sábado, 4 de março de 2006

Ele mora ao seu lado

Estima-se que a população de roedores de pequeno porte - sim, os RATOS - chegue a cinco para cada habitante humano, aqui em Sampa City. Isso mesmo! Se você mora em uma casa com cônjuge e dois filhos, sua família tem direito inalienável a vinte unidades dessas criaturas.

Isso me remete aos primórdios da vida profissional de Walt Disney. Munido de calhamaços de desenhos em papel, o jovem Disney era recebido com desprezo e ironia pelos editores. Uma das frases mais marcantes do frustrado início de carreira foi: "De onde você tirou a idéia de que alguém comprará uma história de um rato nojento?" O jovem artista não se deixou abater, como o império Disney atesta.

Preciso fazer uma confissão pública: fui eu quem proferiu essa frase! Foi em uma encarnação anterior. Trago duas coisas dessa passagem: a pobreza da família, por não ter comprado aquelas merdas de quadrinhos dele, e a ojeriza que tenho dessas criaturas, tenham o nome que tiverem: Mickey, Jerry, Fievel, Ligeirinho, sejam eles ramsters ou camundongos. São todos escrotos, nojentos, empesteados, atrevidos, ladrões, invasores, feios, bobos e cabeças-de-melão. Odeio-os a tal ponto de estender meu ódio aos coelhos, capivaras, esquilos e a qualquer outro animal classificável como roedor. Vão roer às putas que os pariram!

Todo esse ódio não é falta de meditação nem incompreensão com os desígnios da Mãe Natureza. É o ódio prático de quem acaba de lutar até a morte contra um desses invasores, dentro dos domínios do próprio lar. Foi esta manhã. Minha querida mulher voltou ao quarto com olhos arregalados, voz trêmula e praticamente sem circulação sangüínea. Disse ter encontrado vestígios de um deles em nossa cozinha. E olha que ela permanece fechada quase 23h30min por dia. Mas sabe-se que esses hediondos seres não precisam mais do que uma fração de segundo, para passarem por baixo de nossas pernas sem serem notados.

Após decidir que nesta casa não há lugar para convívio entre nós e ele, despachei minha mulher para o trabalho e meu enteado a paradeiro ignorado. Fechei a porta entre a cozinha e a sala. Comecei o desmonte meticuloso e investigativo de um Holmes. Após quase esvaziar o pequeno buffet que acumula funções de suporte de aquário e despensa, começo a avistar algo com aparência de cauda. Fecho a porta de acesso ao quintal. O armagedon seria entre ele e eu, sem testemunhas. Cogitei pegar meu revólver para a batalha final, mas não o fiz temendo desperdiçar quinze reais de munição e deixar minha cozinha com aspecto de um camembert, atraindo mais ratos. Pratiquei minha vocação percussionista até que ele resolveu sair do móvel. Tardiamente ele descobriu que além de levar jeito para o Timbalada eu tenho tino de samurai. Com uma vassoura sou capaz de abater um paquiderme com um único golpe no meio dos olhos. Quanto mais a um mísero roedor.

Agora ele é apenas um corpo desfalecido com o destino a meu cargo. Penso em pendurá-lo pelo rabo no muro do quintal, para servir de exemplo aos outros dezenove que imagino circundarem minha casa. Boa idéia! É isso mesmo que vou fazer. Com licença, que vou pegar minha caixa de ferramentas...

Um comentário:

Musa de Caminhoneiro disse...

Eu não tenho medo de ratos. Tenho simplesmente pavor. Não consigo ver nem o bicho nem em desenho animado porque o rabo me provoca náuseas