quarta-feira, 11 de julho de 2007

Bola fora e mesa quadrada

Eles quase sempre são quarentões ou cinqüentões obesos e sedentários. Raros deles são ex-praticantes de alguma modalidade esportiva e, mesmo destes, nem todos são dignos de menção honrosa. Mas diante das câmeras e microfones, sabem tudo de arbitragem, treinamentos, escalações, táticas em campo, cobranças de escanteio, faltas e até mesmo das temidas defesas de penais. No que dependesse das suas línguas afiadas e peçonhentas, mais do que dos seus físicos e exemplos de vida, o futebol seria um interminável espetáculo de disciplina espartana, austeridade, profissionalismo e, claro, gols a perder de conta.

Estou obviamente falando dos comentaristas esportivos, que invadem a TV nas noites de domingo e nos especiais após os jogos de futebol. A TV nesses horários torna-se um pé-no-saco. Custa-me acreditar que a durabilidade desse tipo de programa se deva à audiência de fato. Ou então temos que admitir que o Brasil é um efetivo de cento e noventa milhões de técnicos de futebol. Um bando de cérebros inativos, cujas poucas informações que conseguem processar incluem necessariamente turbas de machos suados com as pernas à mostra correndo atrás de uma única esfera cheia de ar comprimido. Inacreditável.

Tirando alguns que outrora já demonstraram como tomar posse de uma bola e fazer algo entretenível com ela - Pelé, Sócrates e Neto por exemplo - a maioria desses atletas verbais não passa de radialistas e ex-radialistas de formação duvidosa. Hábeis apenas com a língua ferina, porque ela é o único músculo que não fadiga. De um modo geral, acompanhar algum esporte com tanto afinco e vibração, sem ao menos praticá-lo de alguma maneira, casa bem com aquela torpe expressão, que equivale a "ter ejaculação com o pênis alheio". Coisa muito babaca.

Sou totalmente a favor da PRÁTICA do esporte. Mas também sou favorável ao extermínio em massa desses embusteiros do microfone. Contudo os cães ladram - ladramos no caso - e a caravana passa. Tudo indica que essa alienante preferência em debater assuntos inócuos está longe de terminar. Aí estão agora os Jogos Panamericanos na Baía da Guanabara que propiciarão indiretamente um show de abobrinhas, protagonizado pelos atletas de microfone. Sim, porque temporariamente eles - que tudo sabem sobre futebol - proferirão pitacos sobre todas as demais modalidades esportivas. Despejarão suas sábias e incríveis soluções que, se fossem aplicadas, trariam cinco dúzias e meia de medalhas para o Brasil. Na cabeça deles. Sorte deles que há quem os ouça.

Uma noite dessas, só para provocar meu cérebro com temas atípicos ao meu cotidiano, arrisquei-me a ouvir um programa paulistano chamado Estádio 97. Sem ressalvas se alguém gosta de ouvir aquilo porque tem gosto pra tudo. Mas a pérola foi um ouvinte corinthiano ao telefone - amparado por um dos radialistas - gastar preciosos dez minutos de transmissão radiofônica para apresentar suas sugestões para as próximas contratações do Timão. Foi algo bizarro assim:

Ouvinte: Então, o Zé das Couves* do Jaboatão* tem crescido muito na enésima divisão.

Radialista: Você acha que ele seria um bom nome para o Corinthians?

O: Sem dúvida. E tem também o Manoel Joaquim* do Estrela de Prata* do Piauí. Um goleiraço, bem melhor que o Fábio Costa.

R: E que outros nomes você sugere para o Corinthians?

O: Tenho uma listinha aqui. O Fulano do Pé na Cova* do Maranhão, o Beltrano do Bola Furada* do Acre, o Sicrano do ... blá, blá, blá...

Faça-me um favor. Alguém consegue imaginar o Dualib ouvindo rádio e anotando os nomes? Sem comentários.

Um comentário:

JRP disse...

Lembrei de você, tio!

Eu estava passeando por um desses canais abertos e escancarados quando tinha lá um desses programas de esporte.
Normal.
Era um papo sobre brigas de torcida e o apresentador falou sobre uma das mães dos carinhas que estava em cana.
Ele disse:

"Eu entendo a dor dessa mãe. Porque eu sei o que é ser mãe!"

URRA, MANO!
Esses caras entendem de tudo, até o que é ser mãe!
Nem quero ver a górgona que esse cara pariu no mundo!