domingo, 27 de agosto de 2006

Vigilantes do humor alheio

Um dia desses fiquei sabendo, através de minha irmã, que uma suposta amiga em comum desfiou para ela um rosário e alguns litros de saliva peçonhenta a criticar meu humor. Não fiquei decerto surpreso, nem ao menos decepcionado. É fato que tenho sinceras divergências com a dita, que vão desde educação infantil até questões culturais. Sobretudo acerca do hediondo método cultivado por ela de criticar os ausentes, identificado pelo verbo fofocar. Só que tenho meu lado contemporizador e finjo não ver algumas coisas, a fim de manter o mínimo de convívio social, já que não sinto vocação para eremita.

A sujeita reclamava ter me visto em algumas ocasiões com "cara de bunda", no sublime e paupérrimo Português que ela sabe declinar, com sua deficitária formação cultural. Lamentavelmente, em uma ou duas raras ocasiões, eu compareci a eventos da dita ou de familiares dela e apenas não estava com o melhor dos humores, ora bolas! Mas no repertório a meu respeito consta que a boca maldita tenha proferido algo como: “Se for para ir assim, melhor não ir”. Se em alguma ocasião que lhe diga respeito optei por comparecer, foi por absoluta consideração. Com a singela observação da dita, sinto-me dispensado das obrigações correspondentes e agradeço aliviado. Já sigo à risca e sei que a pessoa começou a perceber.

Sou consciente do fato de ser um pobre-diabo igual a tantos outros. Há dias em que estou alegre, há dias em que estou triste, ou às vezes tão e somente introspectivo. Quem nunca ouviu a expressão: "O que você tem hoje?". Basta estarmos silenciosos, capisbaixos, pensativos ou mesmo visivelmente mau-humorados, que algum bastião da alegria de micareta vem nos questionar. Não vejo maiores problemas na preocupação. Na maior parte das vezes é possível que o questionador tenha boas intenções. Mas por trás disso está algo peculiar: a rejeição a determinados sentimentos. É como se só pudéssemos sentir amor, carinho, alegria, euforia e seus opostos como raiva, repulsa, tristeza e desânimo fossem proibidos. Sentimentos "errados", que não devem sequer ser sentidos. Até a educação religiosa é pródiga na condenação de alguns sentimentos. Dentre os chamados pecados capitais ensinados pela Igreja Católica encontramos até a ira e a preguiça como sentimentos banidos e malditos.

Será que há sentimentos bons e maus? Poderão os sentimentos ser classificados de forma tão maniqueísta? Será que ficarmos pensativos, introspectivos e mesmo chateados com alguma coisa é tão insalubre assim? Desconfio que sentimentos são sentimentos e ponto. De certo modo são involuntários, vem e se vão. A questão maior e mais importante é se reagimos a determinados sentimentos e como reagimos. Posso estar eufórico com a vitória do meu time e fazer uma arruaça destrutiva, como certos delinqüentes sãopaulinos fizeram na avenida Paulista meses atrás. Posso estar irado com a política e tirar como conseqüência que preciso exercer minha cidadania por mudanças. Postura é o que conta. Ou melhor: "atitude", no melhor sentido da palavra.

Sentimentos banidos. Questione-se sobre isso na próxima vez em que lhe ocorrer ficar cobrando alguém, só porque ele não manifesta uma alegria contagiante. E a propósito: Cara de bunda tem a profissional do sexo, parturiente de quem proferiu isso.

2 comentários:

Anônimo disse...

são 10 da manhã há 12 minutos atrás. estou aqui procurando alguma coisa p ler desde às 8.[em horário de trabalho] e achei, o que precisava ler, justo agora.

Anônimo disse...

Eu já passei muito por isso, meu caro.
Tem gente que ama fazer esta merda.
Normalmente, um belo e sonoro "Vá tomar no baricentro do cu" funciona na primeira tentativa. Se não funcionar, ao menos a tua consciência fica tranquila.