sábado, 16 de setembro de 2006

Maridos

Depois de ter acordado às seis da manhã (sem a menor necessidade) e constatar que aquele barulho que perturbou meus sonhos vinha das três ventoinhas do computador do meu quarto (que meu caro enteado prometera desligar pelo console remoto), resolvi descer e preparar um cafezinho. A tia darling teria que entrar no trabalho às sete em pleno sábado. Sem sono e sem compromisso até a hora do almoço, resolvi ligar a tv da sala e sentar-me à mesinha junto deste meu prestativo notebook.

Nada como a internet! O paraíso da anarquia verborrágica, do conhecimento descomprometido com a Ciência, das confissões inconfessáveis e do entretenimento interativo! Recentemente localizei este blog. É de uma simpaticíssima, aparentemente bonita e agradável cidadã fluminense. Tendo-o salvo nos "favoritos" há uns dias, resolvi que hoje iria lê-lo de fio à pavio. Uma boa oportunidade de conhecer melhor a jovem mulher com quem brinco e sacaneio com certa freqüência, pois ambos participamos ativamente de uma comunidade do Orkut. Li e gostei. É líquido e certo que há uma pessoa interessantíssima por trás daquelas linhas.

Entre um post e outro encontrei este. Ele me fez mais uma vez pensar sobre o papel do homem no núcleo familiar, seja como pai, padrasto ou marido. Os escritos dela e as opiniões de uma série de outras mulheres com quem travo conversas divertidas, me causam uma quase-pena dos homens medianos. O homo-brasileirus típico deve ser uma criatura muito ruim, a crer pelas colocações da mulherada em geral. Senão, as passagens que ouço serão delírios pré-menstruais.

Em uma noite de quarta-feira qualquer fui filar o jantar no apartamento de uma amiga recém-separada. Está morando com a empregada e o filho de três anos. A pedido, eu corrigia alguma coisa no micro dela e jogávamos conversa fora. Foi quando na tv uma irritante e conhecida vinheta global seguida de uma irritante e conhecida voz galvano-buenista anunciaram mais um cláááááássico de futebol. A discreta empregada, em um dos raros chistes de intromissão, brincou com a patroa:

- Faço pipoca?

Diante da minha estranheza, a amiga explicou: o ex-marido transformava o apartamento onde moravam em uma sucursal do Pacaembú, nas noites de quarta-feira. Até onde soube, ele se tornava o único e ruidoso expectador na confortável arquibancada de couro. De posse de um barril de pipoca, vibrava, pulava e gritava, como se estivesse no meio da Gaviões da Fiel. Sei que a então mulher dele não se importaria se ele tivesse a mesma euforia para se divertir em outras ocasiões com a família ou simplesmente para dar atenção à ela e ao filho. Notem a condicional: se ele tivesse. Mas consta que o dito fã das quadras, gramados e de todas as variações futebolísticas, seria capaz de trocar o aniversário do filho pelo esporte bretão, fosse como protagonista, fosse como torcedor.

Já outra amiga minha, também recém-separada, confessou à mim e à tia darling que o ex demonstrou seu desapreço pela intimidade conjugal logo na primeira noite de casados. Ao chegarem à nova morada ele teria resistido impávido ao canto do acasalamento. Ele ignorou os chamados dela para a hidromassagem - sim, ela tem uma em casa! - . Dispensou-se do affair de alcova, mantendo-se absorto pela tv, com uma cerveja em uma mão e o controle-remoto na outra. Nenhuma insinuação dela, mesmo vestida com a lingerie especialmente reservada, surtiu algum efeito. Embora seja irrelevante para o contexto, faço questão de ressaltar que a dita amiga ainda hoje é esteticamente de tal graciosidade, que "compensa o crime", como dizemos na borracharia. E os fatos já distam quase dez anos. Mesmo assim, acreditem, ele deixou a singela e delicada criatura dormir sozinha, enquanto se esbaldou na tv madrugada adentro, em uma das piores fotografias do estereótipo de marido. Em plena noite de núpcias não houve beijos, nem afagos, nem o bom e velho sexo com afeto. É certo que ambos já se conheciam - no sentido bíblico da expressão - e que todos temos nossa noite de indisposição. Mas daí para dar W.O. no leito conjugal na prima notte, parece mesmo estranho. E o fim do casamento denunciou que doravante tudo continuou errado.

Por que será que é tão difícil para o marido mediano manter um envolvimento de qualidade com a cônjuge e com a prole? Por que será que a administração e manutenção do lar parecem coisas tão distantes e alieníginas para os homens em geral? O que os desinteressa tanto, quando os assuntos são dar um simples banho no filho, preparar uma mamadeira, acompanhar tarefas escolares, empenhar-se no preparo de uma refeição em família ou apenas e tão somente demonstrar afeto pela parceira? Perguntas que não querem calar. E assunto pra mais de metro.

São Freud, rogai por nós.

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