quarta-feira, 12 de julho de 2006

Roteiro gastronômico do submundo

Revistas com roteiros gastronômicos caros há existem aos montes. É possível até afanar alguma no saguão de aeroporto, na recepção do hotel ou em uma agência de viagem. Mas carecem de novidades. Qualquer um sabe que o Fasano é ótimo, que a Vento Haragano é uma puta churascaria, que o Charlô Bistrô é o cara e por aí vai. Só que são lugares inacessíveis para mortais com renda inferior a três salários mínimos como eu. Até os manobristas dessas casas se recusariam a estacionar meu Corsa 1000. Então eu aproveitarei-me da graça de pertencer à classe social E, para prestar preciosas dicas gastronômicas dos lugares mais pobres e periféricos do Capitalismo. Mas ao alcance do bolso de todos.

Começo falando de uma do bairro de Vila Maria: a Lanchonete Dunga´s. Já foi muito tradicional, mas os donos de hoje devem ser os quadragésimos. A iguaria provada no caso foi um leve e saudável cheese-bacon-egg-salada, recomendado para pessoas em regime.

O lanche: já foi melhor. A tentativa de manter um hambúrguer sendo feito lá mesmo, em lugar dos industrializados, até que é boa. Mas o atual não tem gosto nem de sal, nem cheiro de nada. O pão de hambúrguer é desses marca Chimbica Breads, vendido em atacadistas por R$0,07 cada. Seco, sem gosto e quebradiço.

O atendimento: diga você mesmo. O garçom demorou cinco minutos para perceber que eu estava sentado à mesa. Porque, em pleno meio-dia, é improvável alguém sentar-se em uma lanchonete. Quem sabe seja uma superstição de prosperidade, ignorar o primeiro cliente do dia, no caso eu. Pedi meu lanche, com a única observação de que o bacon fosse bem tostado. Só que vi claramente o infeliz chegar ao balcão e pedir simplesmente um "x-tal para a mesa 22", cagando e andando para o detalhe. O chapeiro já pareceu mais ligeiro, pois em menos de cinco minutos meu olfato indicou que meu lanche prontinho havia sido colocado no balcão. Mas esperei infinitos dois minutos, torcendo para que o garçom parasse de limpar os cardápios e lembrasse de sua função primordial. Inúteis foram, tanto a minha espera quanto o garçom. Total aproximado de espera = 12 minutos.

Já irritado, levantei-me falando ao chapeiro em decibéis de vendedor de pamonha, que eu iria pegar o lanche para que não esfriasse. À tentativa tardia do garçom de se aproximar, fiz um gesto de que não precisava mais. O bacon encruado eu retirei e abandonei no prato. O restante comi tudo, tal fome que me abatia. Para não ter que esperar a boa vontade do limpador de cardápios, fui direto ao caixa pedir e pagar minha conta. Esse problema crônico com garçons, na verdade, faz parte de um carma que carrego de vidas passadas. Parece que fui garçom na França em 1850 e passava cuspe nos pratos dos clientes e coçava o saco antes de pegar nos copos deles. Anseio pelo advento do robô-garçom, que mande os serviçais de má vontade pra fila do Centro de Solidariedade ao Trabalhador.

Registre-se: Dunga´s Hamburger. Praça Santo Eduardo, bairro de Vila Maria, em Sampa. Já teve seus tempos de glória mas vem decaindo vertiginosamente. Já não vale à pena.

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