sexta-feira, 26 de setembro de 2008

The train, parte XVII

Senhor de meia-idade e suburbano que sou, adentro ao vagão do trenzão da zona leste umas sete e tanto da madrugada. Pego-o voltando para a primeira estação para poder ir sentado, pois tentar pegar o trenzão na terceira estação, como seria meu caso, é impossível. Não dá nem para entrar.

A composição pára na estação final, eu permaneço confortavelmente sentado bem no canto e abro o livro de Emília Ferreiro que estou lendo. Eis que quando o vagão lota compactando a massa proletária ouve-se um aparelho sonoro tocando no último a grudenta, sebosa e enjoada voz do ex-detento Belo. Aos poucos a banda sintetizada cresce e o mais chato dos pagodes românticos toca a todo vapor. Putaquipariu.... tem que ser no meu vagão.

No banco atrás de mim, duas senhorinhas reclamam entre si. Pessoas bufam. Mas ninguém fez o menor intento de introduzir o aipódi do energúmeno no respectivo orifício defecador dele. Essa é merda da inclusão da gentalha no mercado de consumo. O jeca foi nas lojas do Sr. Samuel Klein, comprou o treco em quatrocentas e dezesseis prestações e acha que toda a Humanidade quer ouvir o mesmo lixo que ele.

Depois de me dar conta de que as palavras da autora já não se processavam no meu cérebro não resisti mais. Assim que o trem parou na estação seguinte e me certifiquei que seria ouvido dei um berro digno de vendedor de sapatos da rua Direita.

- Ô didjei! Abaixa esse troço aí por favor!

Felizmente o merda deve ter se constrangido e foi abaixando, abaixando até que a voz nojenta do Belo sumiu-se de vez. Aí, nada como um arremate:

- Brigado aê, falou?

Gentalha.

Nenhum comentário: