quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Perguntas

Por esses dias, com o fim das aulas, estou tendo que me desdobrar entre trabalho e cuidar da cria mais nova de seis anos, sem utilizar favores de terceiros. Como sou o profissional liberal da casa, todos acham que posso - e devo - despender tempo para resolver coisas particulares durante o dia. Eu me viro como posso. Atualmente quando tenho que ir a clientes e parceiros, às vezes levo a cria junto, dependendo de onde é e com quem vou tratar. Até aí não há grandes problemas, pois a pequena se resigna disciplinadamente a ficar sentadinha nas recepções das empresas, pintando seus livrinhos e escrevendo, enquanto resolvo as coisas.

Dia desses fui a um cliente retirar um equipamento para consertar. A cria estava junto e a visita foi rápida. Acertei alguns detalhes com o contato e embarquei a máquina no carro. O que quase nenhum cliente sabe é que a grande maioria dos equipamentos que eu pego para consertar são encaminhadas para terceiros meus. Até aí é uma simples questão estratégica. Caso contrário eu teria que manter uma onerosa estrutura com trocentos especialistas, um para cada tipo de equipamento e marca. Para o cliente tudo ocorre de maneira transparente, que fica feliz com o serviço prestado enquanto faturo meus suados trocados.

Mas eis que nesse dia, durante o trajeto de volta:

- Pai, por que você pegou essa máquina no seu cliente?

- Pra consertar.

- Mas você não conserta essa máquina.

- Tá, mas eu levo pros Smiths* consertarem.

- Mas eu vi você falando pro cliente "até segunda feira eu conserto"

- Não tem problema. O Sr. Smith conserta.

- Então por que o seu cliente não leva direto no Sr. Smith?

- Ahn isso? É porque... porque... porque eu preciso ganhar dinheiro com isso, né filha?

- Mas você falou pro cliente que vai consertar e não vai. Tá levando pro Sr. Smith consertar.

- E daí?

- Você mentiu pro seu cliente, pai.

- Não filha. Não é uma mentira.

- Então o que é? Claro que é uma mentira. E você fala pra mim que não pode mentir.

- Er... hum... ahn... cof! cof! Veja bem... o cliente não sabe onde ficam os Smiths. É mais fácil assim.

- E por que não dá o endereço dos Smiths pro seu cliente?

- ... Filha olha lá na porta daquela loja! O Papai-Noel! Vamos lá falar com ele?

Acho que ela esqueceu o assunto. Ufa!

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