quarta-feira, 25 de julho de 2007

Classe média, papagaio de todo telejornal...

A classe média é capaz de protagonizar situações ridículas como nenhuma outra. No quesito manifestação decente estará sempre a anos-luz do proletariado. Digo isso com conhecimento de causa de quem participou de diversas manifestações legítimas e populares. Foram por causas mais que justas: salários dos professores, habitação popular, transporte público, hospital na periferia, coisas assim. Tudo bem que algumas que foram dispersadas por homens fardados montados em bem-cuidados quadrúpedes. Mas foram uma baita escola de vida e cidadania.

Agora é fim de férias. John Lennon diria: "The dream is over" aos fanfarrões com cartão de crédito no rotativo. Chega de praia nordestina, acabou o Hoppi-Hari, vamos voltar de Cabo Frio. Todos sabemos de longa data que estamos em colapso aéreo. A frota de aeronaves se multiplicou nos últimos quinze anos e nem um milímetro de aeroporto decente foi construído nesse meio-tempo. Todos sabemos. E sob essas circunstâncias a sugestão da ministra-sexóloga faz sentido como nunca. Vai demorar três dias para voltar da Bahia? Relaxa e goza. Vai no meio do saguão, põe o CD vagabundo de axé que comprou em Porto Seguro pra rodar no boombox contrabandeado, balança a bundinha e o tererê.

E, por ser fim de férias, nossa faceta medíocre da infraestrutura de cabotagem aparece com cores puras. Aí estão as filas de check-in de vôos não confirmados. Ao ligar no noticiário noturno da TV somos obrigados a ver o repeteco das matérias do início de julho, quando os jovens coradinhos e seus pais de cabelos tingidos faziam os ridículos protestos nos balcões das companhias aéreas, mostrando toda torpidez de sua má-educação em cima dos inocentes funcionários. É meu amigo, não foi a pobre moça do balcão que fez a presepada chegar onde chegou, viu?

É interessante notar que essa classe média, aspirante a emergente não tem vocação nenhuma para ser elite. São apenas barraqueiros de mau-gosto e arrogância desmedida, mas que ganham acima de dez salários-mínimos, pagam leasing de seus carros flex e rodam a fatura do cartão de crédito pagando o mínimo. Nas suas festinhas em buffets bonitos dançam ao som de funk-podre e abaixam vulgarmente os traseiros até o chão. Com o dedinho na boca, claro. Só que consomem desenfreadamente. E justamente por isso são endeusados pela mídia, que é sustentada pelos anunciantes dos produtos que os trouxas grosseiros - mas ressalte-se com cartão de crédito - consomem com furor.

Agora estamos sob a comoção do grandioso e trágico acidente aéreo em Sampa. Acidentes aéreos matam muito menos do que os seus primos pobres, os acidentes rodoviários. Inclusive menos do que as centenas de acidentes de trânsito urbano. Mas são espetaculares e proporcionam um bom material para a mídia noticiosa a custo relativamente baixo. Entenda: cobrir cem acidentes em um feriadão nas estradas requer uma logística numerosa de equipes e equipamentos, transmissão e edição. Mas colocar o melhor jornalista com uma unidade 24 x 7 em frente Congonhas é infinitamente mais barato e atrai uma audiência enorme. Uma simples questão de "ganho de escala", se diria no idioma administrês.
Sérgio Lima / Folha Imagem. Folha Online
That´s all, classe média. Continuem protagonizando seus patéticos chiliques nos saguões dos aeroportos. Toquem pagode, esbravejem. Usem faixas e megafones. A mídia precisa de vocês. Panis et circenses. Vocês fazem este último como ninguém. E ainda pagam por isso.

3 comentários:

JRP disse...

Só prá lhe lembrar, tio...

Você também é classe-média.

Tio Xavier™ 4.5 Plus disse...

Agradeço a lembrança. Apenas ressalto que não xingo funcionários, nem uso cartão de crédito e meu carro está pago, rs...

JRP disse...

As diferenças são mínimas, tio.

Xingar funcionário é válido: se o dono da empresa não está ali, vale o desabafo na cara de quem ousou servir de anteparo ao sujeito escondido.

Funcionários não tem rosto, não tem personalidade e nem merecem carinho: se está na chuva é prá se molhar.

Eu te entendo e sei que existem abusos, mas se neguinho deu a cara prá bater, bolacha merece levar.