quinta-feira, 19 de julho de 2007

Regra-mór da Informática

"Se está funcionando, não mexa". Incrivelmente boa parte das pessoas ignora esse postulado de ouro.

Depois de amargarmos telefonemas raivosos, reuniões intermináveis e investigações de campo quase sem resultado, um sistema nosso recém-implantado em um cliente finalmente estabilizou. Trata-se de uma parafernalha complexa que envolve transmissão de dados por rádio-freqüência, dispositivos portáteis, conexões com um banco de dados que não é nosso e outra série de coisas que não vem ao caso listar.

Ocorre que o projeto estava devidamente pago, mas atrasado de nossa parte. E ainda diz respeito à atividade principal de nosso cliente. Por isso, cada vez que o treco travava era acionado o único plano de contingência possível: papel, prancheta e caneta Bic. Dessa forma o faturamento do cliente atrasava no pior do efeito cascata. Já deu pra sacar o impacto dessa coisa, sempre na bunda do tio.

Enfim, na última sexta-feira, orientado pelos meus caros técnicos, passei alguns procedimentos informáticos para o cliente. Por esgotamento, o nosso critério já estava na metodologia lotérica. Feito tudo na sexta mesmo, parece que a coisa começou a entrar nos trilhos. Ontem visitei esse cliente pela manhã e fui recebido com sorrisos, chocolate quente e biscoitos, sinal de que as coisas tinham melhorado de fato. Conversei com um dos operários, que já portava um dos trecos portáteis que vendemos, e ele me testemunhou que há dois dias seguidos tinham batido a meta de zerar todos os pedidos até final do expediente, sem extras. Suspirei com alívio. Ao final da rápida reunião me mandei, bem mais tranqüilo.

E ontem mesmo, no fim da tarde, depois daquele ridículo ocorrido no shopping, voltei para o meu escritório e telefonei para o profissional responsável pela parte de rádio-freqüência no projeto.

- Alô, Robert* tudo bem?

- Oi tio, tudo bem. Como foi lá no cliente hoje? Como estão as coisas por lá?


- Não podia ser melhor. O troço está estável. Estão separando os pedidos sem maiores problemas.

- Mas o que foi que resolveu de fato? Foi a troca da antena ou a supressão da criptografia?

- Que importa? Nem dá pra saber. Eles fizeram tudo que mandamos na sexta passada e funcionou.

- Mas precisamos saber o que foi que resolveu.

- Pra quê, cara-pálida? Eles trocaram a bosta da antena e zeraram a criptografia. Pronto, funcionou e o cliente está feliz e produzindo. Hello babe, tá fun-ci-o-nan-doooo.

- Mas assim não dá pra saber pra colocar no laudo.

- Coloca as duas coisas na porcaria do laudo e explica no que ajuda cada uma delas.

- Ah, não é legal isso. Melhor testar para ter certeza de o quê foi que resolveu.

- Testar? Como assim, Robert*?

- Testar é testar, ora. Destrocamos a antena e vemos o que acontece. Depois recolocamos a antena nova e estornamos a criptografia. Aí ficamos observando as ocorrências em cada um dos testes e pelos resultados tabulados chegamos a uma conclusão.

- Você não tá falando sério, né?

- Mas tio, precisamos de fechar o laudo com precisão.


Nesse momento meu tom de voz subiu para tons muito acima das recomendações do Conselho Nacional de Otorrinolaringologia:

- CARA, SE VOCÊ PISAR LÁ, PEGAR UMA ESCADA E AMEAÇAR CHEGAR PERTO DA INSTALAÇÃO, EU MESMO TE DESPENCO LÁ DE CIMA. E QUANDO VOCÊ CAIR NO CHÃO TE DOU DOIS TIROS, PRA GARANTIR QUE NÃO VAI TENTAR DE NOVO!

- Caramba, tio! Tá nervoso?

Desliguei o telefone.

Alguém aí pode explicar para esse profissional? Obrigado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Há pessoas que não se contentam com o óbvio.
Querem o mais que óbvio.
Querem o absurdo.