a impressora. Reclamarei quando a rede estiver lenta, xingarei quando o sistema estiver falhando, sairei para a rua quando o micro desligar sozinho, quando o sistema operacional travar e só voltarei quando o técnico tiver resolvido.

Quando eu chegar em casa com o saco na Lua por causa de um dia ruim, falarei com a darling e colocarei toda a culpa nos chefes. Quando algo em algum projeto der errado praquejarei contra os caras da área técnica. Quando algum cliente me reclamar que não retornei uma chamada, cairei de pau em cima da recepcionista por não ter me dado o recado.

Não mais passarei as manhãs olhando o extrato bancário da empresa para ver se o cliente X ou Y pagou, não ficarei preocupado se o meu talão de notas fiscais tem papel carbono bom, não postarei mais boletos para os clientes, não ficarei olhando o vencimento de contratos e data-base de reajuste.

Quando eu for visitar uma empresa fora da cidade pedirei dinheiro para o pedágio e quando eu pagar do meu bolso, apresentarei os comprovantes para reembolso. Quando surgir um projeto novo e inusitado não serei eu mais a procurar o profissional que desenvolverá o software ou a parafernalha cibernética que eu vou inventar no papel sulfite.

Enfim, despedi-me do cargo de patrão. Como chefe de mim mesmo eu sou insuportável. E já fui tarde.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bem vindo ao mundo daqueles q sabem q há muito mais valia num salário de $ 2000/mês com direito a férias, 13º, recolhimento de inss com a chatice de ter um horário a respeitar, um chefe a ouvir reclamar, colegas q nem sempre sabem o q fazem. Do que sonhar com ganhos de $ 5000 e se preocupar se há ou não verba suficiente pra todas as contas.. Demorou