quinta-feira, 30 de abril de 2009

Você se garante?

Você se garante? Essa pergunta pode parecer muito vaga, mas remete aos diversos aspectos da segurança em si que cada um deveria conquistar. Definir a si próprio é uma tarefa um tanto difícil, admitamos. Nos situamos naquele limbo entre a imagem que temos de nós mesmos, a imagem que os outros têm de nós e algo que pode ser nossa essência. Passamos por isso a todo momento ou quem sabe devíamos nos questionar em instantes específicos da vida. Mas preocupar-se excessivamente com apenas nossa imagem externa pode - além de resultar em neuroses - contribuir para a ruína dessa mesma imagem que queremos construir. Garantir-se não é para qualquer um. É enxergar-se com realismo sem abrir mão do sonho. É construir uma auto-imagem compatível com nosso lugar-mundo e as competências que podemos conquistar de maneira sustentável.

Há coisa de um ano e tanto, conheci uma pessoa. Uma jovem muito bonita e digo sem pudor que é muito atraente. Algumas semanas depois, não sem quem foi que encontrou o perfil de quem no Orkut e acabamos nos adicionando. Cumprindo o propósito irresistível dos sites de relacionamento, passei a bisbilhotar sorrateiramente as fotos da bonita moça, querendo saber um pouco mais a respeito da enigmática e silenciosa figura. No seu álbum virtual notei que todas os as manhãs sempre havia novas fotos dela em baladas, sorridente e com copos à mão. Fiquei intrigado, confesso. Para quem estuda à noite, presume-se que trabalha. Divertir-se e beber em danceterias até altas horas todas as noites me pareceu mais compatível com os entrevistados do Amaury Jr., da classe social A++. Fora que em Sampa uma saidinha de nada nunca custa menos de cento e cinqüenta reais, isso em lugares dos mais modestos. Faça as contas e descubra o despêndio mensal. Só se ela for "filha de papai", pensei.

Dia desses a jovenzinha me procurou nos corredores. Me supondo alguém bem relacionado profissionalmente, ela pediu que eu arranjasse um emprego pra ela. Sou reticente com essa coisa de indicação profissional. Mantenho contato direto com dezenas de empresários. Mas só indico pessoas de quem tenho bem claras as competências e requisitos. Perguntei o que ela fazia e recebi como resposta o lamentável "qualquer coisa". Ora leitores, quem faz qualquer coisa, ganha qualquer salário e tem que trabalhar em qualquer lugar. Qualificação e especialização são condição sine qua non para um posto profissional recompensador. Emprego há somente no meio político, em cargos indicados para não fazer nada. Para profissionais de verdade há postos de trabalho. Perguntei o que ela fazia atualmente e descobri tratar-se de uma balconista de loja, com ganhos que mal tangiam seiscentos reais mensais.

Se você teve saco de ler até aqui deve estar se perguntando: uma suburbana, que estuda em faculdade popular, tem um empreguinho de nível "D" vai à baladas todas as noites... como? Há de ter um namorado "bom partido" com as burras bem cheias. Não, meu amigo, minha amiga. A moçoila, apesar de ser muito bonita mesmo, não tem namorado fixo. Ao menos não tinha até há poucos dias, quando bisbilhotei-a um pouco mais. Trata-se de uma "ficante errante". Segundo uma colega comum, que mora na mesma rua do mesmo bairro pobre, a moça sonha com uma vida melhor como é justo a qualquer um. Mas a estratégia de sustentação do seu sonho inclui não se relacionar com ninguém do pedaço humilde onde reside e um esforço desmedido para misturar-se a tribos de poder aquisitivo mais relevante. E sem grana para bancar esse capital social, o preço que ela paga é dar canja para rapazes abastados que não resistem aos seus belos traços e contornos, ficando com um aqui, outro acolá, uma cama aqui e outra ali, a cada balada ou fim-de-semana a passeio. A rotatividade é sem fim, já que relacionamento estável no meio baladeiro não é uma patente. Sua dedicação diária na postagem de fotos em que aparece sempre sorrindo, mais parece uma ação de marketing planejado a vender a idéia de como é feliz.

Com seu desempenho acadêmico próximo de medíocre ela deve continuar sonhando com um príncipe encantado cavalgando em um carro importado, para tira-la do seu lugar social de proletária-suburbana e leva-la em definitivo para um castelo encantado, quiçá um bom apartamento em bairro melhor. Não mais por uma noite. Deve ser muito difícil viver uma dicotomia tão grande entre fantasia e realidade. Acima de tudo ela parece ser uma boa pessoa e por isso desejo que ela se divirta bastante, dada a efemeridade que a vida representa. Mas sinto um bocado de pena a imaginar o vazio que sua pessoa encontra, toda vez que não consegue um patrocinador para ir para a balada. Sem os entorpecentes das luzes piscantes, das músicas dançantes e dos drinks coloridos que pagam para ela, a moça pode ver-se em um vazio desagradável. Tomara mesmo que o príncipe apareça - e logo - porque se demorar muito seu salário de balconista não bancará os antidepressivos.

2 comentários:

Migux@ disse...

Bom....e aí?
Fiquei curiosa...
Você "arrumou" alguma coisa prá ela?

Gerson disse...

Eu tenho um emprego muito do bom pra ela, Tiu Xavié. Manda ela entrar em contato comigo.